sábado, 28 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 11)

Eric carregou Robert até um dos quartos desocupados da mansão, seguindo a indicação de Cássia. Luísa estava em choque. Lana e Victor foram levados para seus aposentos, aos cuidados de Monique, acompanhados por Cristopher. O clima era de tensão. Podia-se sentir a busca de autocontrole em cada um dos presentes ali. Diante da visão de sangue humano fresco, os instintos mais arraigados e primitivos da espécie poderiam ser despertados.
- O que aconteceu? – perguntou Arnold quando viu o ator, que conhecera poucas horas atrás no hotel, gravemente ferido.
- Ele foi atacado por um lobo selvagem – respondeu Eric nervoso.
- Ele foi tentar nos ajudar... Robert... – Luísa não conseguia encontrar palavras que dessem significado ao que estava sentindo. Gabriele a amparava, preocupada com estado de sua amiga.
- Eric, me ajude a limpá-lo. Peça ao Cristopher para buscar minha maleta na cidade. Vamos precisar de água e panos limpos.
- Vou providenciar – disse Cássia, assumindo a tarefa delegada a esmo e recebendo um olhar de agradecimento de Arnold.
- Também precisarei de minha maleta, que está no hotel. Parece que os ferimentos não foram tão profundos como parecem. O mais preocupante é o corte próximo à artéria carótida, mas creio que não chegou a atingi-la. Ele perdeu muito sangue, mas creio que vai se recuperar. Podemos dar um jeito para que esta recuperação seja mais rápida que o convencional.
Arnold Paole, ao longo dos séculos passara por várias escolas de medicina, estudando e pesquisando a respeito da arte médica, com o intuito de descobrir o sangue artificial. Sua formação habilitava-o, sem dúvidas, para o atendimento de Robert, melhor do que qualquer serviço de urgência da região, caso existisse algum.
- O que quer dizer com isto? – perguntou Luísa preocupada com o tipo de tratamento que Arnold preconizaria.
- Não. Não vou transformá-lo, minha cara, se é isto que a preocupa – tranquilizou-a – Mas podemos fazer pequenas transfusões, utilizando o sangue de um vampiro de linhagem pura. Isto o fará recuperar-se mais rapidamente, além de dar-lhe uma cicatrização perfeita. Na profissão dele, cicatrizes como estas diminuiriam enormemente as perspectivas dele em seu trabalho.
- Eu posso doar o meu sangue para ele – ofereceu-se Luísa, sem pensar duas vezes.
- Não, Luísa. Não pode – afirmou Cássia, que voltava com os pedidos de Arnold – Conversaremos isto depois. Mas eu posso e me ofereço para ajudar o rapaz.
Assim que conseguiu tudo o que precisava, Paole pediu para que todos saíssem do quarto, à exceção de Eric e Cássia.
Avisado por Cássia sobre o pedido de Arnold para trazer sua maleta com equipamento médico, Cristopher atendeu-o em pouco menos de 30 minutos. Levou o material até o aposento onde Robert estava sendo atendido e voltou ao salão principal onde os demais aguardavam.
- Quem são eles, afinal? – perguntou Luísa para Gabriele – Pensei que eram apenas atores e amigos de Robert. E este Arnold?
- Eles são de um clã grego de vampiros. Souberam de nossa existência quando estivemos em Santorini. Lembra do menino, Eros, que serviu-nos como guia em Myconos? Era um deles.
Estupefata com a novidade, ficou atenta ao que Gabriele passou a contar-lhe sobre o clã grego, Eric, Cris e Arnold, e de como suas expectativas haviam tomado novo curso.
- Mas, então... Tudo muda de figura com esta descoberta. Talvez Robert e eu tenhamos alguma chance de ...
- Toda a chance do mundo, querida.
- E você? Parece que voltou a ser a Gabriele de antes. O que aconteceu?
- Eric – respondeu com um sorriso.
Luísa devolveu um esboço de sorriso e logo voltou a pensar em Robert.
- Por que tinha de acontecer isto a ele? Logo agora que foram feitas estas revelações?
- Não se preocupe, Luísa. Tenho certeza que Paole vai reabilitá-lo. Robert está em ótimas mãos. Ele é médico e sabe o que está fazendo.
- Você sabe algo a respeito do que Cássia quis me dizer? Por que não posso ser eu a doadora.
- Acho melhor deixar que ela mesma fale com você sobre isso.
Luísa tentava distrair os pensamentos com esta conversa para não pensar no sofrimento de Robert e em seus ferimentos. Sentia-se instável e todos os músculos do corpo lhe doíam devido à grande tensão em que se encontrava.
- Não aguento mais ficar parada aqui esperando. Vou ver as crianças e saber como estão. Por favor, me avise quando souber de alguma coisa.
- Pode deixar. Vá vê-los. Victor deve estar precisando de você.




Victor



Lana

Sentado sobre a cama, encolhido entre os travesseiros, um par de olhos verdes, grandes e assustados, lançaram um olhar aliviado ao ver que a mãe estava bem e continuava ali ao seu lado para dar-lhe conforto e segurança. Lana já parara de chorar e acabara por dormir nos braços de Monique, tendo sido levada para seu próprio quarto.
- Mãe, quem era aquele moço que pulou no lobo?
Luísa entendeu que o pequeno, devido ao ataque inesperado da fera, na penumbra da mata, não conseguira reconhecer o seu salvador da tarde do dia anterior.
- O nome dele é Robert, meu bem. Ele te salvou de cair no penhasco ontem à tarde, lembra?
Com cara de choro, perguntou gaguejando:
- E-ele morreu?
- Não. Ele ficou muito ferido, mas não morreu, querido – respondeu, forçando-se para manter um tom de voz tranquilizador, enquanto abraçava o filho.
Ele se agarrou a ela, abrigando o rosto no meio de seu peito, numa tentativa de esconder-se da visão de sangue, gritos e choro que presenciara no bosque.
- Que bom... – falou com a voz abafada – Não quero que ele morra...
Procurando conter as lágrimas, Luísa conseguiu murmurar, aumentando a pressão de seu abraço:
- Ele não vai morrer, querido... Não vai...
Emocionou-se com a preocupação de Victor pelo homem que ainda não reconhecia como seu pai, mas sabia que ainda não chegara a hora de revelar-lhe este fato. Esperaria a recuperação de Robert para que pudessem contar-lhe juntos.
Ainda estavam abraçados, quando Cássia apareceu à porta do quarto e disse:
- Robert quer vê-la.
Ela parecia cansada e mais pálida do que nunca, provavelmente devido à doação de sangue para ajudar na recuperação de Robert.
- Como ele está?
- Bem. Parece que o tratamento de Paole está tendo bons resultados.
- Gostaria de agradecer-lhe, Cássia.
- Não precisa. Tenho uma dívida com você por ter ocultado alguns fatos do seu passado. Mas sobre isto conversaremos depois, com mais calma. Agora, vá ver o seu... amigo – ordenou com um discreto sorriso, enquanto se acercava de Victor e tomava o lugar de Luísa – Deixe que eu fico com este rapazinho aqui.
- Mãe... – ele exclamou receoso.
- Já volto, querido – acalmou-o, beijando-lhe a testa escondida sob os fios de cabelo negro, que ali caíam desajeitados.

Paole a esperava à entrada do aposento. Queria lhe explicar sobre o tratamento e a recuperação de seu paciente.
- Ele ainda precisa de repouso. Já fizemos a primeira transfusão. Serão três ao todo. Uma por dia. Portanto, em três dias ele estará como novo.
- Estas transfusões... Não podem provocar uma transformação dele em um de nós?
- Não há este risco em hipótese alguma. A enzima que provoca esta transformação de que você fala só é inoculada no indivíduo através dos caninos, no momento da mordida – tranquilizou-a.
- Ele já sabe sobre o... tratamento?
- Sim. Eu expliquei tudo a ele, assim que recuperou a consciência.
Eric se encarregará de contar ao diretor do filme em que estão trabalhando uma explicação para o acidente que ele sofreu e o motivo por continuar aqui. Nada muito diferente do que aconteceu. Apenas mais abrandado, se é que me entende.
- Claro. Eu entendo... E muito obrigada por salvá-lo.
- Temos que agradecer à Cássia. Não fosse por ela, ele permaneceria naquele estado lastimável – Com um sorriso afável, abriu a porta e fez um gesto com a mão, liberando a sua entrada – Melhor você entrar.
O sol já começava a espantar as sombras noturnas ao longo das montanhas em torno de Mircea, mas a posição de Robert na cama, cercada por dosséis com pesadas cortinas, não permitia uma boa visão de sua aparência. Luísa foi aproximando-se cautelosamente, seguida por Paole um pouco mais atrás. Lembrava do estado em que ele ficara logo após o ataque e temia aquela visão. Não por repulsa, mas por imaginar a dor que ele devia estar padecendo com as extensas feridas. Culpava-se por não ter conseguido ajudá-lo naquele momento, mas tudo havia sido tão rápido...
- Luísa – a voz soou mais grave e rouca que de costume.
- Sim, meu amor. Eu estou aqui.
Já estava bem próxima dele quando sentiu sua mão acolhida pela dele. Era quente e forte, como sempre. Ela sentou ao seu lado e, só então pode observá-lo. Era impressionante. A cicatrização já era praticamente completa e nem de longe lembrava o moribundo que vira momentos antes. Onde a pele havia sido dilacerada, mal podiam ser vistas algumas estrias de cor avermelhada
- Pela sua cara, o doutor ali – disse apontando com a outra mão para Arnold – trabalhou bem. Ou estou enganado, e estou tão mau que a impressionei pela feiúra?
- Não... – Ela não conseguia esconder sua admiração – É incrível ...
- Eu bem que queria ter um espelho, mas já sei que vocês não apreciam muito tê-los em casa.
- Você vai ter que se contentar só com a nossa opinião até poder voltar para o hotel – falou Luísa, sentindo as forças voltarem, superando os momentos de angústia pelos quais havia passado, ao ver Robert recuperando-se e de bom humor.
- Vocês têm razão em não deixar saber a sua existência. Se certas pessoas mal intencionadas soubessem do poder deste sangue, imaginem a caçada desmedida em busca das curas milagrosas provocadas por ele.
- Esta é uma de minhas preocupações. Depois que terminei por descobrir o sangue artificial, voltei minhas pesquisas exatamente para a procura do componente que produz este efeito curativo tão potente. Até agora, só o que consegui foi saber que ele só existe na circulação dos vampiros homozigotos. Os híbridos apenas tem a capacidade de curar através da mordida, que acaba por liberar a enzima responsável pela transformação dos humanos em vampiros.
Enquanto falava, Arnold lembrou de seu filho mais velho, Stefan, que acabara por transformar Sophia, sua atual esposa, quando esta corria perigo de vida. Ele enfrentara uma amarga dúvida sobre o que fazer naquela situação, entre perdê-la ou transformá-la numa vampira. Ao fim das contas, tudo acabou bem, pois ela já estava apaixonada por ele e aceitou bem sua mudança.
- Bem, – continuou – creio que já devo estar cansando vocês com minhas explicações científicas. Acredito que queiram ficar a sós... Mas nada de emoções, se é que vocês me entendem – aconselhou-os, com um sorriso surgido no canto da boca.
- Agora que estamos a sós, venha aqui – disse oferecendo um lugar ao seu lado na cama, com um gesto de mão.
- Lembre do que ele falou. Você ainda está em recuperação e não pode fazer esforços – disse docemente, acariciando-lhe a face.
- Não pretendo fazer nenhum “esforço”. Só quero te ter bem perto de mim – murmurou, puxando-a para a cama, fazendo que ela caísse em seus braços – Vamos considerar isto como... Parte do tratamento.
Antes que ela pudesse contrariá-lo, cobriu sua boca com um beijo.

Cássia estava sozinha em seu quarto, depois que conseguira acalmar Victor e fazê-lo dormir. Pensativa, relembrava tudo que acontecera nas últimas horas e as mudanças ocorridas na sua maneira de pensar. Ainda não tinha certeza aonde os novos acontecimentos os conduziriam, mas tinha a sensação de que a maioria de suas angústias tinha chegado ao fim. Mergulhada em seus pensamentos, estremeceu ao sentir uma mão em seu ombro. Não se virou, pois reconheceu o responsável por aquele toque. Sorriu. Continuou parada onde estava, a observar o sol elevando-se no horizonte e, simultaneamente, fechando a cortina. Ainda não suportava muito a luz do dia.
- Cansada? – perguntou Paole, virando-a delicadamente de frente para ele.
- Tem algum tratamento especial para os seus doadores? – perguntou com um olhar insinuante.
- Apenas para as belas doadoras, - respondeu, prendendo-a com ligeira pressão de encontro ao seu corpo, cingindo sua cintura.
- Então já teve oportunidade de experimentá-lo com outras?
- Na verdade você será minha primeira cobaia – sua boca falava em tom baixo e muito próxima dos lábios de Cássia, provocando-lhe agradável cócega e excitando-a – Mas como todo experimento in vivo, preciso de autorização.
- Onde preciso assinar? – perguntou mais uma vez, já num roçar de lábios e voz enfraquecida.
- Aqui... – respondeu ele, pouco antes de unir suas bocas num beijo, a princípio suave, mas que logo se tornou apaixonado.
Cássia deixou-se levar pelos novos sentimentos, que Arnold despertara de uma maneira avassaladora. Sua última barreira de resistência àquele homem fora derrubada quando ela observou suas atitudes diante da situação inusitada pela qual passaram horas antes. Ele agira com determinação, praticidade e rapidez, acabando por salvar a vida do humano. Era um líder nato.
- Você não tem um paciente para cuidar? – perguntou assim que retomaram a consciência de onde estavam.
- Ele já está sob os cuidados de Luísa... Preciso cuidar de você agora.
O olhar daquele homem a incendiava. Não podia resistir.
- Quem disse que estou precisando de cuidados? Sempre me cuidei muito bem sozinha – continuava a falar-lhe de forma insinuante e sensual.
- Talvez... Até agora – sussurrou.
Mirou-a profundamente, com os olhos embriagados pelo desejo e novamente a beijou. Desta vez com mais intensidade. Logo ela se sentiu elevada do chão e conduzida até sua cama. O último pensamento de Cássia antes de entregar-se completamente às carícias de Arnold foi: “Por onde você andava que demorou tanto a me encontrar?...”




Demorei, mas cheguei. Infelizmente, este capítulo não tem as esperadas "cenas hots", nem as fotos das crianças (aceito sugestões, Cris), mas é que até eu conseguir acomodar tantos casais apaixonados, demora...kkkkk. Mas, aguardem, pois a estória ainda não terminou. Sei que muitas esperavam pela transformação do Robert em lobisomem. Até achei a idéia interessante, mas não queria cair na tentação de copiar estórias como "Anjos da Noite" e "Lua Nova". Mas sempre há a possibilidade de uma continuação... rsrsrs.
Muito obrigada a todas as minhas queridas - Tânia, Ly, Rose, Carel, Vanessa, Cassinha, Cris - que enfeitam a minha página de comentários e me animam tanto com suas palavras de estímulo.
Beijos a todas!

domingo, 22 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 10)

Virou a cabeça para o lado onde sentia a presença de Robert. Podia a ouvir a sua respiração tranquila, sentir o calor do seu corpo e o seu perfume misturado aos cheiros corporais que começavam a excitá-la novamente. Desta vez ele não chegara a notar a sua transformação na hora do êxtase, mas temia que isso pudesse acontecer muito em breve. Ela conseguira controlar o crescimento dos caninos pela excitação exacerbada, fazendo que tudo durasse apenas alguns segundos. Não fosse por estes detalhes, ela poderia ser uma humana. Quase desejava não pertencer a sua espécie quando estava com ele. Abriu os olhos. Ali estava, magnífico, despido de qualquer defesa. Indefeso contra a sua admiração e desejo. A maturidade e o exercício físico fizeram um excelente trabalho. Os músculos eram bem torneados, sob a pele ligeiramente bronzeada, formando um conjunto tentador. No tórax, alguns poucos cabelos grisalhos misturavam-se aos castanho-escuros e escondiam os pequenos mamilos castanhos no peito amplo. Logo abaixo, viam-se as suaves elevações em gomos do abdômen bem talhado e alguns pêlos em torno do umbigo que acompanhavam as linhas musculares até o púbis... As coxas fortes e poderosas encontravam-se afastadas, bem como as pernas, largadas relaxadamente sobre o leito. Sentiu uma contração íntima, um calor percorrendo seu corpo e a salivação quente e doce, provocando um arrepio por todo seu dorso. Voltou o olhar para o rosto, plácido, com um leve sorriso, nos lábios bem desenhados e cheios. Precisava desesperadamente tocá-lo. Tinha medo de tirá-lo de seu repouso, mas não podia evitar. De lado, soerguida, apoiada sobre o cotovelo direito, continuou a observá-lo, matando a saudade de tantos anos sem vê-lo daquela maneira desarmada. Levou a mão esquerda até sua face, acariciando a orelha alongada e bem feita, arrancando-lhe um leve gemido. O passeio continuou pelo rosto, onde se demorou um pouco mais, sentindo na pele o roçar da barba macia, apesar de rente a face, a linha do queixo anguloso e partido ao meio por uma mínima covinha. A boca apresentou uma contração dos lábios, abrindo um sorriso lascivo. Ele acordara e aproveitava o carinho voluptuoso de Luísa, preguiçosamente, de olhos fechados. Quando ela fez menção de parar, ele suplicou em um sussurro sem mover-se da posição em que se encontrava, nem abrir os olhos:
- Continue... Não pare...
Sorridente, ela continuou sua jornada pelo corpo de seu amado, buscando acariciá-lo nas áreas que lhe davam maior prazer, demorando-se mais nestas, para depois continuar a aventurar-se a procura de outras. Logo, ele deu sinais de que estava totalmente recuperado de seu torpor. Mas antes que se levantasse, ela jogou a perna esquerda sobre ele, de forma a sentar-se sobre o estreito quadril, surpreendendo-o com sua rapidez. De olhos abertos, Robert pode admirá-la, montada sobre ele, como uma amazona feroz, com o rosto parcialmente coberto pelos longos cabelos, que caiam em cascatas, e os olhos incendiados pelo desejo. Segurou-a pela cintura fina e puxou-a sobre seu peito, provocando uma exclamação de agradável excitação por parte dela.
- O que você está tentando fazer comigo? – ele perguntou insinuante.
- Tudo o que perdemos de fazer nestes anos passados...
- Será que vamos sobreviver a tanto?
- Podemos tentar... – disse, enquanto jogava seus lábios contra os dele, num beijo voraz.
Perdidos nas carícias, mais uma vez fizeram amor.

Difícil dizer quanto tempo tinha se passado. Deitados e abraçados, mergulhados na penumbra do quarto, Robert olhava para Luísa com carinho e preocupação. Lembrara finalmente de tudo. Ela não era como ele, mas isso pouco lhe importava. Amava-a e faria de tudo para ficarem juntos. Ainda precisava ter certeza sobre mais uma coisa.
Ela abriu os olhos e sorriu ao vê-lo.
- Cansada? – perguntou, tirando-lhe uma mecha de cabelo que caía sobre sua testa.
- Feliz... Você parece preocupado. O que houve?
- Você não precisava ter fugido daquela maneira. Poderíamos ter achado uma solução para nos adaptarmos.
- Do que está falando? – indagou, temerosa de que ele pudesse ter lembrado de quem ela era.
- Eu me lembrei de tudo Luísa. Tudo. Não precisa mais disfarçar. E quero que saiba que não me importo.
- Exatamente do que você lembrou? – Seus temores encontravam confirmação.
- Que você é uma... Bem, você sabe a que me refiro - Sentia dificuldade em dizer a palavra vampira.
Ela tentou levantar-se, mas foi impedida por ele, que a aconchegou ainda mais ao seu peito.
- Nem pense em fugir ou tirar minha memória de novo. Eu te amo e não vou deixar nada mais nos separar. Entendeu? Pouco me importa se para isso tenha que me transformar ou não – Seu tom de voz era tranquilizador e carinhoso – Só quero que me explique duas coisas: exatamente o porquê da sua fuga e... Sobre Victor.
Ele não a odiava. Só por isso sentiu um grande alívio, o que a fez permanecer mais relaxada naquele abraço e encontrar mais facilmente as palavras que explicariam todo o seu drama no final da viagem às ilhas gregas e sobre o filho e a sua importância dentro dos planos para conservação de sua espécie.
Ao final desta longa conversa, decidiram que chegara a hora de procurar Cássia e enfrentá-la para expor seus planos futuros. Mais cedo ou mais tarde teriam de correr este risco. Que fosse mais cedo. Vestiram-se e partiram rumo ao castelo.

O sol ainda não despertara e o céu noturno estava envolto em nuvens cinzentas, que impedia que a lua cheia ou as estrelas fossem visíveis. Uma leve aragem espalhava o cheiro dos pinheirais, misturado ao aroma da terra ainda úmida pelas últimas precipitações. No bosque próximo à cidade adormecida, um solitário lobo cinzento vigiava a toca de uma família de lebres, aguardando ansiosamente que pelo menos uma delas saísse antes do alvorecer. Estava cansado da procura por alimento Os últimos dias não tinham sido muito alvissareiros em matéria de caça e seu estômago já reclamava intensamente. Esperava ser recompensado muito em breve. Teria que ter apenas um pouco de paciência.




- Victor... Victor... – chamava Lana ao seu companheiro de travessuras naquele final de noite.
- Mãe? – perguntou, ainda de olhos fechados e lutando contra o torpor do sono.
Sonolento, esfregando os olhos, sorriu ao ver a amiguinha.
- Sou eu, Victor – identificou-se sorrindo de volta.
- O que é? Onde está a minha mãe?
- Não sei, Victor. Quer brincar? Vamos? – insistiu Lana.
- A mãe saiu?
- Vamos procurá-la no bosque?
- Não podemos ir lá.
- Então eu vou sozinha, seu bobão.
- Não. Eu vou – disse injuriado com a insinuação de Lana sobre sua disposição em relação ao convite, levantando-se imediatamente da cama.
Furtivamente, saíram do quarto. Ouviram as vozes que vinham da sala principal no andar de baixo e esgueiraram-se até uma escada secundária que levava a uma saída nos fundos. Alcançaram os jardins e, rindo satisfeitos com sua esperteza e pela liberdade alcançada, rumaram ao bosque, totalmente inocentes quanto aos perigos a que estariam expostos.

Já estavam quase chegando ao castelo. Caminhavam de mãos dadas, fazendo planos, aproveitando a brisa e os perfumes exaltados pelo orvalho da madrugada da mata próxima, quando Luísa foi alertada por seus instintos de que alguma coisa estava errada.
- O que houve? – perguntou Robert ao notar o olhar preocupado dela quando parou de andar repentinamente.
- Victor... – Seu olhar já deixara de ser apenas de preocupação, passando a aflito.
- Mas ele não ficou no castelo?
- Sim, mas estou sentindo a presença dele aqui perto, no bosque... – passou a imaginar o pior – Robert, precisamos achá-lo.
- Para que lado? – indagou angustiado.
Luísa concentrou-se até que pudesse sentir a direção a tomar para encontrar o filho.
- Por aqui! – exclamou finalmente.
Saíram da pequena estrada que levava ao topo da colina e penetraram na floresta. Seus passos rápidos sobre o cascalho entre as árvores provocavam o som de chocalhos ecoando no silêncio do mato. Mal podiam ouvir o coaxar dos sapos, o barulho das asas de pássaros noturnos a debater-se entre as folhas dos pinheirais e até o pio gutural de uma coruja. Foi quando um rosnar feroz feriu seus ouvidos a poucos metros de onde estavam. Logo em seguida, visualizaram uma cena apavorante. Uma figura miúda, de cabelos negros desgrenhados, em corajosa posição de enfrentamento à fera cinzenta que tinha diante de si. Atrás dele, caída no chão, encolhida sobre si mesma e chorando, estava uma menina, da mesma idade, com desalinhadas madeixas louras a cobrir os olhos assustados. O lobo faminto os avaliava com olhos vidrados e flamejantes, antevendo a bela refeição que teria em poucos segundos. Sua espera terminara. Mas antes que ele desse seu salto sobre as crianças, uma figura adulta jogou-se entre ele e sua caça, causando-lhe um sobressalto. Era uma fêmea da mesma espécie dos filhotes. Ela mostrava os caninos pontiagudos e rosnava quase como ele, tentando intimidá-lo. Mas a fome era grande e não se afastaria dali com tanta facilidade. Comeria hoje, mesmo que tivesse de lutar. Quando partia novamente para o ataque, notou o olhar da mulher se modificar de desafiador para surpreso e ouviu o seu grito.
- Robert! Não!
No mesmo instante, o lobo sentiu um peso sobre seu dorso e um par de braços a rodear-lhe o pescoço.
- Fujam! Deixem que eu o distraio! – gritou enquanto lutava com o animal selvagem que se debatia, na tentativa de mudar de posição com ele e cravar-lhe os dentes.
Não demorou muito para que Robert perdesse o equilíbrio e ficasse de frente para um par de olhos brilhantes, cegos pelo desejo de matar. Praticamente imobilizado pelos quase sessenta quilos de músculos e pelos, via a saliva espessa gotejar da mandíbula poderosa que se aproximava cada vez mais. Conseguia ouvir os gritos de Luísa e das crianças, enquanto tentava se esquivar das mordidas, recebia patadas e tinha a carne dilacerada pelo seu oponente. Quando já tinha a vista nublada pelo seu próprio sangue e as forças lhe abandonavam o corpo, o peso contra o qual ainda lutava desapareceu e um ganido lancinante vibrou no ar. Antes de perder a consciência, ainda ouviu a voz que parecia ser de seu amigo Eric.
- Vamos levá-lo para o castelo! Rápido!



Parece que não consigo acabar mesmo esta estória, por mais que eu tente... rsrsrs.
Mas falta muito pouco. Como já pude ver que vocês estão com paciência para me aguentar um pouco mais, vamos ver até onde a Luísa e o Robert nos levarão.
Beijos!!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 9)

Tão logo Victor adormeceu, Luísa saiu sorrateiramente do castelo. Gabriele havia feito certo mistério a respeito da reunião daquela noite, dizendo que ela teria uma surpresa, mas sem explicar os motivos para tanta expectativa. Entretanto, ela não conseguia mais resistir à ansiedade e a tentação de voltar a encontrar Robert e esclarecer a conversa entrecortada por insinuações sobre direitos sobre o seu filho que tinham tido no início da tarde. Encoberta pelas sombras da noite, chegou rapidamente à cidade, dirigindo-se prontamente ao hotel onde ele estava hospedado. Ainda não tinha bem certeza de como abordaria o assunto, mas o desejo de vê-lo competia com a angústia provocada pelas últimas palavras dele. Não havia praticamente movimento algum de hóspedes na recepção, onde um jovem recepcionista iniciava seu plantão. Notou os olhos de admiração do rapaz ao vê-la entrar, seguidos pela curiosidade ao ser perguntado pelo ator Robert Neville. Com um sorriso estudado na escola de hotelaria, depois de um “pois não, senhora”, procurou nos escaninhos às suas costas pela chave do hóspede em questão.
- Ele está no hotel, senhora. Vou fazer uma chamada para o seu quarto. Só um momento...
Enquanto o jovem fazia sua ligação, Luísa ouviu uma sensual e sonora risada feminina, que logo suspeitou ser pertencente à atriz que conhecera à tarde e a quem nem fora apresentada. Sem esperar que o recepcionista completasse a sua solicitação, caminhou lentamente em direção à sala de estar de onde vinha o som de risos. Algo lhe dizia que Robert estaria ali. Seus temores confirmaram-se. Apenas os dois estavam sentados num dos sofás, bastante animados na companhia um do outro. Constatou a intimidade entre eles e o ciúme passou a corroê-la. Trêmula, ficou a observá-los, parada, a uma distância discreta, tentando evitar que a vissem. Foi quando ouviu o porteiro lhe chamar, alertando a dupla na sala. Virou-se para atendê-lo e agradecer por seu interesse.
- O senhor Neville não está em seus aposentos, senhora.
- Não se preocupe. Já o achei. Muito obrigada.
Quando voltou sua atenção para a sala, seu olhar cruzou com o de Robert.
Ela estava linda, com os olhos a faiscar um ciúme indisfarçável, que o fez se sentir vitorioso. Parecia que seu alvo havia sido atingido e devia isto à Lisa, que se mostrara disposta a ajudá-lo em sua conquista, ou deveria dizer, reconquista. Esta, por sua vez, ao notar a presença de Luísa, colocou em ação seu talento artístico e mostrou-se o mais íntima possível, tocando o rosto de Robert, desviando sua atenção daquela sortuda que estava na recepção, virando-o para si e aproximando-se de forma a dar-lhe um beijo suave na boca. Com movimentos planejados, depois de beijá-lo, lançou um olhar provocador para Luísa. Era ótima atriz e já sentira que Robert estava muito interessado naquela mulher, como nunca estivera antes. Ficaria assistindo de platéia a queda de seu amigo do nível de conquistador a conquistado. Seria muito divertido. Só esperava que ela o merecesse.
Robert segurou a mão de Lisa que o tocara e a beijou. Já vira que a amiga entrara no seu jogo para encenar e provocar ciúmes em Luísa. Esperava poder agradecer-lhe mais tarde. Pediu licença a ela e caminhou determinado para onde estava a sua espectadora, que se encontrava paralisada, mas tentando manter o olhar impenetrável.
- Luísa, que bom ver você por aqui – cumprimentou-a alegre e calculadamente cínico – Aconteceu alguma coisa?
Como que acordada de um mau sonho, falou em voz baixa e mal-humorada:
- Acho que cheguei numa hora imprópria. Vejo que está “ocupado” – tentava controlar o tremor nas mãos e o rancor represado.
- Será que percebo uma ponta de ciúme em você? – Queria rir, mas não podia deixá-la perceber a farsa entre Lisa e ele.
- Não! De maneira alguma – negou veementemente demais – Se quiser, podemos conversar amanhã quando voltar ao castelo para continuar as filmagens.
- Não, de jeito nenhum – sorriu sedutoramente – Lisa é apenas uma grande amiga – afirmou com uma pincelada de ironia na voz, propositalmente colocada para que Luísa achasse que havia algo mais entre os dois, além da suposta amizade – Venha... Vamos conversar num lugar mais reservado.
Os punhos de Luísa cerraram-se instintivamente e só seguiu-o porquê foi segura firmemente pelo braço e praticamente arrastada por ele. Ainda pode ouvir ao longe a voz de Lisa, advertindo Robert, em tom de leve censura:
- Robert, querido, não demore.
Ele teve que segurar mais uma vez a gargalhada, ao mesmo tempo em que pensava que Lisa estava exagerando. Podia quase palpar a fúria de Luísa através do retesamento da musculatura de seu braço ao ouvir a outra.
- Não demorarei... – exclamou de volta – Ou talvez não volte... – completou em voz baixa, que só Luísa poderia ouvir.
Lisa praguejou para si mesma. “Droga! Agora fiquei sozinha. Nem Robert, nem Eric, nem Cris... Nem mesmo o Will para despejar a sua aversão por mim. Fazer o quê? Nesta altura da vida servir de ajudante de cupido... A que ponto cheguei...” Foi até o bar e pediu uma dose de vodca com muito gelo.
- É o que me resta neste fim de mundo – disse erguendo seu copo em brinde ao barman e bebendo a sua própria saúde.

- No seu quarto? – perguntou sobressaltada ao dar-se conta do local para onde Robert a levara.
- Não existe nenhum lugar mais privado do que este no hotel. Podemos ficar de pé aqui no corredor, se preferir – zombou dela.
Sem outra saída, Luísa lançou-lhe um olhar zangado e aceitou o convite que ele fez com a mão, indicando-lhe a porta do seu apartamento.
- Juro que tentarei me comportar – arriscou dizer, antes de fechar a porta atrás deles.
O quarto contava apenas com uma cadeira bergère, em capitonê, forrada por veludo da mesma cor vermelha das cortinas, acompanhada por um pufe, uma pequena escrivaninha antiga e uma cadeira de braço, além da cama de casal.
Ele apontou a bergère para que ela sentasse, por ser mais confortável, mas Luísa preferiu a cadeira de braço. Engolindo a recusa de seu oferecimento, sentou-se ele próprio na aconchegante poltrona e ficou a observá-la por alguns instantes, até resolver dar início à conversação.
- Então? Estamos aqui, a sós, sem interferências externas. Sobre o que gostaria de conversar? Estou dando o tempo que você tinha me pedido na penúltima vez em que nos falamos, lembra?
- Eu sei... – respondeu no meio de um suspiro, como se fosse difícil externar o que desejava – Tenho pensado muito sobre o que você me falou e decidi contar a verdade – a voz ainda indecisa, buscava a melhor forma de expressar-se.
Robert mantinha-se atento, optando por ficar mudo, sem interferir na confissão dela. Apenas a olhava com aparente serenidade.
- Nós realmente nos conhecemos naquele cruzeiro...
Uma sensação de alívio e prazer inundou sua mente e seu coração por finalmente certificar-se de que não estava louco ou apenas imaginando coisas, mas continuou impassível, à espera das próximas palavras.
- Foram dias maravilhosos, mas que são passado. Para você, pelo jeito isto não foi uma dificuldade, já que nem ao menos tinha certeza se era eu ou outra mulher em sua companhia naqueles dias – esperava que a tática de minimizar o seu interesse por ele o esfriasse – Tivemos uma bela aventura e nada mais.
Ele retesou-se na poltrona, percebendo a intenção de Luísa, e resolveu interferir.
- Você está tentando justificar a sua fuga e desaparecimento – Aos poucos sua memória voltava. O rosto de Luísa preenchia agora todas as lacunas vazias dos últimos anos. Seu coração disparou ao relembrar as noites de amor passadas com ela – Você me deixou. Lembro de quase tudo agora...
- Neguei que o conhecia, pois não pretendo repetir a experiência. Eu fui apenas mais um caso na sua provável extensa lista de mulheres.
- Não! Não foi. Este “caso”, como você pretende classificar-nos, tem perturbado meus dias e minhas noites, por causa da angústia de não conseguir lembrar alguém que foi importante demais em minha vida – Enquanto falava, buscava nas lembranças, que chegavam como raios a sua mente, a explicação para sua perda de memória. Tinha que haver uma.
“Ele não lembra que sou uma vampira”, pensou Luísa, “Talvez isso seja chocante demais para que relembre”.
- Foram apenas cinco dias. Não pode ter sido tão importante assim.
- Sei que existe alguma coisa que ainda não lembrei, mas isto não importa – Levantou-se da bergère e foi até ela. Segurou os seus braços e ergueu-a da cadeira, aproximando-a de si – O que realmente importa é que você está aqui, ao alcance de minhas mãos. E eu a desejo imensamente.
- E se eu não estiver interessada? Já lhe ocorreu este detalhe? – disse, sem conseguir manter o olhar desafiador, com medo de ser descoberta em deslavada mentira.
Ainda segurando-a, acariciou seu queixo e suavemente a fez elevar a cabeça até reencontrar seus olhos afogados em anseio.
- Duvido muito disso...
- Acho que você está se superestimando, meu caro – disse sarcasticamente, tentando manter a voz firme e usando a cena que vira alguns minutos antes do saguão do hotel para alimentar a hostilidade necessária a manter sua frieza perante ele.
- Você não consegue evitar o seu desejo por mim, Luísa, por mais que tente disfarçar – falou enquanto a puxava cada vez mais contra si, com uma mão em sua cintura e a outra às costas, forçando-a a um enfrentamento maior – Todo o seu corpo pede por mim. Sinto o seu tremor, a aceleração do seu coração e as forças esvaírem do seu olhar quando a toco. Por que negar esta atração e esta paixão que nos consome?
Quase perdendo o domínio de seus atos, lembrou-se de Lisa.
- A mesma atração e paixão que eu presenciei há pouco lá embaixo? – esbravejou.
Robert apenas sorriu, sem afrouxar seu abraço.
- Aquilo foi uma bela encenação feita especialmente para você. Pelo que vejo, surtiu o efeito desejado.
Uma onda de indignação e revolta percorreu Luísa, pensando em como os dois estariam a divertir-se por conta dela, e imediatamente começou a lutar contra ele para libertar-se dos seus braços.
- Como bom ator que certamente é, quem me garante que as encenações cessaram ao entrarmos neste quarto? Você pode estar encenando desde que me viu a primeira vez e agora apenas quer ter mais uns dias de prazer, para depois desaparecer e dizer que perdeu a memória – falava ao mesmo tempo em que o empurrava com força com as mãos sobre seu peito – Solte-me.
Agora ele enfurecia-se ao ouvir aquelas falsas acusações.
- Eu não estou encenando agora, Luísa. Por Deus! Estou louco por você. Há quatro anos a procuro, onde quer que eu vá, num sorriso, numa voz, num jeito de andar, num gesto... Faço qualquer coisa para tê-la comigo novamente – dizendo isto, imobilizou-a com um braço, enquanto a mão livre segurou sua cabeça, forçando o encontro de seus olhos. Com brutalidade e paixão colou seus lábios aos dela. Houve grande resistência e luta a princípio, mas pouco a pouco ele sentiu seu corpo amolecer e a boca entreabrir-se, permitindo que sua língua a invadisse, causando um pequeno gemido de entrega.
- Robert... – ela gemeu quando se separaram para recuperar o fôlego..
- Eu preciso de você, Luísa... – murmurou junto a sua boca, de onde não queria afastar-se, antes de iniciar outro beijo, agora mais apaixonado e menos arrebatado, degustando o sabor de seus lábios e de sua língua, matando a saudade que o consumia e saboreando a entrega de Luísa.
Ela não conseguia mais resistir a ele. Tentara com todas suas forças afastá-lo, mas era impossível. O medo e o ciúme já não tinham lugar entre eles, depois das palavras que acabara de ouvir. Não fugiria mais. Enfrentaria por ele fosse o que fosse. A cólera de Cássia, o fim da espécie... Nada mais era tão importante do que estar junto a ele. O resto seria resolvido de uma ou de outra maneira. Pensaria nisto depois...
As mãos de Robert já passeavam por seu corpo, tentando desvendá-la, tocar sua pele, buscando o contato mais íntimo. Aos poucos foram deixando suas roupas de lado, matando a saudade nas palmas das mãos, no roçar dos lábios e na ponta das línguas. A redescoberta do antigo prazer que haviam compartilhado aliada às novas sensações era inebriante. Ela ansiava por aquela dominação. Queria que ele a possuísse completamente. Logo estavam sobre a cama, onde Robert a deitou e passou a percorrê-la com os olhos e as pontas dos dedos, provocando-lhe arrepios incontroláveis. Descendo pela curva de seu pescoço alvo, chegou até os seios que pareciam mais volumosos do que lembrava, mas arredondados, firmes e macios, com mamilos róseos e rijos pelo desejo. Brincou com eles, massageando um com a pressão dos dedos indicador e polegar enquanto a língua deslizava pelo outro, fazendo Luísa contorcer-se sob seu corpo. Buscando dar-lhe maior prazer, avançou através do abdômen, com leves mordiscadas e lambidas até chegar ao púbis, onde passou a beijá-la. Beijos rápidos e molhados, que foram invadindo cada vez mais a sua intimidade. Luísa já não tinha noção de onde estava. Gemia, gritava e o arranhava, pedindo que a possuísse. Ele vibrava e gemia ao vê-la tão excitada. Sentia o efeito das endorfinas correndo por suas veias. O calor e a sensação de enrijecimento de todos os seus músculos lhe mostravam que não conseguiria mais deter o seu ímpeto de invadi-la e extravasar toda aquela torrente de desejo.
Por fim, exaustos, deixaram-se cair lado a lado, de olhos fechados, sentindo as respirações ofegantes normalizarem-se.



Como podem ver, não consegui finalizar ainda a nossa estória, mas resolvi postar um pouco antes do esperado final, para agradar às minhas leitoras fiéis que tem tido tanta paciência comigo. Espero que tenham gostado do tão esperado reencontro de Robert e Luísa. Agora falta pouco para que as coisas se ajeitem para eles.
Um grande beijo!!

domingo, 15 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 8)


Finalmente consegui voltar para postar a oitava parte deste romance. Mas antes, gostaria de fazer um breve comentário, com três dias de atraso, sobre o aniversário do meu querido ídolo, o ator escocês Gerard Butler. Ele acabou de completar 40 anos, no dia 13 de Novembro. Como não é possível felicitá-lo pessoalmente, deixo aqui os meus parabéns e votos de muita felicidade e sucesso na sua carreira, pois ele merece muito mais do que conseguiu agora, por seu esforço, talento, perseverança e por ser o ser humano maravilhoso que é e que fascina a todos que o conhecem. Homenagens emocionantes foram feitas nos blogs e nas comunidades dirigidas a ele. Aqui tento homenageá-lo de uma maneira diferente, colocando um pouquinho do que imagino que ele seja, como homem e como pessoa do mundo, em cada um de meus personagens masculinos.





FELIZ ANIVERSÁRIO,

GERARD BUTLER!!!





Há muito tempo a passagem secreta que ligava o primeiro ao terceiro andar não era usada. Hoje, para que pudesse ter uma visão privilegiada e distante de todo o movimento em sua propriedade, Cássia lançou mão daquele túnel estreito, com precárias escadas de pedra, que a levou até uma minúscula sala, mas cujas janelas descortinavam uma privilegiada vista panorâmica da frente e das laterais da edificação. Podia ter usado outros meios para chegar àquele local, evitando o uso da abominável escada, mas não queria gastar energias com metamorfoses desnecessárias. De seu mirante pode ver o encontro de Monique com um estranho, a fuga de Victor de sua mãe e o encontro desta com aquele ator, motivo de sua maior preocupação. Principalmente agora que ele dera indícios de ter sua memória em franca recuperação, após insinuar seus direitos sobre o menino. Por sorte sua audição a grandes distâncias continuava intacta e pode captar este diálogo. Luísa não estava conseguindo lidar, com distanciamento suficiente, com este problema. Seu envolvimento emocional com aquele humano era demasiado. Não podia esperar nada menos que isso, levando em conta o seu passado. Seria obrigada a interferir para que seus planos pudessem vingar. Aquela invasão em seus domínios... Não contava com isso. Nada mais era como antigamente. Nos tempos do conde, seu marido, não havia condescendências. Sempre achou um pouco exagerada a forma como ele mantinha seu poder, mas talvez ele estivesse certo. Ao contrário dele, ela tinha preferido manter-se ao lado de sua pequena comunidade, nunca acima. Mas nas últimas semanas isto estava ficando impossível. Não queria ver o sofrimento de Luísa... Gabriele tinha razão. Apesar de tudo, ela era sua favorita. Sua admiração por ela só aumentou quando ela deixou aquele homem para trás na Grécia e seguiu junto a elas, carregando a esperança de sua raça no ventre. Graças à Gabriele, ela estava sendo posta à prova novamente. Infelizmente, parece que as exigências atuais eram excessivas demais. Tudo levava a crer que ela sucumbiria à atração pelo humano. Amor. Uma palavra tão pequena, mas com tanta força. Presente em todas as espécies, com diferentes contextos e intensidades. Ela já conhecera este sentimento, muitas vezes negados a sua espécie em função de sobrevivência, quando conheceu o conde. Violento, sedento de poder, muitas vezes frio, mas com ela conseguia demonstrar seu lado mais doce. Apenas com ela. Sofrera imensamente quando sua vida foi ceifada. Algo se congelou dentro dela a partir daquele momento. Pela memória dele ainda lutava e não deixaria de persistir nisso, por mais que tudo insistisse em perecer. Foi à seu pedido que Luisa dera o nome de seu companheiro ao filho. Esperava que aquele nome pudesse levar não só sua memória, mas sua força e liderança. Estava um pouco cansada de lutar contra o inevitável, mas, quando suas forças queriam deixá-la, lembrava de Victor e seguia adiante. Se Robert realmente se tornasse um empecilho, teria de ser eliminado, gostasse Luisa disso ou não.

As últimas palavras proferidas por Robert deixaram Luísa perplexa. A menção de direitos sobre Victor a fez estremecer. Imaginava se ele tinha realmente recuperado a memória ou se estava apenas fazendo um jogo de palavras para forçá-la a ficar com ele. Não sabia o que pensar. E se ele recuperasse completamente a memória e a odiasse por tê-lo enganado, fugindo e deixando-o sem as lembranças de algo tão importante como fora a relação deles e ignorante a respeito do fruto gerado naqueles dias na Grécia? Certamente agiria como Cássia previra, exigindo a guarda do filho... Não queria nem imaginar as consequências de tal atitude de Roberto. Ela o amava demais e seria capaz de por sua própria vida em risco para poupar a dele. A dor que corria em seu peito ao pensar que ele poderia odiá-la era terrível demais. Tão grande quanto a agonia da possível perda de seu filho. Pior ainda se algo de mal lhe acontecesse em decorrência de tudo isto. Precisava esclarecer o que estava acontecendo. O quanto antes...



CÁSSIA




Gabriele procurava por Cássia, quando seu instinto a levou até a velha passagem escondida que levava aos andares superiores do castelo. Certamente ela estaria lá controlando seus domínios. Silenciosa e rapidamente, com mínimo esforço físico, vencendo os vários metros que a separavam do local, em poucos segundos chegou onde estava a condessa.
- O que quer, Gabriele? – perguntou Cássia sem sequer virar-se para ver a recém-chegada.
- Preciso conversar com você – respondeu, controlando a tonalidade da voz para disfarçar o tremor que a pergunta da outra lhe provocara. Apesar de parecer distraída, sua percepção era aguçadíssima. – Aconteceram alguns fatos novos que podem mudar o rumo das nossas vidas.
Só então, Cássia virou-se para concentrar-se na presença de Gabriele e nas palavras que ela tinha a lhe dizer.
- Que fatos novos? – questionou franzindo a testa.
- Fatos inusitados que podem mudar totalmente nossas perspectivas atuais – respondeu com entusiasmo, que esperava contagiar Cássia.
- A que tipo de fatos você se refere? O que está acontecendo? – sua voz demonstrava irritação com o mistério que Gabriele lhe apresentava em rodeios e com a ela própria pela possibilidade de ter deixado passar algo importante despercebido, provavelmente por sua preocupação com aquele humano infeliz – Fale, por favor.
- Hoje à noite teremos visitantes que poderão esclarecer melhor os detalhes. Mas posso adiantar que a nossa preocupação por estarmos sozinhas neste mundo já não existe.
- O que você está dizendo? – estava incrédula.
- O que você ouviu. Existem outros como nós. Muitos outros.
Cássia estava perplexa com a afirmação de Gabriele. Como não percebera a presença de outros vampiros na região? Estaria perdendo sua força interna? Era possível, levando a vida como levavam atualmente, que seus poderes estivessem enfraquecidos, muito aquém do que tinham no passado... Por outro lado, a notícia podia ser redentora dentro do presente quadro.
- Você os receberá? – perguntou Gabriele ansiosa.
- Tem certeza que não são hostis a nós?
- Tenho. Este era o medo deles em relação à nossa comunidade. Por isso demoraram tanto a entrar em contato. Eles têm uma comunidade na Grécia e souberam de nossa existência quando estivemos lá. Você nunca soube deles?
- Na verdade, o conde me falou sobre eles mas não tinha certeza se eles haviam sobrevivido depois de tantos séculos passados e a falta de comunicação.
- Você não gostou das boas novas, Cássia? – indagou decepcionada com a frieza da líder.
- Antes de regozijar-me, preciso saber exatamente o que está acontecendo e se realmente são boas novas, Gabriele.
- Garanto que são. Você verá – disse com firmeza, indo para a janela que dava para a frente do seu abrigo – Como vão as coisas por aqui? Algum imprevisto ou incomodo com nossos visitantes humanos?
- Por enquanto não. Ainda estou preocupada com a relação entre Luísa e o tal de Robert.
- Mas agora não tem porque preocupar-se com eles, já que nossa perpetuação está assegurada junto ao clã grego.
- Nada está certo até que eu possa saber as intenções deles. Eles devem ter lhe falado os motivos de existirem em Santorini. Ou não?
- Sim, mas... Cássia, tive a mesma preocupação que você quando eles se identificaram. Você saberá que ela é infundada quando os conhecer.
- Pelo jeito eles a conquistaram, ou devo dizer apenas um deles?
Gabriele não queria perder o controle, por isso resolveu não argumentar mais com ela para não cair numa discussão infindável.
- Você conversará com eles e depois me dirá o que resolveu. Afinal você é a nossa líder – não custava bajulá-la um pouco.


Ela não soube definir o que sentiu ao vê-lo. Quando ele adentrou o salão principal, sentiu uma autoridade e uma determinação que só havia sentido uma vez na vida... em Victor. Era um líder nato. A pele mais escura dava-lhe um aspecto mais selvagem, menos nobre, mas não menos atraente. O rosto másculo, emoldurado por cabelos negros e lisos, que lhe caíam despretensiosamente sobre a testa larga, imprimiam-lhe certa jovialidade. Mas a força vinha de seus olhos. Olhos negros, perspicazes e inteligentes, dos quais nenhum detalhe ou movimento escapava. Eram normalmente frios, exceto quando cruzavam com os seus. Sentiu que seu coração, há muito congelado desde a perda de seu marido, fora atingido por uma fagulha ardente que começava a espalhar-se por todo seu ser. Quem era, na verdade, Arnold Paole? Pouco sabia sobre ele. Queria saber mais. Precisava saber mais... Sua voz grave acariciava seus ouvidos enquanto explicava a que tinha vindo.
- Cássia, é um grande prazer estar de volta a minha terra e encontrar mulheres deslumbrantes como você e suas “irmãs” – cumprimentou-a educadamente, pegando a mão que ela estendeu-lhe e depositando um beijo suave em seu dorso.
- Porque demorou tanto tempo a voltar à Romênia se sabia do prazer que teria com esta visita? – perguntou Cássia desafiando-o com o olhar e retirando rudemente sua mão de entre as dele – Pelo que soube há quatro anos sabiam de nossa existência e não fizeram a mínima questão de fazer contato. Posso apreender disso que talvez estivessem esperando nosso fim para voltarem à nossa terra.
Agradavelmente surpreso com a animosidade de Cássia, sorriu e continuou:
– Creio que você sabe perfeitamente os motivos de vivermos na Grécia.
- Claro...
- De onde poderia apreender que vocês não queriam relacionar-se com o clã exilado por Vlad, por ainda persistirem as mesmas hostilidades do passado – continuou irreverente, interrompendo-a e desferindo um olhar intenso sob as negras e espessas sobrancelhas – Assim, como pode ver, ambos lados tinham motivos para temer um ao outro. Por isso, atendendo ao chamado de meu sobrinho Eric, vim pessoalmente esclarecer estes pontos. Acredito que, depois de tantos anos, possamos compartilhar experiências e conviver pacificamente. Tem a minha palavra de que nenhuma mágoa permanece, em relação ao que se passou, por parte de nosso clã. O que existe é a esperança de alguns romenos, ainda sobreviventes, como eu, de retornarem a sua terra, sem medo de retaliações.
A voz e a maneira como ele falava eram tão envolventes que ela não conseguia pensar numa argumentação. Além do mais, ele tinha razão ao dizer que o passado era passado. Não tinha sentido cultivar rancores na atual situação em que se encontravam. Aparentemente quem mais teria a lucrar eram elas. Talvez, no fundo, não quisesse admitir a perda da liderança.
- Você continuará a liderar, Cássia – ele também conseguia adivinhar ou ler seus pensamentos – Ninguém discutirá os seus direitos e, pelo que soube, você é uma líder sábia e benevolente.
- Arnold, a liderança não é tão importante quanto o risco de desaparecermos da face da terra. Esta tem sido a minha maior preocupação. Se realmente vocês falam a verdade, só teremos a ganhar com nossa união e minhas preocupações serão eliminadas – disse finalmente, encarando-o com firmeza.
Ele sorriu. Um sorriso que lhe trouxe um calor há muito esquecido. Por seu lado, Arnold intuía que aquela mulher bela e altiva diante dele começava a despertar-lhe emoções internas que já acreditava serem impossíveis de experimentar novamente.
- Minha cara, Cássia, agora que a névoa da discórdia sublimou-se entre nós, que tal sentarmos e deixar que eu conte sobre nossa comunidade e como temos sobrevivido.
- Será um prazer, Arnold Paole – acolheu a proposta dele com um sorriso afável, sem vestígios de desconfiança – Vamos sentar, por favor – disse indicando aos convidados o sofá e as poltronas da grande sala.
Gabriele e Monique trocaram olhares com Eric e Cristopher, respectivamente. Mal notaram a ausência de Luísa, que não aparecera para a reunião.


ARNOLD PAOLE





Espero postar a parte final deste romance antes do próximo final de semana. Obrigada pela paciência dos meus leitores, pelos comentário e recados carinhosos que tanto me estimulam a continuar. Beijos a todos!!!

domingo, 8 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 7)

LUÍSA





O que está acontecendo comigo? Por que disse aquelas bobagens para Robert? Praticamente disse que o queria, quando deveria desanimá-lo quanto a um relacionamento entre nós. Onde estava com a cabeça? Além disso, posso estar colocando a vida dele em risco caso recupere a memória completamente. Não sei até que ponto Cássia pode chegar para nos defender. Por outro lado, dói demais vê-lo deste jeito, irritado, confuso, achando que está enlouquecendo. O que vou fazer?
Estes pensamentos atordoavam Luísa em sua volta ao alto da colina. Enquanto isso, Robert, atirado em sua cama, ainda vestido como estava ao chegar em seu quarto, maldizia-se por estar fazendo papel de bobo. Não entendia por que Luísa estava agindo como uma adolescente, temerosa de entregar-se ao “lobo mau”. Tinha a sensação de estar enlouquecendo, apaixonado por uma lembrança e querendo desesperadamente que Luísa fosse esta mulher do passado.
Foi então que se lembrou de Victor. Se realmente Luísa e ele tivessem se relacionado há quatro anos, o menino poderia ser seu filho. Ficou alarmado ao pensar nesta possibilidade, que não era de todo impossível. Lembrou de suas fotos na mesma idade e a semelhança era grande. De repente, sentou-se na cama, ao se dar conta de que este fato talvez pudesse explicar o temor dela em deixar-se reconhecer. Tinha medo que ele pudesse reclamar o filho e tirá-lo dela. Isto realmente seria uma loucura... Mas logo se deitou novamente, tentando relaxar, com as mãos sob a cabeça. Não podia admitir que isso fosse verdade. Devia estar imaginando coisas demais. O alto teor de álcool daquele vinho tinha afetado sua habilidade mental. Antes de dormir, vencido pelo cansaço, decidiu que daria a ela o tempo que pediu, mas tinha dúvidas se conseguiria manter-se à distância. Talvez fosse obrigado a tomar certas atitudes para forçá-la a uma decisão... Adormeceu, finalmente.

“Era noite. Ouvia o som das ondas lambendo as areias da beira mar. Estava numa praia, sob a luz do luar, sentado no chão. Percebeu um vulto aproximando-se dele. Era uma mulher com o corpo coberto apenas por um véu branco transparente. Era Luísa? Ela andava em sua direção. Quando estava muito próxima, ajoelhou-se a sua frente, tirou o véu e beijou-o. Um beijo quase real. Sabia que tudo aquilo não passava de um sonho, mas não queria acordar. Ela estava ali, ao seu alcance, nua... De repente, quando ia abraçá-la, ela se afastou chorando, sem alarde. Ia consolá-la, quando percebeu que as lágrimas eram de sangue.
- Por que está chorando?
- Por nós... – ela respondeu.
Ao dizer isto, ele a viu ser arrastada para a escuridão por mãos invisíveis. Sentiu-se paralisado e impotente para ajudá-la. Começou a gritar seu nome...”
Robert acabou por acordar banhado em suor, angustiado, tentando entender o significado daquele pesadelo.


- Bom dia, Robert! - cumprimentou Will ao encontrar seu amigo no salão onde tomaria seu desjejum – O que aconteceu esta noite para ficar com estas olheiras e este ar de morto-vivo. Está querendo dispensar o maquiador?
- Não dormi muito bem – respondeu mal-humorado.
- Podemos rodar as suas tomadas amanhã, se não estiver se sentindo bem.
- Não. Ficarei bem depois de tomar um café forte. Não se preocupe comigo, Will... Obrigado.
Nunca vira o ator naquele estado, mesmo depois das maiores noitadas, mas resolveu aceitar suas desculpas e manter a sua planilha de trabalho.

GABRIELE




O amanhecer era recente e Gabriele já retornara ao seu quarto. Deixara Eric, depois de mais uma maravilhosa noite de amor, preparando-se para iniciar seu trabalho. Agora estava plenamente convencida das boas intenções do clã grego. Estava feliz e decidida a levar as boas novas às suas irmãs naquela noite. Ainda tinha certa preocupação sobre qual seria a reação de Cássia, mas eles haviam-na tranquilizado quanto a isso. Fechou as cortinas de sua janela com um sorriso ao verificar que o grupo de Will Fetter já começava a chegar e que, certamente Eric estaria entre eles. Mas ela podia esperar um pouco mais para encontrá-lo. Tinha de recuperar suas forças para mais tarde.

MONIQUE




Monique, curiosa em ver a movimentação daquela gente estranha invadindo os jardins de sua morada, colocou-se discretamente entre algumas das árvores frutíferas cultivadas ali. Lana ainda dormia, depois de uma noite de brincadeiras com seu amigo Victor, que ficara sob sua responsabilidade na noite passada para que Luísa pudesse encontrar-se com Robert. Sabia que a amiga estava passando por uma situação extremamente delicada, martirizada por não poder revelar seus sentimentos e angústias ao homem que amava. Muitas vezes pensou em aconselhá-la a jogar tudo para o alto e ficar com seu amor. De certa forma invejava a amiga, que conseguira viver uma grande paixão. Mas Cássia não permitiria que isso acontecesse de novo. Isto poderia significar perder a única chance de uma descendência. Victor e Lana eram esta esperança e nada poderia interferir nela. Não fosse isso, Luísa tinha chance de poder levar uma vida praticamente normal com Robert. Mas Cássia fizera questão de esconder-lhe alguns detalhes de suas origens e das possibilidades decorrentes delas. Tudo pelo medo desesperado da extinção da espécie. Aquele tipo de orgulho os tinha mantido afastados da raça humana. Considerava aquilo uma maldição e sonhava em levar uma vida normal, compartilhada com humanos.
Filosofando consigo mesma, enquanto tentava ver alguma coisa das atividades mais adiante, subitamente sentiu uma presença atrás de si. Instintivamente, aguçou seus sentidos e já se preparava para defender-se, quando ouviu uma voz grave e aveludada próxima ao seu ouvido.
- Gostaria de observar-nos mais de perto? Daqui não se consegue ver quase nada.
Com o coração disparado, virou-se rapidamente para ver quem a surprendera daquela maneira e quase deu de cabeça no amplo tórax do estranho. Seus olhos tiveram de elevar-se para que pudesse identificar o rosto do homem que lhe falava.
- Quem é você? – exclamou, dando um passo para trás, tentando esconder sua agitação diante dele. Seu rosto era quadrado e de maxilares largos. Sob a testa grande, um par de olhos negros a olhava intensamente, saboreando o efeito que estava provocando nela com sua presença. A boca e lábios finos, mas bem desenhada e sensual, compunha um belo visual com o queixo partido.
- Desculpe se a assustei, mas não pude resistir ao vê-la aqui sozinha e tão curiosa. Meu nome é Cristopher e sou um dos atores que está invadindo seus jardins e tirando o sossego de sua família... E você é?
- Eu sou Monique – respondeu com voz trêmula – Você sempre costuma chegar assim sorrateiro, silenciosamente?
- Não. Geralmente eu sou mais direto, principalmente com mulheres bonitas como você.
Ele lhe pareceu bem convencido. Gostaria de poder ignorá-lo, mas a sua presença e o seu olhar lhe provocavam um calor incomum através do corpo e uma estranha inquietude.
- Você não deveria estar trabalhando com os outros?
- Ainda não iniciaram a filmagem de minhas cenas. Estão apenas fazendo tomadas do cenário por enquanto. Não gostaria de ir até lá e ver tudo de perto? Dar-me-ia grande prazer – disse de forma insinuante, sem desviar um milímetro sequer aqueles olhos penetrantes dos dela..
- Infelizmente não posso. Tenho tarefas a cumprir e uma filha para cuidar – falou numa tentativa de esfriar o clima de sedução que ele estava criando
- Tem uma filha? Gostaria de conhecê-la. Vamos ficar um bom tempo por aqui e certamente nos encontraremos com frequência.
- Não conte muito com isso...
- Pois eu tenho certeza que sim ... – afirmou, pegando sua mão repentinamente e beijando a sua palma, o que lhe provocou um arrepio agradável que correu do braço a nuca – Conto com isso.
Aparvalhada com as sensações que ele estava provocando, retirou sua mão da dele bruscamente e disse, antes de virar-se e sair pisando duro na direção de uma das portas secundárias da fortaleza:
- Adeus.
- Até breve... Muito breve... – murmurou agradavelmente impressionado com a graciosidade no caminhar de Monique, mesmo quando pretendia parecer durona.
Ela o ouviu, mesmo a distância, e percebeu que seria muito difícil manter-se afastada dele nos próximos dias.

LISA



Lisa Weber chegara no dia anterior para juntar-se aos colegas que atuavam na produção dirigida por Fetter. Detestou o hotel, os serviços de quarto e, sobretudo a falta de vida noturna, segundo já fora advertida por um dos assistentes da maquiagem e o cabeleireiro. De qualquer forma agradecia aos céus por não ter ficado em um dos trailers que abrigavam uma boa parte da equipe. Concluiu de imediato que a cidade não tinha a mínima infra-estrutura para recebê-los. Imaginava onde estaria Fetter quando escolheu aquele fim de mundo para filmar. Não fosse pela presença de Robert, que sempre sabia como animar uma locação, já teria desistido de tudo. Também ficara agradavelmente surpresa com Eric Paole. Não o conhecia pessoalmente, mas gostou do seu jeito e de sua aparência. Teve a manhã para descansar da viagem. Chegou ao castelo no início da tarde, juntamente com o pessoal do catering que levou o almoço para o grupo que lá estava.
- Lisa! Que prazer, minha querida! – exagerou Will na recepção à atriz que ele considerava antipática e esnobe, mas que, tinha de reconhecer, sabia como atuar divinamente.
- Não vejo a hora de acabar minhas cenas e ir embora daqui.
- Que bom que você aprovou minha escolha, meu anjo – ironizou, com um sorriso falso no rosto.
- Onde está o Robert? – perguntou, ignorando a ironia do diretor – Só ele pode salvar o meu dia.
- Talvez esteja descansando um pouco. Ele sabe que terá cenas com você hoje. Deve estar se preparando – continuou com as ironias.
Ela o fulminou com o olhar.
- Ainda não sei por que você me aceitou em seu filme.
- O produtor me obrigou... – esclareceu sério, para logo em seguida esgaçar um meio sorriso e completar – Você sabe que a convidei porque reconheço o seu ótimo desempenho como atriz... Apesar do seu mau humor.
- Sempre gostei da sua sinceridade, Will – disse, simulando um sorriso de satisfação.
- Lisa! – a voz rouca do ator principal ecoou nos jardins – Que bom que você chegou.
Só Robert para fazer o milagre de tornar Lisa um pouco mais semelhante aos outros seres humanos, pensou Will, revirando os olhos para cima, entediado.
Robert aproximou-se dela e a abraçou carinhosamente, sendo correspondido com um beijo na boca. Continuaram conversando, de braços dados, enquanto ele a levava a um passeio pelos jardins. Lisa nem notou quando ele lançou um olhar de esguelha para o alto, na direção de uma das janelas do castelo, onde alguém se escondeu rapidamente atrás de uma cortina de veludo.
Luísa o observava a algum tempo, achando que não havia sido notada. Perguntava-se sobre quem seria aquela mulher que era tão bem recebida por Robert. Um estranho sentimento envenenava seu coração. Pensar nele com outras mulheres não a tinha deixado tão ferida quanto vê-lo com uma. Subitamente lembrou-se de Victor. Distraída como estava, não percebeu que ele saíra do quarto onde estava com ela. Percorreu o ambiente com os olhos atentos, na esperança de achá-lo escondido em algum lugar, como às vezes fazia. Certamente ele sentira a movimentação de estranhos no exterior. Curioso como era, provavelmente gostaria de averiguar pessoalmente o que estava acontecendo. Tomara que estivesse errada.
- Victor! – gritou ao sair de seus aposentos, na esperança de encontrá-lo ainda dentro de casa. Foi em todos os locais possíveis de esconderijo para um garoto de quatro anos, mas não teve sucesso. Não poderia estar nos andares superiores ou nos porões, pois estes eram trancados pela falta de uso. Só poderia estar lá fora. Lembrou da última vez em que Victor quase se fora devido a sua arteirice. Cruzou com Monique que vinha entrando por uma das entradas secundárias.
- Monique! Você viu Victor lá fora?
- Não... O que houve? Ele está aprontando de novo?
- É o que parece. Descuidei-me alguns instantes e ele desapareceu do quarto.
- Imagino o que a fez descuidar-se – comentou com ar crítico.
- Por favor, sem reprimendas – rogou, já afogada em culpa – Ajude-me a procurá-lo. Onde está Lana?
- Está dormindo. Eu ajudo você, é claro. Eu cubro a parte da frente e você os fundos.
- Certo. Obrigada.
Separaram-se para o início das buscas ao travesso. Tentava chamá-lo num grito sussurrado, através dos arbustos, para não chamar a atenção de indesejáveis. Depois de alguns minutos, já pensava em ir atrás de Monique, esperando que ela tivesse tido mais sorte e que já estivesse de posse do fujão, quando ouviu uma voz masculina sua conhecida a poucos metros de onde se encontrava.
- A sua mãe deve estar preocupada com você, Victor. Onde ela está? – falava com extrema doçura.
- Este tipo de mãe não devia ter filhos. Deixar uma criança solta por aqui é um perigo – disse uma voz entediada de mulher.
Luísa engoliu em seco as palavras maldosas da outra e a sua vontade de esmurrá-la, e conseguiu dizer com voz firme e imperiosa:
- Victor, venha comigo.
Dois homens a olharam com um brilho de admiração ao ouvirem-na. Victor e Robert.
- Mãe! – exclamou o menino sem medo de censura, correndo para ela.
Ela abaixou-se até o nível de poder olhá-lo nos olhos, colocando suas mãos sobre os ombros de filho.
- Porque você saiu sem me dizer aonde ia? Mamãe ficou preocupada – disse com calma e suavidade na voz, enquanto tentava recompor-se do desespero interior.
- Tem umas pessoas diferentes por aqui. Queria ver... – respondeu baixando a cabecinha, olhando para os próprios pés.
- Ele estava apenas curioso – defendeu-o Robert, recebendo um olhar fulminante de Luísa, que o fez pensar se era apenas por sua interferência no caso de Victor ou se ela o repreendia por algo mais. Sorriu internamente, imaginando se a presença de Lisa já estava causando algum efeito.
- Você a conhece, querido? – perguntou a atriz, enfatizando o adjetivo.
- Vamos, Victor. Temos que conversar – disse austera, quando sentiu uma mão forte segurá-la pelo braço.
- Não seja muito severa com ele. É apenas um garotinho esperto e curioso – rogou Robert.
- Quem é você para me dar conselhos sobre a educação de meu filho? – retrucou com indignação.
- Ainda não tenho certeza até onde podem ir meus direitos neste caso.
Ele notou a rápida mudança de indignação para medo nos olhos dela, o que durou frações de segundo. Logo, eles voltaram a expressar frialdade.
- Direito algum. Solte o meu braço... Por favor – pediu, quase tornando visíveis as fagulhas ao encará-lo.
Ele ainda continuou a olhá-la intensamente, a procura de mais algum indício de que ele poderia estar certo quanto a suas desconfianças, mas ela já colocara um escudo entre eles. Soltou-a, desfazendo lentamente o nó em torno de seu braço.
Luísa virou-se, pegando Victor pela mão, saindo da vista do casal em passos decididos.
- O que está acontecendo aqui? Será que perdi alguma coisa? – perguntou Lisa com um sorrisinho irônico.
- Nada. Não está acontecendo nada – respondeu asperamente – Melhor voltarmos para junto dos outros.
Largou Lisa, atônita com a reação dele, sozinha em meio ao jardim. Teve de sair andando em passos rápidos para poder alcançá-lo. Assim que ele se acalmasse ia querer saber exatamente o que estava se passando. Estaria ele sendo finalmente fisgado por uma provinciana? Gargalhou para si mesma, pensando na fama de conquistador de Robert, de quem já fora vítima no passado. Agora o considerava apenas um bom e divertido amigo. Mas ainda duvidava que ele algum dia pudesse ser conquistado por alguém.




Mircea




Castelo


Espero que tenham gostado de minhas escolhas para as personagens. Queria agradecer à Tânia, à Ly, à Carel e à Cris, minha amigas queridas, que mandaram várias sugestões de nomes de atrizes. A mais difícil foi a Luísa, pois ela não poderia ser menos bonita ou menos sensual que as outras amiguinhas vampiras.
Aguardem o próximo episódio... Beijos!!!


PS: Meus agradecimentos à Tânia que mandou as fotos do Castelo de Bran e da cidade onde ele se localiza na Romênia, em que foram inspirados Mircea e o castelo das vampiras. Beijos, querida!

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 6)





Voltei! Desculpem a demora em postar a continuação deste romance. Volto com algumas novidades. A pedido da Carel, vou colocar algumas fotos que representem alguns dos personagens nesta estória, da mesma maneira que fiz em "Um Amor no Deserto". Ainda estou na dúvida de quem seria mais indicada para o papel de Luísa. Aceito sugestões, queridas! Também deixarei dois vídeos com músicas que aparecerão nesta postagem. Mais uma vez agradeço pela paciência em esperar pela continuação e pelos comentários e recadinhos.
Beijo grande a todas vocês!

ROBERT







Os últimos raios de sol despediam-se dos vales dos Cárpatos, refugiando-se atrás de pesadas nuvens cinzentas, que anunciavam uma tempestade de verão que deveria chegar no meio da noite. O movimento nas ruas de Mircea começava a diminuir, os poucos comerciantes já davam por encerrado o seu dia de trabalho e as luzes das ruas e de algumas casas já começavam a reverenciar a noite. Robert assistia a este bucólico espetáculo tentando apaziguar a ansiedade que segurava no peito. Temia que Luísa não aparecesse ao encontro. Não se lembrava de ter ficado desta maneira antes de qualquer outro compromisso com qualquer outra mulher. Não conseguia explicar a si próprio esta agitação íntima. Olhou o relógio de pulso pela enésima vez e constatou, finalmente, ser hora de descer ao saguão para esperá-la. Ao sair no corredor, encontrou com Eric e Cristopher.


ERIC



CRISTOPHER



Parece que temos um compromisso a frente, não é Cris? – falou Eric sorrindo zombeteiramente, indicando Robert com a cabeça.
- E não deve ser com nenhum cavalheiro... – respondeu Cris, com um meio sorriso.
- Está tão aparente assim? – reagiu rindo, olhando para baixo, num gesto que simulava estar conferindo o seu visual.
- Conseguiu encontrar aquela dama misteriosa? – perguntou Eric.
- Este é o meu compromisso de logo mais. Pelo menos assim espero – respondeu enquanto desciam as escadas juntos – E vocês?
- Estamos aguardando a chegada de um velho amigo, que vem nos visitar.
- Ele é daqui?
- Ele é romeno, mas mora fora do país há muitos anos... Na verdade ele está de passagem e, sabendo que estávamos aqui, resolveu desviar-se de sua rota e nos ver – esclareceu Cris.
Tão logo chegaram à recepção, Robert olhou para todos os lados a procura de Luísa. Havia apenas um homem desconhecido conversando com o gerente, provavelmente fazendo uma ficha de hóspede. Ficou decepcionado.
- Bem, parece que o nosso amigo conseguiu achar Mircea – disse Eric, expressando satisfação ao ver o recém-chegado – Venha, Robert, quero apresentá-lo.
Depois de feitas as apresentações, Eric e Cris acompanharam seu amigo até o apartamento, deixando Robert sozinho com sua ansiedade a espera de Luísa junto a entrada do hotel. Já passavam quinze minutos das oito, quando a porta principal se abriu e ela entrou, chamando a atenção dos pouco homens que ali estavam. Linda e elegante, trajava um vestido preto ajustado ao corpo esguio, sem mangas e com um discreto decote quadrado, que tentava esconder seus seios fartos. Os cabelos castanho-escuros estavam presos à nuca, revelando o pescoço delgado, adornado apenas por um fino cordão de ouro. Tinha porte nobre, mas um olhar doce e sensual. O rosto de feições delicadas lembrava aqueles retratos de camafeus antigos. Assim que o viu, encaminhou-se para ele.
- Boa noite. Desculpe o atraso, mas Victor teimou que queria vir junto. Até eu convencê-lo que era um encontro de adultos... – explicou-se, sorrindo timidamente.
- Não tem problema. Não está tão atrasada assim... – tranquilizou-a – Você prefere jantar aqui no hotel ou sugere outro lugar?
-Oh! Eu já jantei... Mas posso acompanhá-lo à mesa – tentou redimir-se ao notar a expressão de desalento no rosto dele.
- Não tem problema. Não estou com muita fome mesmo. Podemos sair, conversar e dançar um pouco. Que tal? Conheço um lugar ótimo – disse animando-se e sorrindo interiormente ao lembrar-se do bar que conhecera no primeiro dia em Mircea. Talvez naquela noite fosse diferente e a frequência de casais aumentasse, aquecendo um pouco a pista de dança que havia lá. Teria música adequada ao que estava imaginando? lembrou repentinamente e corrigiu-se – Talvez não tão ótimo assim...
- Será que existe algum lugar novo por aqui que não conheço? – riu divertida, tentando buscar na memória onde haveria um lugar para se dançar no vilarejo.
- Você me dirá quando chegarmos lá – seu olhar brincou com o dela, fazendo-a arrepiar-se.
Intimamente, Luísa ainda lutava para não se deixar levar por seus desejos e carências, mas já sentia que seria presa fácil daquela armadilha caso não conseguisse manter Robert à distância.
- Estou curiosa em conhecer esta novidade de Mircea – falou, conseguindo disfarçar o tremor da voz, ao mesmo tempo em que aceitava o braço oferecido por Robert para que ela o acompanhasse.
-Vamos, então...

As nuvens densas do entardecer já alcançavam o espaço sobre a cidade, tornando o ar mais pesado e úmido, anunciando o mau tempo nas próximas horas. Já se podia sentir uma aragem quente e abafada circulando entre as ruas e becos, quando eles chegaram ao local escolhido por Robert, despertando uma risada de Luísa, ao ver o seu já conhecido ponto alto da cidade.
- Você conhece algum lugar melhor por aqui? – perguntou ele, um pouco sem jeito pelo sarcasmo percebido naquela risada, mas ao mesmo tempo fascinado ao vê-la sorrir tão descontraidamente. Poderia passar o resto da vida tentando fazê-la rir daquele jeito só para admirar as covinhas em torno da sua boca e o brilho de seus olhos.
- Perdoe-me, Robert. Não queria deixá-lo envergonhado, mas é que ... Deixe para lá. Bobagem minha. Temos que reconhecer que nossa cidade não está muito bem adaptada para vida noturna. Não é uma tradição aqui os casais saírem para divertirem-se à noite, nem mesmo nos finais de semana. As festas locais costumam ser ao ar livre e as danças mais comuns são as folclóricas.Talvez porque a população jovem parta muito cedo daqui, à procura de oportunidades nos centros maiores.
- Se quiser ir para outro local... – falou com certa irritação. Seria bem diferente se estivessem em Londres.
- Não – ela o interrompeu, apertando mais o seu braço e puxando-o para dentro do bar – Vamos entrar e conversar. Não é isso que você quer?
- É... – confirmou, seguindo-a.
O movimento no interior da casa noturna não era maior que o da noite em que Robert estivera lá, a não ser pela presença de duas mulheres de aspecto suspeito, maquiagens pesadas e saias mais curtas que o habitual. Assim como Gabriele, Luísa chamou a atenção em sua entrada, mas logo foi esquecida pelos olhares curiosos.
Ele escolheu a mesma mesa em que sentara com Eric e Cris, por estar vazia e por encontrar-se próxima à pista.
- Parece que você está determinado a dançar hoje. Não sei se eles terão músicas adequadas ao que você deve estar acostumado
- Pode ser que eu ainda tenha chance de contar com minha sorte hoje...
Ela retribuiu o seu sorriso, apesar de tentar fugir daquele olhar que a desconcertava.
Aborrecido, após receber a notícia de que não havia nenhum tipo de espumante na casa, acabou por decidir-se por uma das duas opções de vinho oferecidas pelo garçom. Pediu o vinho branco, Sauvignon Blanc, produzido na região e, para acompanhar, uma tábua de queijos romenos, dos quais que já ouvira alguns elogios. Feito seu pedido e dispensado o garçom, Robert voltou sua atenção para Luísa.
- Queria te agradecer por ter aceitado meu convite.
- Não precisa agradecer. Você salvou a vida do meu filho e vou ser eternamente grata a você.
- É só por isso que você aceitou vir encontrar-se comigo?
- Teria algum outro motivo? – perguntou, baixando o olhar para suas mãos que estavam perdidas sobre a mesa, evitando encará-lo e demonstrar que tinha inúmeros motivos para estar ali, sendo que todos lhe eram proibidos.
- Luísa, sei que vai parecer uma cantada antiga e sem graça, mas tenho a nítida impressão de que já nos conhecemos. Você não sente isso também? – perguntou colocando sua mão sobre as dela.
- Não. Eu nunca saí da Romênia – mentiu.
- Tem certeza? Nunca viajou para a Grécia?Não fez nenhum cruzeiro há alguns anos?
Luísa sentiu a alma gelar. Como ele podia lembrar-se?
- Certeza, Robert. Nunca nos vimos antes – foi categórica.
Ele a fitou, frustrado com as suas respostas, apesar de desconfiar que ela escondesse alguma coisa. Resolveu mudar de assunto, pelo menos momentaneamente, para não pressioná-la. Não queria estragar aquela oportunidade de tê-la tão próxima.
- Você nunca pensou em sair daqui?
- Sair? Por quê? Eu gosto muito do lugar onde moro. Adoro sentir a natureza ao meu redor. Não sei se me acostumaria com o movimento das grandes cidades. Além disso, sou pintora e gosto de colocar em minhas telas as cores e os movimentos destas paisagens.
- Não me lembro de ter visto nenhuma galeria de arte por aqui. Seria frustrante não ter onde expor o seu trabalho.
- Tenho um marchand, o senhor Zimbro, que me ajuda com a divulgação de meu trabalho. Eu mando as telas para ele em Budapest e ele as encaminha para exposições de arte lá e em outros locais da Europa.
- Você havia me dito que nunca saíra da Romênia.
- Eu o conheci quando fazia o meu curso de Artes na nossa capital e ele fazia o seu tour anual para descobrir novos talentos artísticos.
- Adoraria conhecer o seu trabalho.
- Claro. Podemos combinar um dia em que você esteja numa folga das filmagens – sugeriu, rogando para que ele esquecesse o convite – Você deve ter uma vida bem agitada com a carreira de ator – tentou mudar de assunto.
- Como sabe que sou ator?
Luísa percebeu que devia cuidar com o que dizia. Rapidamente pensou numa desculpa para o seu conhecimento. Delicadamente desprendeu suas mãos das dele, jogando-se para trás, ficando ereta junto ao espaldar da cadeira.
- O que mais seria tendo em vista que está acompanhando uma equipe de filmagem em nossa terra?
- Eu poderia ser fotógrafo, cinegrafista, diretor ou produtor...
- Na verdade, quem me falou sobre o seu trabalho foi Cássia – disse, sorridente e aliviada por lembrar o encontro dele e do diretor Fetter com Cássia à tarde. Tinha ouvido as apresentações e a conversa entre eles.
- Cássia e você são parentes?
- Somos primas e herdamos o castelo de nosso tio.
Foram interrompidos pela chegada do vinho e das taças. Robert ocupou-se em servi-los, dispensando o atendente.
- Vamos fazer um brinde? – sugeriu, erguendo a taça na direção dela.
- Vamos brindar a quê? – perguntou elevando a sua taça também e sorrindo surpresa.
- Ao início de uma amizade ou... de algo mais?
- À amizade – brindou, esforçando-se para conter o tremor dos joelhos, e deu uma bebericada de sua taça.
- Quem é o pai de Victor? – indagou enquanto colocava um pedaço de queijo de cabra na boca. Esta era uma pergunta que insistia em incomodá-lo desde que soube que o garoto era filho dela.
Luísa contraiu-se toda ao ouvir a pergunta direta, deixando cair a taça de vinho, que ainda segurava, sobre a mesa. Foi pega de surpresa e sua mente tentava achar uma resposta desesperadamente.
- Era. Ele morreu – foi o que conseguiu responder, enquanto buscava compor um suposto pai para seu filho e secava o vinho derramado com os guardanapos de papel que estavam ao seu alcance, com a ajuda de Robert – Não era daqui. Veio passar as férias na Romênia e nos conhecemos. Não chegou a saber que eu estava grávida. O avião em que voltava para sua terra caiu. Nossa, que história mais dramática, pensou.
- Sinto muito. Ele era de onde?
- Era francês – inventou na hora – De Paris.
- Sorte sua não ter voltado com ele.
- Foi uma aventura de verão, que resultou em algo muito bom.
- Não consigo imaginá-la como mulher para uma simples aventura, Luísa.
Ela engoliu em seco. Agora ele a tomaria por promíscua. Talvez fosse melhor assim, refletiu.
- Aconteceu. Não deverá acontecer mais – disse olhando para ele o mais friamente possível.
- Isto é um recado para mim?
- Talvez. Acho que sim, se é o que tem em mente... Uma aventura de verão.
- E se eu não pretender apenas uma aventura?
Luísa começava a ficar nervosa com o andamento daquela conversa.
- Robert, sei onde pretende chegar, mas já lhe aviso que posso ser apenas sua amiga enquanto estiver aqui. Não tenha nenhuma outra pretensão – seu peito parecia prestes a explodir, tanto desejo e amor contidos por aquele homem a sua frente, mas que não podia deixar transparecer.
- Não pretendo forçá-la a nada, Luísa. Estamos apenas conversando. Relaxe. Você me parece muito tensa – disse tocando-lhe a mão novamente – Que tal dançarmos um pouco? Vou ver o que eles podem nos oferecer em termos musicais.
Levantou-se e foi até o balcão. Conversou um pouco com o proprietário do bar e pareceram entrar em algum tipo de acordo. Voltou a mesa e, ainda de pé, ofereceu sua mão para ajudá-la a levantar-se.
- Vamos dançar?
- Eu tenho como negar? – Luísa estremeceu ao lembrar a noite em que dançaram juntos pela primeira vez no cruzeiro e das palavras trocadas, idênticas às de agora.
- Não – intimando-a, teve novamente a sensação de que já tinha vivido semelhante momento com ela no passado.
Na pista, tornaram-se alvo dos olhares do reduzido público presente no bar. Foi quando começou a tocar a música de Frank Sinatra, “Fly Me To The Moon”. Robert segurou-a pela cintura e aproximou-a de seu corpo. Sorrindo, disse num sussurro junto ao seu ouvido, provocando-lhe cócegas:
- O mais próximo de músicas para dançar que ele tinha aqui era um CD de Frank Sinatra. Um pouco brega para o meu gosto, mas interessante. Você gosta?
- Gosto... – respondeu, iniciando a sua viagem para a Lua nos braços de Robert.
Tentou fugir daqueles olhos azul-esverdeados que não cansavam de analisá-la, mas não resistiu. Acabou perdendo-se no olhar e na música, que parecia ter sido escolhida de propósito para ela. Flutuando ao seu ritmo, a letra da canção traduzia o que ela mais gostaria de dizer e fazer. Já sem forças para resistir àquele chamado, acabou deitando a cabeça sobre o peito de Robert, que a cingiu um pouco mais forte. As pessoas, as mesas, as cadeiras, as ruas, as trovoadas e raios, que clareavam a noite a intervalos cada vez menores, desapareceram no ritmo da dança. Quando os acordes e a voz de Sinatra chegaram ao fim, Robert beijou seus cabelos acima da testa, tirando-a de seus devaneios e fazendo-a olhar para ele, com expressão lânguida. Ele foi aproximando-se lentamente de seu rosto, até que seus lábios se tocaram. Notando que ela não apresentava resistência alguma, aprofundou-se, tornando o leve roçar, num beijo mais intenso, caloroso e invasivo. Luísa não pode mais evitar que suas mãos se unissem em torno do pescoço de Robert, depois de contornar os músculos de seus ombros, acariciando-os. Sentiu as carícias dele em suas costas, apertando-a contra si, como se quisesse fundir-se a ela.
Nunca tinha sentido tamanha atração por uma mulher. Luísa lhe tirava o fôlego e a sanidade mental. Desejava-a mais do que nunca. E não era apenas por uma noite ou uma aventura de verão...
Então começou a música seguinte do CD – My One and Only Love. Imediatamente Luísa reconheceu a melodia que ela dançara naquela noite no baile do comandante do transatlântico, na viagem às ilhas gregas. Olhou para Robert e notou que ele também se lembrara de algo. Ela sentiu medo do que estava por vir. Seu temor foi encoberto pela forte trovoada que se fez ouvir muito próxima. O vento nas ruas aumentou e a tempestade era iminente.
- Acho que é melhor irmos embora. A chuva não tarda – rogou-lhe Luísa, parando de dançar e colocando as mãos em seu peito para afastá-lo.
- Não. Vamos continuar aqui – insistiu, mantendo-a junto a si - Ainda não terminamos o vinho e, se sairmos agora, certamente acabaremos molhados. Já me disseram que este tipo de tempestade dura apenas alguns minutos. Além disso, a nossa noite apenas está começando...
Sem forças para resistir, ela acabou concordando.
Ao fim de mais dois sucessos românticos de Sinatra, Robert só pensava em ficar sozinho com Luísa.
- Vamos para o hotel? – perguntou com voz mais rouca que o habitual.
- O quê? – perguntou inebriada. Já sentia o efeito das duas taças de vinho que havia se forçado a tomar para acompanhar Robert.
- Quero ficar com você a sós.
- Não acho uma boa idéia... – disse, sentindo que seu autocontrole já estava em frangalhos. Talvez fosse hora de despedir-se. Seria o mais sensato a fazer.
- Do que você tem medo?
- Tenho medo do que sinto por você. Acho que estamos indo muito rápido. Eu preciso de um tempo...
Irritado com a recusa dela, que lhe caiu como um balde de água fria, tornou-se sério.
- Raios, mulher! – esbravejou com a boca semicerrada – Você me deixa a ponto de querer possuí-la em público e agora me descarta?
Fechou os olhos tentando controlar suas emoções e acabou por dizer:
- Não vou incomodá-la mais. Saberá onde me encontrar esta semana. Quando estiver livre de seus medos, me procure – disse com rispidez.
- Robert... – ela balbuciou, surpresa com a mudança de humor que provocara nele.
- Onde está o seu carro?
- Está na rua defronte ao seu hotel – respondeu de imediato.
- Eu a levo até lá. Aguarde-me um momento – ordenou secamente.
Ele a deixou no meio da pista de dança e foi até o balcão para encerrar sua conta. Seguiu-o cabisbaixa e logo estavam na rua, a caminho do hotel.


FLY ME TO THE MOON



MY ONE AND ONLY LOVE