sexta-feira, 30 de setembro de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo XII (primeira parte)


- E então, meu velho! – disse Sam dando uma espalmada nas costas de Didier – O que está achando da nossa vila?
Didier já tinha bebido o suficiente para matar a sede que o acometera após o desembarque do Highlander e já começava a ter dificuldades em manter a cabeça ereta.
- Nada comparável à minha Rochelle... Essa taverna... Aargh... – semicerrou os olhos e cochichou, olhando para os lados, para se certificar que não seria ouvido pelos outros homens que estavam por ali a sua volta. – Não vi nenhuma rameira... A única que tem aqui parece estar casada com o dono da taverna... Será que ?....
Sam disparou uma gargalhada.
- Pensei que você já não pensava mais nessas coisas, Didier.
- Não sou tão velho como pareço, nem estou morto – disse piscando um olho e passando a língua nos lábios manchados de vinho barato.
Sam coçou o queixo e aguçou o olhar sobre o ladrão.
- Sei de um lugar que vai agradá-lo, mas...
- Ahn? – levantou a cabeça que estava apoiada sobre a mão direita – Aqui nessa ilha?
Dessa vez foi Sam que olhou a sua volta para evitar ouvidos curiosos.
- Esta não é a única vila que existe em Eleuthera...
- Não...?
- Se quiser que o leve até lá, garanto que vai se divertir muito mais que aqui.
- Então! O que estamos esperando?... – retorquiu animado.
- Tenho uma proposta...
- Sabia! Você está mentindo...
- Não! Claro que não! Posso levá-lo até lá, mas tenho uma condição.
- Que condição? – perguntou com a língua enrolando.
- Na verdade é um favor para você...
- Desembucha!
- Gostaria de ler para você aqueles papéis que me falou na vinda prá cá.
- Papéis? Que papéis? – as ideias do francês se tornavam confusas e, ainda assim, emborcou mais uma caneca de vinho.
- Os papéis da sua Marie... – rosnou mantendo um sorriso de escárnio.
- Aaahh! – franziu a testa como se o esforço de memória fosse extenuante. – O que quer com eles? – Pareceu tomado de súbita lucidez.
- Didier, meu amigo... Já pensou se esses papéis trazem escritos que a jovem que você criou com todo o carinho é uma rica herdeira?
Didier olhou muito seriamente para o pirata e o fitou durante um longo tempo, quase sem piscar. Ao final, escancarou uma risada, mostrando as fileiras de dentes e espaços vazios de seu sorriso.
- Herdeira? Rica? – exclamou, continuando a sacudir o corpo sob as gargalhadas.
- Fala baixo! Deixa de ser idiota! – ordenou Sam indignado para logo baixar o tom de voz e voltar a cochichar sobre a mesa. – Por que não?
- Se Marie fosse rica, ela já teria ido embora há muito tempo... Ela sabe ler, seu imbecil!
Até que para um bêbado o que o francês dizia tinha alguma lógica. Apesar disso, ainda convencido de que tinha um tesouro a sua espera, depois do que escutara da conversa entre Crow e Brett, voltou a insistir.
- Bom, então você não quer conhecer aquele lugar de que falei antes, não? – disse com olhar entediado.
- Que lugar? – perguntou confuso.
Sam bufou.
- A taverna com bebida decente e... mulheres.
Um tênue brilho surgiu nos olhos enevoados de Didier.
- Ah, sim! – voltou a abrir um amplo e torto sorriso.
Mal disse isso, a cabeça acabou por cair entre seus braços sobre a mesa. Didier ficara inconsciente. O pirata mal intencionado já estava com sua paciência quase esgotada, mas não sua esperança. Teria que mudar um pouco a sua tática para poder chegar a sua finalidade. Depois que tivesse certeza do teor dos documentos de Marie, filha do Duque de Villardompardo, daria um jeito de conseguir um navio que o levasse de volta à Espanha com sua preciosa carga. Só esse pensamento o fez estampar uma expressão de júbilo em sua face bexiguenta. O que não esperava era que seus desejos fossem tão prontamente satisfeitos com uma inesperada chegada, naquele momento, na taverna da Aldeia do Falcão.


Ao abrir os olhos, sentia-se flutuar. Acima, apenas o céu azul. As nuvens haviam descido até a terra e estavam próximas aos seus olhos, presas a pequenos galhos. Voltou a fechar as pálpebras e soltou um breve suspiro. Sentiu a pele do rosto ser acariciada por dedos ásperos, que produziam um calor que irradiava-se por todo seu corpo, provocando uma deliciosa sensação de bem estar.
- Você está bem? – perguntou Crow com um traço de preocupação na voz.
Seu corpo viril se elevou entre a luz do sol e ela, ficando escorado sobre o cotovelo a observá-la como se enfeitiçado.
- Nunca estive melhor... – Tudo parecia perfeito agora.
- Pode me perdoar? – disse ele com a voz muito doce.
- Perdoar o quê? Por ter me feito feliz? Crow sorriu.
- Não era para ser assim a sua primeira vez.
- E existem regras para isso?
Ele riu e acariciou o seu rosto.
- Eu não mereço você...
- Creio que sou eu que decido essa parte...
Ele soltou um suspiro alto, olhou para o céu e depois se voltou para Ana novamente.
- Quer continuar o passeio ou voltar para casa?
- Não tem a opção de continuar aqui para sempre, ao seu lado, olhando as nuvens, no meio desse lindo algodoeiro?
- Acho que não é recomendável... – preveniu com ar brincalhão e apaixonado.
Subitamente séria, tomou o rosto dele nas mãos.
- Então me leve para passear
. - Ana... – sussurrou, debruçando-se sobre ela, sorvendo o seu olhar carente e finalmente tomando-lhe os lábios.
- É melhor sairmos daqui, antes que eu não consiga me controlar mais. – disse assim que terminou de beijá-la e sentou-se de costas enquanto pegava a camisa para se vestir.
Ana mais uma vez observou as cicatrizes antigas em seu dorso, além do curativo que ela mesma trocara ainda no navio, no dia anterior. Não conseguiu evitar erguer a mão e tocá-las. A esse suave toque, Crow reagiu com um gemido.
- Já avisei... Se me tocar assim não vou resistir... – sorriu cheio de desejo, sem olhar para trás.
- Quem fez isso com você? – perguntou enquanto com as pontas dos dedos seguia os sulcos enrugados por onde no passado certamente a pele fora massacrada pelas pontas danosas de um chicote.
- Isso é algo que já passou e não importa mais. – respondeu secamente, fechando o semblante ao perceber o motivo da carícia.
Ana resolveu não insistir. Até a curiosidade tinha limites e ela não desejava estragar aquele momento de felicidade entre eles. Crow se levantou abruptamente, terminando de vestir a camisa e as calças. Quando se voltou para Ana, que já estava sentada, ao vê-la cabisbaixa e tristonha, envergonhou-se por ter sido rude com ela.
- Prefere voltar para casa? – perguntou de forma mais doce e estendeu a mão para ajudá-la a ficar de pé.
- De maneira alguma! – respondeu prontamente decidida a aproveitar ao máximo a companhia, deixando o desconcerto para trás. – Quero conhecer a praia de que me falou. Você não vai fugir desse compromisso. No mesmo instante aceitou a mão oferecida por apoio e ergueu-se do chão. Limpou os grãos de terra que se aderiam à saia. Logo sentiu a cintura envolvida por mãos decididas e foi levada de encontro ao peito de Crow.
- Pelo jeito vou ter que cuidar com o que falo ou prometo daqui por diante. – observou ele com semblante iluminado.
- Pode ter certeza disso, meu capitão. – ameaçou alegremente, pouco antes de ter a boca beijada com ardor.

Enquanto caminhavam abraçados pelas areias brancas da orla de Eleuthera, admirando as diversas nuances de azul que se confundiam entre o céu e o mar, a voz de Crow interrompeu o silêncio entre o barulho das ondas e o grasnar das gaivotas, que procuravam uma refeição.
- Desculpe por ter sido rude com você há pouco... – Sua voz soava melancólica, quando estreitou Ana ainda mais junto a si – Acho que não há  motivo para que você não saiba o que causou minhas cicatrizes. Não queria falar sobre isso, pois elas me lembram o dia em que fui incapaz de evitar uma injustiça e a fariam recordar de fatos que certamente quer esquecer...
- Nigel, não precisa falar nada... Me perdoa por ter insistido nessa história... – implorou.
- Prefiro que seja eu a contar. Sei que Brett deve ter lhe dito algo para me exonerar de culpa ou de omissão diante do que aconteceu...
- Ele apenas contou que você foi o único que levantou a voz contra a crueldade de Drake, e isso me basta.
- Nós da tripulação éramos todos muito jovens e Drake era uma figura autoritária temida por todos. – De repente sentia uma necessidade imperativa de contar o que acontecera, como se isso pudesse exorcizar o que o assombrava há dez anos. – Eu era o seu imediato e achava que minha opinião era considerada por ele. Jamais tinha assistido um ato tão execrável por parte dele como naquele dia. Não pude fazer nada por seu pai. Na hora cheguei a considerar como um lamentável acidente, mas depois tive a certeza que Drake calculou seus movimentos para provocar sua morte. Quando percebi as intenções dele para com sua mãe e você, não pude tolerar. Fui atrás dele na cabine. Ainda acreditava que ele pudesse ter um pouco de decência. Me ofereci para acompanhar vocês até a Inglaterra. Isso só fez aumentar a ira dele. Terminou por acusar vocês de bruxaria e mandou me prender por insubordinação. Desde aquele dia fiquei imaginando o que teria acontecido se eu não o tivesse procurado. Talvez ele não tivesse inventado aquela desculpa de bruxas para jogar vocês ao mar. Talvez sua mãe estivesse viva e vocês de volta a Inglaterra... Jamais terei como saber...
- Ele tentou beijar minha mãe... Na minha frente... – disse Ana de súbito, como se estivesse vendo a cena a sua frente como no dia que acontecera. – Se você não tivesse aparecido naquele momento ele teria desonrado minha mãe e, quem sabe, a mim também. – Sua voz definhava enquanto lembrava os horrores daquele dia fatídico e concluía que ela e a mãe haviam escapado de algo bem pior que a morte.
Atos e palavras que considerava esquecidas vieram à tona juntamente com a narrativa de Crow. Seus olhos encheram-se de lágrimas e ela agarrou-se com mais firmeza ao braço que a apoiava, temendo que a tontura que sentia a fizesse cair.
- Ana... – exclamou Crow ao notar o estado de profunda tristeza em que ela se encontrava. – Por que não fiquei calado? Maldição! 
Transtornado e execrando-se por sua língua, ergueu Ana no colo e levou-a até um arvoredo próximo que oferecia sombra e um discreto córrego com água limpa.
- Não se preocupe... Estou bem... É que eu não lembrava ...
Crow usou uma folha larga de bananeira, que encontrou caída sobre a areia, como receptáculo, lavando-a e dobrando de forma a coletar a água, que ofereceu a Ana.
- Tome... Beba... – solicitou apreensivo, sentando-se ao seu lado e abraçando-a. Depois de beber, ela se encostou nele, inclinando a cabeça sobre seu peito.
- Não se preocupe... Estou bem... Me abraça, por favor...
- Por isso eu não queria falar sobre essas cicatrizes... – disse satisfazendo o desejo de Ana. – É doloroso para nós dois relembrar esse passado.
- Apesar de doloroso, acho que relembrar pode ajudar a amenizar a dor. Algumas atitudes de minha mãe surgiram muito claras em minha memória enquanto você falava. Acho que a sua interferência foi a melhor coisa que poderia nos ter acontecido. Sei que no momento em que minha mãe viu meu pai morto, sua vida perdeu o sentido. Ela o amava demais. Lembro do seu olhar vazio quando estávamos no bote. Pelo menos sua honra e a memória de meu pai não foram maculadas.
Ficaram abraçados, em silêncio por longos minutos. Uma lágrima furtiva escapou do olho de Crow, pois lembrou como o sentimento de culpa pela morte de sua própria mãe o levara para longe de casa, quando já não suportava mais o olhar desinteressado de seu pai sobre tudo que lhe dizia respeito. Havia uma similitude entre sua história e a de Ana, mas, afinal, depois de tantos anos, tinha que reconhecer que em ambos casos ele não podia se sentir responsabilizado pela fatalidade.
Sentindo o calor de Ana aquecendo sua alma e curando-o de tantas feridas, tentou afastar o medo de perdê-la. Por ela seria capaz de enfrentar qualquer julgamento ou penalidade para ter a chance de voltar a ser um homem livre e honrado e oferecer a ela tudo que merecia. Talvez estivesse na hora de voltar para casa e enfrentar seus fantasmas.

(continua...)



Mais uma vez decidi publicar apenas a metade deste capítulo, pois o meu prazo de sete dias se encerra hoje e eu não consegui terminar de escrever tudo que desejava a tempo. Sendo assim, vou continuar trabalhando sobre a história para que essa segunda parte do capítulo não demore a ser postada. Essa foi uma semana muito conturbada, porém dessa vez tive bons motivos. Fui convidada pela responsável do Clube de Novos Autores, a dedicadíssima autora Adriana Vargas, para fazer parte deste grande projeto onde ela e seus parceiros lutam ferrenhamente pela divulgação dos trabalhos dos novos autores nacionais. Dessa maneira, grande parte de meu tempo esteve voltado a conhecer meus colegas de clube(fantásticos!)e os blogs que fazem parceria, apoiando(e como!) e divulgando os livros e os autores. Queria agradecer também às visitas e comentários, à Nadja, minha queridíssima amiga e blogueira (Sonhos e Sons) e aos novos seguidores e comentaristas que vieram conhecer o meu cantinho e que deixaram seu carinho impresso aqui: a Blanc (blog Moda e Eu), o Philip Souza (blog Entrando numa Fria), o querido poeta Everson Russo (cujo nome não é mera coincidência, pois ele tem voz e talento poético tão grandes quanto o nosso falecido ídolo, Renato Russo), do blog O Livro dos Dias Dois, a minha nova parceira e diva, Mirela (blog Inteiramente Diva) e a Smareis (blog Refletindo com a Smareis). Para finalizar, não posso deixar de falar sobre outra grande amiga, a Léia Possato, que hoje me fez uma surpresa emocionante, que me abriu um sorriso que está estampado até agora no meu rosto...rsrsrs. Numa demonstração de grande carinho por mim (que minhas/eus outras/os querida/os não fiquem com ciúmes...), a Léia criou um perfil para cada um de meus livros publicados lá no Facebook (NA REDE DO PESCADOR, ERIKUM AMOR NO DESERTO). Agora serei obrigada a entender como funciona aquele site...kkkkk. Quero deixar aqui mais uma vez o meu muitíssimo obrigada por esse presente, minha linda! Espero todos vocês por lá também. Acho que já consegui dizer tudo que queria.
Amo vocês!
Beijo grande e até muito breve com a continuação desse capítulo!

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo XI

Tensa com a companhia de Tina, Ana começou a duvidar de suas desconfianças em relação à filha de Hawk. A moça mostrava-se simpática e tentava de todas as maneiras deixá-la à vontade. Finalmente relaxou diante de uma confissão, quando essa terminava de colocar a última terrina com água fumegante dentro de uma grande bacia de madeira.
- Acho que vamos nos dar muito bem, Ana. Depois que o Crow me disse que vocês estavam juntos, um peso foi tirado do meu peito. Jamais pensei que ele fosse se apaixonar por alguém. Quando a vi, pensei que tinha vindo pelas mãos do Brett. Quase morri. Deu para notar?
Ana mostrou-se claramente surpresa e aliviada com o que acabara de ouvir.
- Você gosta do... Brett??
- Não deu para perceber?
- Me pareceu que você tinha ficado com ciúmes do Nigel – revelou.
- Não brinque! – E desatou a rir. – Sei que ele é um bonitão, mas não consigo me imaginar com ele... Argh! – Fez uma careta – Eu o conheço desde os meus doze anos e nunca me passou pela cabeça enxergá-lo como... – Nova careta – Nada além de um irmão mais velho.
- Então, você gosta é do Brett... – Ana sorriu melancolicamente, lembrando que ela também conhecera Nigel quando era criança e agora...
- Eu não gosto... Sou louca por ele. – continuou Tina suspirosa.
- E ele?...
- Não me dá a mínima. Às vezes eu acho que ele gosta de mim, mas depois ele desconversa e foge.
- Ele não me pareceu muito indiferente a você hoje lá no cais.
- Ele não quer compromisso... Já o ouvi dizer isso ao Crow uma vez.
- Complicado...
- Ah! Deixa prá lá. Conte de você. Como conheceu o Crow?

Durante o banho, Ana contou de forma resumida sua história como filha adotiva de Didier, sua vida nas ruas de La Rochelle, o encontro com Crow, como ele a salvara da morte e o acidente no Highlander que acabara por aproximá-los. Ocultou apenas tudo que pudesse se relacionar à sua origem espanhola e como se dera o primeiro e real encontro entre Crow e ela no Enterprise.
Valentina tinha vinte e dois anos e era uma morena exuberante, de uma beleza exótica, apaixonada pela vida e... por Brett.
- E vocês já...?
- Já o quê?
- Bem... Ele disse que você é mulher dele...
Ana ruborizou quando entendeu sobre o quê Tina estava falando.
- Ehhr... É que essa era a história que ele contou para me proteger dos marujos no navio... – explicou desviando o olhar para a cama onde Tina deixara algumas roupas limpas para que vestisse depois do banho. – A água está ficando fria... É melhor eu sair.
- É... Nem vi o tempo passar... – Levantou-se da cadeira onde estava sentada para pegar uma toalha e oferecê-la à Ana.
- Obrigada... – disse timidamente, ficando de pé na banheira e enrolando-se no tecido macio que fora oferecido.
- Mas você gosta dele, não? – continuou para esclarecer sua curiosidade.
- Gosto... Ele salvou a minha vida por duas vezes... – Esta sua afirmação a fez imaginar que o distanciamento de Nigel nos últimos dias talvez não se devesse apenas ao ferimento que ainda o incomodava, mas por já se sentir quite com ela e a sua suposta dívida do passado.
- Vocês já se... beijaram?
Após nova onda de rubor, Ana assentiu com a cabeça. Nunca se sentira tão envergonhada. E não era apenas pelo fato de estar despida diante de uma praticamente desconhecida. Já vira muita coisa na sua vida, mas nunca alguém lhe tinha feito perguntas tão íntimas que a confrontassem com os sentimentos que efervesciam dentro dela nas últimas semanas.
- E como foi? – continuou o interrogatório.
- Tina! Não acho que deva responder isso.
- Por que não? Somo amigas agora. Se não quer contar, eu conto o que senti na primeira vez que o Brett me beijou.
- Por favor... Não precisa...
- Foi uma vez... – insistiu, como se não percebesse o constrangimento da outra. – Mas foi inesquecível... Pena que depois ele pediu perdão e saiu fugindo como se estivesse vendo o próprio demônio. Acho que se arrependeu ou não gostou – O brilho da paixão cedeu à tristeza da rejeição em seu olhar e em seu sorriso.
- Talvez ele seja tímido... – Ana partiu em defesa do imediato, por quem nutria grande simpatia adquirida durante sua viagem.
- Crow é tímido também?
A pergunta de Tina remeteu Ana aos beijos trocados na cabine do Highlander e uma expressão de regozijo aflorou em sua face quando olhou de esguelha para a nova amiga, que começou a rir.
- Acho que não, mas...
- Mas... ?
- Tenho notado ele distante... Parece que não quer se envolver...
- Então ele está fazendo o que o Brett faz comigo. – afirmou resoluta batendo a palma da mão sobre a coxa. – Esses homens...
Mal terminou de comentar, o rosto de Tina iluminou-se.
- Acho que tive uma ideia para fazer com que eles se decidam.
Pelo olhar matreiro de Tina, Ana ficou temerosa do que viria a ouvir, mas não fez objeção. Ouviu tudo que a outra tinha a dizer enquanto era auxiliada a colocar uma charmosa saia branca bordada com flores coloridas e uma blusa de babados, cujo decote deixava entrever a curva entre seus seios. Nunca vestira nada semelhante durante sua vida em La Rochelle e nunca se sentira tão deslocada ou tão feminina dentro de uma roupa...

Quando Crow colocou os olhos sobre Ana, engoliu em seco e sentiu como se a descarga de um raio percorresse seu corpo. Fora daquelas roupas masculinas em que a conhecera e em que fora obrigada a permanecer durante toda a viagem de vinda para Eleuthera, ela estava deslumbrante, mesmo com uma roupa simples doada por Tina. Seus cabelos ruivos estavam presos, permanecendo apenas alguns poucos fios soltos caindo inocentemente displicentes, emoldurando seu rosto e emprestando-lhe um ar de extrema sensualidade. Brett que estava na sala também não ficou indiferente à beleza da jovem.
- Puxa, Ana... Você está linda! Quem diria...
Esse simples comentário fez com que Crow tivesse vontade de voar no pescoço do amigo, tal o ciúme que quase o cegou, principalmente quando foi prontamente bem recebido pela detentora do elogio.
- Obrigada, Brett. Você é muito gentil... – agradeceu baixando os olhos encabulada.
Crow fechou os punhos, colocou-os para as costas e pigarreou.
- Realmente... Está muito bonita nessa roupa, Ana.
Lutando contra a vontade de agradecer a ele mais efusivamente do que a Brett, lembrou dos conselhos de Tina e não falou nada. Fez apenas um meneio de cabeça. Ele também lhe parecia irresistível em seu traje de calças pretas justas, camisa branca de mangas largas sob um gibão de couro negro, ajustado ao corpo que o cobria até o quadril. O cabelo ainda úmido, mostrando que ele também se banhara, estava preso à nuca por uma tira de couro. E o rosto... Ele tinha raspado a barba, deixando a mostra os traços elegantes e a desconhecida, até então, covinha marcada que dividia seu queixo quadrado.
- Estou morrendo de fome. – conseguiu dizer com a voz entrecortada pela dificuldade em respirar, sentindo-se nua sob o olhar de Crow. Como se permitira vestir uma blusa escandalosa como aquela, deixando os seios à mostra?, condenava-se. Brett mais que depressa puxou uma cadeira ao seu lado em torno da mesa posta para o almoço, elevando mais uma vez a ira silenciosa de Crow.
Tina entrou na sala, seguida por uma afável mulher de meia idade, carregando e servindo travessas de quitutes, entre frutos do mar, legumes, pães e frutas, que liberavam um aroma delicioso no ar. A partir daí, deram por iniciada a refeição.
- Vamos sentar? Crow, quero que sente ao meu lado. Estou com saudades de meu irmãozinho. A Ana não vai se incomodar se eu roubá-lo um pouquinho, não?
- De maneira alguma. O Brett pode sentar ao meu lado. – disse Ana, olhando de viés para Crow que ameaçava soltar faíscas pelos olhos, para seu contentamento. Afinal a ideia de Tina parecia estar dando resultado. Ao menos para ela.
Mal o almoço fora iniciado, a insatisfação de Tina com o comportamento de Brett era evidente, pois ele parecia estar por demais interessado em Ana. E isso estava fora de seus planos de conquista. Por seu lado, Brett estava resolvido a ignorar Tina, vingando-se por sua atitude da manhã. Ao lado dessa disposição, temia que seu amigo e capitão o espancasse a qualquer momento, o que estava implícito na cara tensa do homem naquele instante.
- E Didier? Onde está? – perguntou Ana, tentando quebrar a tensão que se irradiava no ambiente.
- Foi com Sam para a taverna da vila. Estava querendo conhecer o lugar onde pretende passar a maior parte de seu tempo durante sua estadia aqui. – respondeu Crow carrancudo, sentando-se ao lado de Tina do outro lado da mesa. Sentia o ombro latejar o que só piorava seu humor. Mesmo sabendo que estava brincando com o perigo, Brett acabou por fazer uma proposta à Ana.
- O Crow vai ter que dar uma olhada nas plantações agora à tarde e não vai poder sair com você. Que tal se eu fosse mostrar as belezas de Eleuthera?
- Eu posso dar um passeio com ela, Brett. Você não tem mais nada para fazer? – interferiu Tina rispidamente, não resistindo mais ao flerte descarado de Brett para cima de Ana e notando Crow cortar uma porção de peixe como se fosse a garganta de certa pessoa.
- Tina, você deve ter muitos afazeres aqui na casa e com as crianças. Não se preocupem que a Ana estará em boas mãos. – acabou por dizer sorridente. – Ele vai me matar..., pensou. Por outro lado estava gostando de ver a reação de Tina. Sempre achou que ela fosse apaixonada por Crow. Mais de uma vez sentiu-se usado por ela para fazer ciúmes ao capitão. Hoje tinha sido a gota d’água. Ela não respeitara nem a Ana, que tinha sido apresentada como mulher do homem. Contudo, o pior de tudo era que ele adorava cada insinuação feita por ela, mesmo sabendo que era para chamar a atenção do outro. O beijo recebido horas antes o deixara inebriado e, não fosse o publico que os rodeava, teria correspondido vigorosamente, cobrindo-a de beijos, que não seriam, com certeza, só na face.
- Muito obrigada, Brett, pelo seu oferecimento, mas acho que vou esperar que o Nigel esteja livre para me mostrar a ilha. 
Com essas palavras o ar ambiente ficou menos carregado imediatamente, como se uma onda de alívio passasse entre Tina e Crow. Quanto a Brett, não pareceu muito decepcionado com sua negativa. Ana não estava acostumada a esse tipo de jogo de ciúme/sedução proposto por Tina, mas estava curiosa com a atitude descaradamente insinuante de Brett. Ele nunca demonstrara qualquer interesse por ela durante a viagem. Pelo contrário, sempre defendera Crow, facilitando a aproximação dos dois. Algo lhe dizia que Brett e Tina tinham mais em comum do que pensavam. Num lampejo, decidiu fazer o que seu coração mandava.
- Nigel, será que não posso acompanhá-lo a essa visita às plantações?
- Err... Se você acha que não vai ficar entediada... – respondeu Crow desmanchando a carranca.
- Ótimo, então! – vibrou e continuou a divisão de tarefas – Brett, por que você não ajuda a Tina com as crianças. Acho que ela vai precisar, não é, Tina?
- Na verdade... – seus olhos negros voltaram a iluminar-se – Estou com uns problemas no cercado do curral e seria bem vinda uma ajuda masculina para consertá-lo.
Apenas aparentemente frustrado e entediado com o trabalho que tinha pela frente, o imediato do Highlander acabou por aceitar o "fardo" imposto, escondendo a satisfação que esperava encontrar naquela tarde.

A charrete sacolejava pela estrada de terra durante o trajeto às plantações de milho, cana de açúcar e algodão que compartilhavam uma grande extensão de terra no interior da ilha. A medida que iam passando pelos locais de plantio, os homens e mulheres que ali trabalhavam juntos acenavam e exibiam nos rostos suados a satisfação de verem o seu proprietário. Ana imaginava onde estariam os escravos de que tanto ouvira, horrorizada, falar pelas tavernas em La Rochelle. Tinha ideia de que esse tipo de trabalho era feito tão somente por prisioneiros. No entanto, ali, via pessoas aparentemente satisfeitas com o que faziam, apesar da dureza de trabalhar sob o sol quente, cortando e colhendo.
- Eles são escravos?
- Não temos escravos aqui. Hawk, assim como eu, não concordava com esse tipo de mão de obra. Aqui todos trabalham para o seu próprio sustento. Nós arrendamos essa terra e somos pagos com alimentos. Os valores que conseguimos através de nossas, digamos... contribuições recebidas em alto mar, servem para melhorias e distribuição entre os que moram aqui.
- E é você que dirige tudo isso...
- De certa forma, sim.
- E quando você está viajando por longos períodos, como ficou até agora? Quem fica no comando?
- A própria comunidade escolheu alguns líderes e são eles que tomam conta de tudo. Eu não me considero o governante daqui. Apenas forneço os meios para que se continue a existir sem dificuldades e tiro proveito disso como qualquer outro morador, mas com alguns privilégios por ser o sucessor do homem que iniciou tudo isso e proprietário das terras.
- Você admirava muito esse capitão Hawk, não?... Como ele era?
Ele puxou as rédeas e disse algumas palavras para que o cavalo parasse o trotar. Desceu e contornou a charrete diante do animal, afagando seu focinho, como se agradecesse seu bom comportamento, até postar-se ao lado de Ana.
- Que tal descer e caminhar um pouco? – Com a boca curvando-se num sorriso, ergueu os braços para ajudá-la a descer.
Prontamente, Ana jogou os braços em sua direção, mas na hora de descer, atrapalhou-se com a barra da saia, por não estar acostumada a tais vestimentas, e, não fossem os braços seguros e fortes de Crow, teria caído de frente no chão de terra e pedregulhos. Agarrada a ele, ainda se recuperando do susto, estremeceu ao elevar a vista e deparar-se com o já conhecido e envolvente olhar de verde profundo, no momento, cheio de preocupação por ela.
- Você está bem? – perguntou com a voz enrouquecida.
- Sim... Não estou acostumada a usar vestidos... – desculpou-se, mas instintivamente, ao invés de afastar-se dele, chegou ainda mais perto, oferecendo os lábios para um beijo. De olhos fechados, na ponta dos pés, apoiada sobre o largo peito, podia sentir igual desejo emanar dele. No entanto, acabou por ser delicadamente afastada. Abriu os olhos. Sentindo-se como uma mulher vulgar e estúpida, aceitou a rejeição. - É melhor irmos andando. – disse visivelmente desconcertado, separando-se dela rapidamente. – Ainda quero lhe mostrar a praia...
Ana não sabia o que pensar das reações de Crow. Depois de tudo o que acontecera no navio, não entendia por que ele se comportava dessa maneira, como se nada houvesse acontecido entre eles.
- Você me perguntou sobre o Capitão Hawk... – lembrou Crow para cortar o clima tenso que se estabelecera entre eles. – Ele era um homem admirável e que me ajudou numa hora em que eu estava perdido.
- Como foi isso? – perguntou com real interesse, pois Crow nunca havia falado nada pessoal a seu respeito até então.
- Foi logo depois de voltarmos a Inglaterra depois do que aconteceu com sua família e você... Eu não poderia mais servir uma marinha que tinha no comando um homem como Drake. Por isso, desertei e fugi. Consegui embarcar em um navio mercante que me trouxe até essa ilha, em sua extremidade norte. Lá existe um vilarejo um pouco maior que o nosso. Foi em uma de suas tavernas que conheci o Capitão Hawk.
- Foi então que se tornou pirata... O que você fazia antes disso tudo acontecer? Quem era você?
Um ar nostálgico permeou no rosto viril.
- Nada que mereça ser lembrado.
Caminhavam agora entre os pés de algodão. Era como se houvesse nevado em pleno trópico. Os arbustos que não ultrapassavam a cintura de Ana estavam repletos de pequenas nuvens brancas, aderidas aos galhos tortuosos e praticamente secos. Aguardavam a coleta que deveria ocorrer em muito breve. Segundo Crow, depois de colhidos os pequenos chumaços iam para as fiandeiras que os convertiam em fios, que eram levados para teares e transformados em tecidos.
- Então você se tornou pirata por causa do que aconteceu com minha família... – ela insistiu no assunto anterior, pois ansiava em conhecê-lo melhor e descobrir o que o afastava dela.
Diante do silêncio dele, ela continuou seu raciocínio.
- É por isso que não me quer mais? Descobriu que não pode gostar de alguém que destruiu a sua vida?
Ao ouvir tal disparate, ele virou-se e a pegou pelos ombros, assustando-a.
- Não diga uma bobagem dessas! Eu, e exclusivamente eu, sou responsável por tudo que aconteceu na minha vida. – gritou como se quisesse convencer a si mesmo desta afirmação.
Logo, diante do olhar assustado de Ana, diminuiu a força das mãos que a apertavam como torniquetes e falou em tom mais suave
- E não pense que eu não gosto de você. Apenas não posso permitir que fique ao meu lado. Cada minuto que passamos juntos torna mais difícil a minha tarefa de levá-la de volta a vida que Drake lhe roubou. Eu não tenho nada para lhe oferecer, a não ser essa vida desregrada, cercada de ladrões e assassinos, o que inclui a mim mesmo.
- Nigel... Eu não quero nenhuma outra vida que não seja ao seu lado. – disse afagando os braços que a seguravam.
- Você não sabe o que diz. Não conhece nada além das ruas de La Rochelle. Vai mudar de ideia quando estiver vestida como a duquesa que é. Quando estiver cercada por servos que a servirão a um simples toque de sineta. Quando viver em meio a pessoas bem vestidas e educadas, participando de festas e bailes. Quando for cortejada por homens decentes e nobres, que vão querer cobri-la de jóias, pagas por eles mesmos, e andar com você pelas ruas de qualquer lugar no mundo de cabeça erguida, sem medo de serem presos a qualquer momento... – as últimas palavras quase foram inaudíveis e seu rosto se contraía em angústia.
- Nigel... – sussurrou, libertando os braços e segurando o rosto transtornado dele em suas mãos. – Eu só quero ficar com você... Não me importa nenhuma riqueza, festas ou outros homens... – forçou-o a olhar diretamente para ela e rogou – Eu só quero você, Nigel...
Quando ele terminou de ouvir tal declaração e se fixou àqueles cintilantes olhos castanho-aveludados, seu coração tornou-se prisioneiro definitivamente e a vontade de beijá-la e mantê-la em seus braços para sempre venceram todos os argumentos que ele se impusera até então. Jogando toda a razão de lado, cobriu a boca tremula, que entreaberta o esperava, e perdeu-se no prazer daquele beijo. Sedento, arrepiou-se ao sentir a maciez dos lábios carnudos, exultou com o doce sabor da saliva quando invadiu a boca quente e úmida e a dança de suas línguas a fez gemer.
- Ana... Isso é uma loucura...
- Uma loucura maravilhosa... – chiou enquanto sentia o calor invadi-la, descer por seu corpo, espalhando-se por seu peito e entre suas pernas.
Tomado por deliciosa insanidade, Crow acariciava o corpo de Ana sobre as roupas, contornando suas formas suaves com as mãos até chegar aos seus seios. Tão firmes e arredondados... Podia sentir os mamilos túrgidos sob o fino tecido de algodão... Os lábios agora desciam pelo pescoço tenro e suavemente perfumado fazendo-a gemer, pedindo mais. Sentia o afago ansioso dela em seus ombros e costas. Até a dor em seu ferimento se tornava aprazível sob aquelas mãos. Sentiu-a arquear o corpo quando sua boca alcançou o lugar onde seus dedos a acariciavam com intensidade. O decote terminou por ser alargado e um dos seios foi descoberto. Extasiado diante daquela visão, não resistiu e o possuiu entre os lábios, para surpresa e deleite de Ana. Sugou e lambeu até procurar por seu par e dar-lhe igual tratamento. Totalmente perdida em meio às carícias íntimas, sentia uma necessidade de fundir-se a ele, pele com pele. Foi então que gemeu mais alto ao sentir uma das mãos de Crow levantar sua saia, percorrendo sua perna, alcançando a coxa e apertando suas nádegas. Movida pelo instinto, elevou a perna, enganchando-a na coxa de Crow. Uma contração dolente, aliada a uma sensação de prazer intenso começou a tomar conta de seu centro. A mão de Crow mudou a direção e foi direto para entre suas coxas, movendo os dedos na umidade que emanava de seu interior, excitando-a além de qualquer limite. Num instante, ouviu sua própria voz a gritar o nome de Nigel enquanto seu corpo convulsionava em ondas de prazer nos braços dele. Não se passaram mais que poucos segundos e ela o queria novamente, próximo, pujante e... dentro dela.
Da mesma forma, ainda exultante com a forma que Ana reagia ao seu simples toque,  Crow deitou-a entre os flocos de algodão. Embora tudo nele exigisse uma posse completa, não queria machucá-la. Por isso, tirou a parte de baixo de sua roupa e, lentamente elevou a saia que a cobria parcialmente. Gemeu ao vê-la exposta, nua e tão bela. Um pouco de temor surgiu em meio ao desejo de Ana ao ve-lo desnudo, mas logo foi apaziguado pelas palavras carinhosas de Crow.
- Eu prometo que terei cuidado...
- Vai doer? – perguntou com a voz quase inaudível.
Comovido e, por outro lado, receoso por ter confirmada sua suspeita, tranquilizou-a.
- Pode doer um pouco no início... Se quiser... eu posso parar... – disse, apesar de não saber como explicaria isso para o seu próprio corpo.
- Não! Por favor, não pare... Eu quero... você.
Diante de tal chamado, não suportando esperar mais, introduziu-se com cuidado e aos poucos, num ir e vir, enquanto a ouvia gemer e jogar-se contra o seu quadril. Quando finalmente a penetrou completamente, sentiu as nádegas apertadas pelas mãos de Ana, que apesar da dor o queria manter exatamente ali. Isso só serviu para aumentar o ímpeto de prosseguir e dar vazão a sua ânsia. Os movimentos foram tornando-se mais potentes e frequentes. A dor que Ana sentira antes se esvanecera e agora havia só o prazer que Crow lhe transmitia com a sua presença vigorosa. Mais uma vez sentiu se aproximar do auge, mas dessa vez não seguia sozinha. Seu olhar cruzou com o de Crow e ela soube que ele sentia o mesmo que ela. E isso apenas somou felicidade ao êxtase que acabaram por alcançar juntos.

(continua...)


Olá!
Para quem torcia para que o nosso casal se resolvesse logo, acho que esse capítulo satisfez. Parece que outro casal foi criado e eles também estão merecendo se acertar. Talvez mais tarde, não? Agora, vamos deixar o nosso corsário curtir um pouco a sua paixão, pois em breve ele poderá perder a sua Ana.
Até lá, espero que estejam curtindo o romance e aos menos desavisados, espero que não tenham ficado chocados com a cena descrita acima. Creio que  serei obrigada a recolocar o aviso de conteúdo adulto no início do blog...
Meus amores, muito obrigada pelos comentários e pelo carinho de sempre.
Uma boa noite prá todos!
Beijos!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo X

Três dias mais tarde, no início de uma ensolarada e quente manhã, uma voz elevou-se do alto do cesto da gávea, despejando alegria sobre a tripulação do Highlander.
- Eleuthera à vista!
O grito ecoou e uniu-se aos brados de exaltação dos marujos. Finalmente depois de meses no mar, voltavam ao que consideravam seu lar. Muitos deles nunca tinham tido uma pátria e muito menos um chão firme onde pisar e chamar de casa. Em Eleuthera encontraram esse local e desde então o levavam no coração durante suas aventuras pelos oceanos. Era bom saber que tinham para onde voltar. Muitos deles haviam feito família ali mesmo e ansiavam retornar aos braços de suas mulheres. A Aldeia do Falcão, fundada pelo Capitão Brian Hawk, era mais que um simples abrigo de órfãos. Passara a ser o destino final e tão esperado por todos, onde recarregavam suas forças até a próxima viagem, sem donos ou patrões, com leis feitas por eles mesmos e onde tudo era dividido igualmente.
A visão da imensa faixa de terra que surgia fazia pensar que se aproximavam de um continente e não de uma ilha. Porém, apesar dos quase 180 quilômetros de extensão, ela podia ser atravessada a pé em menos de 1 hora tal a sua estreiteza. À medida que se aproximavam era possível vislumbrar a brancura de suas areias e a cinta de vegetação junto à praia. Rumavam para o sul onde circundariam a ponta da ilha até chegarem à costa oeste na qual se localizava a Aldeia do Falcão. Ali ela permanecia resguardada do olhar curioso dos navegadores estrangeiros em uma discreta enseada e permitia ao Highlander ancorar sem riscos de encalhar.
Atraídos pelos vivas dos piratas, Crow, Ana e Didier ficaram lado a lado junto à amurada apreciando a natureza fulgurante de Eleuthera. O capitão não conseguia esconder o seu contentamento por aquele retorno. Assim como a maioria de seus comandados, ele também não tinha um lar fora dali. Pelo menos era assim que sempre se sentira desde sua "fuga" da casa paterna.
- Ela é linda... – disse Ana admirada.
- Não estou vendo porto nenhum. Aposto que não tem nem uma taverna para a gente se divertir um pouco. - Não se preocupe, Didier. Claro que tem uma e muito boa. Você acha que numa ilha de piratas que adoram um bom rum não haveria um lugar para beber e conversar com os amigos?
Mesmo sabendo disso, Didier continuou mal humorado, o que era o normal no velho ladrão. Ele provavelmente nascera assim. Reclamando. E assim continuaria pela vida afora.
Crow ainda sentia um pouco de dor em seu ferimento, mas o processo inflamatório já cedera e a cicatrização ia muito bem. Ainda tivera um pouco de febre na segunda noite após a cirurgia de Liam, mas sob os cuidados de Ana, dormira bem e sem maiores intercorrências. Não falou mais em dormir fora da cabine. Apesar de terem passado a dividir não só o quarto, mas também a cama, Ana continuava evitando o contato direto entre eles colocando a manta como linha divisória. Ao passo que se sentia melhor, mais difícil ficava estar tão perto de Ana e respeitá-la. Sentir o calor de seu corpo tão próximo ou simplesmente olhar sua silhueta no escuro, deitada ao seu lado, o estava deixando louco. Na última noite, antes da chegada a Eleuthera, durante o sono, sentiu uma perna introduzir-se entre as suas. Acordou e, ao ver que Ana dormia, ficou sem saber como agir. Logo ele que já tivera tantas mulheres ao seu bel prazer, agora se sentia como um adolescente inseguro que não sabia como agir com a mulher deitada ao seu lado. Queria possuí-la de todas as maneiras possíveis, mas a razão o freava. A suspeita de que ela nunca estivera com um homem antes era cada vez maior. Olhares, atitudes, o rubor cada vez que lhe ele se aproximava um pouco mais... Exceto quando o beijava... Ela o desejava também e seu corpo não negava isso. Preferia pensar que esse desejo era normal para uma jovem que nunca conhecera um homem antes. Não significava que ela o amava... Precisava afastar-se dela a fim de preservá-la. Quando chegasse à Inglaterra e fosse cortejada pelos cavalheiros da nobreza, sua pureza seria de grande importância para seu futuro marido na hora de casar-se. Essa simples ideia, dela pertencer a outro homem, feria seu peito como mil adagas e o deixava mais tenso que a corda de uma forca. Acabou por levantar com cuidado para não acordá-la e varou a noite, sentado na cadeira ao lado da cama a observar seu sono, como fizera antes em tantas outras noites.
Finalmente alcançaram a pequena enseada na costa oeste da ilha, onde um discreto cais os esperava.
- Baixar ancora! – gritou Peter.
- Nem acredito que vou pisar em terra firme outra vez – falou Didier demonstrando uma sombra de bom humor.
As rampas para auxiliarem a descida de pessoas e cargas foram rapidamente colocadas em posição. Na doca já havia uma aglomeração de mulheres, crianças e alguns homens. Uma mulher em especial, jovem e muito bonita, destacava-se entre todos. Vestia uma delicada camisa de rendas e uma saia rodada de babados vermelha. Ao pescoço levava um colar feito de conchas brancas, que contrastavam com sua pele morena, e seus cabelos negros encaracolados caiam soltos em cascata até a cintura fina. Tão logo Crow e Brett desceram acompanhados por seus convidados, a jovem correu na direção deles. No momento em que viu Ana entre os dois piratas, a expressão de felicidade pareceu murchar lentamente.
- Tina! – gritou Crow abrindo os braços para a bela morena e fazendo o coração de Ana dilacerar-se diante daquela demonstração de afeto.
Tina não teve a menor dúvida e atirou-se nos braços fortes que se abriam para ela. Nenhum deles notou a tristeza nublar o sorriso que nascia nos lábios de Brett ao ver a mulher.
- Ana, essa é Valentina, ou Tina como a chamamos, a filha do falecido Capitão Brian Hawk. É ela que dá prosseguimento ao trabalho iniciado por ele com a comunidade de órfãos que temos aqui. – apresentou-as parecendo não perceber a mútua aversão instantânea entre elas. – Tina é como se fosse minha irmã caçula. - E quem é Ana? – perguntou secamente, mantendo-se colada a ele, com um braço passando por sua cintura, depois do caloroso abraço.
A pergunta deixou Crow em situação delicada. Não podia abrir sobre o parentesco de Ana, devido aos inúmeros ouvintes de sua conversa, nem dizer que era uma pobre ladra que salvara do cadafalso, pois a melindraria. Acabou por levar adiante a mentira que fora dita durante a viagem.
- Ela é... minha mulher. – Nunca uma mentira lhe soara tão verdadeira. Era uma pena que não correspondesse à realidade.
- Como? O que disse? – surpreendeu-se Tina.
Brett sorriu estranhamente satisfeito com a resposta do amigo.
- Quem diria, não Tina? O nosso capitão finalmente encontrou sua alma gêmea.
Ana pareceu retomar o fôlego perdido momentos antes e grudou-se no braço livre de Crow como se fosse sua proprietária.
- Vamos então? Estou louca para conhecer sua casa e sair para visitar os arredores. – determinou vitoriosa encarando Tina, que apenas a olhava com indiscrição, como se tentasse descobrir como ela conseguira conquistar Crow – Além do mais, precisamos trocar o seu curativo, Nigel.
- Você está ferido? – A preocupação era evidente na jovem irmã.
- Nada demais... – respondeu Crow minimizando seu acidente.
- E eu? Onde vou ficar? Espero que num lugar melhor do que aquele que me deram nesse maldito ataúde flutuante. – aproveitou para queixar-se mais uma vez Didier, interferindo na aparente disputa feminina.
- Não se preocupe, seu velhaco. Vamos conseguir uma boa acomodação para você. – tranquilizou-o Crow.
- E então, Tina? Não vai me dar um abraço também? Depois de todos esses meses? – reclamou Brett com uma ponta de sarcasmo.
- Não só um abraço, Brett... – respondeu com voz sensual enquanto deslizava sobre o deck de madeira. Enroscou os braços em torno do pescoço de Brett, ficou na ponta dos pés e beijou-o na face, muito próximo aos lábios. Para alívio de Ana, Crow não esboçou um mínimo de ciúme. Pelo contrário, pareceu bastante satisfeito com a cena. Mais tarde ela saberia o motivo. Ainda assim, sentia-se constrangida na presença daquela mulher. Tina parecia mais velha e experiente que ela. Isso a deixava em desvantagem diante de Crow. Aquela história de "ela é com se fosse uma irmã para mim" não a convencera. Imaginava se havia alguma coisa entre os dois. Nunca tivera esse sentimento de posse por alguém, mas agora podia sentir na pele o que significava a palavra ciúmes.
Em torno do cais, um bucólico vilarejo pesqueiro, formado por simpáticas casas de tijolos rústicos, com redes penduradas nas paredes como se fizessem parte da decoração externa, era o disfarce perfeito para um covil de piratas, não fosse o Highlander ali aportado. Alguns barcos menores também se encontravam ancorados no local. Próximas a eles podiam ser vistas mulheres limpando peixes, enquanto outras carregavam sobre suas cabeças cestas carregadas de frutas e verduras, o que indicava que havia plantações próximas para fornecimento de alimentos aos seus moradores. Antes de pegar a charrete que os levaria para a casa principal, Crow deu algumas ordens aos seus homens, supervisionou a colocação de dois baús na parte traseira da carroça e despediu-se. Provavelmente aquela seria a sua parte das pilhagens feitas no período em que estiveram afastados de casa. Brett permaneceu junto ao navio para coordenar os últimos detalhes do desembarque e cuidados que o Highlander deveria receber devido às avarias sofridas dias antes. Depois da demonstração de afeto de Tina, ficou parado sobre o deck de madeira, observando-a sumir na direção de sua própria charrete, partindo atrás de Crow e seus convidados. Durante alguns momentos sentiu-se pairar acima do chão quando o calor de Tina o envolveu, para, logo após seu afastamento abrupto, chegar à conclusão que ela o tinha usado para enciumar Crow. Tomado por indignação, pensou em procurá-la mais tarde para esclarecer alguns pontos que estavam obscuros entre eles há um bom tempo.
Seguiram pouco mais de um quilometro para dentro da ilha, através de uma estreita estrada de terra, ladeada por bananeiras, plantações de hortaliças e frondosas árvores frutíferas. Chegaram a uma casa muito semelhante às vistas na vila, porém maior e possuindo um segundo andar.
- O que você quis dizer com comunidade de órfãos? – perguntou Ana quando chegavam à entrada principal da morada.
- O Capitão Hawk, o antigo dono de tudo isso, era um dos bons piratas, com coração caridoso. Tudo começou com Valentina. Ele a comprou de um mercador de escravos para evitar que tivesse um destino incerto, quando ela tinha seis anos. Adotou-a como filha. Depois disso, todo órfão que ele encontrava em suas viagens trazia para cá. Muitos acabaram sendo adotados pelas famílias que se formavam aqui. Assim surgiu a vila que viu lá atrás.
- E você continua o trabalho que ele começou?
- Na medida do possível... Temos simpatizantes nas diversas ilhas aqui nas Caraíbas. Quando eles tem notícia de alguma criança em situação de abandono, trazem-na para cá ou avisam Tina, que vai até o lugar e recolhe o pequenino. Aqueles que ainda não conseguiram ser adotados, permanecem aqui na casa, cuidados por Tina e por outras mulheres da vila. Não são muitos, mas... Antes que ele terminasse sua frase, um grupo barulhento de seis crianças, entre três e doze anos, cercou a carroça, fazendo a maior algazarra.
- Capitão Crow! O senhor voltou! – disse o menino que aparentava ser o mais velho e líder da criançada. Ele desceu do coche e foi cercado. Os menores se agarravam a suas pernas festejando sua volta, enquanto o mais velho olhava com curiosidade os acompanhantes do capitão.
- Espero que tenham se comportado na minha ausência.
- Claro que sim... A Tina e eu os mantivemos na linha... Quem é essa moça e esse homem velho, capitão?
- Abe! Crianças! – A voz de Tina cortou o ar. – Já viram o capitão Crow. Agora voltem a brincar ou ao que estavam fazendo. O capitão e seus convidados precisam descansar. Haverá tempo para conversas mais tarde. – As ordens eram firmes, mas deixavam entrever a generosidade e o carinho maternal.
Ana, que já se encontrava extasiada com a jovial reciprocidade de Crow com os meninos, não conteve um ar de admiração pela jovem ao vê-la descer de sua charrete e arrebanhar as crianças, afastando-as gentilmente do local, ajudada pelo garoto mais velho, Abe.
- Não brinca que vou ter que dividir o mesmo teto com esse bando de pirralhos? – exclamou Didier.
- Pare de ser tão chato, seu velho rabugento.
- Olhe como fala comigo, Marie!
Tina voltou a surgir com um grande sorriso e causou nova admiração em Ana quando falou:
- Venha comigo, Ana. Vou mostrar onde fica o quarto do Crow. Depois iremos ao meu quarto. Você escolhe uma roupa enquanto preparo o seu banho. Que tal?
Ana arranhou a garganta duas vezes, não conseguindo acreditar no que ouvia. Provavelmente Tina a afogaria em alguma banheira na primeira oportunidade em que estivessem a sós.
- Não... O Nigel...
- Ótima ideia, Tina! Vá com ela, meu bem. Vou acomodar o Didier e tomar um banho também. Nos encontramos depois.
- Mas, Nigel...
Ele se aproximou e lhe deu um casto beijo na testa.
- Tina vai cuidar de você... Disso ela não duvidava nem um pouco. Seria capaz de jurar que Tina serviria o seu fígado no jantar com uma taça de vinho.
- Vamos lá, cunhada. Vai se sentir bem melhor depois de um banho.

(continua...)



Oi, pessoal! Mais um capítulo postado. Últimamente estou escrevendo como se eu tivesse uma editora atrás de mim...(rsrsrs... quem dera...). Pensei que não conseguiria cumprir a minha meta de um capítulo por semana, mas já vi que a inspiração acaba vindo sob pressão de mim mesma.
Como podem ver, surgiu uma personagem nova. Nem me perguntem como a Tina apareceu. Eu estava ancorando o Highlander e essa maluca se colocou na minha frente e não tive como evitar de introduzí-la na história. Como já disse, a história se governa sozinha algumas vezes.
Hoje, especialmente estou muito contente, pois o blog conta com quatro novos seguidores/leitores: Adriana e Francilangela (do Clube dos Novos Autores), o Denir Junior (criador de Milena Liebe) e Jefferson. Gostaria de dar as boas vindas a todos e agradecer os comentários e recados que tanto me incentivam.
Nao poderia deixar de agradecer também às minhas queridas amigas parceiras, Tutinha (Cassinha), Nadja e Léia, que deixaram os seus comentários carinhosos de sempre. Falando na Léia, não posso deixar de fazer uma pequena homenagem ao seu namorado e meu seguidor aqui no blog, Luiz Fernando, poeta e emoção em pessoa, que hoje está de aniversário. Já deixei recadinhos para ele no Orkut desejando um Feliz Aniversário! Que o futuro te traga toda a felicidade que desejas e que teus sonhos se tornem realidade, meu amigo!
Parabéns!!
Além do Luiz Fernando, outra grande amiga está de aniversário hoje - a minha querida LUCY. Feliz Aniversário, minha linda! Que os anjos continuem te iluminando e que a felicidade se torne uma constante em tua vida! Um grande beijo!

Bem, antes que os meus agradecimentos e felicitações  virem romance, deixo aqui o meu até breve e um beijo para todos voces!!

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo IX


O dia finalmente amanhecera. As nuvens carregadas de chuva afastavam-se rapidamente. Deixavam a região conhecida por suas turbulências. O vento encarregava-se de inflar as velas do Highlander levando-o em suas asas através do rumo traçado quase duas semanas antes. A ilha de Eleuthera. Poucos homens estavam no convés trabalhando com as escotas, remendando velas rasgadas na tempestade e secando o convés. Os demais, que haviam lutado contra a fúria do tempo, durante a noite, foram dispensados para um breve descanso. Brett podia sentir todo o peso do cansaço das horas sem dormir no corpo dolorido. Não conseguira voltar à cabine para ver Crow. Esperava que ele estivesse melhor.
Quando pensou em descer à cabine para ver como estava o amigo, este apareceu ao seu lado. Parecia bastante abatido, mas a febre aparentemente o abandonara.
-Você devia estar na cama. – disse sem esconder a satisfação de ve-lo na expressão sorridente.
- Estou me sentindo melhor. Além do mais não conseguia dormir.
- E Ana?
- Está descansando...
Olhou para o horizonte, sentindo a brisa marinha batendo em seu rosto. Não cansava de admirar a tênue linha que dividia céu e mar. Uma faixa tão delicada que tornava difícil definir onde começava um e terminava o outro. As águas das Caraíbas eram coloridas por tons de um azul luminescente, que ele só vira nos mares do sul da China, mas àquela hora do dia, com o sol nascente, se tornavam douradas, mesclando tons vermelhos e alaranjados de uma beleza indescritível. Eram momentos assim que o levavam a gostar tanto da vida em alto mar. Pensou em como seria maravilhoso ter Ana ao seu lado para compartilhar o encanto de imagens como essa. Logo barrou esse pensamento, virando-se para Brett.
- Ela me falou da ajuda de Liam e do seu chá... Muito obrigado.
- Não há de quê...
- Também sei que houve outra tempestade. Algum estrago mais?
- Nada que não se possa recuperar ou ignorar. O Highlander conseguiu sair-se muito bem... Pode voltar para a cama e tratar de se recuperar nos braços da bela Ana. – disse em tom de galhofa, porém notou que Crow não achara graça e que, em pensamento, não estava exatamente ali ao seu lado. – Algum problema? - Não. – respondeu mantendo o olhar no horizonte, que começava a perder o tom dourado e voltava a ser uma mistura de nuances do azul.
- Quer se abrir comigo?
- Não. São apenas coisas a resolver quando estivermos em Eleuthera.
- Muito bem... Não vou insistir. – calou-se ao ver que estariam acompanhados em instantes.
- Nigel! – Ana surgiu ao seu lado, angustiada, com os cabelos desgrenhados rebelando-se contra a brisa forte que os fustigava e as faces rosadas. – Quem mandou o senhor levantar daquela cama? Como ficará bom se não para de levantar a toda hora. – Sua voz não conseguia esconder a irritação pela teimosia de seu paciente.
- É... Parece que arranjou uma ama-seca, capitão. – brincou Brett.
- A melhor, eu diria – disse ele docemente dirigindo-se a Ana, sob o queixo caído de Brett que esperava ouvir uma imprecação e não uma confirmação do que havia dito ironicamente. Percebeu que a ira dela imediatamente abrandou-se e, surpreendendo-o novamente, seu braço enroscou-se na cintura de Crow e sua cabeça repousou em seu peito.
- Já deu o seu passeio matinal. – falou com voz firme quando olhou para cima, encarando-o. Agora vai voltar para a cabine e ficar bem quieto. Não quero passar mais uma noite em claro cuidando de você.
- Bem, parece que serei obrigado a me recolher... – sorriu resignado.
- Brett, você também está com um aspecto terrível. – observou Ana compadecida.
- Nada que umas boas horas de sono não resolvam.
Peter aproximou-se deles.
- Bom dia, Capitão Crow. Vejo que está melhor...
- Obrigado, Peter... O que houve? Parece preocupado.
- Acabo de avistar um navio a bombordo. Só que ele está muito longe para poder ser identificado.
- Está vindo em nossa direção? – indagou Crow já em estado de alerta, soltando-se do abraço de Ana. Quando fez menção de ir à ponte de comando para constatar o que Peter falara, Brett jogou um olhar de reprovação para seu contramestre e antecipou-se ao capitão, impedindo-o de dar mais um passo.
- Como eu disse, ele está muito longe para ver qual seu rumo. Apenas achei que gostariam de saber.
- É melhor voltar para a cabine, Crow. Vou verificar e se houver algum problema eu o aviso.Provavelmente não seja nada. Sabe que estamos nos aproximando das ilhas e que o movimento de navios por aqui é grande. Vá descansar, pois logo vou precisar que alguém assuma o comando. Portanto, suma daqui.
- É isso mesmo. – reafirmou Ana segurando-o pelo braço direito – Vamos descer, por favor. O Brett o manterá informado.
Sob protesto, mas sentindo a dor no ombro intensificar-se, foi praticamente arrastado por Ana para baixo. - Não deixe de me informar, Brett. – gritou antes de descer.
- Pode deixar. – disse antes de seguir Peter até a ponte de comando, pegar a luneta e observar o horizonte na direção apontada pelo experiente marujo, cuidadosamente.
- Parece que o seu navio desapareceu, Peter. Tem certeza que não foi algum reflexo do sol na água?
- Absolutamente, Brett. Havia um embarcação há cerca de 2 milhas daqui. Devem estar indo para o Norte. Pela distância é difícil de dizer o trajeto ou a procedência deles.
- Fique de olho. Vou dormir um pouco. Se ele tornar a aparecer, nem que por alguns segundos, me avise.

Crow permaneceu inquieto. Quase não tocou no café que Liam trouxe no meio da manhã, juntamente com um novo emplastro para colocar na troca de curativo que ele próprio fez questão de fazer.
- Eu continuaria acamado se fosse o senhor, capitão. Ainda há risco de a febre voltar e o senhor sabe disso melhor que ninguém. – recomendou logo depois de fechar as ataduras sobre o corte suturado.
- Eu me sinto um inútil ficando aqui deitado sem fazer nada.
- Você não confia no Brett? – perguntou Ana ansiosa por ve-lo saudável o mais rápido possível.
- Confiaria a minha vida a ele... Mas ele já fez demais, está exausto, trabalhando sem descanso desde ontem...
- Por favor, Nigel... Se você morrer por causa dessa ferida, será bem pior... – rogou Ana, amolecendo a vontade e o coração de Crow, o que sempre acontecia quando ela o chamava pelo seu primeiro nome de batismo.
- Sinto lhe dizer, capitão, mas a moça tem razão. Não nos adiantará em nada um comandante morto...
- Está bem, está bem... Convenceram-me. – afirmou conformado.
Depois que Liam saiu, Ana tentou fazer com que ele comesse alguma coisa.
- Você mal tocou na comida. Tem que se alimentar para adquirir forças e se recuperar mais depressa...
Aproximou-se da cama onde ele voltara a se deitar com o cenho franzido e o pensamento no navio que Peter dissera ter visto. Levou-lhe um pequeno pedaço de queijo na mão.
– Coma ao menos um pouquinho...
Crow abriu-se num sorriso.
- Eu não mereço todo esse cuidado...
- Por que não? – disse sentando-se na beira do leito e ficando muito próxima a ele.
- Afinal, eu a raptei, trouxe você para dentro deste navio contra sua vontade e...
Calou-o com um beijo inesperado, que foi plenamente correspondido.
- Agora, coma um pedacinho desse queijo delicioso... – exigiu Ana assim que se separaram.
- Esse queijo me parece um tanto rançoso, não? – disse depois de dar uma cheirada no bocado.
- Oh... Está bem. Não insisto mais... – acabou por desistir de sua oferta tristonhamente, reconhecendo que ela não era tão tentadora assim.
- Desculpe, mas não estou com fome. – disse segurando sua mão com delicadeza e evitando que ela se levantasse do seu lado. – Fiquei preocupado com o que Peter falou. – explicou-se.
- Por que ficaria? Brett disse que provavelmente não é nada.
- Ele disse aquilo para se livrar de mim, mas sei que ele deve ter ficado tão preocupado quanto eu.
- O que exatamente o preocupa?
- Castilhos.
- O pirata espanhol? Por que?
- Que tal me contar a causa do medo que sente de seu tio Villardompardo?
- Acha que Castilhos pode ter sido mandado por meu tio?
- É você quem vai me dizer se isso é possível.
Ela o estudou por alguns segundos, desvencilhou-se de sua mão e levantou da cama, indo até a janela, onde ficou a olhar as ondulações hipnóticas do mar.
- Cristóbal Villardompardo odiava minha família e nunca escondeu isso de ninguém. – Sua voz denotava tristeza.
- Qual o motivo de tanto ódio?
- Tudo porque meu pai era o primogênito e natural herdeiro do título de duque, fortuna e terras da família Villardompardo. Depois que meu avô morreu, quando eu tinha oito anos, meu pai tentou aproximar-se do irmão. Buscava o diálogo, pagava suas dívidas de jogo, achando que isso iria amenizar o ódio. Com o tempo, percebeu que estava apenas incentivando o vício de Cristóbal e que o rancor permanecia inalterado. Meu tio ficou desesperado quando se viu sem ter como pagar seus credores. As brigas tornaram-se diárias e ele começou com as ameaças de morte. Culminou com uma malograda tentativa de envenenamento de meu pai, que percebeu que minha mãe e eu poderíamos estar correndo risco de vida. Resolveu que devíamos partir para a Inglaterra por um tempo, ficando com a família de mamãe. Foi quando aconteceu... Tudo aquilo que você já sabe... – Terminou de contar seu drama com a expressão abatida e os olhos marejados.
Crow respirou fundo, combalido com a história que ouvira. Imaginou o medo e a angústia de Ana, uma criança, em meio a toda essa situação familiar, para depois, fugindo de um tio assassino, sofrer a perda dos pais, quase perder a sua própria vida, e ficar a mercê de desconhecidos em um país estrangeiro. Sentiu-se envergonhado de um dia ter pensado que tinha problemas. Levantou da cama e aproximou-se dela, que estava de costas. Abraçou-a por trás, tentando confortá-la. Ficou em silêncio para que ela pudesse se recuperar do esforço emocional de relembrar fatos tão terríveis. No aconchego dos braços de Crow, mais controlada, Ana voltou a falar.
- Ele quer me matar, Nigel. Ele descobriu que estou viva e tem medo que eu volte à Jaén e exija meus direitos.
- Como ele pode saber que está viva?
Ana soltou-se dos braços de Crow e começou a andar no restrito espaço do quarto, contorcendo as mãos, uma contra a outra, de forma aflita.
- Não sei como, um provável conhecido da família me descobriu. Há alguns meses eu estava na praça do mercado quando notei que estava sendo seguida. Um homem falando espanhol me encurralou e disse que não queria me fazer mal. Estava curioso com a semelhança entre uma jovem inglesa que ele conhecera anos atrás e eu. Eu fiz que não o tinha entendido, mas ele insistiu e falou que a moça tinha uma filha chamada Ana, perdida há muitos anos. Fiquei desesperada, sem saber o que fazer. Consegui fugir. Fiquei escondida em casa por alguns dias. Não o vi mais.
- Então não deve se preocupar. – disse tentando disfarçar a sua própria apreensão.
- Tenho sim e vai entender por que... Lembra do novo chefe de polícia em Rochelle?
- Sim... Menotté...
- Tenho certeza que ele conhece meu tio e estava me vigiando. Por um infeliz acaso eu o assaltei e isso lhe deu um motivo para me prender e me interrogar. Fez várias perguntas sobre minha procedência, quem eram meus pais... E me perguntou se eu já ouvira falar de Villardompardo. Então eu tive a certeza de quem estava por trás daquela prisão.
- Então você acha que ele ia levá-la à guilhotina a pedido de seu tio?
- Provavelmente... Só que eu não seria morta em La Rochelle. Ele estava preparando a minha viagem para Jáen. Eu o ouvi dar ordens para preparar uma carruagem e mantimentos para o dia seguinte.
- Por que não me contou isso antes, Ana? – ele estava abismado com tamanha trama.
- No início, quando soube que era um pirata e que pretendia me levar em seu navio cheguei a pensar que você trabalhava para Cristóbal. Principalmente quando disse para Brett seguir para a Espanha.
- Por isso se jogou ao mar... Ficou desesperada ao pensar que...
- Pois é... Depois, quando conversamos, percebi que seus motivos eram outros e que não trabalhava para aquele ser monstruoso. Contudo, não quis envolvê-lo mais nessa confusão.
Crow ficou pensativo por alguns momentos.
- Ana...– falou afinal –  Você tem algum documento que prove que é uma Villardompardo?
- Na verdade, tinha. Foi a última coisa que minha mãe me deu antes de morrer. Quando nosso navio foi atacado pelo... – evitou dizer seu para não aborrecê-lo – ... Enterprise, ela os escondeu junto ao corpo. Quando percebeu que eu teria chance de sobreviver, os deu para mim. Desde então guardo esses papéis como a única recordação palpável de meus pais.
- Por que disse tinha? Onde eles estão?
- Ficaram na casa em La Rochelle, num esconderijo secreto no quarto.
- Didier sabe sobre eles?
- Não creio que Didier saiba de alguma coisa. Além do mais ele não sabe ler e nunca se interessou sobre o meu passado.
- Você tem que recuperar esses documentos e reivindicar o que é seu por direito.
- Não pretendo reivindicar nada, Nigel. Nunca contei nada disso para ninguém. Eu só contei a você para que entenda o medo que tenho de meu tio e por que não posso voltar à Jaén. Tudo que eu tinha de mais caro perdi por causa dessa herança. Por favor... Não quero mais falar sobre isso... – Com a voz embargada, não conseguiu mais controlar as lágrimas.
Comovido e entendendo que aquele não era o melhor momento para convencê-la do contrário, abraçou-a mais uma vez. Estreitou-a contra o peito e ficou apenas a acalentá-la, deixando-a extravasar todas as más recordações. Ana guardara todas elas por tanto tempo e tinha confiado nele, apenas nele, para expor-se por completo. Essa confiança o tornava ainda mais responsável sobre o seu futuro. Não se calaria diante de tamanha injustiça. Drake já pagara naturalmente, com uma morte horrível, esvaído em seus próprios vômito e fezes. O tal Cristóbal que aguardasse...


- E então? Ainda de ressaca? – perguntou Sam, o pirata que ajudara na fuga da prisão de La Rochelle, subitamente interessado no estado de Didier, que se encontrava encostado na amurada, olhando para o movimento dos homens pelo convés.
- Por que quer saber? – respondeu amuado, depois de ter sido mais uma vez expulso da cabine do comandante e voltar a comer mal e dormir nos porões.
- Ora! Não precisa ser tão estúpido! Não está mais aqui quem falou! – exclamou aparentemente indignado com o tratamento recebido. – Ia apenas oferecer um pouco de rum.
- Desculpe. – Os olhos miúdos brilharam ao ver a garrafa cheia na mão do pirata. – É que não fui feito para andar rebolando sobre o chão. E é isso que ando fazendo desde que entrei nesse maldito barco.
- Então por que veio? – E entregou a botija, depois de tomar um gole.
- O seu capitão me enganou... – Agarrou o oferecimento, ávido, pois somente a bebida ajudava a passar o tempo mais rápido naquele desagradável período em alto mar. – Achei que ele ia soltar a Marie e nos deixar livres para fugir para alguma outra cidade. Ao invés disso, nos trouxe para essa prisão flutuante. Apesar de um dia ter sido pescador, mais por herança de seu pai do que por apreciar a profissão, odiava estar dentro de qualquer embarcação. Assim que, depois que seu pai morreu, largou o ofício tradicional de sua família. Como não aprendera nenhuma outra atividade que lhe provesse ganhos sem maiores esforços, adotou a carreira de ladrão para poder comer.
- Você é mesmo o pai dela? – perguntou Sam olhando para além da amurada.
- É como se fosse. Eu a criei e ensinei tudo que sei a ela. Aqui entre nós, ela tem a mão mais leve que a minha... Hahaha!
- Então ela não é sua filha de verdade... É uma órfã?
Mesmo ligeiramente embriagado, Didier desconfiou daquele repentino empenho do bucaneiro.
- Por que esse interesse?
- Nada, nada... Sabia que o falecido Capitão Hawk, antigo dono desse navio, mantinha uma espécie de orfanato em Eleuthera, a Aldeia do Falcão, à qual Crow deu continuidade?
- Sério?
- Pois é... Nunca falei para ninguém, mas tenho muita pena de órfãos... Por isso o meu interesse. Não fosse você, Marie poderia ser como uma das crianças que vivem da caridade do Crow.
Entorpecido pelo álcool, Didier não percebeu o brilho de malícia no olho de Sam.
- Quem diria que um velho lobo do mar como você teria um coração aí debaixo... – comentou admirado.
- É muito triste não conhecer ou saber quem foram seus pais... Eu mesmo não conheci os meus...
- Sinto muito, amigo – consolou-o com a voz já mais arrastada. – ...Se eu ao menos soubesse ler...
O interesse de Sam pareceu explodir em sua expressão ao ouvir a queixa de Didier.
- Posso saber por quê?
Didier olhou para os lados certificando-se de que não havia nenhum curioso em volta a ouvi-los e cochichou muito próximo a Sam.
- Quando achei a Marie, ela trazia um envelope consigo que tinha um daqueles lacres vermelhos com um brasão. Como não sei ler, nunca me interessei pelo seu conteúdo, mas às vezes eu acho que nele deve conter alguma coisa a respeito da família dela. – Aproximou-se ainda mais e continuou ao pé do ouvido do pretenso amigo – Ela achava que tinha escondido de mim, mas eu o peguei quando fugimos de La Rochelle... Achei que seria bom traze-lo comigo.
- E onde está ele? Eu sei ler... Poderia ler para você, meu camarada.
- Não! Melhor não... Ele parece ser importante para a Marie. Devolverei a ela quando chegarmos em Eleutha, Eutha..., ou seja lá como se chama esse raio dessa ilha para onde estamos indo. – Agarrou firme a garrafa e resolveu encerrar a conversação. – E chega de conversa! Vou arranjar um lugar para ficar essa noite que seja mais firme que aquelas redes lá de baixo.
Sam ainda tentou convencê-lo a ficar um pouco mais, porém sem sucesso. Restou-lhe apenas ficar olhando ardilosamente o francês sair cambaleante, segurando-se nas cordas, na direção dos escaleres.

(continua...)


Oi! Finalmente consegui postar. Pretendia faze-lo no sábado, mas tive pouco tempo e certa dificuldade até conseguir deixar o texto como eu queria. Como podem ver, a Ana finalmente explicou o por quê da fuga da Andaluzia (Jaén, que ela cita na história, era um dos reinos daquela região, juntamente com Sevilha e Córdoba). O próximo capítulo deverá mostrar a chegada deles à Eleuthera. Lá espero aprofundar as relações de Crow e Ana, mas teremos alguns problemas...
Adorei os comentários! Já sei que o Crow anda provocando, e com razão (eu tb tenho suspirado muito), suspiros nas meninas e até inspirando sonhos... Fiquei curiosa com esse sonho... rsrsrs...
Beijos a todos que me acompanham nessa aventura!