quarta-feira, 31 de agosto de 2011

O Corsário Apaixonado - Capítulo VIII(segunda parte)


Aquele balanço interminável estava fazendo com que o seu enjoo voltasse. Foi até o armário e pegou um pouco de gengibre para mastigar. Fazendo uma careta ao sentir o gosto acre da raiz, voltou seu olhar para cima da cama. Os tremores haviam cedido e ela conseguira fazer com que ele bebesse todo o chá. Os suores, sinal de que a febre estava sendo vencida, abundavam sobre a testa e o peito de Crow, começando a deixar os lençóis úmidos. Precisava trocá-los. Abriu o baú e imaginou se eles haviam atacado algum navio que transportava o enxoval de uma rainha ou nobre francesa, pois os jogos de cama que ali encontrou eram todos de grande qualidade, ornados com rendas finas e bordados feitos com fios de seda coloridos formando flores e borboletas. Foi uma pena ter que destruir um deles para fazer as ataduras, mas tinha sido por uma boa causa.
Atordoado e sentindo dores no corpo, abriu os olhos e viu Ana debruçada sobre o baú aos pés da cama. Pensou que estava sonhando. Só então notou que estava deitado em sua cama, nu da cintura para cima, com compressas sobre a testa e o corpo. Ela estava cuidando dele? Observou a face de traços suaves, realçada pela chama flamejante do lampião, compenetrada, a procura de alguma coisa. Estava com os cabelos presos por uma fita, tornando tentadora a visão de seu delgado pescoço. Parecia perdida dentro da camisa masculina. Seus movimentos eram de uma extrema sensualidade. Viu quando ela decidiu o que pegar dentro do baú e fechá-lo sem ruído. Fechou os olhos para fazê-la pensar que ainda estava dormindo. Tinha medo que aquele encantamento se desvanecesse e ela o deixasse.
- Bem, meu belo corsário, como faremos para trocar esses lençóis? – indagou olhando-o docemente, aliviada por seus cuidados estarem tendo efeito. Esperava que a febre não voltasse mais. Certamente o emplastro do Liam e o chá de Brett tinham ajudado bastante na melhora.
Uma onda mais forte avançou subitamente à estibordo, lançando-a sobre a cama, fazendo-a cair sobre o peito de Crow. Soltou uma interjeição picante e, enquanto tentava levantar-se e recuperar o equilíbrio, lançou um olhar preocupado para o local do ferimento, temendo poder tê-lo machucado na queda. Porém, no caminho, seus olhos cruzaram com certo par de olhos verdes, que agora corriam por seu rosto. A proximidade entre eles era tal que ela pode sentir o calor da respiração do pirata, o que provocou um imediato descompasso de seu coração.
- Perdão! Eu o machuquei? – perguntou com a voz trêmula.
- Não... – respondeu ele tentando ler o que havia por trás daqueles olhos de avelã. – Por um momento, pensei que... – ... estava no céu, disse para si mesmo.
- Desculpe... – disse desajeitada e com as faces queimando. – Estamos enfrentando outra tempestade e o navio está balançando demais...
Apesar de suas tentativas em levantar-se, a cada vez uma nova onda a empurrava de volta e seu corpo não ajudava muito, já que seus ossos pareciam ter virado manteiga.
- Eu gostaria de ajudá-la a ficar de pé, mas parece que meu corpo não está colaborando. – desculpou-se. 
Queria sentar, mas não encontrava força suficiente para tal, além de perceber alguma coisa grudada em seu ombro ferido.
- O que aconteceu?
Finalmente ela conseguiu sentar-se na beira do leito. Evitando aquele olhar, pegou a compressa que caíra ao lado do travesseiro e iniciou uma rápida explicação.
- Você estava com febre muito alta, com tremores e gemendo muito. O Brett o trouxe para cá e mandou preparar um chá com um tipo de casca. O Liam fez um cataplasma para por sobre seu corte...
- E você?
- Eu?... Coloquei compressas frias para ver se a febre baixava... Pelo visto tudo isso resolveu...
- Obrigado... Não precisava ter se incomodado comigo...
Subitamente uma onda de indignação tomou conta dela. O cansaço, a falta de sono e o temor da morte que rondara aquele quarto durante toda a noite eclodiram ao ouvir aquelas palavras. Levantou da cama quase de um pulo e voltou-se para ele com a boca crispada e a expressão em fúria.
- Não diga uma coisa dessas! Pelo o quê me julgas? Acha que eu ficaria parada olhando você, febril e gemente, e não faria nada? Acha que tenho um coração de pedra e que, depois de ter a minha vida salva por você, o deixaria morrer na minha frente sem fazer nada? Se não fosse tão teimoso e obedecesse a ordem de ficar em repouso, não estaria aqui agora – Parou de gritar quando ele sorriu. Só então notou que alterara o tom de sua voz exageradamente. Calou-se constrangida e deu um longo suspiro, colocando a mão no peito. Por que ele a fazia sentir daquele jeito? Seria possível que ele não acreditasse que ela fosse capaz de fazer algo por ele apenas pelo fato de... de preocupar-se com ele... de gostar dele...
- Apenas queria agradecer... – disse ainda não refeito da explosão de Ana.
- É que você me deixa... – As palavras ficaram perdidas em sua boca e seus sentidos perdidos nos olhos de Crow.
Mais uma rajada de vento forte, uma ondulação mais violenta, e ela caiu sobre a cama, com as mãos espalmadas na beirada, para evitar cair de joelhos. Entretanto a cabeça acabou sobre o peito de Crow. Sem se importar com a dor no ombro e antes que ela conseguisse levantar-se, envolveu-a com o braço direito e a manteve junto a si.
- Como eu a deixo?... – falou junto ao seu ouvido.
- Me deixa... nervosa... – ciciou de olhos fechados, arrepiando-se com a calidez da respiração de Crow em sua pele.
Aspirou o perfume das mechas de cabelos ruivos que se soltavam do laço de fita e roçou os lábios no lóbulo da orelha tenra e delicada. Ouviu a respiração de Ana acelerar, confundindo-se com a sua própria. Sentiu o calor do seu rubor nas maçãs do rosto, quando trilhava com beijos suaves em direção a boca tentadora. Quando ali chegou ela o aguardava, ansiosa e entreaberta, pronta para recebê-lo. O desejo de beijá-la era mais forte que qualquer outro tipo de sentimento de culpa ou pudores que ainda pudessem existir. Ela o cativara completamente. Corpo e alma. Precisava daquela mulher como o ar que respirava. Lentamente ela acomodou-se lânguida ao lado dele, lançando o braço esquerdo em torno de seu tórax nu enquanto o beijava, embriagada pela saliva e pela língua que a invadia exploradora e insaciável. Quando as bocas separaram-se, os corpos não seguiram a mesma direção. Ficaram ali abraçados, inebriados pelo acalentador mormaço que exalava da união de seus corpos.
- Tive medo que morresse...
- Não posso morrer antes de cumprir a minha missão.
- Que missão? – indagou sonolenta.
- Devolvê-la a sua família.
- Minha família?... Eu a perdi há muitos anos.
Ela o sentiu retesar-se e apressou-se a acalmá-lo.
- Não foi sua culpa. O único culpado foi aquele monstro do Drake que comandava o navio.
Ele permaneceu mudo enquanto ela o acariciava no peito, brincando com alguns dos pelos negros que o cobriam sem exagero.
- Eu podia ter feito alguma coisa para impedir... Devia tê-lo matado... – Enquanto falava algo passou por sua mente e afastou-a delicadamente, obrigando-a a encará-lo – Por que você acha que eu não tenho culpa?
- Ora... – Desviou o olhar lembrando que Brett lhe pedira que não o delatasse – Ora, por que não! – E tentou levantar-se, mas foi segura por Crow.
- O que o abelhudo do Brett andou fofocando no seu ouvido enquanto eu estava inconsciente?
- Ele não disse nada...
- Depois eu me entendo com ele...
- Não vai brigar com ele. Brett é seu amigo. Ele apenas disse que você enfrentou Drake e foi contra o que aconteceu.
Chegou a sentir uma pontada de ciúmes ao ouvi-la defender o amigo.
- E você acredita em tudo que os outros dizem?
Então foi a vez dela o encarar.
- Acredito no que o meu coração me diz. E ele me diz que você é bom.
- Já fiz muitas coisas ruins na minha vida, Ana. Coisas nada agradáveis... Afinal sou um pirata... – e contraiu os lábios ironicamente – Você já viu um pirata de boa índole?
- Humm... – ela fez que meditava sobre a questão – Na verdade...Você é o primeiro.
Ele gargalhou alto, mas o riso foi suprimido pela dor no ferimento. Preocupada, Ana sentou ao seu lado.
- Ai, meu Deus! Você tem que descansar. A febre pode voltar e eu não quero estragar mais um daqueles lindos lençóis que estão no baú para fazer compressas e ataduras.
- Só se me der mais um beijo... Acho que seus beijos podem me fazer curar mais depressa.
Ela arqueou a sobrancelha esquerda, simulando dúvida quanto ao seu pedido.
- Um beijo curativo?
- Só um... – rogou ele com o olhar.
- Um só...
Ao ver a expressão de satisfação iluminando a face de Crow foi de encontro àqueles lábios que tinham o poder de fazê-la esquecer de todo um passado de sofrimentos. Sim... Aquele beijo tinha o poder de cura. O poder de curar as feridas de sua alma.
- Por que não se deita aqui ao meu lado? – perguntou assim que se separaram. – Prometo que não vou tentar nada...
- Você  precisa de repouso... – falou bem baixinho, cobrindo as faces de rosa – Comporte-se... Ainda temos que trocar esse lençol, Sr. Nigel. - desconversou. 
Com a colaboração dele, rapidamente a roupa de cama foi substituída por outra, seca e limpa. O balanço do navio diminuíra. As pálpebras de Ana tornavam-se pesadas e o corpo exigia repouso. Sentou-se na cadeira a observá-lo.
- Venha... Deite-se aqui. – repetiu o convite. – Você também precisa descansar. A cama é grande o suficiente para nós dois.
- Está bem... – acabou por ceder, por achar que a cadeira onde estava não era muito convidativa para um cochilo.
Antes de deitar, conferiu com a palma da mão sobre sua testa que a febre realmente se fora. Ele achou graça quando ela cobriu a ele e à cama com uma manta e deitou-se sobre ela, limitando o contato entre seus corpos. Parecia tensa e ele não quis forçar maior aproximação. Aos poucos ela se virou de lado, ficando de frente para ele.
- Logo chegaremos a Eleuthera. – Crow começou a falar em voz baixa e mansa – Você vai gostar de lá. Depois cuidaremos do seu retorno à Inglaterra... E não pense que esqueci seu tio espanhol e os motivos de você não querer revê-lo. Ainda está me devendo uma explicação. – Então ele ouviu um suspiro tímido e a olhou. Ana estava de olhos fechados e a respiração calma e ritmada mostrava que caira em sono profundo. Uma sensação de rara felicidade inundou seu espírito. Sentia-se completo como nunca se sentira antes. No entanto, enquanto velava o sono de Ana, a expressão de júbilo foi sendo desgastada por incertezas. Dúvidas quanto ao futuro o perturbavam. Se dependesse dele, Ana seria reconhecida como uma rica herdeira. Viveria na corte, cercada de regalias, onde teria a chance de escolher um homem nobre e poderoso para casar. Quanto a ele, seu destino havia sido traçado quando escolheu a deserção e uma vida em alto-mar, como um fora da lei. Não tinha nada a oferecer a ela a não ser uma vida de pilhagens e o convívio com larápios da pior espécie. Fechou os olhos e resolveu adiar esses nebulosos pensamentos para adiante.

(continua...)


Oi, meus queridos! 
Nunca pensei que fosse ser tão difícil colocar em palavras e ações o acerto inicial desses dois, mas enfim aí está. Espero que tenham gostado. Agora, não pensem que as complicaçoes acabam por aí. Infelizmente, essa história está só começando. Tomara que eu consiga escrever tudo que rola na minha cabeça sobre esse pobre casal e que voces tenham paciencia para aguentar esse romance até o fim...rsrsrs. Como sempre, adorei os comentários feitos e pela solidariedade de todos com relação às minhas dificuldades, que graças a Deus já foram resolvidas. Agora, tenho que correr para escrever o capítulo nove.
Beijos e carinhos a todos!

9 comentários:

  1. Querida: Adorei!!! Como sempre, aguardo ansiosa pelo próximo... e sonho acordada com esse belo pirata...
    Bjos!

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  2. Vamos ficar aqui em contagem regressiva por esse encanto de casal que está cada vez melhor... agora a curiosidade bateu e ficou com esse começo de história... céus o q virá por ai.. lá se vai minhas unhas... kkk

    Ro... to feliz que tudo se encaminhou em seus problemas pessoais... sacode a poeira e vamos que vamos...

    * * *Beijão* * *

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  3. Bom Dia amiga!!!!
    Rô, que romance mais encantador, ai, ai, fico suspirando a cada linha que passa pelos meus olhos e não é brincadeira quando disse no e-mail que sentia um calorzinho no coração, sinto mesmo. Teus romances são sempre muito envolventes e conseguem me transportar com facilidade pra o local.
    Fico morrendo de pena do Nigel todas as vezes em que ele sente essa culpa e tensão, tadinho, já sofreu tanto, mas sei que a recompensa nos braços da mulher que ele tanto proteje e ama vai ser a felicidade máxima.
    Beijossss amiga!!!!

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  4. Oi Rô adorei esse capitulo, um pouco de paz pra esses dois, só por enquanto não é, pois se bem te conheço muitas emoções virão por ai... e eu aguardo ansiosa. Quanto as dificuldades não sei bem o que aconteceu, mas fico feliz por vc esta bem, beijosss...

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  5. ai ai ai... não me canso de ler... é uma delicia de ler... a gente viaja literalmente!!! rsrsr É claro que estaremos a espera do proximo capitulo pois está prometendo mais emoções!!! \o/\o/ beijosssss com carinho!!

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  6. já sonhei com o Crow, pronto admito, fazer o que?!! só que no sonho eu aproveitava muito mais que a Ana!! uhauhauhauhau
    Beijos enormes!!
    Brih
    Meu Livro Rosa Pink

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  7. Rô... Benditas ondas fortes... hehehe... Só de pensar em ser lançada sobre o chester do Crow... affffffff... Seria eternamente grata a Yemanjá, levaria flores ao mar toda semana... haushaushau...
    E nesse capítulo vc judiou da gente, amiga, de tanto que falou, vou até sonhar com os pelinhos negros que cobriam o peito do nosso capitão... ♡♥ ♡ ♥♡♥ ♡♥ ♡♥
    Que capítulo mais LINDO!!! Tão doce, repleto de romantismo, afeição, carinho, aquele friozinho no estômago que todo relacionamento inicial nos propicia, coisas que atualmente não estão na moda, mas que são tão essenciais a nossa vida... Enfim, recheadinho de encantamento! E o bom é que, com o seu modo tão perfeito de escrever cada frase, a gente viaja e vai sentindo como se nós fizéssemos parte do enredo. Amei!!!

    PS E o pior é que, como sou tímida, é bem capaz que agisse assim como a Ana... ohhhhhhh desperdício de tempo... [se bem que, o passar dos anos nos dá uma coisa positiva: a gente vai ficando um tantinho mais esperta ;)]

    ♥Beijinhos e um ótimo feriado a vc e sua família♥

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  8. Olá Rosane,
    Legal você estar postando um livro inteiro aqui!
    Estou tentando algo similar.
    Gostaria de lhe apresentar o mundo de Milena Liebe: http://melissaliebe.blogspot.com

    Bjos.

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  9. Puxa... Bastante envolvente este capitulo... A narrativa é bem detalhada e as sequência dos acontecimentos faz com que a gente tenha curiosidade e dessa forma não dá pra parar de ler... Gostei muito mesmo!!! Parabéns pra Rosane!!! Eu também sou autor e convidos todos que gostam de ficção-cientifica a visitar o meu blog e conhecer o meu trabalho!

    UMA VIAGEM AO FUTURO :
    http://www.umaviagemaofuturo.blogspot.com/

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!