terça-feira, 24 de agosto de 2010

Confusões de um Viúvo - Capítulo III

Depois de uma agitada noite de sono, acordou com corpo dolente e uma tremenda dor de cabeça. Provavelmente também estava com febre. Devia imaginar que aquele banho forçado no lago da Redenção não seria totalmente inócuo. E nem sequer recebera um agradecimento daquela professorinha mandona e mal-educada. O jeito como ela o tratou e como dava ordens para o namorado bobão foi realmente desagradável. Ainda bem que era apenas professora de dança e não de boas maneiras. Falaria com a diretora da escola para saber o porquê de terem trocado a professora Ana sem aviso prévio e se era possível Marina ir para outra turma.
Levantou-se com algum esforço e foi ao banheiro.
Leonardo no espelho

Enquanto escovava os dentes analisava a imagem refletida no espelho. Cara, você está péssimo! Além das olheiras, notava algumas rugas em torno dos olhos e novos fios de cabelos brancos em meio aos castanhos. O nariz continuava enorme, apesar de Cris sempre dizer que achava ele um charme e que homem tinha que ter nariz grande... Cris... Ela adorava quando ele ficava de cara limpa, pois gostava de seu queixo partido, entretanto ele sentia-se melhor escondendo as bochechas atrás da barba que sombreava seu rosto.
Depois de terminar a higiene da boca, endireitou os ombros, olhou satisfeito para o ventre razoavelmente firme, mantido graças aos exercícios semanais que voltara a praticar na academia ao lado do escritório. Aproveitava o horário de almoço para este fim, sempre que possível. Depois de ter ficado parado alguns meses, voltara a cuidar de sua forma física. Não por vaidade, mas para manter-se saudável. Baixando um pouco mais o olhar, suspirou melancólico lembrando os conselhos de seu irmão no domingo. Ainda se sentia traindo Cris ao pensar nestas coisas. Rapidamente, voltou ao abdômen. Andava descuidado quanto à alimentação ultimamente. Sempre contara com sua mulher para o preparo das refeições e ela era muito preocupada com o que colocava na mesa de sua família. Depois que ela se foi, por um tempo, comprou refeições congeladas, mas as meninas logo começaram a reclamar do sabor. Talvez comprasse um livro de culinária para aprender a cozinhar, tipo “qualquer um é capaz de cozinhar”. Seus conhecimentos neste campo eram mínimos. Sua maior especialidade era fazer arroz de microondas. Pensaria sobre isto mais tarde. Agora precisava era de um bom analgésico. Precisava preparar o café, acordar as meninas e levá-las à escola. Logo chegaria sua faxineira, D. Nena, diminutivo carinhoso de Maria Helena, dado pelas crianças. Ela os visitava três vezes por semana, mantendo a casa em ordem e as roupas limpas e passadas. Fora bem clara, logo depois da morte de sua mulher, que não poderia ajudar com as meninas. Chegou a indicar outra senhora para o serviço. Porém, a tal mulher passava a tarde gritando e dando ordens. Ao voltar para casa à noite, encontrava Marina chorando e Tati irritadiça. Perderam peso e começaram a tornar-se agressivas Depois de dois meses de experiência, mandou a fera embora. Nunca mais pediu uma indicação de babá para D. Nena, que por sua vez ficou com um enorme sentimento de culpa por ter sido ela a indicar tal pessoa. Com isso, as filhas tiveram que ser colocadas na escolinha em tempo integral, caso contrário ele não poderia trabalhar. Reclamaram um pouco no início. Sabia o quanto elas deviam estar sofrendo com as mudanças, o medo de abandono e o medo de perdê-lo, da mesma forma que tinham perdido a mãe. Aconselhou-se com um amigo psicólogo sobre a melhor maneira de conduzi-las. Procurava nunca atrasar-se para pegá-las na saída da escola e dedicava atenção redobrada nos momentos em que estavam juntos. Precisava deixá-las seguras. No início não foi fácil. Muito choro e muitas noites de pesadelos, mas finalmente parecia que as coisas tinham se acalmado. O último sábado, apesar de não ter sido dos mais agradáveis, mostrou-lhe que sentia falta de sair com amigos, ir a um cinema ver um bom filme, que não fosse “censura livre” e, quem sabe...? A perda de Cris fora trágica, arrancando-a da vida de forma brutal e inesperada. Sofrera imensamente. Só não desistiu de tudo, pois suas filhas precisavam dele. Teve que se mostrar forte para continuarem sendo uma família. Agora, a saudade de Cris tornara-se menos sofrida e ele percebia que a vida seguia seu rumo natural. Não podia mais viver ao lado de um fantasma. Mesmo que este fantasma fosse muito doce. Em vários momentos de crise lembrava palavras dela, frases ou observações, que o confortavam e amenizavam a dor. Apesar da pouca idade, ela era sábia e mais madura que ele. Não era difícil imaginar que, onde quer que ela estivesse, desejaria que ele reconstruísse sua vida.
Terminou de se vestir, procurou um comprimido para dor na caixa de medicamentos no banheiro e foi preparar o café. Olhou a bagunça em que estava a casa, fechou os olhos e agradeceu por segunda-feira ser dia de faxina. Colocou a cafeteira para funcionar, preparou alguns sanduiches de queijo, leite quente para Marina e um copo de iogurte líquido para Tati. Verificou que a geladeira estava quase vazia, bem como sua pequena dispensa, sinalizando que precisava ir ao supermercado. Guarneceu as lancheiras da escola com sucos em caixinhas, frutas e biscoitos integrais.
- Bom dia, papai... – disse Marina, no meio de um bocejo, esfregando os olhos.
Ela sempre acordava com o movimento do pai na casa, pela manhã. Tati era mais preguiçosa.
- Bom dia, filhinha – respondeu, dando-lhe um beijo no topo da cabecinha – Venha tomar o seu café, enquanto acordo a Tati e a arrumo para a escola.
Tomou seu analgésico com um gole de café preto e foi rumo ao quarto cor-de-rosa. Estava sem apetite. Já ia preparando o seu bom dia para Tati, quando notou que sua cama estava vazia. Sorriu e voltou ao corredor, dirigindo-se para o seu quarto.
- Será que a Tati já foi para a escola? – falou em tom mais alto que o habitual, olhando para o amontoado sob o lençol de sua cama, que corcoveava e emitia um sorrisinho abafado – Ou será que ela está escondida por aí? – continuou falando, aproximando-se do montinho que ria.
- Búuu – gritou Tati, saindo debaixo dos lençóis, repentinamente, tentando assustá-lo.
- Bah! Que susto – exclamou colocando a mão sobre o peito, como se tivesse o maior susto de sua vida. Sabia que ela ficaria contrariada se ele não demonstrasse espanto. Este teatrinho era repetido duas a três vezes na semana. Ela parecia nunca cansar-se dele.
Depois de abraçá-la e beijá-la, pegou a pequenina no colo e levou-a até o quarto para vesti-la.
Após o café, sentindo-se um pouco melhor sob o efeito do remédio que tomara, pegou sua carteira, as mochilas e as lancheiras, e saiu apressadamente de casa equilibrando toda aquela bagagem. Precisava deixar as meninas na escola e voar para o escritório, onde tinha reuniões com clientes e com a sua equipe, além de dar andamento aos projetos assumidos. A tarde seria mais calma, mas precisava visitar duas obras em fase final.
Já estavam na porta do elevador de serviço, que os levaria para a garagem do prédio, quando uma sorridente D. Nena cruzou com eles, cumprimentando-os alegremente. Pelo menos naquela manhã ela não se apresentava com nenhuma queixa sobre as dores na coluna ou sobre sua enxaqueca, para alívio dos ouvidos de Leonardo.
- Bom dia, D. Nena – cumprimentou-a, já se despedindo, antes que ela mudasse de idéia e começasse a falar sobre suas dores ou como fora seu triste final de semana – Já estamos atrasados. Se precisar de alguma coisa, a senhora sabe meu telefone. Até!
- Estou precisando de mais produtos de limpeza, seu Leo. Já está tudo no finzinho... – era tudo que ele não queria ouvir àquela hora da manhã. Fora precipitado, pensando que passaria incólume diante de sua “faxineira fascinante”, lembrando da composição de Nei Lisboa.
- Está bem, D. Nena. Hoje dou um jeito de ir ao super e compro o que preciso. A senhora me liga mais tarde para me dar a lista, está bem? – disse já de dentro do elevador.
- Tá bom, seu Léo, tá bom... – disse condescendente.

Era quase dezessete horas, quando chegou ao estacionamento do supermercado, munido com a lista de exigências de D. Nena. Sentia-se péssimo. O mal estar da manhã voltara. A cabeça pesada e o corpo dolorido incomodavam. Não via a hora de poder chegar em casa, tomar um banho e deitar.
Estava no caixa pagando pelas compras quando olhou seu relógio e se surpreendeu, mais uma vez, com a velocidade dos ponteiros. Faltavam poucos minutos para a escola abrir seus portões e liberar os alunos. Não podia atrasar-se. Pensou nos rostinhos tristes de Tati e Marina vendo os outros pais buscando os filhos. Jogou as sacolas de compras no porta-malas e assumiu a direção. Acionou a ré, olhou para os dois lados, certificando-se de que nenhum veículo aproximava-se, e arrancou. No mesmo instante, um carro surgiu na sua traseira. A batida foi inevitável. Depois de resmungar impropérios para o motorista distraído usando todo o seu repertório de palavrões, contou até dez e saiu do carro. Uma mulher estava com a cabeça enterrada na direção do outro veículo, maldizendo-se.
- A senhora está bem? – perguntou por uma questão de educação.
Quando ela levantou o rosto, qual não foi a surpresa dele ao reconhecer Bruna.
- Não acredito! – exclamou ela ao vê-lo – Isto já é perseguição!
- Eu que o diga – replicou ele, vendo-a sair do carro amassado.
Ambos olhavam as avarias de seus veículos. Leonardo ganhara um farol quebrado e Bruna um belo de um amasso na lataria.
- Você não viu a luz de ré acesa? Para onde estava olhando? Costuma-se andar devagar e observando a sua volta quando se está num estacionamento deste tamanho.
- Você apareceu do nada! – disse ela, já saindo do carro com as mãos na cintura. Vestindo um jeans e uma regata branca, que realçava o seu bronzeado, ela estava linda. Trazia os longos cabelos dourados presos num coque improvisado e as faces ligeiramente coradas – E agora? O que vamos fazer?
- Olhe – respondeu nervoso, olhando mais uma vez para o relógio – Tenho um compromisso agora e não posso ficar batendo boca com você. Mande consertar o carro, que eu pago. Agora, por favor, tire ele daí.
- O quê? – disse indignada com o pouco caso dele – Eu não vou sair daqui assim. Vou chamar um policial e fazer a ocorrência.
- Eu não posso esperar. Além do mais, eu já disse que pago o conserto. Você é surda? – Começava a se preocupar mais uma vez com o tempo e com as filhas a sua espera.
- Ainda por cima é grosso! – vociferou. Mal terminou de falar, não pode conter um sonoro espirro.
Leonardo tinha chegado ao limite de sua paciência, mas não conseguiu controlar um discreto sorriso de escárnio, que ela não percebeu, ao ouvi-la espirrar. Antes que ela voltasse a falar, decidiu acabar com aquela situação incômoda o mais rápido possível. Afastou Bruna, entrou no seu carro, deu a volta na chave que se encontrava na ignição e, enquanto ela praguejava contra ele, dirigiu rapidamente até uma vaga bem próxima. Estacionou e voltou com as chaves na mão. Usando todo seu autocontrole, entregou-as à dona. Lançou-lhe um olhar frio e disse:
- Você sabe como me encontrar. Meu telefone está nas fichas das minhas filhas na escola de balé. Boa tarde!
Virou-se, entrou em seu próprio carro, diante de Bruna boquiaberta, ativou a ignição e deu ré. Saiu sem dar mais satisfações, olhando atentamente ao redor para evitar novas surpresas.
- Ai, que ódio! – esbravejou raivosa, emitindo novo espirro – Quem ele pensa que é para me tratar deste jeito, como se eu fosse uma retardada? Miserável!
Algumas pessoas estavam paradas olhando o espetáculo oferecido. Como não gostava de escândalos púbicos, pelo menos até conhecer aquele homem, respirou fundo, fechou os punhos, ergueu a cabeça e seguiu para o seu carro estacionado. No caminho ainda teve de ouvir um comentário malicioso de um dos curiosos parados:
- Só podia ser mulher prá bater carro em estacionamento de super...
Ao ouvir tamanha idiotice, sentiu ânsia de pular no pescoço do estúpido, mas conseguiu controlar-se, seguindo em frente.
Foi até o carro, sentou-se ali por alguns momentos até conseguir recuperar a calma. Sua cabeça latejava e não conseguia respirar normalmente, graças a uma grande obstrução nasal que a acompanhava desde a noite anterior. Respirou fundo pela boca, teve um acesso de tosse e acabou por sair para fazer suas compras, que ainda eram necessárias. Infelizmente, prometera fazer um jantar especial para Álvaro naquela noite. No dia seguinte pensaria em como agir. Sua mente ensaiava uma vingança contra aquele prepotente. Nem que fosse mandar-lhe o orçamento mais caro que conseguisse. Além disso, preciso comprar um antigripal com urgência, graças a este monstro, também!, lembrou irritada.

- Papai, tu tá brabo? – perguntou Tati ao ver a cara amarrada do pai ao buscá-las na escola.
Quando chegou, elas ainda estavam nas respectivas salas de aula em companhia das professoras, que sempre aguardavam a chegada dos pais até quinze minutos depois do sinal ter soado. Ao fim deste prazo, os alunos eram encaminhados para uma recreação comum.
- Não, filhinha – respondeu sorrindo, desarmado pela pergunta inocente.
Continuava mal-humorado, pois agora teria que ir ao mecânico para consertar seu farol, no meio de tantas coisas a fazer. Lembrou do espirro. Pelo menos tinham alguma coisa em comum agora. Um terrível resfriado... Tentava tirar a imagem de Bruna furiosa, com as mãos na cintura fina e delicada, soltando desaforos contra ele através daquela boca de lábios cheios e sensuais...
- Arre! – exclamou em voz alta, exonerando aqueles pensamentos, assustando as meninas no banco de trás.
- Que foi, papai? – perguntou Marina magoada, pensando que a exclamação fora dada contra ela, que conversava distraidamente com a irmã.
- Nada, amorzinho. Papai só falou em voz alta. Não foi nada, não – tranquilizou-a. Devo estar perdendo o juízo, refletiu amolado, sentindo tesão por uma desequilibrada como aquela.
Seguiu direto para casa onde a rotina de final de dia o aguardava.



- Agora me conte. O que houve para você estar com este mau humor? – perguntou Álvaro divertido com o cenho franzido de Bruna.

Álvaro
- Estou resfriada e bati o carro – respondeu secamente.
- Onde? – perguntou sobre o veículo, já que o resfriado era evidente graças à voz anasalada dela.
- No supermercado.
- Como? Você se machucou?
- Não. Amassou um pouco a lataria na lateral.
- Então não fique chateada. Conheço uma oficina excelente que te arruma isto em um ou dois dias. Foi só isto mesmo? – perguntou novamente, estranhando a cara fechada dela.
- Não... Adivinha quem me bateu? – indagou com olhar feroz.
- Quem?
- O assassino do lago.
- Quem?
- O cara que tentou me afogar no lago da Redenção ontem. Acredita nisso?
- Sério? – disse surpreso – Mas ele não tentou afogá-la. Pelo contrário, ele a salvou.
- Eu não acreditei quando vi. – Não deu ouvidos à defesa de Álvaro – Eu estava procurando uma vaga para estacionar, quando fui atingida por um carro dando ré. Quando olhei o motorista, era ele.
- Mas você não olhou para os lados enquanto dirigia? Ou estava correndo num estacionamento?
- Você também? Vai defender aquele grosseirão? – se indignou com a observação idêntica àquela que seu agressor fizera à tarde – Vocês homens são todos iguais. Sempre põem a culpa na mulher.
- Estou apenas dizendo que se deve ter cuidado ao andar neste tipo de local. Ele também não deve ter olhado direito. Talvez os dois tenham sido culpados.
Depois da última frase, Álvaro ficou olhando para Bruna com ar maroto.
- O quê? Por que está me olhando assim?
- Nada... – falou disfarçando e colocando mais uma porção de comida na boca – O seu risoto está uma delícia. Estava morrendo de saudades dos seus quitutes.
- Eu conheço você... O que está pensando? Essa sua cara de malandro não me engana.
- É que eu nunca a vi tão furiosa com alguém – disse sem olhar para ela, saboreando o arroz arbório, cozido ao ponto, envolto em gorgonzola e shitakes.
Bruna
- E aí? O que está insinuando?
- Nada. Não estou insinuando nada.
- Álvaro... Coma! É melhor do que ficar pensando bobagens – falou cortante, colocando uma boa garfada na boca, quase com raiva, lembrando de como se sentira quando fora salva pelo homem no lago e do seu olhar desafiador no estacionamento.
- Não me lembrava dessa sua facilidade para corar quando está brava...
- Quem está corada? Está vendo coisas! Ou tirou a noite para me irritar também?
Álvaro continuou rindo em silêncio para não correr o risco de levar um prato de risoto no meio da cara. Mas tinha a impressão que Bruna começava a nutrir algo mais que mera antipatia por seu novo “amigo”. Nunca a vira reagir daquela forma por causa de uma pessoa.

Leonardo custou a encontrar o sono, perdido graças às lembranças daqueles últimos três dias. Não entendia porque não tirava a imagem daquela maluca da sua cabeça. No dia seguinte daria um jeito de falar com a diretora da escola para mudar Marina de turma. Não podia permitir a filha tendo aulas com uma desmiolada. Era isso que ia fazer...

Estava numa praia deserta. O céu límpido, a areia fina e fofa sob seus pés e o calor do sol as suas costas. Apesar disto, sentia-se preocupado com alguma coisa. Parecia buscar algo ou alguém naquele dia perfeito. Estava agitado e olhava para todos os lados incessantemente. Foi quando, no meio das ondas azuis adornadas pela espuma branca, escutou um grito. Correu para ver quem era. A mulher de cabelos louros surgiu pedindo socorro. Pode sentir a água gelada envolver-lhe. Logo ela estava em seus braços, totalmente molhada, com um vestido branco colado ao corpo, desvendando suas formas sensuais. Quando ela abriu os olhos, sentiu-se compelido a beijá-la. Aproximou-se lentamente de seus lábios, hipnotizado pelo olhar tentador...
- Papai... Papai... – sussurrou Tati, cutucando o pai na penumbra do quarto.
- Ahn? O que foi? Tati? – disse, mal conseguindo abrir os olhos.
- Fiz pipi na cama... – revelou choramingando.
Leonardo tentou desanuviar a mente sonolenta para entender o que estava acontecendo.
- Ah, filhinha... Agora?... – raciocinou melhor – Não tem problema. Papai vai te trocar e tu vens deitar comigo. Está bom?
- Tá bom, papai... – respondeu esfregando os olhinhos.
Ao levantar, se deu conta da ereção que conseguira graças ao seu sonho e agradeceu por estar vestindo seu pijama e pela penumbra no quarto. Levou Tati até o banheiro, onde a deixou esperando, e foi buscar uma muda de roupa limpa. Nesse meio tempo, seu físico voltou ao normal. Depois de trocá-la, carregou-a no colo até o quarto. Deu-lhe um beijo na testa e disse que ia até a cozinha tomar um copo de água. Voltaria num instante. A noite estava quente e sua garganta seca. Aproveitou para tomar mais um analgésico. Talvez o ajudasse a dormir melhor. Apesar do calor da noite, às vezes ainda sentia um arrepio de frio percorrer-lhe o corpo. Quando deitou ao lado de Tati, a pobrezinha já tinha adormecido. Ficou acariciando seus cabelos, pensando até quando ela continuaria com este problema que o pediatra chamava de enurese noturna. Ela tinha adquirido a continência urinária pouco antes de completar os dois anos. Quando perdeu a mãe, passou a urinar quase que diariamente na cama. Agora os episódios já eram mais raros, mas ainda aconteciam, quando menos se esperava. Já tinha trocado o seu colchão pelo menos três vezes desde que Cris se fora. Verificou mais uma vez o despertador, com medo que não conseguisse acordar pela manhã e perdesse a hora. Acabou pegando no sono novamente, exaurido pelo mais puro cansaço. Porém, a última imagem que passou diante de si foi a do sonho que tivera minutos antes.

Bruna já estava cansada de rolar por cima dos lençóis de sua cama. Não conseguia esquecer aqueles olhos verdes. Tentava sentir desprezo por ele, mas não conseguia experimentar nada além de uma curiosidade absurda de saber como ele beijava. Tinha que parar com aquilo. Ele era louco, grosseiro e, o pior de tudo, era casado! Não entendia as reações de seu corpo quando o via ou pensava nele. Até Álvaro já tinha percebido alguma coisa no ar. Recém voltara para casa, depois do acidente e da reviravolta que dera em sua vida. Agora que estava conseguindo recolher os cacos e refazer-se, não podia deixar nada nem ninguém interferir. Principalmente um homem que era o próprio pára-raios de confusões. Pensou em como tivera sorte em encontrar aquela academia de dança. Continuaria participando daquilo que mais amava fazer na vida – dançar. O seu diploma de advogada continuaria guardado para qualquer eventualidade. Virou-se mais uma vez na cama. Fechou os olhos, em busca do sono. Estremeceu ao lembrar os braços que envolveram o seu corpo molhado... Céus, nem sabia o nome dele. Melhor dormir. Amanhã seria mais um dia de trabalho.


(continua)



Pois é, meninas ( e meninos, se houverem)! Não resisti e acabei postando o terceiro capítulo. Espero que se divirtam com as confusões do Leo.
Beijos!!

4 comentários:

  1. Rosane!!!!
    Sou a primeira!!!rsrsrs.....
    Amei o cap. e o Gerry de papai está se saindo mto bem,não dava nada por ele mas está se saindo melhor que a encomenda,não vejo a hora de ler sobre o primeiro beijo dele com a Bruna.O Leo é super amoroso com as meninas,e elas são loucas pelo pai.Como foi que a mãe morreu?
    Está sendo um dos melhores contos que escrevestes até agora,super bem desenvolvido e a descrição dos lugares e das pessoas estão maravilhosas.
    Estou esperando ansiosa pelo proximo cap.

    Bjs

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  2. Oiê!!! Rosane, estou amando! A estória é envolvente e super plausível. Até mesmo a parte do Gerry como pai. Sempre pensei nele como um playboy inveterado, mas estou gostando desse lado "paternal". Você está de parabéns. Vi seu recado no meu blog. Que bom que gostou do final de Phantom. Foi graças a você que consegui escrever minha fic. Serei eternamente grata pelo incentivo.
    Beijos, querida!

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  3. Ai Rô, estou amando o romance, está sendo ótima essa visão de Gerry como pai, acho que ele seria assim mesmo, um pai dedicado e carinhoso.
    E esse romance dele com a Bruna tá prometendo...
    Um cheiro amiga!

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  4. Ai Jesus................ Tudo nesse homem é bom demais da conta!!! Nariz, bochechas, barbinha, olhos, BOCA... Tudinho é uma delícia!!!
    Não é fácil a tarefa de criar filhas sozinho, se para uma mulher já é uma barra, imagina para um homem, mas o Leo está dando conta do recado. Na verdade, tudo na vida é questão de prioridade. Esse papo de que nunca temos tempo para isso ou aquilo, não passa de mera desculpa. Quando a coisa é realmente fundamental, então temos que colocá-la em prioridade, não há outro modo. E o cuidado e carinho com as filhas têm mesmo que ser algo de máxima prioridade!
    Essa rusga entre a Bruna e o Leo está me deixando em estado febril! Mas não é para menos, um pensa que o outro é casado, então qualquer atração seria imprópria, o melhor é o afastamento necessário, a distância, a negação.
    Hummm... Mas na hora do beijo vai ser de arrancar suspiros infindáveis...
    Beijinhos

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