sábado, 14 de abril de 2012

O Vampiro de Edimburgo

    by Kodama e Fantin


Final do Capítulo II

Desde que decidi fazer a reportagem sobre esse homem, amado pelos artistas e pelas mulheres e temido no mundo dos negócios, percebi que seus mistérios eram mais profundos do que eu imaginara. Ele não era apenas mais um playboy internacional cheio da grana e cercado por lindas mulheres. O mesmo banqueiro implacável que acumulava riquezas, também mantinha várias obras sociais e possuía um inusitado gosto pela música e, segundo aqueles que já tinham participado de suas famosas reuniões no castelo onde morava, era um barítono de voz angelical. Além destas ambivalências, sua vida pessoal era cercada por mistérios. De família muito antiga, era o filho único e herdeiro de uma imensurável fortuna. Apesar de todo o dinheiro que dispunha preferia continuar morando no secular castelo de sua família, localizado a trinta quilômetros do centro. Não era casado ou pelo menos ninguém tinha conhecimento da existência de uma senhora Sinclair, viva ou morta. Aparentava cerca de 35 anos, alto, com quase dois metros de altura, considerado muito atraente pelo sexo feminino. Seus olhos verdes, frios e penetrantes, aterrorizavam até grandes magnatas nos bancos e empresas, ao mesmo tempo em que faziam as mulheres se derreterem por ele. Se eu aprendesse como fazia isso, já teria valido a pena minha permanência ao seu lado. Apesar da fama de conquistador, jamais se ouvira nenhuma de suas conquistadas levantar a voz para falar mal dele. Por incrível que pareça, todas só tinham elogios a fazer sobre Sinclair e jamais revelavam as intimidades de seus encontros. Por sua vez, ele pouco circulava na noite de Edimburgo, apesar dos inúmeros convites, inclusive da realeza do Reino Unido, mantendo-se parcialmente isolado em sua residência. Em vista de seu gosto por óperas e apresentações de música erudita, os teatros eram os lugares mais frequentados por ele e onde acabava por se entrosar com a high society local. Aparentemente tinha poucos amigos íntimos ou nenhum. As viagens internacionais, que por ventura realizava, eram em geral a negócios.  Com o passar do tempo,  passei a admirá-lo e, o que deveria ser uma reportagem para a coluna de fofocas do jornal, deixou de ser importante. Eu ainda não sabia o que essa intrigante amizade significava, mas sentia que algo me atraia em Sinclair e, curiosamente, acreditava que ele sentia da mesma forma.

                          Capítulo III

Catedral de Edimburgo

Não estava certo a respeito do que me levara a entrar naquele lugar. Nada ali tinha algum significado ou fazia parte de minha vida. Num passado remotíssimo, talvez... Mas não agora.  A paz que reinava naquela nave, o silêncio das imagens de faces caridosas e resignadas, a beleza dos vitrais coloridos  mostrando imagens de mártires e santos, a pureza sugerida nos contornos das bochechas coradas dos querubins, estátuas feitas pelos homens para glorificar seu Criador... Nosso Criador... Olhei em volta e vi uns poucos coitados tementes a Ele, rogando por suas pobres existências, jogando preces aos céus em busca de alívio para seus tormentos, buscando uma saída de sua indigência física ou emocional... Ou ambas...
Antes que rodasse sobre meus calcanhares e me encaminhasse para a saída, o ranger das enferrujadas dobradiças da pesada porta de madeira da catedral de Edimburgo, invadiu o ar, interrompendo por instantes a calma sepulcral. Não olhei para trás, pois já sabia quem era o próximo e solitário visitante que se reuniria às almas ali presentes. De pé, imóvel, aguardei que ele se aproximasse de mim. Podia sentir o calor e o som de seu coração bombeando o inestimável fluído vermelho em suas cavidades, percorrendo artérias e veias, irrigando todo o seu corpo. Também era possível sentir uma aura de tristeza em torno dele, o que era raro em meu novo amigo.
- O que houve? – perguntei quando o senti às minhas costas, surpreendendo-o.
- Estou curioso para saber o que o trouxe até aqui. Nunca soube que fosse adepto de alguma religião.
- Sou agnóstico. O que me atrai em lugares como esse é o silêncio. Pode-se raciocinar melhor aqui que em qualquer outro local.
- Tem razão... – concordou Dominic, estranho e momentaneamente distante – Mas o que aconteceu para exigir tanta concentração? Algum problema?
Ele costumava ser um jovem alegre e espirituoso. Nunca o sentira triste como hoje. O que teria acontecido?
- Está sozinho? – percebi a ausência de sua etérea acompanhante.
- O quê? – inquiriu confuso.
- Brigou com a namorada? Foi isto que quis dizer... – insinuei.
- Por que pergunta isso?
- Você está tristonho... Nunca o tinha visto assim.
- Não sabia que era tão sensível a este ponto – respondeu amargurado.
- Não respondeu a minha pergunta.
- O repórter aqui sou eu – ousou dizer timidamente.
- Eu posso proibi-lo de me perseguir.
- Eu não o persigo.
- Por que está aqui, então?
- Esta foi a minha pergunta para o senhor no início deste jogo de palavras.
Ri com ironia do meu pobre amigo jornalista e dei por fim nosso breve encontro.
- Até mais, Dominic.
Olhei para ele compreensivo. Eu sabia o que era solidão e era isso que Dominic sentia naquele momento. Podia imaginar qual a razão, mas não estava interessado nela. Virei em direção aos portões de madeira ricamente trabalhados e carcomidos pelo tempo. Sem que ele ousasse me perguntar algo mais, saí em passos lentos e silenciosos, não menos infeliz do que quando entrei. O que eu esperava, afinal? Um milagre? Não acreditava mais neles.
Na rua em frente, o fiel Angus me aguardava ao lado do Mercedes negro.
Uma corrente de ar gelado atravessou o pátio e cravou-se sobre meus ombros com uma estranha familiaridade. Um vulto escondeu-se entre as sombras dos edifícios. Neguei sua presença. Era o melhor a fazer. John Knox permanecia em sua pose congelada, indiferente ao frio, ao coco dos pombos, que o visitavam em épocas mais quentes, e aos turistas vândalos que deixavam suas marcas em seu pedestal. Lancei um olhar para o alto e vi apenas a torre da igreja e os telhados de alguns prédios próximos, fincados no céu denso, carregado de nuvens escuras e frias, abandonadas precocemente pelo sol. Eram apenas cinco horas da tarde na capital escocesa, mas a noite invernal já tomara conta das ruas e dos sinistros prédios medievais da Royal Mile.
Royal Mile

Angus abriu a porta do carro. Pareceu-me apreensivo. Provavelmente captara a presença indesejada por perto.
- Senhor... – reverenciou-me.
- Obrigado, Angus.
Entrei e, sem que precisasse ordenar, ele tomou seu lugar à direção e seguiu para o Castelo de Malachy.
Castelo de Malachy


Os convidados daquela noite começaram a chegar. Finas iguarias e taças de espumante passaram a ser servidas. Enquanto alguns “habitués” conversavam e riam entre si, outros, vindos pela primeira vez, olhavam assombrados com a beleza da arquitetura gótica registrada nas paredes, teto e vitrais da mansão. Comentavam a sobriedade da decoração pouco adequada à morada de uma pessoa jovem como eu. Mal sabiam eles o quanto tudo aquilo tinha a ver com meu passado e modo de viver.
Em meio a este “teatro”, com o qual me deliciava observando as expressões e interpretações de meus “amigos”, chegou a senhorita Elisabeth Donovan, atraindo a atenção da maioria dos homens presentes. Aguardava sua aproximação, apreciando o seu “catwalk” e o vaivém de seus quadris, quando outra visão chamou minha atenção. Dominic acabara de chegar. Viera acompanhado por uma jovem e dois guardiões desconhecidos. Dos quatro, foi a garota, uma adolescente, que despertou meu interesse. Seus cabelos ruivos e os incríveis olhos azuis claros lembravam muito a minha Cath. Sua semelhança era impressionante. O olhar vivaz e o modo atrevido com que invadiu o recinto quase me deixaram sem fôlego. Pedi licença a Elisabeth e avancei na direção de meu amigo.
- Boa noite, jovem Dominic. Vejo que veio acompanhado – observei sem tirar os olhos da jovem.
- Boa noite, senhor Sinclair. Achei que não teria problema se trouxesse minha irmã, Leonora, para apreciar um pouco de música. Na verdade, ela insistiu muito. Devo dizer que ela sabe ser bastante persuasiva quando quer – disse fulminando a garota com censura.
- Meu caro Dominic, em primeiro lugar, já pedi que não me chame de senhor. Afinal somos amigos, não? Em segundo lugar, é uma honra e um prazer conhecer uma jovem tão bela e sedutora como sua irmã.
Minha última observação originou duas reações imediatas. Uma, vinda de Dominic, que envolveu seu braço protetor em torno dos ombros de Leonora, no que foi repelido instantaneamente. De outro lado, fui alvejado por olhares raivosos emitidos pelos outros seres ao lado do casal. Só então prestei atenção à guardiã. Alta, longos cabelos negros ondeados, que caíam em cascata até sua cintura e dona de brilhantes e ameaçadores olhos castanho-claros,  que, no momento, pareciam emitir chamas de fogo em minha direção. Não consegui deixar de olhar para ela e divertir-me com sua expressão. Ao sorrir, fui descoberto. Vi no olhar horrorizado da bela guardiã que ela percebera a minha habilidade em poder enxergá-la. Imediatamente, voltei-me para Leonora e Dominic, e continuei a conversar naturalmente, imaginando se em algum momento no passado a família de Dominic tinha se unido ao clã dos Sinclair. Era a única explicação para a semelhança de Leonora com Cath.
- Não precisa ter medo – falei dirigindo-me a Dominic – Não sou o Lobo Mau e tenho certeza que sua irmã não é a Chapeuzinho Vermelho.
A gargalhada estridente que saiu daquela adorável garganta foi minha primeira decepção com Leonora. Certamente sua risada não lembrava nem de perto a de Cath. Não consegui disfarçar minha decepção.
- Fiquem à vontade, por favor – disse fazendo uma breve reverência e lançando um novo olhar à guardiã, que ainda me fitava assustada.
Deixei-os e voltei para a companhia de Elisabeth, que já demonstrava sua insatisfação, destratando o garçom que lhe oferecia um canapé. Assim que cheguei ao seu lado, abriu um alvo sorriso e falou aliviada:
- Pensei que ia perder você para aquela adolescente. Não sabia que gostava de menininhas. – sugeriu maldosamente sexy.
- Você é uma menina, Elisabeth. Uma menina má e muito sensual... – disse, originando uma deliciosa covinha do lado direito da boca da mulher, demonstrando que lhe agradara minha insinuação.
- Não sei se posso levar isso como um galanteio ou como um desabono a minha pessoa... – indagou.
- Certamente como a primeira opção, minha cara.
Ela teria a oportunidade de provar o que eu dissera dentro de poucas horas, apesar de meu interesse ser apenas por uma questão de sobrevivência. Durante o coquetel e a apresentação do quarteto de cordas não conseguia deixar de olhar a bela Leonora, mas nas poucas vezes que iniciei algum tipo de diálogo com ela, a decepção era inevitável. Apesar disso, havia uma chance de ao menos eu tê-la em meus braços, de boca fechada, e imaginar que ela era minha Cath, mais uma vez. Isso se eu conseguisse ultrapassar a barreira de defensores que a acompanhavam incansáveis: seu anjo da guarda emplumado, Dominic e sua nova guardiã. Esta última, então, não se cansava de me fuzilar com seu olhar intrigado e desconfiado. Eles foram os últimos, ou melhor, os penúltimos, a sair da audição, o que resultou em um certo alívio, pois já não suportava ter que dividir minha atenção entre Leonora e minha escolhida da noite.
Tornara-me um amante hábil e sedento ao longo dos anos, que, apesar de não cultivar grandes delicadezas no ato, proporcionava grande prazer a minhas companheiras, que entre gemidos, gritavam ansiosas por mais. Vê-las assim submissas satisfazia meu lado mais escuro. O prazer da dominação e da posse sobrepujava o prazer sexual. Isso era o que me restava. Pelo menos me fora oferecido o dom de fazê-las esquecer o final destas noites, o que garantia a elas a lembrança do êxtase, ocultando o meu verdadeiro intento.
Enquanto via Elisabeth retorcer-se em meus braços, pensava em Cath, a quem possuíra uma única vez e que me dera amor e prazer suficientes para manter-me vivo, ligado àquela saudade.
- Kyle! Não me torture mais... Sou sua! Me possua agora! – gritava Elisabeth, arrancando-me de minhas lembranças dos dias em que possuía uma alma.
Introduzi-me na mulher sem piedade, com força, arrancando-lhe mais gritos e exigências, levando-a a múltiplos orgasmos. Enquanto ela resfolegava sob meu corpo, arqueando-se em meio a espasmos e palavras de desejo, acariciei seu belo colo, afastando seus cabelos castanhos revoltos, deixando a vista a jugular pulsante e túrgida. Senti a dor do crescimento dos caninos e a fome súbita tomar conta de meu ser. Curvei-me sobre ela, sedento e ataquei a pele alva e imaculada, cravando as pontas afiadas dos dentes e sugando-lhe o líquido precioso para minha triste existência.
Incontáveis vezes pensara em desistir de tudo, parando de me alimentar, acabando com minha miserável sina. Porém, o instinto de sobrevivência do animal em que estava transformado falava mais alto. Por muito tempo o desejo de vingança fora o grande responsável por impedir minhas motivações suicidas, mas com o passar do tempo este mote extinguira-se quase que completamente.
Exausta, minha fonte parou de contrair-se e relaxou em meus braços, sonolenta e fraca. Lambi seus ferimentos perfeitamente circulares, provocando uma imediata cicatrização, e disse algumas palavras hipnóticas. Quando acordasse, lembraria apenas da noite de prazer concedida por um amante experiente e generoso. Nada do monstro que a atacara sem dó.


(continua...)

Voltamos! Gostaram do nosso vampiro? Ele é meio torturadinho, mas isso não tira o charme dele, não acham? Já conseguiram visualizar o rapaz? Vou deixar duas fotinhos para que possam visualizar nossos heróis.
Adorei os comentários e agradeço do fundo do coração pelas palavras ditas a respeito do final de O Corsário Apaixonado e pelas boas vindas ao Vampiro de Edimburgo.  
Falando em O Corsário ..., andei recebendo novas sugestões de capas da minha amiga e nova parceira na divulgação do meu trabalho, a Carolina Lopes, do blog  Cantinho da Carolina http://cantinhocarolina.blogspot.com/, e gostaria de fazer uma nova enquete para definir o mais breve possível a capa definitiva para o livro. Acabei de fazer a revisão e a edição do romance e só falta escolher a capa. Como iniciei essa pesquisa e realmente desejo que os meus leitores participem dessa escolha, colocarei ainda esta semana as novas fotos concorrendo com a escolhida na primeira enquete. Ao verem as novas opções, creio que voces entenderão a minha dúvida...rsrsrs.
Aqui estão as fotos de Dominic e do Kyle Sinclair para que as meninas olhem e desfrutem com moderação.
Dominic MacTrevor

Kyle Sinclair

Beijos e até a próxima postagem!

6 comentários:

  1. Rosane: Adorei as fotinhas! Retratam com perefeição nossos lindinhos... Estou tão feliz com a postagem... Bjão!

    ResponderExcluir
  2. Ual intrigante nosso Kyle já criei até uma histórinha particualr com ele...kkk (abafa detalhes), adoro esse suspense paerando no ar. Mal posso esperar os próximos post que certamente será recheado de mistérios.

    Agora é aguardar também pelas novas capas que estou anciosa diga se de passagem.

    Exelente semana, super beijos

    ResponderExcluir
  3. Já estou totalmente envolvida com o novo ramance rô... parabéns está ótimo, parece que essa parceria vai dar super certo, já está dando não é, parabéns pra vc tbm aline, estou adorando meninas... e esse Sinclair hein de tirar o fôlego ufa, mal posso esperar o próximo capítulo... beijão

    ResponderExcluir
  4. Rosane e Aline!!

    Meus parabéns.mais uma nova historia mto bem escrita e com uma singela demostração de poder do nosso vampirão.
    Estou gostando mto da historia.


    bjs.

    ResponderExcluir
  5. Amiga, que descrição é essa?!! Já estou interessadíssima pelo Sinclair, vou trazê-lo para o lado bom da força!!! Hehehe
    E essas fotos confirmaram o que meus pensamentos insanos estavam trazendo à tona!!!
    Adorei o Sinclair, porque será?!! Hahahaha
    E o Dominic é uma delicinha tb...
    Já dá para perceber o motivo do Dominic estar na pasta vermelha, envolvendo-se com o Sinclair, a coisa vai pegar!
    E Leonora, oh menina sortuda!!! Conseguiu atrair a atenção do nosso vampirão!
    Pois é, sendo Sinclair um senhor das trevas, consegue visualizar os seres de outras dimensões tb. Ariel deve estar começando a ligar os pauzinhos, deve estar mesmo vendo que muita água vai rolar por ali, algumas cristalinas, outras não!
    Beijinhos

    ResponderExcluir
  6. Olá!
    Comecei minha leitura por aqui. Já estou adorando, principalmente o cenário! Que maravilha! E como não poderia deixar de ser... Dominic! Que gatoooooo.

    BjoO
    Pri
    Entre Fatos e Livros

    ResponderExcluir

Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!