segunda-feira, 29 de março de 2010

Coração Atormentado - Capítulo II e Capítulo III (em parte)

Capítulo II - Seis meses antes

- Onde você se meteu depois que saiu do escritório? – perguntou Marcelo desconfiado.
- Ora, fui encontrar com uma amiga. A Joyce, lembra?
- Não, não lembro – respondeu mal-humorado.
- Que cara é essa, Marcelo? – perguntou Ágata aborrecida – Ultimamente deu para querer saber onde vou, com quem estou... Desde quando ficou ciumento?
- Ora, não é ciúmes!
- Você nunca foi de querer saber todos os meus passos. Por que esse interesse agora?
- Como seu marido, acho que tenho o direito de saber onde e com quem anda minha esposa.
- Você sabe como eu odeio este tipo de coisa.
- Está bem. Vou tentar evitar aborrecê-la com o meu zelo – retrucou chateado.

Passados alguns dias...
- Isto é hora de chegar em casa? – perguntou visivelmente amolado – Não me diga que estava com uma amiga. Ou devo mudar para “um amigo”?
- Marcelo, você está começando a me incomodar com este tipo de insinuação. Não tenho feito nada além do que sempre fiz e, de uma hora para a outra, começou a me cobrar explicações. Odeio gente ciumenta! – resmungou.
Neste instante, Diego entrou na sala, chegando de mais um dia de trabalho, ouvindo o final da discussão entre a mãe e o padrasto.
- Ei, o que está havendo aqui? Porque este clima de mal-estar? – indagou, aproximando-se de Ágata para depositar-lhe um beijo na bochecha – Mãe?
- É o bobo do Marcelo, que resolveu pegar no meu pé?
- Ela fica chateada comigo só porque quero saber onde ela foi e porque demorou para chegar em casa. Vê algum mal nisso?
- Mãe... O que tem de mal o Marcelo ter um pouquinho de ciúmes? – disse rindo, achando graça do motivo da “briga”.
- Não é ciúmes. É apenas preocupação.
- Estou subindo. Vou tomar um banho antes do jantar – esbravejou Ágata, enquanto subia os degraus da escada pisando duro.
- Marcelo, se fosse você controlava esta “preocupação”. Sabe como a dona Ágata não gosta de se sentir vigiada – aconselhou Diego.
- Ando preocupado com ela... O que você acha deste motorista, o José?
- É um cara legal. Desde que entrou aqui, há quatro anos, sempre foi um excelente empregado. Por que a pergunta? O que tem isso a ver com minha mãe?
- Não sei... Nada, eu acho...
- Acho que você anda vendo fantasmas onde eles não existem, Marcelo – disse balançando a cabeça – Bem, vou seguir o exemplo de minha mãe e tomar um banho. Combinei de pegar a Cláudia para jantarmos fora hoje.
- Está bem. Vá em frente – acenou e deu um sorriso amarelado.

- Não aguento mais o Marcelo – desabafou Ágata, quando entraram na sala da direção na empresa – Ele agora deu para desconfiar que estou tendo um caso com o José. É possível uma coisa destas? Um homem bom, um funcionário dedicado, casado, com duas filhas adolescentes... Não sei o que deu nele para passar a pensar essas coisas. Será que está ficando esclerosado antes do tempo?
Diego soltou uma gargalhada.
- Desconfiado do José? Ele deve estar brincando – conseguiu dizer em meio ao riso – Ou você anda aprontando e arrebatando corações por aí, Dona Ágata?
- Diego! Olha o respeito com sua velha mãe! – retorquiu ofendida.
- Velha? De velha você não tem nada. Ainda é muito atraente e sexy. Se eu fosse o Marcelo também ficaria de olho em você – bajulou-a sorrindo.
- Homens! Me admira você ficar do lado daquele peste.
- Mãe, o que está havendo? – disse, agora em tom sério – Vocês sempre se deram tão bem. De uns tempos para cá, não param de discutir a toda hora.
- Não sei, Diego. O Marcelo anda diferente. Agora com este ciúme sem cabimento. Acho até que contratou algum detetive, pois anda dando e recebendo uns telefonemas misteriosos. Mas como não tenho nada a esconder, não vou ficar me desgastando à toa.
- Vou ver se consigo falar com ele para saber o que está havendo.
- Não se preocupe com isso, meu filho. Logo Marcelo cai em si e pára com estas bobagens.
- Se ele passar dos limites, me fale, viu?
- Se ele passar dos limites, eu o ponho para fora de casa – afirmou categoricamente, Ágata.

- Marcelo, gostaria de falar com você.
- Algum problema na empresa?
- Não. O problema é aqui em casa mesmo. Já fiz a mesma pergunta para minha mãe. Sabe que não gosto de me meter na relação de vocês, mas estas discussões quase que diárias estão se tornando inconvenientes. O que está acontecendo?
- Ando desconfiado que sua mãe já não me ama mais. Acho que ela arranjou outro homem.
- Pois acho que você está redondamente enganado. Se minha não o quisesse mais, já teria lhe falado e acabado com o casamento.
- Eu tenho visto como ela trata aquele motorista. Toda carinhosa, saindo a toda hora, fora dos horários do escritório, com ele, andando para cima e para baixo...
- Você está vendo coisas. Ela é gentil com todos os empregados, sem exceção.
- Eu os vi se beijando um dia destes.
- Não posso acreditar, Marcelo – disse espantado.
- Pois é. Acredite.
- Vou falar com ela.
- Não vai adiantar. Ela vai negar e você vai acreditar nela e não em mim. Só peço que você fique de olho, para que não a deixe cometer alguma bobagem.
- Não posso acreditar nisso que está me falando, Marcelo. Mas pode ter certeza que vou ficar atento.

Pouco tempo depois destas situações, Ágata resolveu ter seu próprio carro. Numa conversa com Cláudia, a noiva de seu filho, ao saber o que estava acontecendo, esta sugeriu que a futura sogra não utilizasse mais os serviços do motorista, dirigindo seu próprio carro. José continuaria no emprego, servindo Marcelo e disponível para cuidar da manutenção dos quatro automóveis da família. Graças a esta atitude, Marcelo melhorou de seu ciúme doentio e as brigas tiveram fim, para alívio de todos dentro da casa dos Bernazzi. Foram dois meses de paz familiar, que, infelizmente acabaram com o acidente que resultou na morte de Ágata e na paraplegia de Diego.




Capítulo III - Mais um paciente


Como era de praxe, a ansiedade ao iniciar um novo trabalho era grande. Aquele paciente em especial fazia seu nervosismo aumentar. Já fora orientada a ter calma, já que seria a sua quarta enfermeira em cerca de um mês. As anteriores haviam pedido demissão antes de completarem uma semana na casa. Sabia que encontraria um homem jovem, de apenas trinta anos, preso a uma cadeira de rodas, devido a um acidente, extremamente revoltado com sua atual situação de paraplégico. Demonstrava sua revolta sendo grosseiro e humilhando aqueles que o rodeavam, tentando ajudá-lo. Poucas eram as pessoas que ficavam livres de sua ira. Fora indicada por seu superior a este trabalho, graças ao seu interesse em psicologia e, por sua notória paciência com pacientes deste tipo. Não queria fazer nenhuma idéia pré-concebida do pobre homem sem antes conhecê-lo. Mas tentou obter o maior número de informações sobre quem ele era antes da fatalidade. Descobrira muitos motivos para o seu comportamento. Rico, noivo, engenheiro e vice-presidente de uma conhecida indústria alimentícia, de propriedade de sua família há pelo menos três gerações, tenista amador e muito conhecido na alta roda da capital. Não devia ser fácil transformar-se repentinamente em um “cadeirante”. Fora isto, tinha perdido a mãe no acidente, sendo ele o condutor do carro. Era muito provável que, além de toda sua infelicidade, ainda se sentisse responsável por aquela morte. Depois de tanta pesquisa, acreditava possuir a força necessária para enfrentar a fúria de seu mais novo paciente. Porém, nem em seus piores pesadelos Ângela poderia imaginar o que estava por vir.
Estacionou seu automóvel na rua Linhares, diante da bela e imensa mansão que ocupava uma quadra inteira no bairro Cidade Jardim.
Pegou sua grande bolsa, onde colocava todos os apetrechos que pudesse vir a precisar em seu trabalho, como um estetoscópio, um aparelho para medir a pressão, um avental limpo, uma muda de roupa e um maiô de natação. Sabia que seu paciente começaria as sessões de fisioterapia na piscina da casa e talvez tivesse que auxiliar. Ficou impressionada com a construção sólida e tradicional, resistente a décadas de intempéries e diversos habitantes. Soube que ela tinha sido construída pelo avô de seu paciente. Olhou sua imagem refletida no vidro da porta de entrada, através das rendas de metal branco que a protegiam e decoravam. Apertou a campainha. Não aguardou mais que trinta segundos, quando uma mulher jovem abriu a porta, vestida com um típico uniforme de funcionária doméstica, um sóbrio vestido marinho, um avental branco e a indefectível touca branca sobre os cabelos, presos num coque discreto à nuca.
- Sim?
- Bom dia. Meu nome é Ângela Paes e sou a nova enfermeira do Senhor Bernazzi.
- Ah, pois não. Pode entrar, por favor. O seu colega, Lino, pediu que a levasse até ele, antes de apresentá-la ao Seu Diego – falou simpaticamente, fazendo um gesto para que entrasse.
Fechou a porta e pediu que a acompanhasse.
A casa cheirava a limpeza. Parecia que tudo estava em seu lugar. A decoração austera e antiga, como se fosse assim desde sua inauguração, lembrava a casa de seus avós. Poucas modernidades decorativas tinham lugar por ali. Foi levada até uma pequena saleta, com uma escrivaninha, uma cadeira, uma confortável poltrona e um armário com chave, que parecia ter sido improvisada no que seria um antigo depósito ou despensa, junto a área de serviço da casa. Passou pela cozinha, que era uma das únicas peças que demonstrava que estavam no século vinte e um. Sobre os balcões de mármore branco desfilavam os mais modernos aparelhos eletrodomésticos. Certamente aquele ambiente também sofrera uma grande reforma para acomodar tantos equipamentos. Isto era de esperar já que a casa pertencia a pessoas donas de uma empresa ligada à alimentação.
- Ângela! Que bom vê-la. Como vai? – cumprimentou-a o homenzarrão de cabelos negros e barba por fazer, olhos cansados, com papuças levemente escurecidas, mas um grande sorriso simpático no rosto.
Lino tinha sido seu contemporâneo na época da faculdade, apesar de estar dois anos a sua frente. Sempre fora um colega afável, que não negava ajuda nos estudos aos mais jovens, emprestando seus cadernos e livros a quem pedisse. Chegaram a trabalhar no mesmo hospital depois de formados, mas com o tempo e a necessidade de ganhar mais dinheiro, Lino acabou fazendo seu próprio serviço de enfermagem à domicílio, tendo grande sucesso devido a sua seriedade no trabalho e por empregar apenas os melhores do mercado. Era o preferido pelas camadas mais abastadas da sociedade mineira. Quando ele soube que Ângela tinha saído de seu emprego para iniciar um mestrado, não perdeu tempo em chamá-la para trabalhar com ele e, mais específicamente com Diego. Achou que ela teria um atrativo todo especial por aquele caso, pois fechava com o assunto de sua tese, que era a respeito do tratamento de deficientes físicos paraplégicos e seus aspectos psicológicos. Não se enganara, pois Ângela aceitara na hora o emprego. Apesar de não ter necessidade de sustentar-se, pois vinha de uma família de posses, era muito trabalhadora e eficiente na carreira que escolhera. Não se negava ao trabalho e entregava-se de corpo e alma a ele.
- Muito bem. Apresentando-me para o trabalho. E o nosso paciente? O que tem a me dizer dele? – perguntou interessada em mais dados que a ajudassem a lidar com a suposta fera que lhe haviam descrito.
- Sei que não precisaria lhe dizer, mas tome cuidado. Ele ainda está extremamente revoltado, apesar de já fazer mais de um mês que soube de sua nova condição. As outras três que estiveram aqui antes de você choravam todos os dias depois de lidarem com ele.
- E com você?
- Parece que simpatizou comigo, mas mesmo assim às vezes não tolera a minha ajuda. Ele não é má pessoa. Está apenas passando por uma fase difícil. Para sorte dele ou nossa, tem um bom controle esfincteriano. Por incrível que pareça, não tem bexiga neurogênica. Tentei obter mais informações sobre a lesão dele, mas o padrasto não soube ou não quis esclarecer. Ele sofreu uma aparente descompressão da medula durante sua internação, mas não consegui saber o resultado exato disto. Estou tentando descobrir o nome do primeiro neurocirurgião que o tratou, mas ainda não consegui. O atual, não dá grandes informações. Assim, temos um hiato no tratamento. Até o fisioterapeuta não recebeu grandes esclarecimentos, o que é muito ruim para a reabilitação. Estamos lidando um pouco no escuro. Talvez ele tenha chance até de voltar a andar. Mas não podemos animá-lo quanto a isso, por ter poucos dados.
- Não se preocupe. Dou um jeito. Vou tentar descobrir mais dados.
A partir daí, Lino orientou-a sobre as atividades que ocupavam o dia de Diego, como a fisioterapia, as rotinas alimentares, visitas médicas e assim por diante. Descreveu-o como um homem de fibra, inteligente e de grande força de vontade. Porém, o sofrimento o tornara áspero e egoísta. Os únicos que ainda tinham livre acesso a ele eram o padrasto, Marcelo, e uma antiga secretária de sua mãe, Glória, que o conhecia desde criança. Ela vinha visitá-lo quase que dia sim, dia não. A noiva, Cláudia, era tratada com o mesmo desprezo destinado às enfermeiras e empregadas da casa.
- Será que ele é só mais um machista, que não admite ajuda de mulheres? – indagou sorrindo, maliciosamente. Sabia que a maioria dos homens deficientes estavam na faixa etária de Diego, e que eram na maioria heterossexuais inconformados com o novo papel de dependentes de suas mulheres, namoradas, noivas ou esposas. A grande maioria demorava muito tempo até aceitar a nova posição. Isto fazia parte da idéia preconceituosa de que o homem tem de ser o herói e o protetor de suas parceiras. Esta “inversão” de papéis é difícil de aceitar por parte dos novos deficientes masculinos.
- Você sabe que não é nada fácil enfrentar esta situação, numa idade como a dele.
- Claro que sei, Lino. Você sabe também que o meu papel aqui vai ser tentar mostrar-lhe que não tenho pena dele e ajudá-lo a ver que está errado quanto a estes preconceitos. Acho isto mais importante do que qualquer ajuda nos seus rituais de higiene ou locomoção.
- Exatamente por isso que a contratei, Ângela. Confesso que fico mais tranqüilo tendo-a aqui conosco.
- E eu lhe agradeço muito por esta oportunidade. Acho que vai ser de um grande valor nas minhas pesquisas, além de poder ajudar alguém como ele, que é o mais gratificante de tudo.
Enquanto conversavam, Lino mostrava-lhe as peças da casa por onde ela precisaria transitar. Ensinou a utilizar o elevador da sala, que facilitava o transporte de Diego para o andar superior onde ficava seu quarto. Ele recusara-se a mudar a posição de seu quarto para o andar inferior. Evitava ao máximo qualquer mudança na casa ou nas rotinas que tinha antes do acidente. Isto parecia ser importante para ele, para não sentir-se tão diferente. Apresentou a cozinheira, Zica, um apelido de Maria Zilda, e ao motorista Luís. Clara ela já conhecera. Era a copeira que a recebera minutos atrás. Todos se mostraram lastimosos a respeito do que acontecera com o patrão e sua mãe e ansiosos a prestar ajuda no que estivesse ao seu alcance.
- Bem, que tal conhecer o seu novo “algoz”? – perguntou com um sorriso de satisfação – Só lembro a você que seremos apenas nós dois a cuidá-lo. Eu farei as noites e você os dias. Os fins-de-semana poderemos combinar depois.
- Sem dúvida. Vamos lá enfrentar a fera.
- Ele deve estar nos jardins, perto da piscina, que é o seu local preferido.
- Não é perigosa esta proximidade de uma piscina? – perguntou preocupada.
- Não. Ele não tem nenhuma tendência suicida, se é isso que está supondo. Tem sido acompanhado por um psiquiatra, uma vez por semana, meio que a contragosto. Ele nos assegurou que este risco não existe.
Chegaram aos jardins, nos fundos da mansão. Lá estava ele, com olhar perdido nas montanhas que cercavam a cidade e que daquele ponto podiam ser avistadas. A vista era deslumbrante e relaxante. Aproximaram-se e, ao sentir que estava acompanhado, virou-se de lado em sua cadeira para poder ver quem era.
Ângela deparou-se com um homem que, apesar de estar sentado, podia-se notar que era alto e forte, de cabelos castanho-claros curtos, rosto escanhoado, com o queixo partido por uma atraente covinha. Tinha olhos claros, mas não conseguia lhes definir a cor, na distância em que se encontrava. Sentiu que o olhar dele a percorreu de alto a baixo, analisando-a. Uma ruga mantinha-se entre as sobrancelhas levemente arqueadas, acima do nariz grande e proporcional ao restante de seu rosto. Vestia uma camisa pólo branca de mangas curtas e uma calça de moletom marinho. Ela tentou manter a expressão serena, apesar de sentir-se desconfortável diante dele. Saudou Lino, sem, porém, desviar um milímetro os olhos de Ângela.
- Já está saindo de seu plantão, Lino?
- Sim, Diego. Vim para me despedir e para lhe apresentar minha colega, Ângela, que irá acompanhá-lo durante o dia, a partir de hoje.
- É um prazer, senhor Bernazzi.
- Creio que já tínhamos conversado sobre este assunto, Lino, e eu havia lhe pedido para arranjar um enfermeiro homem – sua voz grave e rouca soou desagradável, desviando seu olhar para Lino e desprezando o cumprimento de Ângela.
- Mas, Diego, acho que Ângela... – começou a desculpar-se, corando.
- Senhor Bernazzi, – ela sentiu-se no direito de interromper a conversa, já que o assunto era ela própria – pensei que um homem inteligente e culto como o senhor não fosse preconceituoso.
- Senhora Ângela, – respondeu irônico – não é uma questão de preconceito. Eu simplesmente não quero minhas intimidades expostas a uma mulher. É difícil entender isso?
- Mas o senhor deve entender também que eu sou uma profissional e é como tal que trabalharei aqui.
- Quem disse que trabalhará?
Ângela ficou muda diante deste argumento. Realmente ela não poderia impor sua presença, já que ele era o contratante.
- Diego, existem pouquíssimos profissionais no mercado tão competentes quanto Ângela. Ela vai poder ajudá-lo não só em sua reabilitação, como também na sua aceitação sobre o que é inevitável – defendeu-a Lino – De que adianta colocar um enfermeiro sem capacidade para ajudá-lo no que precisa, só porque é homem.
- Para tratar minha “aceitação sobre o que é inevitável”, já tenho um psiquiatra metido a besta. Não preciso de mais uma... pessoa para esta “tarefa” – desafiou-a rudemente com o olhar.
- Mas, Diego... – Lino tentou defender seu ponto de vista.
- Ela não parece muito forte – interrompeu-o, avaliando-a descaradamente – Como vai me ajudar se precisar me erguer da cadeira ou qualquer outra situação que precise de força.
- As aparências enganam, senhor Bernazzi. Sou mais forte do que aparento, posso lhe garantir – respondeu Ângela prontamente.
- Parece que ela está mesmo precisando deste emprego – disse, tentando humilhá-la.
- Não, senhor Bernazzi. Na verdade, o senhor certamente precisa muito mais de mim que eu do seu emprego. E se pensa que vou ficar aqui ouvindo suas avaliações equivocadas sobre mim, só porque está preso nesta cadeira, está muito enganado. Gostaria de ficar aqui para ajudá-lo, pois me preparei para tal e acredito que podemos fazer um ótimo trabalho juntos. Mas para isso preciso de sua cooperação. Não poderemos fazer nada se não houver um acordo de colaboração mútua. O senhor é quem decide. Se pretende continuar sentindo pena de si mesmo, vou embora agora mesmo. Mas se for a pessoa inteligente e de vontade férrea que Lino me descreveu, sei que fará a escolha certa.
A expressão de Diego foi mudando a medida que as palavras de Ângela o envolviam. Lino sorriu intimamente ao ver que ela estava conseguindo seu objetivo. Já o conhecia o suficiente para reconhecer que ela o estava impressionando.
- Vejo que estudou Psicologia também... – disse com um meio sorriso – Pois bem, senhora Ângela, vou lhe dar uma chance para me “reabilitar”, como vocês gostam de dizer. Lino, espero por você à noite. Vamos ver como ela fica de maiô – disse piscando um olho para o enfermeiro.
- Muito obrigada por esta chance, senhor Bernazzi – falou em tom falsamente agradecido, olhando logo a seguir para seu colega e dando uma piscadela – Vamos ver como ele fica de calção... Até mais, Lino.
Lino ficou observando-os afastarem-se, rezando para que Ângela tivesse bom humor o suficiente para resistir às explosões que enfrentaria em breve.


Olá!! Resolvi vir mais cedo e publicar mais uma parte do novo romance para matar um pouco da curiosidade das minhas leitoras de carteirinha. Como tinha dito antes, ainda estou escrevendo e o tempo anda escasso. Vou me esforçar para não demorar muito a publicar mais, mas não garanto nada. Só posso dar a certeza de que ele vai ter início, meio e fim, sem dúvidas. Agradeço mais uma vez os comentários e espero os próximos.
Muitos beijos!
PS: Tenho tido alguma dificuldade com as novas configurações para postagem no blog, por isso não reparem se a letra de uma postagem ficar diferente da anterior. Vamos tentar resolver isso.BJS!

domingo, 28 de março de 2010

Paciência

Olá, meus queridos leitores ( minhas amigas fiéis de sempre e quem quer que esteja a mais por aí, sem que eu tenha conhecimento - Apareçam, por favor!).
Demorei, mas cheguei. Pretendo começar a postar hoje um novo romance. Saibam que não é muito fácil passar as idéias que temos dentro da cabeça para o papel, digo, Word, de forma a fazer um texto que prenda a atenção. Provavelmente é uma dificuldade minha... Esta estória, que começo a publicar hoje, já estava na "incubadora" há quase um ano. Muitos vão pensar que me inspirei numa novela que passa atualmente na TV, mas sinto dizer que não. É mera coincidência mesmo. Vou pedir paciência a vocês, pois apesar de tê-la praticamente finalizada na cabeça, só comecei a escrever há poucos dias, por isso posso demorar um pouco a postar entre um capitulo e outro. Tenho tido alguns problemas pessoais que têm me ocupado grande parte do tempo que tinha para escrever. Minha esperança é que consiga me organizar melhor e volte a ter um pouco mais de horas para poder me dedicar a esta minha paixão e ao blog.
Espero que curtam bastante a estória de Diego e Ângela.
Beijos!


CORAÇÃO ATORMENTADO



CAPÍTULO I



O Acidente





Era uma bela manhã de sábado, quando se ouviu a voz de Ágata despedindo-se de Diego:
- Querido, vou sair. Quero comprar algumas flores para o jantar de hoje à noite e alguns petiscos para a entrada.
- Por que você não pede para a Glória fazer isto? – respondeu ele, referindo-se ao braço direito de sua mãe, descendo dois a dois os degraus da escadaria de madeira de lei.
- Você sabe que eu mesma gosto de providenciar este tipo de coisa. Gosto de dar o meu toque pessoal.
- Que tal se eu a levar? Enquanto você faz as suas compras, dou uma olhada num presente para a Cláudia. Falta só uma semana para o aniversário dela – propôs, após dar-lhe um beijo na bochecha.
Há dois meses, Ágata se recusara a ter o motorista a sua disposição, com a desculpa de querer ter liberdade de poder dar suas voltas quando bem quisesse, sem precisar dar satisfações a ninguém. Na verdade o marido andava demonstrando ciúmes infundados do motorista José. Uma bobagem, segundo ela. Comprou um veículo do tipo utilitário, apenas com alguns confortos como ar condicionado e direção hidráulica, para ir ao escritório durante a semana, ao shopping, à academia ou ir ao encontro das amigas. Ágata sentia-se melhor desta maneira. Aos quarenta e oito anos, continuava a ser a mesma mulher independente de sempre. Não aceitava ser controlada ou vigiada, mesmo que isto fosse para seu próprio bem ou segurança. Casara muito cedo, por amor, tendo seu único filho aos dezoito anos. Assumiu o negócio da família quando seu pai faleceu e, com a ajuda de Franco, seu esposo, conseguiu aumentar ainda mais seu patrimônio. Foi muito feliz no casamento durante duas décadas, quando ele descobriu que estava com câncer. Tornou-se viúva aos trinta e oito anos, permanecendo assim até conhecer Marcelo, um dos fornecedores de sua fábrica de produtos alimentícios. Apaixonou-se e casou-se novamente aos quarenta e três. Mantinha-se ativa e empreendedora, contando com a ajuda de seu filho Diego, especializado em Engenharia de Alimentos.
- Diego, você é um doce. Não poderia desejar um filho melhor que você.
- Pode deixar que depois eu mando a conta... – ameaçou, com expressão brincalhona, despertando o riso de sua mãe.
- Pago o que você pedir.
- Então pode começar me dando um abraço e um beijo – disse envolvendo-a pela cintura.
Depois de receber o pagamento exigido, Diego avisou:
- Me espere na entrada.
- Antes vou deixar um recado para o Marcelo, lembrando do jantar. Espero que ele não esqueça. Já liguei para o celular, mas ele não atende. Saiu cedo, dizendo que tinha uma reunião no escritório. Deve ser por isso.
Diego acenou com a cabeça, concordando, e saiu.
Logo estavam a caminho do shopping predileto de Ágata, há cerca de 20 quilômetros da casa. Como sempre, ela se recusara a colocar o cinto de segurança. Este era um dos poucos motivos de discussão entre eles. Mas, naquele dia, Diego resolvera dar uma trégua à sua mãe. Depois de lhe pedir uma vez e obter um muxoxo como resposta, desistiu de tentar educá-la para o trânsito. Conversavam animadamente, quando iniciaram a descida do primeiro dos três declives que tinham pelo caminho. Foi quando Diego começou a apertar o freio e sentiu que este não respondia. Logo estariam chegando ao final da rua, que desembocava em outra avenida movimentada da cidade.
- Diego, diminua a velocidade! – ela solicitou aflita ao filho.
- O freio não está respondendo! – respondeu nervoso – Coloque o cinto!
- Como?
- Não sei o que houve! – sua voz era puro pânico pelo que estava por vir. Via a transversal seguinte aproximar-se, e a sinaleira com o sinal vermelho apontando para eles. Tentou estudar rapidamente as possibilidades de diminuir o choque eminente com outros carros, mas não havia muita escolha nem tempo para pensar.
- Mãe! O cinto! – gritou.
Foi a última coisa que Diego falou. Depois disso, sentiu apenas a velocidade cada vez maior assumir o controle das rodas, seguido pelos gritos de sua mãe, ao seu lado, e um estrondo violento. Foi quando perdeu a consciência.





Sua boca estava seca, a cabeça doía com se tivesse um capacete de chumbo sobre ela. Lembrou do homem da máscara de ferro, de Dumas. Os pensamentos eram confusos. Máscara de ferro, histórias para dormir, sua mãe sentada ao seu lado quando pequeno, acariciando seus cabelos e... Mãe! De repente, quis saber onde ela estava. Onde ele estava. Ouviu os gritos de Ágata dentro de sua cabeça. A dor era agora insuportável, mas a voz não saía. Tudo era escuro ao seu redor. Não conseguia abrir os olhos, apesar de tentar. O som ensurdecedor de ferragens retorcendo-se. Dor... Perdeu a consciência mais uma vez.



A escuridão ainda estava ali. Agora ouvia vozes ao longe, além da sua própria “em off”. Tentou mexer-se, mas não conseguia. Sua voz ainda estava presa em sua garganta. Queria dizer que não entendia o que falavam. Queria perguntar onde estava ou onde estava Ágata, mas ninguém o ouvia ou respondia. Confuso, sentiu um toque em seu braço. Logo veio a dor fina, seguida por uma ardência que invadiu seu corpo, queimando-lhe as veias do braço e levando-o a um novo torpor.



- Diego... Está me ouvindo?
Ouviu uma voz que parecia ser a de seu padrasto. Tentou responder, mas não conseguiu. Tentou mover-se, mas seus membros pareciam petrificados. Foi quando ouviu outra voz conhecida. Uma voz feminina. Porém as palavras, articuladas e embaralhadas ao chegar aos seus ouvidos, nada tinham de confortadoras.
- Ele não pode nos ouvir, Marcelo... Mesmo que possa, duvido que nos entenda – disse.
- Cale-se! ... – a voz era quase um sussurro, repleto de raiva.
Sua cabeça parecia que ia explodir. Uma sensação de estar se desintegrando em meio a dor e à náusea ocupou seu espaço. Queria dizer a eles que os ouvia e entendia, mas por mais que se esforçasse não conseguia expressar-se.
- Olhe o monitor cardíaco! Disparou. Será que ele ouviu algo? – indagou a mulher num cochicho.
- Melhor chamar a enfermeira!
Após um tempo não determinado, ouviu uma terceira voz, mais forte e próxima ao seu lado.
- Vou pedir que saiam. Vamos lhe dar um tranquilizante. Ele precisa descansar.
- Será que ele está consciente? – perguntou Cláudia.
- Provavelmente não, mas ele às vezes superficializa no coma e luta contra o respirador.
Mais uma vez sentiu a incandescência infiltrando-se por seu corpo e o relaxamento voltou a atordoá-lo. Não ouviu mais nada.



A dor diminuíra. Ainda não conseguia emitir sons, apesar de tentar. Algo o impedia. Alguma coisa em sua boca o incomodava. Tentou morder. Os olhos pareciam cobertos por vendas. Não sentia as mãos ou os pés. Queria lembrar o que acontecera, mas sua mente parecia ter sido esvaziada. As vozes ao seu redor agora eram mais claras.
- Como ele está, doutor? – a preocupação na voz de seu padrasto era evidente.
- Vamos desligar a ventilação mecânica e ver se ele consegue respirar sozinho. Vai ser a segunda tentativa. Espero que desta vez tenhamos sucesso. Ele não está mais sedado desde hoje pela manhã.
A sensação de náusea apoderou-se dele quando sentiu alguma coisa mover-se do seu interior. O tubo que o mantinha respirando foi retirado. Tinha vontade de tossir, mas o movimento não era efetivo. Parecia estar afogando-se em sua própria saliva.
- Aspire-o, rápido – ordenou o médico à auxiliar.
O grosso cateter foi introduzido em sua boca, aumentando a náusea já presente. Mas não havia o que vomitar. Era uma sensação horrível. Finalmente o ar voltou a entrar em seus pulmões e a secreção que o impedia de respirar foi retirada. Ainda sentia um ardor em todo o trajeto realizado pelo ar, desde suas narinas até as profundezas de seus brônquios. Ainda teria que repetir aquele processo de aspiração várias vezes até que suas vias aéreas estivessem recuperadas do longo tempo em que o equipamento de ventilação mecânica estivera presente em seu corpo ajudando-o a respirar.



Um toque em sua mão o fez despertar. A escuridão continuava. Apenas manchas avermelhadas atravessavam como que nadando na imensidão negra onde estava mergulhado. Sua garganta ainda doía e falar era impossível. Mal conseguia mexer os lábios. A pessoa, de mão magra e fria que acariciava a sua, parecia chorar baixinho, sem falar nada. Podia sentir o afeto emanando daquela presença. Seria sua mãe? Sentiu-se agitado diante deste pensamento. Estaria ela bem? Foi quando a porta se abriu.
- Acho melhor você ir agora, Glória. Se houver alguma mudança no quadro dele nós a avisaremos – a voz de Cláudia era estranhamente fria.
- Não me conformo em vê-lo neste estado. Um rapaz tão saudável, forte... Não é justo... – lamentava chorosamente.
- Ele precisa descansar, Glória.
- Desculpe. Não quero incomodar. Sei que não devia estar chorando, mas...
- Está bem, querida – interrompeu-a impaciente – Eu entendo. Agora, vá.
- Estamos todos rezando por você, Diego – o som voltou-se para ele e mais uma vez sentiu o dorso de sua mão ser alisado carinhosamente – Estou indo, mas volto assim que possível para vê-lo – despediu-se.
Aparentemente, estavam a sós agora. Cláudia e ele. Talvez pensasse que ele estava dormindo. Ouvia apenas o barulho do seu monitor cardíaco e das folhas de uma revista sendo manuseadas por sua noiva. Repentinamente um celular ecoou no minúsculo box da UTI onde ele estava internado.
- Alô? É você?... Sim. Estou com saudades... Não... Ele está dormindo... À noite? Claro que sim... Beijo... – seu tom era meloso, tal como ela lhe falava antes do acidente.
Sentiu ganas de gritar. Quanto tempo se passara dentro daquele lugar para Cláudia já estar envolvida com outro. Era este o amor eterno que ela tantas vezes lhe declarara? Então ouviu um grito. Sentiu que ela se aproximou, mas sem tocá-lo. Em menos de um minuto, a porta do recinto se abriu novamente.
- O que aconteceu? – perguntou a técnica de enfermagem.
- Olhe! O sangue na mão dele!
- Ele arrancou o abocath! – expressou-se surpresa – Como conseguiu? Viu quando ele se mexeu? E usou bastante força para conseguir este resultado...
- Não! Não vi nada.
- Vamos avisar ao doutor. Ele está começando a movimentar-se sozinho. É um bom sinal, mas vamos ter que imobilizar melhor este braço.
- Quer dizer que ele está reagindo? – perguntou incrédula.
- Sim! Não é uma ótima notícia? – vibrou a técnica.
Não houve resposta, apenas um silêncio doloroso.



- Diego, vou tirar a venda agora. Quero que fique com os olhos fechados até que eu diga para abri-los. No início, mesmo a mínima luz vai incomodá-lo, mas aos poucos irá acostumar-se. Entendido?
- Sim – apesar da rouquidão, já conseguia articular as palavras. A cada dia melhorava sua fala, porém, a grande expectativa agora era quanto a sua visão. Vários estilhaços de vidro tinham sido extraídos e esperava-se que a cicatrização não deixasse sequelas graves.
- Pronto. Pode abrir.
Um facho de luz radiante feriu seu campo visual, mas logo os vultos começaram a surgir mais definidos a sua frente. O primeiro rosto a possuir um contorno e uma expressão amigável, foi a do médico oftalmologista que falava com ele. Um pouco mais atrás, surgiu Cláudia. Linda, mas com um sorriso forçado. Ao seu lado definiu a presença de Marcelo, seu padrasto, com aparência preocupada e de uma desconhecida em uniforme branco, provavelmente uma enfermeira. Ninguém mais...
- E então? Está conseguindo nos ver?
- Sim, cada vez mais claramente...
- No início a visão poderá ficar um pouco turva, mas depois irá acostumando-se, até voltar ao normal. Faremos averiguações periódicas até você sair do hospital e depois que for para casa. Mas, pelo que posso ver, logo ela voltará a ser o que era antes. Talvez precise de óculos apenas para leitura.
- Muito obrigado, doutor.
Antes que todos saíssem, Diego interpelou o padrasto.
- Marcelo, quando vocês vão me dizer o que houve com minha mãe?
- Diego, eu estava esperando que você se recuperasse. Você ficou em coma por duas semanas, passou por uma cirurgia da coluna e por muito tempo esteve sob risco de vida. Já completou um mês do acidente... – parecia tentar encontrar as palavras certas para dar a notícia ao enteado – Infelizmente... A sua mãe não resistiu. Você se salvou por um milagre. Nem os médicos acreditavam na sua recuperação, tal a gravidade de seus ferimentos...
Diego deixou de prestar atenção a partir do momento em que as palavras “não resistiu” foram ditas por Marcelo. Apesar de já desconfiar, ouvir aquela frase confirmando seus piores temores era terrível. Sentiu uma grande fraqueza apoderar-se de seu corpo. Dor semelhante àquela só sentira quando recebeu a notícia da morte de seu pai, dez anos antes.










Diego Bernazzi

segunda-feira, 8 de março de 2010

Viva o Dia Internacional da Mulher!!

Hoje, venho até aqui apenas para deixar a minha homenagem a este dia especial em que se prestigia todas as representantes do sexo feminino no mundo. Particularmente, e tenho certeza que a maioria das mulheres há de concordar comigo, acredito que este reconhecimento deveria ser feito diariamente. Sei que muitos homens não concordarão com esta idéia, mas, de qualquer maneira, no íntimo, eles sabem do nosso valor, pois nasceram de mulheres, foram criados e educados por mulheres e continuam dependentes de nós por toda a vida, de uma maneira ou de outra. Não digo que nós também não dependamos deles, pois temos que reconhecer que sem eles a vida fica meio sem graça. Afinal, eles dão tempero a nossa vida também. Bom, mas hoje não é o Dia Internacional do Homem (aliás, porque será que eles não têm um dia?...tadinhos) e sim, é o nosso dia. Por isso, gostaria de deixar todo o meu carinho às queridas leitoras e amigas, que me seguem e me apoiam com suas palavras e presença aqui no blog. Coloco a letra e o vídeo de uma música da autoria de um homem, artista e poeta, John Lennon, representando o reconhecimento de um homem à capacidade de uma mulher, expansivo a todas as outras.

Woman


Woman I can hardly express
My mixed emotions at my thoughtlessness
After all I'm forever in your debt
And woman I will try to express
My inner feelings and thankfulness
For showing me the meaning of success
Ooh, well, well
Doo, doo, doo, doo, doo
Ooh, well, well
Doo, doo, doo, doo, doo


Woman I know you understand
The little child inside of the man
Please remember my life is in your hands
And woman hold me close to your heart
However distant don't keep us apart
After all it is written in the stars


Ooh, well, well
Doo, doo, doo, doo, doo
Ooh, well, well
Doo, doo, doo, doo, doo
Wellll


Woman please let me explain
I never meant to cause you sorrow or pain
So let me tell you again and again and again


I love you, yeah, yeah
Now and forever
I love you, yeah, yeah
Now and forever
I love you, yeah, yeah
Now and forever
I love you, yeah, yeah





Milhares de beijos e abraços à todas vocês!!

domingo, 7 de março de 2010

Na Rede do Pescador - Final do Capítulo IX e Epílogo

Inesperadamente, uma sirene tocou próxima a casa. “Polícia?”, foi o pensamento dos três. Ao mesmo tempo, Isadora e Lucca tiveram suas esperanças renovadas na conclusão daquele pesadelo ao vislumbrar um vulto às costas de Ana.
- O que foi? – foram as últimas palavras dela antes de sentir o peso de uma grande e grossa rede de pescador sobre a cabeça. Viu seus reféns correndo para a porta, quando sua arma disparou contra um ponto a esmo na parede da sala.
Jonas imobilizou Ana e conseguiu agarrar a pistola que caira de sua mão. Lucca abriu a porta, esperando encontrar policiais prontos para invadir a casa, mas nada viu.
Entre os gritos histéricos de Ana, Jonas avisou:
- A polícia já está a caminho, seu Lucca.
- Mas, e a sirene que ouvimos?
- Depois explico. Primeiro, tenho que acalmar esta bichinha doida aqui. Oxente! Mulher dos demônios!
Ajudado por Lucca, conteve Ana amarrada em uma cadeira, bem longe da arma, já descarregada. Logo tiveram que amordaçá-la, pois não parava de esbravejar.
- Deste nó especial ela não escapa – disse Jonas, orgulhoso de seu trabalho.
Isadora continuava parada no mesmo lugar de antes, olhando para o corpo estendido de Mauro. Lucca foi até ela e a abraçou. Foi o que bastou para que ela saísse do estado de choque em que se encontrava e começasse a chorar.
- Calma, princesa. Já está tudo sob controle. Você foi muito corajosa. Estou muito orgulhoso de você – tentou acalmá-la, mas também sentia-se tenso, começando a sentir os reflexos da situação de perigo, a que estiveram expostos, no corpo todo. Sua cabeça latejava e ainda tinha alguma dificuldade em respirar normalmente.
- Pensei que íamos morrer – choramingou, agarrando-se a ele com mais força.
Ana bufava atrás de sua mordaça. Lucca puxou ainda mais Isadora contra si, não conseguindo expressar por palavras o alívio que sentia em tê-la em seus braços, viva e segura.
Enquanto esperavam a ajuda policial, solicitada por Jonas, quando este os viu em dificuldades, Lucca perguntou novamente a respeito da sirene que tocara providencialmente.
- Jonas, agora me conte. Que sirene foi aquela que ouvimos?
- Lembra que o senhor me mostrou uma sirene que tinha sido usada na época da construção do Mairi, que anunciava as trocas de turno dos operários?
- Não brinca! – exclamou estupefato, lembrando de como achava graça do som emitido pelo alarme, e brincava com seu pai dizendo que parecia uma ambulância chegando para levar os operários “mortos” de cansaço para o hospital até o próximo turno.
- Ela estava guardada na garagem da casa. Quando vi o que estava acontecendo aqui dentro, pela janela, pensei em dar um susto nestes assaltantes.
- Grande idéia, Jonas! Você merece um aumento de salário só por esta iniciativa.
- Óxente, seu Lucca. Não foi nada, não...
Isadora esboçou um sorriso e começou a secar suas lágrimas, quando bateram na porta. Era a polícia.
Logo, dois guardas fardados entraram no local, empunhando suas armas. Jonas gritou que era ele quem tinha feito o chamado. Olhando a cena do crime, ainda não entendiam exatamente o que tinha acontecido. Um deles reconheceu Lucca, como o dono do Mairi, e o cumprimentou.
- Boa noite, senhor Girard. O que aconteceu aqui? – perguntou sondando o ambiente, procurando algum perigo oculto, quando viu o corpo de Mauro caído no chão. Imediatamente encaminhou-se para ele, a fim de verificar se havia necessidade de chamar socorro médico, sem aguardar a resposta de Lucca.
- É uma longa história, policial. Mas para resumir, posso lhe dizer que estávamos sendo ameaçados por aquela mulher – disse apontando para Ana – quando ela, subitamente, matou o seu comparsa. O Jonas é nossa testemunha. Não fosse por ele, provavelmente minha noiva e eu estaríamos mortos.
Ao ouvir as últimas palavras de Lucca, Isadora lançou-lhe um olhar surpreso, mas não comentou nada, apesar da satisfação íntima causada pela declaração dele quanto a serem noivos.
- Bem, nós vamos ter que chamar a perícia e isto pode demorar, pois eles vem de Maceió. Infelizmente nós teremos que interditar a casa e manter a senhora ali presa até esclarecermos tudo. Em consideração ao senhor, depois que fizermos algumas perguntas, o senhor e sua noiva poderão ficar no Mairi até serem chamados para o depoimento oficial. É possível isso?
- Claro. Sem dúvida. Eu lhe agradeço muito.
- Podemos tirar a mordaça dela?
- Eu se fosse o senhor não faria isso, não. A mulher berra feito doida, seu guarda. – atropelou Jonas.
Levados para a sala de jantar do casario, Jonas, Lucca e Isadora foram entrevistados rapidamente pelo oficial e liberados para irem ao hotel. Jonas preferiu ficar e aguardar a perícia, já que a casa era responsabilidade dele, como zelador. Pelo rádio do carro policial, foi feito o contato com a delegacia local e de lá partiu a denúncia e o pedido de ajuda para Maceió.

Quando chegaram ao bangalô 12, estavam exaustos. O susto fora muito grande. - Pensei que fosse te perder, Isa. Todos momentos que passamos juntos nos últimos dias passaram de relance em minha mente. Me perdoa por ter te feito passar por tudo isto, mesmo que sem intenção.
- Não tem o que perdoar, meu amor. Não vou dizer que não fiquei com medo de morrer, pois fiquei, e muito. A minha reação lá, com aquele homem apontando uma arma nas minhas costas, foi puro instinto de sobrevivência. Olhando para trás agora, acho que arrisquei nossas vidas demais com aquela atitude impensada. Ele poderia ter atirado em mim ou em você, e eu morro só de pensar que a bala poderia tê-lo atingido. Ainda bem que tudo passou, graças a você, que teve sangue-frio o suficiente para manter aquela conversa com eles, e ao Jonas que conseguiu deter aquela maluca na hora certa.
- Que tal mudarmos de assunto – sugeriu, abraçando-a de frente e levantando-lhe o queixo, para poder olhá-la melhor – e tomarmos um banho para relaxar.
- Lucca... – sorriu incrédula.
- Só um banho de banheira para relaxar, eu disse, sua depravadinha – alertou rindo – Até porque não sei se conseguiria fazer alguma outra coisa hoje, depois de tudo que passamos...
Começaram a rir. Um riso exagerado, mas desestressante, que terminou por fazê-los esquecer, temporariamente, os momentos de aflição passados. Acabaram por perder-se um nos braços do outro, finalizando com um longo e apaixonado beijo.


Epílogo


Nos últimos dias das férias de Isadora muita coisa ainda aconteceu. Os depoimentos oficiais sobre o incidente na casa da praia dos Girard foram colhidos e Ana foi enviada para a capital de Alagoas para aguardar presa seu processo judicial. Acabou por ser avaliada por um psiquiatra forense que a diagnosticou como psicopata. Em um de seus depoimentos, numa crise, acabou por revelar que a morte de Guilherme não tinha sido acidental, como pensavam. Na verdade ela não aguentava mais viver com o marido e suspeitava que ele soubesse de seu caso com Mauro. Por isso, na manhã do acidente, colocou vários comprimidos de sonífero, pulverizados, no seu suco do desjejum. No caminho para a academia, para onde se dirigia, provavelmente Guilherme deva ter sentido o efeito da medicação e dormido na direção. Como não havia sido feita autópsia, o caso foi encerrado como sendo o de um mero acidente causado por negligência do motorista. Este foi mais um baque para Lucca, que encontrou apoio emocional em Isadora.
Os meses se passaram. Isadora voltou ao seu escritório de arquitetura para tocar todos os projetos pendentes e iniciar novos. Em pouco tempo reergueu-se dos prejuízos adquiridos com a compra da parte da sociedade de César. Este por sua vez, acabou por ser desmascarado como um grande patife, quando o pai de Isadora soube que a filha havia pagado por algo que ele próprio comprara ao emprestar dinheiro ao futuro genro. Ao cobrar de César uma retratação, ouviu os maiores desaforos, que revelaram a verdadeira índole do ex-noivo de sua filha. Finalmente reconheceu seu erro em relação à ela e pediu desculpas por seu comportamento, reconsiderando suas atitudes para com a filha dali em diante.
Lucca retornou ao Rio e assumiu a direção da rede hoteleira Girard, com grande responsabilidade e maestria. A dor pela perda trágica e precoce de seu irmão ainda não cicatrizara, mas o processo de cura tinha uma grande auxiliar. Isadora. Eles continuaram a encontrar-se. A ponte aérea Rio-São Paulo tornou-se uma constante em seu relacionamento. Nem mesmo a distância conseguiu abalar o amor encontrado e solidificado nas areias e corais de Maragogy.
Após seu noivado, cerca de um ano depois de terem se conhecido, Lucca acabou por transferir sua matriz para São Paulo, onde já funcionava um dos escritórios da empresa.
Hoje, casados, esperam, ansiosos e felizes, pelo nascimento de seu primeiro filho, que será um menino, e cujo nome, escolhido por Isadora, será Guilherme. Sempre que possível, voltam à Maragogy para lembrar e festejar o dia em que Isadora caiu nas redes do pescador Lucca e em que este ficou definitivamente encantado por sua presa.


FIM




Olá! Como havia prometido, publiquei o final do romance entre Lucca e Isadora. Espero que tenham gostado. Já estou pensando no próximo romance, é claro, mas não vou colocar prazos. De qualquer maneira, vocês sabem que não consigo ficar muito tempo sem escrever.
Queridas, até a próxima, o mais breve possível.
Grande beijo a todas!!

quinta-feira, 4 de março de 2010

Na Rede do Pescador - Capítulo IX

O sol lançava seus primeiros raios de luz através das cortinas do quarto, quando Isadora se deu conta que Lucca havia passado a noite ao seu lado. Antes de abrir os olhos, pode sentir os braços fortes cruzados sobre seus seios, abraçando-a por trás, o suave vai-e-vem de sua respiração serena e o leve roçar dos pelos em suas costas. Uma incrível sensação de segurança e felicidade a invadiu. A tormenta da noite anterior se dissipara e, finalmente, eles puderam entregar-se um ao outro sem equívocos ou mentiras, despidos de qualquer receio. Juras de amor foram trocadas, entre suspiros e murmúrios de prazer, pela madrugada afora, unindo-os intensa e completamente.

- Já está acordada? – sondou a voz rouca, fazendo cócegas em seu ouvido.
- Já... Pensei que você estava dormindo...
- Acho que dormi um pouco, mas já estou de volta à ativa – sorriu maldoso, sentindo o desejo tomar conta de seu corpo mais uma vez – Não quero deixar de aproveitar nenhum momento ao seu lado...
- Mas vamos ter que descansar um pouco uma hora dessas, senão não vamos aguentar – censurou-o soltando uma risadinha tímida ao senti-lo em suas nádegas.
- A gente descansa depois... – disse com a voz mais rouca ainda, afastando-se o suficiente para poder virá-la de frente para ele – Eu prometo...
Ao sentir o peso e o calor daquele corpo viril, recendendo aquele cheiro que tanto a atraíra quando a pegou nos braços pela primeira vez, sentiu-se incendiar. O cansaço da noite passada desapareceu e deu lugar ao desejo de tê-lo mais uma vez confundindo-se ao seu corpo, entre os lençóis da cama, até não poder mais. Era uma ânsia que parecia não ter fim e que não queria que acabasse jamais...

Passaram o dia juntos no bangalô. Não saíram nem para fazer as refeições. Nada lhes fazia falta, a não ser a companhia um do outro. Só no final da tarde, resolveram sair para jantar. Foi então que o celular de Lucca tocou. Ao olhar o visor, reconhecendo a autora da chamada, franziu o cenho aborrecido e atendeu extremamente irritado, para surpresa de Isadora.
- O que você quer? Já não bastou eu jogá-la para fora da minha casa ontem para perceber que não me engana com suas artimanhas e que eu não quero mais ver você na minha frente?
Logo Isadora entendeu de quem se tratava do outro lado da ligação.
- Sobre Guilherme? O que tem ele? – olhou de relance para Isadora com expressão preocupada. Após alguns segundos passados entre a resposta de Ana e a pausa para pensar de Lucca, ele respondeu: – Se estiver tentando me enganar de novo para conseguir dinheiro, acabo com você! – e desligou furioso.
- O que ela queria? – perguntou Isadora assustada.
- Não sei. Não quis dizer ao telefone. Diz que tem algo sobre Guilherme que quer me dizer... – olhava para o chão, com as mãos crispadas, perdido nas tentativas de imaginar o que haveria sobre o irmão que a megera queria contar. – Quer que eu a encontre lá em casa agora.
- Eu vou com você – ofereceu-se imediatamente.
- De jeito nenhum. Não quero que ela coloque os olhos ou destile seu veneno sobre você.
- Mas... – tentou argumentar.
- Vamos fazer o que combinamos, Isa. Vamos sair para jantar. Eu vou até lá, ouço o que ela tem a me dizer e a coloco para fora. Volto aqui e saímos.
- Não vou aguentar saber que está lá, com ela tentando seduzi-lo, enquanto eu fico aqui roendo as unhas de preocupação.
Ele sorriu diante do estado de aflição que Isadora se encontrava e aproximou-se dela, carinhoso.
- Meu amor, já fui seduzido definitivamente por você. E só você tem esse poder. Quanto àquela, já a desmascarei e vi o que realmente existe por trás daquela beleza fútil. Não caio mais nas suas ciladas – Segurou-a no queixo, beijando-a suavemente nos lábios – Confia em mim. Eu te amo, Isa.
- Lucca... – sentiu-se amolecer diante daquele beijo e daquele olhar sincero e apaixonado.
- Arrume-se e me espere aqui. Eu não demoro.
- Mas, e se demorar? Depois de tudo que você me falou dela, fico até com medo do que ela possa aprontar.
- Ela não vai aprontar nada. Olhe, se eu demorar, ligue para o meu celular. – Dirigiu-se até a pequena escrivaninha que tinha num canto do quarto, onde havia papel e lápis e rabiscou dois números de telefone. – Aqui está o número do meu celular e o da casa. Se eu demorar demais, ligue. Mas não saia daqui. Está bem? – sua voz tornou-se muito doce nas últimas palavras. Deu-lhe mais um beijo e saiu, fechando a porta atrás de si.
Apreensiva, Isadora tentou pensar em outras coisas. Pensou que seria bom tomar um banho e relaxar um pouco. Talvez ligasse para casa para dar notícias. Ligara apenas duas vezes e sumira. Era isso mesmo que faria. Confiava em Lucca. Logo ele estaria de volta e sairiam para um jantar romântico. Pensando assim, escolheu a roupa que usaria para a noite e foi para o quarto de banho ligar o chuveiro.
Após a chuveirada, envolta na toalha, prendeu os cabelos e foi maquilar-se. Olhou-se no espelho e gostou do que via. A pele levemente bronzeada dava-lhe um aspecto saudável há muito perdido em São Paulo, na sua rotina de trabalho. Quase não estava necessitando maquiar-se. Apenas um realce nos olhos e um batom seriam suficientes para deixá-la satisfeita com sua aparência. Quando começou a pensar no que faria com os cabelos, ouviu alguém bater na porta. Seu coração quase saltou do peito de tanta alegria. Ele voltara! Correu para abri-la, mas ao fazê-lo, sua expressão murchou, os lábios ficaram entreabertos, procurando uma maneira de expressar o seu horror diante do que viu, mas sua fala desaparecera juntamente com sua alegria.

Lucca já estava impaciente com a espera. Ana havia dito que logo o encontraria ali, mas já chegara há mais de 20 minutos e nada dela aparecer. Pensou em ligar para Isadora para tranquilizá-la. Foi quando soou a campainha.
- Oi, meu querido – saudou-o alegremente, entrando sala adentro quando ele a atendeu. Não parecia lembrar-se da maneira como fora escorraçada na noite anterior.
- Muito bem, Ana. Diga logo o que tem para me dizer. Tenho um compromisso logo mais – avisou-a secamente.
- Ah! Vai sair com sua nova amada – exclamou sarcástica – Você não perde tempo, não é mesmo, querido? Não pode ver um rabo de saia que já está na cola.
- Diga o que tem a dizer e dê o fora – disse entre dentes, rispidamente.
- O que tenho a dizer, meu caro cunhadinho, é que tenho algumas procurações aqui para você assinar. É coisa rápida. Depois vou embora e você não me verá nunca mais.
Ele a olhou, divertido pela audácia da mulher.
- O que você tinha a dizer sobre Guilherme? – perguntou, desprezando o que ela tinha dito por último.
- Sobre Guilherme? Ah... Coisas que você, como irmão caçula sempre se recusou a ver. Que ele era um chato, certinho demais, pão-duro... E péssimo amante, se quer saber.
A ira de Lucca tornava-se insuportável e ele segurava os punhos fechados, tensos ao lado do corpo, para não bater na mulher que agora soltava farpas sobre o seu irmão morto.
- Sei que é difícil para você ouvir isto, mas é a verdade. Mas isso não vem ao caso. – Sentou-se calmamente no sofá a sua frente e tirou da bolsa  algumas folhas de papel. – Tome. É só assinar isso aqui, e eu sumirei da sua vida. Apenas quero o que me é de direito. Você anula o processo que jogou sobre mim, tirando meus direitos de pobre viúva, que aguentou por dois anos uma vida miserável e resignada ao lado de um marido ausente, e me dá quarenta por cento da sociedade na rede hoteleira Girard. E olhe que estou sendo boazinha.
Lucca caiu na gargalhada, por alguns instantes. Mas logo tornou-se sério e com o semblante tomado pela cólera.
- Você enlouqueceu, Ana? Pensei que você era apenas uma golpista de segunda, mas vejo que é louca. Como pode vir aqui, falar deste modo do meu irmão e ainda querer que eu lhe dê o que você não tem direito algum. Por sorte, Guilherme fez aquele contrato antes do casamento, isolando-a da empresa em quaisquer circunstâncias. Ele ainda tinha um pouco de lucidez e um bom advogado para orientá-lo quando fez isso.
Ana levantou-se, mantendo um ar vitorioso. Olhou-o friamente e pegou seu celular, diante da incredulidade de Lucca, e fez uma ligação.
- Pode vir. – foi só o que ela disse, antes de desligar e continuar a encará-lo.
Lucca começou a ficar preocupado e temeroso a respeito do que Ana estava preparando para forçá-lo a assinar os tais papéis. Sem entender por que, a imagem de Isadora lhe veio à cabeça.
- Acho que poderemos resolver tudo com muita tranquilidade e sem escândalos, cunhadinho. Você assina, eu vou embora e você fica com a linda mocinha que arranjou nestas férias. Tome. É bom ler antes de assinar. Mas pode confiar em mim – disse ao lhe alcançar a papelada, com um riso malicioso na boca.
A campainha soou mais uma vez.
- Pode deixar que eu atendo, meu bem – falou ao mesmo tempo em que se dirigia para a porta de entrada.
Estarrecido, Lucca viu Isadora entrar, acompanhada por Mauro. Ela estava de jeans e camiseta, com os cabelos úmidos e uma face aterrorizada. Logo ele viu a causa de tanto terror. Havia uma arma apontada em suas costas, segura pela mão direita do amante de Ana, enquanto a esquerda a agarrava firmemente no braço.
- Como vê, Lucca, possuo um ótimo argumento para forçá-lo a assinar estas folhas. Ainda acha que sou louca?
Lucca não pode conter sua fúria, ensandecido que ficara diante da visão de Isadora nas garras daquele pústula e com uma arma a ameaçá-la. Lançou-se sobre Ana, pegando-a pelo pescoço.
Assustada com a reação de Lucca, apesar de já esperar uma atitude desesperada dele, empertigou-se e, com a voz quase sumida entre os dedos que pressionavam sua traquéia, conseguiu dizer:
- É melhor me largar, ou Mauro a mata agora mesmo.
Ambos não notaram a sombra que passou através do semblante de Mauro. Ele não estava se sentindo a vontade naquele papel de gangster assassino no qual Ana queria que Lucca acreditasse. Mas tentava manter-se atuando daquela forma, convencido por ela, para conseguirem sua independência econômica e poderem viver longe do Brasil, finalmente juntos. Ana o assombrava com estas atitudes extremas. Este seu lado perverso, de certa maneira o fascinava, mas também o assustava. Isadora sentiu que a mão que segurava seu braço afrouxou o laço e a ponta da arma desencostou de suas costas. Ficou mais alerta.
Aos poucos Lucca foi diminuindo a pressão dos dedos e trêmulo de raiva, olhou para Mauro que se mantinha junto a Isadora. Sua mente procurava pensar rápido num meio de livrá-la daquele perigo. Sofria intimamente ao vê-la envolvida naquela situação por sua culpa. Foi então que lançou mão de um recurso que já vira em alguns filmes policiais. Dirigiu-se à Mauro, tentando manter a voz o mais firme possível.
- Mauro, então agora você vai se tornar assassino também? Pensei que era só um “bom vivant” e um gigolô, mas vejo que virou um assaltante à mão armada. A pena por este tipo de crime é bem maior, sabia? – provocou-o.
- É melhor calar-se, Lucca – aconselhou-o em tom baixo de voz, tentando disfarçar sua hesitação – Faça como a Ana está pedindo e logo acabamos com isto.
- É incrível o que uma mulher pode fazer com um idiota. Ela manda e você faz.
Mauro o encarou carrancudo, mas não revidou. Ana começou a apresentar sinais de irritação.
- Lucca, pegue esta caneta e assine – disse.
Lucca a olhou com a maior frieza possível e pegou os papéis de sua mão, bem como a caneta. Isto a fez relaxar um pouco. Ele olhou os papéis, lendo atentamente um por um.
- Você já leu estes documentos, Mauro? – voltou à carga contra seu oponente – Só aparece o nome de Ana aqui. Quem te garante que ela vai dividir alguma coisa com você? Ela é gananciosa – afirmou, lançando um olhar de soslaio para Ana, que tornara a ficar tensa e irritada – Através destas procurações ficará com mais dinheiro à disposição que antes. Acha realmente que ela vai continuar sustentando um panaca como você, se ela pode ter coisa melhor?
O olhar de Mauro voou de Lucca para Ana e os sinais de sua dúvida cruzaram o ambiente. Lucca estava conseguindo seu intento, deixando-o inseguro em relação à amante.
- Lucca, pela última vez. Pare de falar e assine. – exclamou Ana asperamente – E você! Não preste atenção ao que ele diz. Está tentando jogar você contra mim. Não percebeu?
- Olha, Mauro, eu se fosse você ficava de olhos bem abertos. Aposto que ela planejou tudo isto aqui. Não acredito que você fosse capaz de pegar uma arma para ameaçar alguém. Eu cheguei a conhecê-lo antes de tudo isto e você até não parecia ser um cara mau.
Podia-se notar pela cara de Mauro que sua confiança em Ana começava a ficar abalada e as dúvidas começavam a incomodar.
- Mauro! Atire nela! – a voz de Ana eclodiu na sala, provocando um tremor e uma suspensão da respiração nos outros três presentes.
Enquanto Mauro passava como um filme todas as artimanhas de Ana, o modo como o vinha tratando ultimamente... Ele não era um assassino. Aquilo era para ser apenas uma encenação. Lucca deveria assinar os documentos e eles iriam embora... A arma nem estava carregada... Pelo menos foi o que Ana lhe dissera quando entregou o revólver e ele nem se lembrou de conferir. Nunca tinha atirado na vida. E agora...
- Por favor, Lucca, assine e iremos embora das suas vidas, sem deixar ninguém ferido – conseguiu dizer com dificuldade.
Lucca o encarou seriamente e pegou a caneta.
Isadora sentiu que Mauro relaxara o suficiente, deixando escapar um suspiro. Até ali ela se preparara para reagir e libertar-se de seu algoz. Chegara a hora. Sem pensar nem mais um minuto, virou-se repentinamente, saindo da mira do revolver, e empurrou Mauro com todas as suas forças. A arma caiu no chão, deslizando sobre o tabuão liso do chão, indo parar justamente aos pés de Ana. Atônito com a reação de Isadora, não conseguiu reagir e deixou-a livre para correr para os braços de Lucca.
- Mauro, você é mesmo um inútil! – vociferou, já segurando a arma apontada para o casal – Tenho que fazer tudo sozinha! Pegue-a! – gritou apontando para Isadora.
- Ana, chega! Isto não vai dar certo. É uma loucura. Vamos parar enquanto nada de pior aconteceu.
- O quê? – pensou ter ouvido mal. Sua cólera virou-se contra Mauro.
- Esta é a atitude mais acertada, Mauro. Pode acreditar que não darei queixa do que aconteceu esta noite – assegurou Lucca, momentaneamente aliviado pelas palavras de Mauro.
- Lucca, você realmente acredita que vou sair daqui de mãos vazias? – perguntou Ana contraindo os lábios, num arremedo nervoso de um riso. – Está duvidando da minha ameaça?
- Ana, você me disse que a arma não estava carregada... – argumentou Mauro.
- Cale-se, seu imbecil! – berrou e, subitamente apontou a arma contra Mauro e disparou.
Ao ver Mauro cair, de olhos arregalados, ainda sem entender o que acontecera, sobre o tabuão, Isadora soltou um grito e escondeu o rosto no peito de Lucca.
- Agora acreditam que a arma está carregada e que posso fazer um bom uso dela? Que tal se o próximo alvo for a sua namoradinha?
Ela estava louca. Lucca teve certeza disto quando a viu atirar no próprio comparsa. Era realmente capaz de qualquer coisa. Talvez devesse assinar o que ela queria e ver o que podia fazer depois. Não podia mais expor a vida de Isadora. Colocou-a atrás de si, como uma barreira à insanidade de Ana. Pareciam que todas as saídas estavam fechadas para aquela situação.

(continua...)




Sei que parece maldade acabar esta postagem sem completar o capítulo, mas ele ficou maior que os outros e eu ainda não terminei de escrevê-lo. E é claro, que não posso contar como o Lucca e a Isadora vão se sair dessa agora, senão perde a graça. Faz de conta que é novela, em seu penúltimo capítulo...rsrsrs. Assim, prometo que até domingo, dia 07, termino de postar o capítulo completo e provavelmente o final deste romance. Antes da entrega do Oscar...
Beijos para todos!!