quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Continuação do Capítulo XII

 

Calais – 3 de Setembro de 1346
 
 
Eduardo acabara de se reunir com seu filho e com seus generais, para estudarem as estratégias para a tomada de Calais. Entre eles, contava com a ajuda de Sir Walter de Manny, que se tornara um fiel amigo desde os tempos em que viera de Hainault, como escudeiro, acompanhando sua, então noiva, Filipa. Walter provara ser um grande comandante e estrategista, apesar de seu coração misericordioso. Depois de avaliarem as dificuldades que encontrariam devido aos altos muros da cidade, as fortificações e fossos que a defendiam, chegaram a um acordo. Seria exigida a rendição da cidade de forma oficial no dia seguinte. Talvez o medo fizesse com que o governante local, Jean de Vienne, os atendesse. Se o pedido fosse negado, como imaginava que seria, iniciariam imediatamente a construção de uma cidadela, onde ele, sua família e seus homens se estabeleceriam, para manter as fronteiras de Calais fechadas ao socorro francês. O primeiro corte seria na alimentação da população.  Suas expectativas não eram muito animadoras. Sabia que o povo francês, assim como o inglês, era guerreiro e o cerco estava fadado a prolongar-se por um longo período, talvez um ou dois meses. Esperava que a cidade caísse em suas mãos antes do inverno. Sozinho, saiu de sua tenda e olhou na direção de outra barraca, fortemente vigiada por quatro de seus melhores soldados. Lá estava sua maior preocupação, Filipa. Ela insistira em acompanhá-lo naquela campanha e, como sempre, o vencera com argumentos como seu amor de mãe, devido a presença de Eduardo, seu primogênito. Com dezesseis anos, Eduardo era um rapaz notável e o seu maior orgulho. Para Filipa, ele ainda era apenas um garoto que necessitava do amor e dos cuidados de seus pais e, apesar de reconhecer sua grande inteligência e habilidades nas artes da guerra, não admitia abandoná-lo. Sua esposa continuava sendo seu único amor, apesar dela, possivelmente, não acreditar mais nisso. Vinte anos se passaram desde que eles se conheceram e se apaixonaram. Um amor romântico e ingênuo, que não pôde ser envenenado por sua mãe, Isabel. Apesar de tudo, o afastamento entre eles,  nos últimos anos, tinha sido inevitável. Guerras, campanhas em terras distantes, inúmeras gravidezes, algumas complicadas, a morte de Guilherme, seu terceiro filho, em 1337, e... mulheres, que, em sua cama, serviam apenas para aplacar o seu desejo sexual, mas jamais aplacariam o amor que carregava dentro do peito por sua esposa. Sentia-se culpado por tudo isso e incapaz de reverter esse quadro. Ainda sentia o amor de Filipa por ele, em seu olhar, em gestos e nas poucas vezes que tinham intimidades, na maioria das vezes exigidas por ele. Ela sentia vergonha de seu corpo e acreditava que ele não poderia mais desejá-la como antes. Uma vez ouviu-a falar nessa tolice com uma de suas damas de companhia. Nove gestações marcaram seu corpo, deixando-o mais arredondado e mais macio, mas ela não entendia que era amada ainda mais por esses sinais do tempo, que eram a prova de sua divina capacidade de gerar a vida, e por suas outras inúmeras qualidades. Sua inteligência, sua bondade, seu amor pelos animais, o carinho que demonstrava com os filhos e até com seus serviçais. Filipa não fazia distinção entre ricos ou pobres, o que muitas vezes motivara brigas entre eles, pois temia que essa docilidade pudesse expô-la mais facilmente às intrigas e maldades na corte. Ela era o seu ponto de equilíbrio, aquela que sempre tentava fazê-lo enxergar o lado mais doce da vida, apesar de nem sempre conseguir. No entanto, sua presença nunca deixara de ser um bálsamo em meio aos pensamentos de morte, dor e sangue que o rodeavam. Estivera presente em  todas suas expedições, sendo reconhecida em todas por sua compaixão e benevolência. Apesar dela não reconhecer, ele precisava dela como o ar que respirava.

Estremeceu ao ver a aproximação de Eduardo. Pensou que ele passaria a noite na outra tenda. Seu filho acabara de sair, depois de lhe dar um beijo de boa noite. Sempre gentil...
Quando olhava para seu primogênito, lembrava do jovem e intrépido príncipe que conhecera nas terras de seu pai e que lhe jurara amor eterno. Seu rei tornara-se um homem atraente e vigoroso, por quem as mulheres suspiravam e os homens temiam e respeitavam. Os anos haviam sido generosos com ele, apesar das cicatrizes adquiridas nos campos de batalha que lhe marcavam o corpo, ao passo que ela... Não gostava mais de se olhar no espelho e sentia vergonha de seu corpo. Fingia não saber dos casos de Eduardo com outras mulheres, pois achava que ele tinha o direito de ter prazer com corpos mais belos que o seu. Ele sempre fora muito ardente e isso tinha sido maravilhoso nos primeiros anos de casada. Agora imaginava que ele a levava para cama por obrigação ou por não ter outra mulher disponível. De qualquer maneira, ela adorava esse momentos. Ele era habilidoso e sabia como lhe dar prazer. Por isso, seu coração começou a bater mais forte quando o viu aproximando-se com determinação de sua barraca. Sabia que, às vésperas de uma batalha, gostava de extravazar sua ansiedade na cama.  Eduardo surgiu imponente e com aquele estranho brilho no olhar, que quase a fazia acreditar que seu amor por ela não morrera completamente.
- Boa noite, meu senhor. – disse curvando-se de leve, em reverência.
Com um gesto autoritário, ele mandou que as duas mulheres, que acompanhavam a rainha, saíssem.
- Agora estamos a sós, Filipa... Para você, sou apenas Eduardo,... lembra? – insinuou com voz suave, aproximando-se dela lentamente.
- A que devo a honra de sua visita, meu rei?
- Fiquei com saudades...
- Não precisa mentir para mim...
- Por que acha que estou mentindo? Por que me repele? Não gostas mais de mim? – indagou pegando em sua mão e beijando-a com suavidade.
- Você continua um sedutor... – Não pode deixar de sorrir.
- Então deixe-me seduzí-la essa noite, minha rainha... – Curvou-se e beijou-a no pescoço, exposto pelo penteado que lhe prendia os cabelos.
- Ah, Eduardo... Queria voltar a ser aquela menina que fui um dia.
- Pois eu desejo a mulher em que a menina se tornou. – continuou, soltando seus longos cabelos.
- Mas essa mulher já não é atraente ao seus olhos...
- Por favor, Filipa... Pare com essa bobagem... Eu quero você... – Antes que ela pudesse opor-se a ele, cobriu-lhe a boca com um apaixonado beijo, fazendo-a esquecer de todas as barreiras e desculpas para evitá-lo.

 
(continua...)


Como eu tinha prometido, aqui está a finalização do último capítulo postado, mostrando os nossos heróis lá em 1346. Espero que tenham gostado de rever o Eduardo e a Filipa vinte anos depois. Como viram, mesmo havendo amor, as circunstâncias da vida podem afastar as pessoas e levá-las a acreditar que não são mais amadas pelo outro. A falta de diálogo, falta de amor próprio e as traições, mesmo que circunstanciais, podem destruir uma linda relação.
Espero voltar no fim de semana com o capítulo XIII.
Beijos!!

2 comentários:

  1. Ainda bem que certos costumes ficaram no passado, apesar de contra tempos ainda existe amor entre esse casal. Fico na torcida para que algumas coisinhas modifiquem em Eduardo. E sucesso nessas batalhas tão sangrentas!

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  2. Rô, por tudo o que vc descreveu, vemos que Filipa era uma grande mulher, como poucas conseguem ou desejam ser! Os valores de Filipa eram puros, nobres. Sua generosidade realçava ainda mais a sua beleza aos olhos de seu amor, mesmo que ela não conseguisse enxergar isso, devido às fragilidades que as mulheres geralmente têm.
    É, amiga, vc disse tudo: a falta de diálogo advindo das tribulações do cotidiano é o que, muitas vezes, acaba esfriando o relacionamento, mesmo que o amor ainda esteja intacto nos casais. O passar dos anos é benéfico aos relacionamentos no que tange a torná-los mais sólidos, a possibilidade uma troca de intimidade maior entre os casais que já conseguem desnudar sua alma um ao outro. Contudo, o tempo é carrasco principalmente ao corpo da mulher, que envelhece com maior rapidez devido ao nível de hormônios e de todas as transformações pelas quais passamos. E isso gera, inegavelmente, insegurança. E uma mulher insegura acaba, inconscientemente, afastando o seu amado – e os homens, quando não se sentem desejados em casa, procuram desaguar suas tensões em mulheres vulgares. E tudo vira uma roda vida, um ciclo sem fim que fere ambos. Por isso, comunicação é o mais importante. Homens não gostam de se comunicar, mas não há outro caminho.
    Adorei a Filipa e o Eduardo, eles são um charme, merecem ficar sempre juntinhos!
    Beijinhos

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