quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 5)

Gabriele resolveu dar um de seus passeios noturnos com a esperança que pudesse atrair Eric. Ele não voltara a encontrá-la e começava a ficar preocupada. Não deixara de pensar nele e nem tivera coragem de avisar sua família da existência dele. Precisava sondar o terreno antes, para saber quais eram suas legítimas intenções. No passado, clãs de vampiros haviam sido rivais e brigavam por seus espaços. Não acreditava que isto ainda pudesse acontecer, tendo em vista a devastação de sua raça, mas precisava ser cautelosa.
- Perdida, minha cara? – soou a grave e rouca voz de Eric, logo atrás dela.
- À sua espera, meu caro – respondeu sorrindo, virando-se para vê-lo.
- Pensei que estivesse a procura de outra pessoa.
- Depois da última vez que nos vimos, achei que minha procura havia terminado... – disse, sedutora.
O desejo de Eric inflamou-se, levando-o a aproximar-se ainda mais de Gabriele e a envolvê-la em seus braços.
- Como podia saber que eu viria? – sussurrou próximo ao ouvido dela, provocando-lhe um arrepio.
- Eu sabia... - segredou-lhe, inebriada com seu cheiro, desafiando-o com olhar cálido e deixando os lábios entreabertos convidando-o para um beijo.
E este veio, violento e arrebatador, a pressionar seus lábios com força. A língua ansiosa, macia e ágil invadiu sua boca, provocando-lhe um prazeroso arrepio que lhe percorreu todo o corpo, tornando-a indefesa aos carinhos que as mãos experientes dele iniciavam, até extrair-lhe um gemido suspiroso. Logo, após frações de segundo de separação e um olhar afetuoso, ele tornou a beijá-la, agora mais calmo e carinhoso, explorando seus lábios e língua, docemente.
Recobrando um pouco de sua consciência, Gabriele afastou-o, delicadamente, e conseguiu dizer:
- Eric, nós precisamos conversar. Você ainda me deve algumas explicações, assim como eu a você.
- Tem razão, minha querida – concordou, ainda com os olhos semicerrados, tentando controlar seus instintos – Vamos conversar.
Ele a levou para o hotel onde estava e, sem que ninguém percebesse, foram para o seu quarto. Depois de certificarem-se que estavam isolados, Gabriele começou a buscar as respostas aos seus temores.
- Eric, estou curiosa para saber se existem outros além de você e onde estão. Pensávamos que nossa espécie estava limitada aos muros do castelo.
- Nós já sabíamos a um bom tempo que vocês viviam aqui, mas não quisemos nos aproximar, devido a temores antigos, causados por desavenças entre nossos antepassados.
- Como vocês sabiam? Desde quando? – perguntou espantada.
- Desde que a sua família esteve na Grécia procurando humanos para procriação, sem saber que estávamos morando lá. Lembra de Eros, o menino que as guiou durante um passeio? Era um dos nossos. Ele foi quem nos alertou sobre a sua presença em nossas terras.
- Não acredito... E por que não nos procuraram?
- Nossa família descende de um grupo exilado pelo Príncipe Vlad há centenas de anos. Ele não concordava com algumas idéias progressistas de um de seus vassalos. Este vampiro, que posteriormente tornou-se nosso líder, acreditava que podíamos conviver pacificamente com os humanos. Após a expulsão, ele e outros simpatizantes de seus ideários foram para a Grécia. Muito tempo depois, meu tio, Arnold Paole tomou a liderança do grupo, mantendo vivo o propósito do antigo líder. Este foi o motivo principal para não haver aproximação maior de vocês naquela época. Temiam que os descendentes de Vlad ainda cultivassem algum tipo de animosidade contra os vampiros gregos.
- E você estava lá?... – perguntou tristonhamente.
- Não. Eu não estava na Grécia naquela época. Já estava trabalhando como ator e minha carreira não me permitia ficar em meu país muito tempo. Quando vocês partiram, decidiram por manter tudo como antes.
- Mesmo imaginando que estávamos desesperadas a lutar contra nosso fim?
- Não foi uma decisão minha, Gabriele. Quando eu soube de tudo, já havia se passado um bom tempo. Quando surgiu esta oportunidade de atuar num filme que seria rodado aqui, resolvi aproveitar a oportunidade e conhecê-las mais de perto e saber se ainda havia algum rancor contra nosso clã.
- Como poderíamos ter qualquer sentimento contrário a algo que nem sabíamos que existia?
- Agora sabemos disso.
Gabriele sentia-se indignada com tudo que havia ocorrido. Há quatro anos sujeitara-se a deitar com um humano para perpetuar sua espécie, enquanto que muito próximos estavam seres iguais a ela que não fizeram questão de aproximar-se e tranquiliza-las sobre seus medos.
Eric podia notar o ressentimento de Gabriele, por isso aproximou-se com cuidado e a abraçou carinhosamente por trás. A princípio sentiu uma resistência, mas que acabou desaparecendo em seus braços.
- Eu entendo a sua mágoa. As coisas poderiam ter sido diferentes se eu estivesse lá e a conhecesse antes. Eu não permitiria que você se violasse daquela maneira – consolou-a, enquanto beijava suavemente a curva tênue de seu pescoço e seus ombros.
- Eu perdi o filho gerado lá e isso me fez tanto mal que acabei me virando contra minhas próprias irmãs. Principalmente contra Luísa. Tem sido horrível desde então. Até agora...
Eric virou-a para si, abraçando-a novamente. Segurou em seu queixo, obrigando-a a olhar para ele.
- Estou aqui para que esqueça tudo isto e comece uma família comigo.
- Não é tão fácil assim, Eric. Ainda não estou certa que não existam mais rancores
contra nosso diminuto clã por parte do seu ou mesmo de você – disse desvencilhando-se dele.
- O que eu posso fazer para provar isto?
- Não sei... Preciso pensar. Talvez conversar com minha família.
- Eu entendo... – disse cabisbaixo.
- Fale mais sobre vocês. Como sobrevivem? Quantos são? – perguntou, ainda curiosa, afagando o rosto de Eric e animando-o a contar sobre seu povo.
- Somos cerca de cem. Arnold ainda vive, mas deixou a liderança para meu primo, Dimitri. Meu pai, Petre Paole, perdeu a vida há anos atrás. Alguns dos nossos estão espalhados pelo mundo afora, como Stefan, outro filho de Paole, que atualmente mora no Brasil, ou como eu próprio. O sonho do antigo líder de certa forma tornou-se realidade. Meu tio, depois de muitas pesquisas e experiências, descobriu o sangue artificial. É com ele que conseguimos sobreviver, deixando de ser caçadores ou depender de bancos de sangue. Queremos e vivemos em paz. Nada mais de desejos de vingança ou cultivo de ódios antigos. Você tem de acreditar no que eu digo.
- É o que eu mais quero, Eric... – replicou, lançando-lhe um olhar apaixonado, pois intuiu que a atração que sentia por ele era mais forte do que suas dúvidas.
- Gabriele... – murmurou, puxando-a de encontro ao seu corpo, beijando-a com avidez.
Sentindo que ela compartilhava de seu desejo, foi aumentando a intensidade de suas carícias, sendo plenamente correspondido. Já não conseguiam segurar a vontade de se entregar àquela paixão. Aos poucos, suas roupas foram sendo deixadas de lado, caídas ao chão. Gabriele não conseguia mais pensar em nada, que não fosse a sensação de prazer provocada pelo deslizar das mãos de Eric sobre sua pele. Ele a tomou cuidadosamente e a colocou sobre a cama, admirando suas formas perfeitas, que lhe tiravam o fôlego. Ela o aguardava ansiosa, pronta para ser sua. Logo sentiu o peso dele sobre si e envolveu-o com suas pernas, em torno de sua cintura, mexendo com os quadris para acomodá-lo mais facilmente. Com as unhas, arranhava-lhe as costas, extraindo-lhe gemidos extasiados. O ritmo do amor acelerava-se de tal forma, que suas presas logo se tornaram visíveis. Quando as ondas orgásticas atingiram seu ápice, Eric jogou-se sobre a jugular de Gabriele, arrancando-lhe um grito de puro deleite. Gabriele estremeceu em seus braços, de olhos fechados, entregue ao seu senhor. Tão logo se recuperaram, os movimentos recomeçaram e voltaram a acariciar-se, até que chegou a vez de Gabriele satisfazer sua sede. Sentada sobre o quadril de Eric, que a mantinha segura pela cintura, encaixada perfeitamente sobre seu órgão ereto, estimulava-o com as mãos, deslizando-as vigorosamente sobre seu abdômen e tórax, enquanto remexia-se ritmicamente, arrancando gritos roucos de seu par. Foi quando se lançou sobre ele, com as presas a mostra. Agora estavam completamente unidos. Já confiava plenamente nele. Restava convencer Cássia e as irmãs de raça a confiar também.


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Não conformado com a falta de notícias de Luísa, Robert resolveu voltar ao castelo, antes do tempo previsto para o início dos trabalhos por lá. Seguia sua intuição de que talvez Gabriele soubesse algo sobre a misteriosa mulher que o ajudara naquela noite. Aproveitaria para indagar sobre o que tinha acontecido então, com a escolhida de Eric, que sumira como por encanto na escuridão das ruas, logo após ter ouvido o grito de Luísa. Seria a sua desculpa para explicar sua visita. Aliás, este parecia ser mais um lapso de memória adicionado a todos os outros. Talvez devesse procurar um médico em Londres que pudesse explicar o que estava acontecendo. Por sorte ainda conseguia decorar suas falas dos roteiros cinematográficos, pensou ironicamente, sorrindo para si mesmo.
Voltou a subir a colina num dos poucos táxis que faziam plantão na porta do hotel. Lá chegando foi recebido por uma outra mulher, que aparentava menos idade que as outras duas moradoras, mas não menos formosa.
- O que deseja? – perguntou, aparentando surpresa ao vê-lo.
As visitas não deviam ser muito freqüentes por ali.
- Meu nome é Robert e estou com a equipe de filmagem...
- Sim, eu sei – interrompeu-o – O que deseja? Que eu saiba vocês só começam a trabalhar amanhã, não?
- Ah, sim. Mas não vim a trabalho e sim para falar com a senhorita Gabriele.
Após um momento de silêncio, em que parecia refletir sobre o que fazer, acabou por convidá-lo a entrar.
- Vou chamá-la. Entre, por favor – disse, introduzindo-o na penumbra do espaçoso hall de entrada, sobre o piso em mármore negro, de onde podia vislumbrar uma escadaria, feita de idêntico material, com corrimãos em ferro trabalhado, e parte dos suntuosos salões daquele piso térreo, repletos de antiguidades e móveis finamente entalhados em madeira de lei, estofados em couro e tafetá. Pesadas cortinas de veludo vermelho pendiam do teto, da construção de altíssimo pé-direito, cobrindo as amplas janelas, formadas de vitrais coloridos, conforme ele pudera observar pelo lado de fora anteriormente. As paredes de pedra eram cobertas por quadros dos mais diversos tamanhos, com retratos de antigos habitantes e paisagens, pintados à óleo.
Enquanto aguardava Gabriele, imaginava a cara que Will faria se pudesse ver aqueles recintos. Seriam perfeitos para ambientar as cenas de seu filme. Como não houvesse mais ninguém ali, permitiu-se passear pela sala principal, quando avistou os janelões que se abriam para uma sacada. Dali podia ver uma parte dos jardins e o parapeito de onde se descortinava uma linda vista dos Cárpatos e do despenhadeiro abaixo. Foi então, que viu com admiração a presença de uma criança. Era um menino com cerca de quatro anos, que lhe pareceu incrivelmente familiar, correndo entre os arbustos. Parecia estar escondendo-se de alguém. Dirigiu-se para o alambrado de mármore e começou a tentar escalá-lo. O coração de Robert disparou ante a iminência de um grave acidente fatal. Rapidamente forçou a abertura das janelas da sacada e correu na direção do menino, tentando não gritar, para não assustá-lo, e alcançá-lo antes que o pior acontecesse. Quando já quase o tocava, ouviu-se um grito desesperado de mulher:
- Victor!!!
O menino, que já conseguira ficar de pé sobre o parapeito, virou-se ao ouvir o chamado de sua mãe e desequilibrou-se, tombando para o espaço vazio do penhasco. Não fosse a mão segura e firme de Robert, que o segurou naquele exato momento, Victor teria se lançado para a morte certa. Abraçando o menino, que começou a chorar devido ao susto, tentando consolá-lo e acalmar a ambos, ele viu Luísa aproximar-se correndo, com olhar aterrorizado, e arrancar o menino de seus braços.
- Victor! O que você estava fazendo? – gritou ainda em estado de pânico.
Assim que pode tê-lo em seu colo e sentir o seu frágil corpo seguro por ela, começou a chorar.
Quando conseguiu novamente encontrar a voz, articulou:
- Nunca mais faça isso... Quase o perdi, meu pequeno... – soluçava, agarrada ao filho, sem notar que era observada por Robert, que ainda se recompunha do sobressalto por que passara.
O menino, vendo o desespero da mãe, parou de chorar e, segurando seu rosto, tentando secar-lhe as lágrimas com as mãozinhas, disse:
- Desculpe, mamãe.
Um sorriso pálido abriu-se no rosto de Luísa, estreitando com mais força o menino e dando-lhe um beijo na face. Só então se lembrou que Robert ainda estava ao seu lado e que, se não fosse ele, poderia ter perdido Victor para sempre, pois ainda era vulnerável a qualquer tipo de acidente, como qualquer criança de sua idade.
- Preciso agradecer-lhe pela vida de meu filho.
- Foi sorte eu estar olhando para cá naquela hora.
- Sorte ou não, eu ainda o tenho em meus braços graças a você.
- O que aconteceu aqui? – exclamou Monique, que acabara de surgir no jardim.
- O Senhor Robert salvou o Victor de cair no precipício – elucidou Luísa.
Monique lançou um olhar de repreensão para o menino e voltou-se para Robert.
- Gabriele não está.
- Obrigado. Não era nada tão importante assim. Falo com ela em outra hora – disse, escondendo que já conseguira alcançar o objetivo de sua visita – Bem... Então vou embora... - disse vacilante, olhando para Luísa, esperando que ela reagisse de alguma forma a impedi-lo de ir.
Fez um afago na cabeça do garoto, que agora o mirava com seus imensos olhos verdes e um grande sorriso, e falou:
- Obedeça a sua mãe, Victor... Até mais – ordenou, retribuindo o sorriso infantil.
Já caminhava lentamente para a saída, quando ouviu a voz de Luísa:
- Espere! - chamou-o, logo após cochichar alguma coisa para Monique, entregar-lhe o menino e sair atrás de Robert.
Ele virou-se e, mais uma vez, teve a certeza de que já a conhecia de muito antes.
- Sim?
- Como posso lhe agradecer pelo presente que me deu hoje?
- Que tal um jantar à noite? – respondeu com aparente casualidade, disfarçando a ansiedade – A sua companhia será a minha recompensa.
Luísa tentou esconder seu estremecimento diante daquele pedido e daquele olhar.
- Eu o encontro no hotel às 20 horas – ajustou.
- Mas eu posso... – iniciando a objetar a determinação de Luísa.
- Não se preocupe. Não vai encontrar táxis disponíveis neste horário para me buscar – tranquilizou-o.
- Está bem. Eu a espero – disse vencido, aproximando-se dela e depositando um beijo suave em sua face – Até a noite, então.


ATUALIZAÇÃO:
Voltei para esclarecer de onde sairam alguns nomes citados nesta postagem. Stefan, Dimitri e Arnold Paole são personagens de meu outro conto, postado em Junho deste ano, neste blog, chamado "Encontro Noturno!, que se passa em São Paulo. Para quem ainda não leu e gosta de um vampirão, recomendo a leitura. Beijinhos!!

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 4)

Luísa ainda vagava entre as sombras do bosque próximo à cidade, buscando clarear as idéias entre o farfalhar das folhas e galhos embalados pela suave brisa noturna. Tudo tinha acontecido tão rapidamente. O ataque de Gabriele a Robert, o aparecimento do estranho que a levou, impedindo o pior, o seu reencontro... Ainda podia sentir o calor daquela mão ao pegar a sua, levando-a aos lábios. Quatro anos tinham se passado, mas as lembranças dos momentos em que estiveram juntos voltavam a dançar em sua mente. Ao lado disso, também recordava a dor da despedida, quando fora obrigada a fazê-lo esquecer de sua estória de amor. A imagem de Robert e seu último olhar lançado a ela, como se mal a conhecesse, ainda a afligia. Não fosse a certeza de que Victor já se encontrava em suas entranhas, teria largado tudo, enfrentado a ira de Cássia e das outras, e seguido com ele. O amadurecimento pelo passar dos anos tinham sido favoráveis a ele. Os cabelos mais curtos, o aumento do número de fios de cabelos grisalhos, algumas poucas e novas rugas na testa e em torno dos olhos, a barba rente ao rosto, sombreando suas feições... Detalhes que só o deixaram ainda mais atraente. O azul de seus olhos, que já a cativara uma vez, parecia mais intenso que antes. O olhar de Robert ainda a fazia trêmula... Quantas mulheres, depois dela, teriam sido seduzidas por aquele olhar? Por alguns momentos sentiu pontadas de ciúme ao imaginá-lo com outras, mas logo raciocinou que isto não tinha sentido, principalmente levando em conta que ela fora apagada da memória dele. Apesar de tudo, tivera a impressão de que ele a reconhecera de alguma forma. Apenas uma impressão. Isso não era possível, assim como não era possível ela aventar a possibilidade de relacionar-se com ele como no passado. Precisava, agora, era tentar achar Gabriele, conversar com ela e saber quem era o homem que arriscara a vida para salvar Robert. Mais que tudo, precisava pensar em como represaria todos aqueles sentimentos liberados por um olhar e um toque de mãos. Decidida, tomou o caminho de volta para o castelo, ainda atormentada por aquele emaranhado de incertezas.

Victor estava dormindo. Ele continuava tendo muito sono à noite. Acreditava que o lado humano dele ainda era o predominante. Isto também se refletia sobre seus hábitos alimentares, obrigando Luísa a dar-lhe vegetais e frutas semanalmente. Aguardaria a chegada da adolescência e suas modificações metabólicas.
Monique nada lhe perguntou, quando foi agradecer por ter cuidado de seu filho. Providencialmente, não encontrou com Cássia, de quem seria mais difícil ocultar o que ocorrera naquela noite. Resolveu que conversaria com Gabriele sobre o que acontecera, antes de qualquer coisa. Ficou a sua espera sentada numa das poltronas de seu quarto.
Quando ela finalmente chegou, não aparentou surpresa ao ver a amiga em seus aposentos.
- Estava a minha espera, então? – perguntou calmamente.
- Já estava preocupada, imaginando para onde aquele homem a teria levado e o que teria acontecido.
Gabriele não pode evitar um sorrisinho malicioso.
- Estou aqui e muito bem. Gostaria de ficar sozinha agora.
- Precisamos conversar. Depois do que aconteceu, temos que esclarecer algumas coisas.
- Gostaria de pedir-lhe desculpas por meu comportamento desta noite, Luísa – sua voz demonstrava sinceridade.
- O que deu em você, Gabriele, para atacar o Robert daquela maneira?
- Por favor, Luísa. Não quero falar sobre isso agora.
- E quando vamos poder falar sobre isso? Já não a reconheço mais como minha amiga, Gabriele. Não confio mais em deixar meu filho a sós com você, pois tenho medo que o machuque. Hoje demonstrou que não consegue controlar seus ímpetos mais selvagens. Não fosse por aquele estranho, você teria cometido um crime.
- Eu sei... Você tem razão. Eu tenho andado muito perturbada. Pensei sobre o que Cássia falou e acho que ela tem razão. A perda de meu filho me deixou com uma visão distorcida da realidade. Confesso que fiquei com inveja de você por ter tido a sorte de ter um rebento macho e, ainda por cima, de um homem a quem você amou. Senti-me terrivelmente injustiçada. Passei a invejá-la e a querer o mesmo que você tinha alcançado. Mas acho que isto passou.
- Assim? De uma hora para a outra? O que aconteceu para que você passasse a ver as coisas diferentes? Tem a ver com o estranho desta noite?
- Luísa, estou cansada. Conversaremos em outra hora – disse com tal firmeza que convenceu Luísa a não insistir mais.
Quando ela já estava perto da porta, ouviu Gabriele dizer:
- Uma última coisa... Eu jamais faria mal ao Victor. Sinto muito se a fiz pensar de outra maneira.
Em resposta, Luísa devolveu-lhe um meneio de cabeça e um tímido sorriso apaziguadores.
Ao sair, surpreendeu-se ao ver Cássia parada no corredor, como se estivesse à sua espera.
- Podemos conversar? – perguntou-lhe muito séria.
- Claro, Cássia. O que houve?
- Estou preocupada com esta autorização que Gabriele deu para filmarem no castelo.
- Pois eu acho que não teremos problemas. Devemos apenas nos manter a distância e...
- Você o encontrou? – lançou a pergunta, interrompendo-a – Não resistiu só vê-lo de longe, não é mesmo?
- Cássia, eu... – balbuciou, percebendo que era impossível esconder alguma coisa da amiga.
- Eu até posso entendê-la, Luísa, mas já parou para pensar se ele descobre que tem um filho com você. Certamente vai querer levá-lo ou, pelo menos, vamos nos incomodar bastante.
- Mas ele perdeu a memória daqueles dias. Eu me encarreguei disso. Robert não vai lembrar nem saber de nada – afirmou, já começando a ficar preocupada com o andamento daquela conversa.
- Assim eu espero, Luísa – disse, encerrando aquela conversa.
Luísa viu-a se afastando pelo corredor, como uma sombra melancólica e silenciosa. Cássia nunca deixava transparecer seus sentimentos. Sempre se mostrara amiga, confiável, com uma palavra tranquilizadora. Mas suas últimas palavras e a expressão aparentemente ameaçadora deixaram-na tensa. Sabia que, para sua líder, a perpetuação da espécie estava acima de qualquer outro sentimento. Por alguns momentos temeu pela vida de Robert, mas logo afugentou estes pensamentos. Na tentativa de mudar de foco, lembrou da figura noturna que levara Gabriele. Quem seria ele? Teria sucumbido nas mãos dela? Havia notado uma certa satisfação no seu olhar quando conversavam. Talvez ela tivesse saciado sua sede com ele e, com isso, deixasse Robert em paz. De qualquer forma, era preocupante pensar que alguém tivesse sido vítima de uma vampira. Isto seria uma ameaça à boa convivência que tinham naquela vila. As antigas histórias haviam sido guardadas, mas não esquecidas. Com o passar do tempo, a existência de vampiros tornara-se mais uma lenda. Não seria nada bom se este passado fosse relembrado. Tal e qual a memória de Robert... Fechou os olhos, exaurida por tantas preocupações e emoções para uma só noite. Ao abri-los, andou em direção ao seu quarto, onde vigiaria o sono de Victor.

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O dia amanhecera ensolarado. Os trigais, próximos à cidade, acariciados pela aragem da manhã, em contraste com o azul turquesa do céu poderiam remeter um apreciador das artes a um quadro de Van Gogh. Emoldurando-o, estavam as diversas tonalidades de verde das coníferas nos bosques, subindo as colinas, na direção do ancestral castelo. Este tinha sido o dia escolhido por Will Fetter para ter contato com os moradores do castelo a respeito do início das filmagens em seus jardins, que conhecia apenas através de fotos. Tentaria uma autorização para rodar no interior da residência, que imaginava fosse deveras interessante. Caso contrário seria obrigado a utilizar o interior de uma edificação inglesa, já devidamente escolhida e autorizada. O pedido de uso e a autorização tinham sido feitos por correspondência, através de um advogado de Bucareste, o que achara muito peculiar. Quem neste mundo ainda não tinha internet ou, pelo menos um fax, em casa? O documento levava a assinatura de Gabriele Tepes. Tentara contato telefônico, mas nem isso eles possuíam. Pelo menos, não faziam parte de nenhuma lista telefônica da região. Não sabia com quem estava lidando, por isso tentaria ser o mais polido e cauteloso possível. O dia anterior enviara uma mensagem escrita, através do serviço de mensageiro do hotel, avisando sobre sua visita, como exigia a boa educação. Pretendia iniciar as filmagens em um ou dois dias, já que as tomadas na cidade e arredores já tinham sido completadas.
Já estava na portaria do hotel aguardando sua condução, quando Robert surgiu. Haviam se encontrado no café da manhã, mas não chegara a comentar sobre a sua visita a seguir. Só então se lembrou que Robert havia falado sobre o encontro que Eric, Cris e ele tiveram com Gabriele Tepes.
- Vai dar um passeio, Will? – perguntou Robert, com aparência bem disposta.
- Não é bem um passeio. Vou até o castelo falar com os proprietários sobre o início das filmagens, para certificar-me que está tudo certo.
- Será que poderia acompanhá-lo? – falou, tentando disfarçar a curiosidade.Tinha esperança que Luísa morasse no alto da colina, já que não tivera sorte ao procurá-la entre os moradores do vilarejo.
- Claro! Acho que será de muita ajuda. Pretendo ampliar a autorização para a parte interna da mansão. Pode ser que seja mais interessante que a locação que conseguimos na Inglaterra – disse, imaginando que talvez o charme de Robert com as mulheres pudesse convencer a tal Gabriele a ampliar sua autorização.
- Ótimo – exclamou alegre, já abrindo a porta do carro, recém chegado, que os levaria até o alto da colina.
A estrada era de terra, íngreme, dificultando o acesso aos visitantes e curiosos, ladeada por grandes e vistosos pinheiros seculares. Logo chegaram ao um imponente portão de ferro, onde, no alto, centralizado, vislumbrava-se um brasão familiar, provavelmente pertencente aos Tepes.
Durante mais dez minutos subiram pela colina até que alcançaram os muros do castelo. Era uma construção magnífica, provavelmente datada do final do século 14, flanqueado por quatro torres pontiagudas, feito em pedra talhada, com inúmeros motivos góticos. Ao fundo podia-se ver os Cárpatos em toda sua majestade. Will estava fascinado e excitado com a riqueza do visual a sua frente. Depois de ultrapassarem um portão de madeira, finalmente chegaram à porta principal que se encontrava semi-aberta. À frente, lhes aguardava uma alta e elegante mulher, de cabelos negros presos à nuca, em um coque, de traços aristocráticos e olhar enigmático. Aparentava trinta e poucos anos e era muito bonita.
- Bom dia, senhora! – saudou Will, ao descer do veículo.
Ela respondeu apenas com um aceno de cabeça e continuou parada a espera de sua aproximação.
- Ela é a tal Gabriele? – sussurrou, ao virar-se para Robert, que estava logo atrás.
- Não. Esta eu não conheço.
- Ela não parece estar muito feliz com a nossa chegada – cochichou antes de voltar a encarar a bela dama.
- Meu nome é Cássia e sou a proprietária – disse com voz firme – Realmente não estou feliz com a sua presença aqui – continuou, surpreendendo à dupla visitante por sua tão excelente audição.
- Não entendo o porquê de sua infelicidade, senhora Cássia, já que anunciamos previamente nossa presença aqui, hoje, e temos autorização para atuarmos filmando e fotografando esta sua belíssima propriedade pelo prazo de uma semana – Will tentava ser o mais educado e sedutor possível, para vencer a aparente resistência de Cássia, ao aproximar-se dela – Mas, deixe que nos apresentemos. Meu nome é William Fetter, diretor de cinema e teatro, e este é Robert Neville, nosso ator principal.
Robert sentiu o olhar gélido de Cássia analisando-o, mas manteve-se impávido e retribuiu com um aceno de cabeça, semelhante ao que ela lhes dera ao cumprimentá-los.
- Considerando que foi um membro de nossa família que concedeu a autorização, vou acatá-la. Mas lhes aviso que não tolerarei que ultrapassem os limites da área externa para o interior da casa. Se isto acontecer, serão expulsos imediatamente e devidamente processados posteriormente.
- Pode ficar tranquila que não invadiremos sua intimidade e tentaremos terminar nosso trabalho no menor tempo possível – disse Will, tentando disfarçar a tristeza na voz por ver suas esperanças de rodar algumas cenas nos salões internos esvanecerem-se no ar.
- Sendo assim, fiquem à vontade. Com licença.
Sem mais palavras, Cássia retirou-se, fechando a pesada porta atrás de si.
- Que simpatia... – resmungou Robert, segurando o riso.
- Com isso, teremos que terminar de rodar na Inglaterra.
- Quem sabe ela não muda de idéia? Ainda temos sete dias pela frente. Com o seu poder de sedução, tenho certeza que conseguiremos... – disse sarcástico, desatando a gargalhar, e passando o braço sobre os ombros do amigo e diretor, tentando consolá-lo.
- Vá rindo...Vá rindo – retorquiu, esboçando um sorriso derrotado


À noite, durante o jantar, quando o diretor e parte do elenco reuniram-se para conversar sobre os próximos passos nas cenas externas do castelo, que começariam dentro de vinte e quatro horas, Robert contava alegremente sobre o encontro de Will com a dona da propriedade Tepes.
- ...Pelo menos poderemos rodar o filme na área externa. Depois de ter visto a expressão com que ela nos recebeu, achei que nem isso conseguiríamos. Não é, Will? Nem todo o charme do nosso diretor aqui, conseguiu abalar a mulher.
- Mas, como dizem que “a esperança é a última que morre”, ainda confio na sorte. Talvez ela mude de idéia – complementou Will, já mais alegre, com meia garrafa de vinho tinto romeno inundando-lhe o raciocínio, convidando a todos para um brinde, ao elevar seu cálice para o alto.
Quando a maioria já havia se retirado, Robert despediu-se dos remanescentes e foi até a varanda do hotel, de onde podia ver as muralhas do castelo ao longe. Seu pensamento não conseguia afastar-se da imagem de Luísa. Por onde ela andaria? Não a tinha visto pela manhã, durante a visita com Will. Sentia suas esperanças de encontrá-la cada vez mais abaladas.
Absorto em suas questões, não percebeu a chegada silenciosa de Eric.
- Aposto que está pensando numa mulher – disse.
- Ah! É você? – reagiu surpreso ao ver o amigo e colega, para logo voltar a observar a noite – Pode ser...
- Posso saber quem é?
- Garanto que não é a sua favorita – respondeu sorrindo.
- Alguém do passado?
- Talvez. Ainda não tenho certeza.
- Como assim? – perguntou Eric, curioso diante da resposta dúbia – Quer conversar sobre isto? Ou prefere ficar sozinho?
- Não... Talvez fosse bom conversar sobre isto. Pode ser que me ajude a lembrar.
- Sou todo ouvidos e prometo sigilo.
- Há alguns anos, trabalhava para um ensaio de fotos publicitárias durante um cruzeiro às ilhas gregas. Tenho uma vaga idéia de ter conhecido alguém que foi importante para mim nesta viagem, mas não lembro nem quem nem o porquê. É como se tivessem tirado a minha memória para determinados momentos daqueles dias. Com o tempo, fui deixando de dar importância a isso. Agora, conheci uma mulher que despertou algumas sensações, as quais acabei relacionando com o que tinha ocorrido naquele cruzeiro. Parece loucura, não?
- Como você a conheceu?
- Foi cerca de dois dias depois daquele em que fomos ao bar da cidade e conhecemos Gabriele. Eu resolvi dar um passeio para recuperar o sono perdido e... – repentinamente Robert lembrou-se que Eric estava interessado em Gabriele e não gostaria de saber que ela tinha se oferecido escancaradamente a ele – Bem, eu sofri uma queda na rua e esta mulher me ajudou. Trouxe-me até o hotel e sumiu na noite.
Ele não pode ver o meio sorriso de Eric, que escondido pela penumbra na varanda, lembrava-se também de seu encontro com Gabriele e notava, satisfeito, a preocupação de Robert em não magoá-lo.
- Você não a viu mais?
- Infelizmente não. Já procurei por quase toda a cidade. Hoje tive a esperança de poder encontrá-la no castelo, mas não aconteceu.
- Sabe ao menos o seu nome?
- Luísa.
- Tenho certeza que ela vai aparecer e esclarecer suas dúvidas.
- Espero que sim, pois não consigo tirá-la da cabeça.
- É, amigo. Parece que seus dias de solidão estão chegando ao fim.
Robert soltou uma risada nervosa e reagiu ao comentário:
- Falando assim até parece que está me rogando uma praga, Eric.
- Ou proclamando um epitáfio.
- Ei, você é meu amigo ou o quê? – exclamou rindo – Assim que a tiver na minha cama, a tiro da cabeça na manhã seguinte, com certeza – disse tentando disfarçar, em tom de escárnio, o que realmente estava sentindo.
- Não creio que vai ser tão fácil assim – observou Eric.
- E você e Gabriele? Voltaram a se encontrar? – indagou, tentando mudar o alvo da conversa.
- Apenas mais uma vez... Mas, como você, não vou desistir... Temo que, em breve, meu amigo, seremos dois prisioneiros, em admirável e prazerosa prisão perpétua – afirmou, batendo com sua mão direita sobre o ombro de Robert, rindo.
Aos poucos a inspiração está voltando, minhas queridas leitoras... O que vocês acham? Agradeço imensamente pelos comentários e recados carinhosos de vocês. É muito bom saber que tenho vocês a me prestigiar e estimular. Aguardem a continuação... Beijos!!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 3)

Robert estava exausto. O dia fora corrido. Muitas cenas feitas e refeitas. Will era muito meticuloso. Por isso era considerado um dos melhores. Mas ao final ficava-se destruído. Jogado sobre sua cama, sem coragem de tirar a roupa e tomar um banho, ainda repassava tomada por tomada em que atuara. Todos estavam dando o melhor de si e o clima nas filmagens era descontraído.
Reuniu todas suas forças e foi banhar-se. Apesar do cansaço, não tinha sono. Por isso, depois do banho, resolveu dar uma caminhada pela cidade. A noite estendera seus braços há muito pouco tempo, mas estava agradável, cálida e, no céu, deixava entrever algumas nuvens esparsas. Não apresentava sinais de mau tempo, pelo menos nas próximas horas. A instabilidade meteorológica naquela região, segundo soubera, era característica. As tempestades vinham inesperadamente, assim como o sol. Era apenas 21 horas, e o movimento das ruas já se esvaziara. Apenas ele e os poucos postes de iluminação projetavam suas sombras sobre os casarões antigos e rústicos. Podia ouvir seus passos sobre as pedras irregulares das calçadas, ecoando nas ruas estreitas. Foi quando teve a sensação de estar sendo seguido. Não se lembrava de ter sido advertido sobre a questão de segurança nas ruas de Mircea, mas não acreditava que houvesse algum tipo de criminalidade por ali. Continuou no mesmo passo, sem alterar seu ritmo, mas ficou mais atento aos movimentos a sua volta. Todos seus músculos tornaram-se tensos, pois a presença tornava-se mais próxima, tanto que resolveu olhar para trás. Parou repentinamente e virou-se. Nada viu. Ao voltar-se e continuar o caminho em que estava, freou-se assustado com uma figura já sua conhecida. Ela estava parada a poucos passos dele, olhando-o fixamente, com estranha expressão. Era Gabriele. Respirou aliviado por perceber que tinha diante de si uma pessoa conhecida e não um marginal.
- Gabriele! – saudou-a alegremente – Por uns momentos pensei que ia ser assaltado. O que faz aqui, a estas horas? Pretende ir até o bar da outra noite?
- Não, Robert – falou com voz macia e provocadora – Ao vê-lo tão sozinho, resolvi fazer-lhe companhia.
- Será um prazer. Tem algum lugar onde possamos ir e tomar uma bebida a esta hora? Você deve conhecer onde os mirceanos distraem-se durantes as noites, não?
- Na verdade, não estava pensando em beber nada. Pensei que talvez você pudesse me convidar ao seu hotel.
Surpreso com tal convite inesperado, Robert só conseguiu sorrir e fazer-se de desentendido.
- Gabriele, creio que no hotel onde estou hospedado não tem bar ou restaurante onde possamos sentar e conversar a esta hora.
- Mas no seu quarto acho que podemos nos divertir bastante... O que acha? – disse ela, aproximando-se cada vez mais dele, em desviar o olhar.
- Você não acha que temos que nos conhecer melhor para este tipo de “divertimento”? – perguntou, tentando evitar problemas. Costumava farejar mulheres problemáticas com pequena margem de erro e Gabriele tinha uma grande chance de ser uma delas.
- Não imaginei que você fosse um homem tão... cuidadoso em suas relações – Dito isso, já praticamente colada a ele, continuou – Mas acho que podemos dar um jeito nisso.
Robert sentia estar perdendo seu poder de decisão, pois não conseguia reagir àquele assédio. Gabriele aproximava os lábios de sua boca com um sorriso quase selvagem, quando um grito se fez ouvir:
- Gabriele! Deixe-o em paz!
A dona daquela brado estava do outro lado da rua, envolta num manto que não deixava lhe ver o rosto. A Robert, a voz não lhe pareceu desconhecida, mas tinha dificuldade em identificá-la.
- Não se meta! Ele agora vai ser meu! – exclamou Gabriele com desespero, quando foi possível ver-lhe crescerem os caninos em meio aos dentes perfeitos.
Já se preparava para avançar sobre a jugular de Robert, que permanecia paralisado tentando reconhecer quem temia por sua segurança, sem perceber a transformação de Gabriele, quando outra sombra se fez real, surgida como por encanto, segurando-a pelos ombros e afastando-a, de um só golpe, de sua vítima. Pega de surpresa, agarrou-se a Robert, arrastando-o por cerca de meio metro de distância, até ser separada dele violentamente, deixando-o cair de bruços sobre o calçamento. Na queda, ele bateu com a testa, o que o deixou obnubilado.
- Cuide dele, que eu cuido de Gabriele – gritou para Luísa a alta e vigorosa figura que fazia Gabriele de refém.
Ainda aturdida com o repentino aparecimento daquele homem, que acabara de salvar Robert, viu-se impelida por sua ordem a correr e auxiliar o pai de seu filho.
Ajudou-o a levantar-se, ainda cambaleante, e verificou se não estava ferido de alguma forma. Apenas uma pequena protuberância começava a surgir no centro de sua testa.
- Você está bem? – perguntou trêmula e ansiosa.
- S-sim. Quem é você? O que aconteceu aqui? – perguntava incrédulo com o que sofrera em tão rápidos movimentos.
- Não importa quem sou. Eu estava passando por aqui e o vi caído.
- Mas eu a ouvi chamando Gabriele pelo nome e pedindo para que ela me deixasse em paz.
- Você deve ter imaginado isso. Não sei do que está falando. É melhor eu levá-lo para o seu hotel. Você ainda está tonto. Precisa colocar um gelo neste hematoma.
Ele a fez parar, segurando-a pelo braço, e olhou diretamente em seus olhos.
- Não estou enganado, não. Eu ouvi uma voz feminina gritando para Gabriele. Vai me dizer que não era você.
- Não era eu – mentiu encarando-o.
- E como você sabe que estou num hotel?
- Quem não sabe que você é um dos forasteiros que vieram filmar nestas paragens? Portanto é óbvio que você está num hotel, já que não pertence a este povoado. Eu conheço todos os moradores desta cidade.
Luisa tentava manter-se firme, não deixando transparecer a emoção a que se submetia diante dele.
- Está bem. Não vou mais discutir – falou vencido e sentindo uma tontura apoderar-se de seu equilíbrio.
Antes que fosse ao chão, sentiu-se seguro pelas mãos da mulher a sua frente.
Perguntou-se como alguém de aspecto tão frágil podia ter forças para contê-lo de pé. Mas, no momento, só podia agradecer por ela estar ali para ajudá-lo.
Seguiram até a entrada do hotel, quando Luísa lhe perguntou:
- Acha que está em condições de ir em frente sozinho? Tenho de ir para casa agora.
- Gostaria de lhe agradecer. Você nem me disse o seu nome – indagou Robert, agora podendo ver o rosto de sua boa samaritana à luz da entrada da hospedaria. Mais uma vez tinha a impressão de “déjà vu”. Ela teria um rosto angelical, não fossem a boca carnuda e sensual, que incitava a beijá-la, e os olhos amendoados de um negro abissal extremamente atraentes. Os longos cabelos castanho-escuros caíam-lhe sobre os ombros. Sob a capa, na qual se escondia, podia-se antever um corpo bem delineado e esbelto.
- Tenho de ir...
Antes que pudesse virar-se e ir embora, Robert segurou sua mão com força, levando-a até os lábios, onde depositou um beijo suave, olhando-a intensamente.
- Não ouvi o seu nome...
- Luísa – disse quase num sussurro.
Quase no mesmo instante, conseguiu desvencilhar a mão e partiu, perdendo-se na escuridão, deixando Robert a forçar a memória, numa tentativa de lembrar de onde conhecia aquela mulher misteriosa e encantadora. Não seria difícil encontrá-la novamente em Mircea entre seus escassos habitantes.

Bruscamente arrancada de uma situação que lhe era totalmente favorável a conseguir realizar seu plano de vingança e satisfação, lutava para libertar-se das garras de aço que ainda a seguravam. Encontrava-se jogada sobre um largo e rijo ombro, impedida de movimentar-se e de reconhecer seu algoz, que a mantinha presa pelas pernas e quadris. Só conseguia ver o chão que se deslocava rapidamente sob os pés dele. Inesperadamente fora levada para longe de Robert, deixando-o inteirinho para Luísa, que aparecera a última hora para atrapalhá-la. Não pretendia atacá-lo daquela maneira, mas não tivera outra escolha. Para submetê-lo mais facilmente a sua vontade e evitar que ele se encontrasse novamente com Luísa, não conseguiu pensar em outra atitude. Porém, não contava com o aparecimento daquele outro ser que a carregava agora como se quisesse afastá-la de tudo que conhecia naquele mundo. Perguntava-se quem seria ele, que tinha mais força física e podia deslocar-se tão ou mais rápido que ela levando o peso de uma mulher às costas.. Não conhecia nenhum humano capaz de realizar aquele feito, a não ser que...
- Solte-me! Aonde vai me levar? Já não acha que estamos afastados o suficiente da cidade?
Bruscamente, ele parou e finalmente a baixou do ombro, encarando-a de frente, sem deixar, porém de segurá-la firmemente pelos braços. Notou que ele mantinha a respiração tranquila, sem arquejar.
- Eric? – exclamou surpresa ao perceber que era o mesmo homem por quem se sentira atraída noites atrás.
- Ainda lembra o meu nome? – perguntou, sorrindo abertamente.
- Quem é você e o que lhe deu o direito de fazer o que fez? – questionou sem levar em conta a pergunta zombeteira que ele lhe dirigira.
- Nós já fomos apresentados, lembra? E fiz o que fiz para evitar que você mordesse o meu amigo Robert. Além do mais, eu já havia determinado que você seria minha.
- O que o faz pensar que eu vou querer ser sua, seu arrogante e prepotente?
- Porque você foi feita sob medida para mim, querida. Já pensava que não encontraria o meu par ideal, mas felizmente me enganei e renovei minhas esperanças quando a vi entrando naquela taverna – falava suavemente, enquanto seu olhar passeava pelo rosto e pelas formas de Gabriele.
- Você não tem idéia de onde está se metendo...
- Não só tenho idéia, como sei exatamente que eu sou tudo que você precisa no momento e pelo resto da eternidade.
Gabriele sentiu um estremecimento tomar conta de seu corpo. As palavras dele começavam a seduzi-la e um desejo quase incontrolável surgia daquela proximidade. Uma das mãos que a seguravam passou a envolvê-la pela cintura, enquanto a outra imobilizou sua cabeça, puxando-a pelos cabelos, forçando-a a expor seu alvo pescoço ao olhar sedento dele. Sentiu sua respiração quente e acelerada percorrer a linha tênue que separava a raiz dos cabelos à nuca. A língua úmida de Eric passou a brincar em seu colo, em movimentos lentos e deslizantes, a excitá-la. De olhos fechados, sentia aquele contato com um prazer como nunca sentira antes. A excitação sexual estimulou o surgimento de seus caninos mais uma vez e, para sua surpresa, ao abrir os olhos deparou-se com Eric em igual estado.
- Você?! Um vampiro?? –falou admirada.
- Por que a surpresa, querida? Achou que estava sozinha neste mundo? – respondeu-lhe em tom de gracejo – Mas não se preocupe, que ainda não chegou a hora de nos unirmos. Podemos esperar um pouco mais...
Ela estava pasma diante da descoberta de um vampiro macho que já acreditavam estar extintos. “E que vampiro...”, pensou.
- Primeiro vai ter que me explicar o porquê deste interesse no meu amigo Robert. O que pretendia com aquele ataque de agora a pouco. E qual o interesse da sua amiga que os espreitava ansiosa?
- É... Parece que temos muitos assuntos para colocar em dia. Mas não vou poder ficar aqui para conversar agora. Preciso voltar, senão corro o risco de ser expulsa de minha família.
Ele a apertou um pouco mais contra seu corpo, aproximando-se de seus lábios e disse:
- Isso é para que eu tenha certeza de que não vai mais pensar em outro – e a beijou com paixão.
Gabriele nem pensou em rechaçá-lo. Abandonou-se em seus braços, com a boca entreaberta para recebê-lo, respondendo com igual intensidade e desejo.
Ele não ofereceu resistência alguma quando ela o empurrou, afastando-o. Já normalizara a respiração e os dentes já mostravam a aparência normal.
- Sou uma pessoa muito paciente, Gabriele. Além disso, temos todo o tempo do mundo para conversar... – disse maliciosamente – Só quero que me prometa que vai ficar longe de meu amigo.
- Talvez eu não tenha mais motivos para acossá-lo novamente... – tranquilizou-o, sorrindo sedutoramente – Por enquanto...
- Assim espero... – foram suas últimas palavras antes de deixá-la partir.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 2)

Gabriele ansiava a chegada da noite. Já há algum tempo adquirira o hábito de misturar-se ao povo em Mircea. Talvez pudesse tentar mais uma vez cruzar com um humano e engravidar novamente. Sabia que não era apropriado fazê-lo com alguém local. Além disso, não se encontravam bons espécimes machos naquele lugar. Ou eram muito velhos ou muito jovens. Procurava alguém como o homem que Luisa encontrara naquele cruzeiro às ilhas gregas. Com alguém como ele até seria agradável relacionar-se e, agora, sabia que isto estava muito próximo de acontecer.

O lugar não estava cheio. Talvez ainda fosse cedo. No bar, alguns homens bebericavam suas cervejas em grandes canecas. No ar esfumaçado, o cheiro de cigarro se impunha, incomodando aqueles que não eram adeptos deste vício, como Eric e Cristopher, ou como Robert, que havia abandonado o ato de fumar há pouco tempo. Infelizmente não existiam muitas opções de lazer no lugarejo onde estavam. Sentaram-se numa das mesas próximas à diminuta pista de dança, que no momento permanecia vazia. Podia-se antecipar que ela continuaria assim.
- Pelo jeito o pessoal local não é muito animado – referiu Robert, um pouco desanimado, prevendo o que seriam suas próximas noites no quarto do hotel.
- Anime-se! Amanhã deverá chegar o resto da equipe e, pelo que sei, devem vir algumas mulheres interessantes – consolou-o Cristopher, rindo.
- Talvez seja melhor assim. Teremos muito trabalho pela frente e temos que estar concentrados no roteiro.
- Você é muito sério, Eric. Precisamos nos divertir também – repreendeu-o Robert.
- Até parece que ele não pensa nestas coisas... – falou Cristopher em tom sarcástico, referindo-se a Eric.
Neste instante, os três calaram a boca. Uma mulher entrara no recinto. Não uma mulher comum, como as que tinham visto andando pela cidade. Esta era diferente. Vestia um sensual vestido preto, com um grande decote em V nas costas, onde lhe caíam longas madeixas de cabelos avermelhados. Caminhava como se estivesse deslizando sobre o assoalho de madeira do bar, com olhar altivo e lascivo. Ao passar pela mesa deles fixou o olhar sobre Robert, de uma maneira tal como se o conhecesse. Continuou seu andar até o balcão, onde se sentou num canto afastado dos demais. Pediu um cálice de vinho tinto e voltou-se de costas para eles. Surpreendentemente, nenhum dos outros homens manteve o interesse, além do momento em que ela sentou.
- Ela gostou de você, britânico – sugeriu Cristopher – Vá lá.
- Deixe o Eric ir. Ele está tão embasbacado por ela, que não consegue nem falar ou despregar o olho dela.
Eric parecia enfeitiçado. Levantou-se, sem prestar atenção aos comentários jocosos dos companheiros à mesa, e foi encontrar a bela mulher.
- Você não parece ser daqui – falou enquanto sentava-se na banqueta ao lado dela.
- Muito menos você e seus amigos – respondeu sem olhá-lo.
- Por acaso mora no castelo?
- Você não disse que eu não parecia ser daqui? – continuou misteriosa.
- Então de onde é? Posso saber?
- Que tal me convidar para sentar a sua mesa? – pediu, virando-se e finalmente encarando-o.
- Será um prazer – respondeu com um brilho nos olhos, que foi correspondido por ela.
Os outros dois levantaram surpresos quando a viram encaminhar-se em sua direção, seguida de perto por Eric.
- Boa noite, cavalheiros... – ela disse já se sentando na cadeira ao lado de Robert.
Eric sentou-se logo ao seu lado, seguindo a analisá-la.
- Então estão conhecendo a noite de Mircea? – perguntou com um meio sorriso – Creio que irão decepcionar-se com nossa vida noturna.
- Agora que a encontramos, nossa noite começou a tornar-se mais agradável – disse Cristopher.
- Muita gentileza sua... E o senhor não diz nada? – falou dirigindo-se a Robert.
- Ainda estou achando que você é uma miragem e que logo vai desaparecer – falou galanteador.
- Você ainda não me disse de onde veio... – interferiu Eric, tentando desviar a atenção dela de Robert.
- Eu moro no castelo. Você acertou de primeira.
- Não sabíamos que ele era habitado – disse Robert.
- Quem vocês acham que deu autorização para filmarem por lá?
- Mais alguém mora com você? – perguntou Eric.
- Tenho a minha família ... Mas, quando começarão as filmagens no castelo? – questionou, olhando para Robert.
- Logo. Acho que vamos ter algumas cenas na cidade e no vale. Mas nada impede que a gente faça uma visita para vocês – respondeu Robert todo animado.
- Que tal ir comigo agora? – insinuou-se Gabriele para ele.
- Nosso amigo está muito cansado. Ele chegou de viagem hoje. Eu poderia substituí-lo... – ofereceu-se Eric olhando-a intensamente.
Gabriele vacilou diante daquele olhar. Já estava decidida a conquistar Robert, pois acreditava que ele também pudesse dar-lhe um filho como Victor. Apesar de sentir-se mais atraída por Eric, nutria um anseio de vingança contra Luísa, que se sobrepunha aos desejos de seu corpo e de seus sentimnetos. De certa forma queria uma espécie de revanche contra a antiga amiga, por ter conseguido um filho varão, ao contrário dela. Aquilo não estava certo. Olhando para Eric, atravessou-lhe a mente um lampejo de que talvez estivesse errada querendo levar este tipo de vingança adiante. Mas logo, a indignação contida durante aqueles quatro anos venceu.
- Não. Eu convidei Robert – confirmou seu convite com firmeza, provocando um enrijecimento na face de Eric.
- Como você sabe o nome dele? Ninguém lhe foi apresentado aqui... – lembrou Eric.
- Eu devo ter ouvido algum de vocês falando o seu nome – respondeu rapidamente.
Eric ficou observando-a atentamente. Nada das expressões de Gabriele lhe escapava.
- Tenho certeza que nenhum de nós mencionou o nome dele... Gabriele – continuou Eric com um acento mordaz na voz.
Agora era ela que tinha sido pega de surpresa, pois tinha certeza de que não dissera o seu nome para ele. Olhou-o tensa e sentiu um arrepio a percorrer-lhe a nuca. Ele não deixava de mirá-la com aqueles olhos verdes e perspicazes, intimidando-a, coisa que nunca homem algum conseguira antes. Perguntava-se quem seria ele e que energia era aquela que sentia emanar dele. Resolveu ficar calada a esclarecer como ele sabia seu nome.
- Bem, então só me resta ir embora – disse levantando-se da cadeira.
- Mas ainda é cedo – sugeriu Robert, erguendo-se ao seu lado – Talvez possamos levá-la até em casa...
- Não, obrigada. Estou de carro. Posso me cuidar muito bem sozinha.
- Tenho certeza que sim – disse Eric, voltando o olhar para os amigos – Mircea parece ser um local seguro para andar-se a noite.
- O Senhor Eric tem toda a razão... – fulminou-o com os olhos - Boa noite, senhores – despediu-se, lançando um último olhar e um sorriso sedutor para Robert, desprezando o outro.
- Boa noite – responderam os três, quase ao mesmo tempo, acompanhando seus movimentos até que ela desaparecesse através da porta do bar.
Assim que ela sumiu da vista de todos, Robert não pode deixar de fazer seu comentário a respeito do comportamento de Eric.
- Pelo visto temos alguém muito interessado na jovem que acabou de sair.
- Muito mais do que você imagina, meu caro amigo. Espero que você mantenha-se longe dela. Ela vai ser minha – afirmou seriamente.
- Espero que na família que mora no castelo tenha alguma irmã – disse um esperançoso Cristopher.
- Bom, que tal irmos descansar. Acho que a noite não nos reserva mais nenhuma surpresa como esta que acabou de sair.
- Também acho, Robert.
Pagaram a conta e saíram a caminhar pelas ruas mal iluminadas de Mircea, em direção ao hotel. Apenas suas risadas podiam ser ouvidas em meio ao silêncio perturbador.


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- Tenho uma declaração a fazer a vocês – disse Gabriele com voz firme.
Dois dias tinham se passado desde o seu encontro com os atores principais do elenco do filme que estava sendo rodado na cidade. Tinha chegado a hora de sua família saber sobre a permissão que ela dera para que sua casa fosse parte dos cenários. Ela reunira Cássia, Luísa e Monique na sala principal e preparava-se para enfrentar a resistência delas em permitir o seu intento.
- Acho que temos vivido muito isoladas aqui neste mausoléu, só visitando a cidade para adquirirmos alimento. Levando em conta a evolução que tivemos até agora, acho natural que possamos conviver mais proximamente a eles – continuou Gabriele.
- Nós temos mantido um bom relacionamento com a cidade. O suficiente para que eles nos forneçam material do banco de sangue local, pensando que somos portadoras de uma doença hemática familiar muito rara e que necessitamos de tratamento mensal. Não vejo a necessidade de maior intimidade – argumentou Cássia – Aonde você quer chegar com esta conversa, Gabriele.
- Uma equipe de produção cinematográfica chegou à cidade para realizar um filme aqui. Eles pediram autorização para utilizar imagens do nosso castelo há algumas semanas e... Eu autorizei.
- O quê? – Cássia estava indignada – Como autorizou sem falar conosco? Você tem idéia dos problemas que podemos ter com humanos andando aqui?
- Acho que Luísa vai ficar muito contente com esta minha decisão.
- Eu? Por quê? Não entendo...
- Sabe quem é o protagonista desta produção? E que já está aí para iniciar seu trabalho?
Luísa sentiu sua garganta secar e o corpo fraquejar.
- Quem? – perguntou com voz quase sumida.
- Ele mesmo... Robert – disse Gabriele, sentindo-se vitoriosa ao ver o mal estar de Luísa.
Cássia e Monique não podiam acreditar no que estavam ouvindo. Ela estava fazendo aquilo para torturar Luísa.
- Não é uma incrível coincidência? – continuou maldosa.
- Gabriele, porque está fazendo isso? – indagou Cássia, ainda surpresa com aquela atitude provocante.
- Ora, estou tentando ter uma chance de engravidar novamente. E como sabemos, Robert foi um belo reprodutor. Porque não posso querer o mesmo para mim. Vocês vão me negar esta chance?
- Você tem todo o direito de querer uma segunda chance, Gabriele. Minha relação com ele foi apenas para a procriação. Meus sentimentos são irrelevantes e só interessam a mim. Mas porque atraí-lo para cá? Você poderia tê-lo longe daqui – Luísa estava com a voz embargada.
- Por que prefiro aqui, na nossa terra. Além disso, junto com ele vieram outros seres muito interessantes. Talvez você possa ter a sua segunda chance também, Cássia.
- Você não tinha o direito de decidir este tipo de coisa por nós. Continuamos sendo uma família e as decisões continuam a ser do grupo e não algo individual. É isso que nos mantêm unidos e vivos! – vociferou Cássia com voz exaltada.
Gabriele sentiu-se atemorizada com a reação de Cássia. Apesar de já esperar a reprimenda natural que desencadearia a sua atitude, não esperava tamanha fúria. Cássia nunca se impusera como líder, apesar de ser considerada como tal, por ser a mais experiente delas.
- Você ficou assim por causa da Luísa, que é a sua preferida – defendeu-se.
Aquilo pareceu deixar Cássia mais irritada ainda, mas ela não respondeu imediatamente. Olhou Gabriele detidamente, respirou fundo e finalmente falou em tom mais brando, porém firme:
- Só não a expulso daqui agora, pois sei o que você sofreu quando perdeu aquele feto e como isto afetou seu raciocínio e seus sentimentos, tornando-a um ser egoísta e mesquinho. Mas ainda acredito que a antiga Gabriele esteja escondida dentro deste poço de fel e que ela, mais cedo ou mais tarde, possa emergir para o nosso convívio novamente.
As palavras de Cássia atingiram-na como um raio, deixando-a paralisada e sem argumentos de defesa. Assim ficou, mesmo percebendo, com repulsa, os olhares de compaixão de Luísa e Monique, que permaneceram caladas. Acabaram por deixá-la sozinha remoendo a verdade indigesta que acabara de ouvir.



- Você está bem, Luísa? – perguntou Monique, preocupada com o estado de sua amiga.
- Estou... Obrigada... Não se preocupe. Onde estão Victor e Lana?
- Eu os deixei brincando no quarto.
- Você pode cuidar do Victor para mim?
- O que você está pensando em fazer, Luísa?
- Eu preciso vê-lo, Monique. Nem que seja de longe.
- A Cássia não vai gostar disso...
- Luísa sabe o que faz. Não serei eu a impedi-la – ressoou a voz de Cássia, que acabara de entrar na saleta em que se encontravam, sem emitir ruído algum – Luísa já demonstrou que sabe como agir corretamente há quatro anos. Espero que continue sabendo...
- Sei sim, Cássia. Obrigada pela confiança – agradeceu com um pálido sorriso e saiu.



Até o próximo post... Beijos!!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro



As sombras da noite voltavam a devorar as muralhas do antigo e imponente castelo numa colina calva, no interior da Romênia. Pedras centenárias e estátuas carcomidas pelo tempo ainda respiravam, tal e qual os seres que deslizavam pelos corredores da mansão, sobre tapetes de fina tecelagem e delicados temas, em vermelho esvanecido pelos séculos de existência, à espera do milagre da vida que os levaria de volta aos áureos tempos em que dominavam aquela região. A vida, que vinha esvaindo-se, perdendo a memória, dilacerada por preconceitos e doenças, levando sua raça à extinção. A esperança reacendera sua chama no ventre daquelas mulheres. Já vislumbravam sua descendência gloriosa.
Mal o sol terminava seu ocaso quando se ouviu um urro de dor dilacerando o silêncio da boca da noite e o som de passos apressados ecoou pelos ambientes da ala sul da fortaleza.
- Gabriele! – sobressaltou-se Cássia, movendo-se rapidamente para o quarto da companheira.
Ao chegar, presenciou o desespero da amiga, ajoelhada aos pés de seu leito, sobre uma grande poça de líquido vermelho escuro, com olhos alarmados pela visão de um pequeno feto retorcido, que segurava nas mãos pálidas, já sem vida.
Tentando recuperar-se do choque inicial, Cássia correu para abraçar Gabriele e consolá-la.
- Saia daqui! – rechaçou-a – Quero ficar só!
- Mas, Gabriele, deixe-me ajudá-la. Não fique assim... – falou com a voz cheia de piedade.
Ela não chorava. Apenas despejava através do olhar a enorme decepção consigo mesma e uma ardente fúria que procurava um culpado por sua tragédia.
Cássia acabou por ceder à vontade da outra e afastou-se lentamente, temerosa das reações que estavam por vir. Luísa e Monique apareceram aflitas à porta, onde se cravaram imóveis diante da visão dantesca.
- Ela quer ficar sozinha – ordenou Cássia às mulheres recém-chegadas.
- Mas... – vacilou Luísa.
- Melhor fazermos o que ela pede. Deixe-a assimilar estar perda. Logo ela estará recuperada. Nós estaremos aqui para apoiá-la – falou Cássia com convicção.
Instintivamente, Luísa levou a mão a acariciar seu ventre crescido e obedeceu ao pedido de sua confidente e amiga. Fecharam a porta, deixando Gabriele penando sua dor.
- Agora são vocês duas que ficam com a responsabilidade de assegurar a espécie. Sabíamos que isto poderia acontecer, afinal geramos seres híbridos que podem não resistir até o final da gestação – lembrou Cássia, com expressão entristecida ao recordar seu próprio drama.
Há pouco mais de dois meses, ela também perdera seu filho, ainda no início da gravidez planejada. Nada tão intenso como aquilo que acabara de presenciar, mas mesmo assim, imensamente frustrante.
Tudo começara cinco meses antes, durante um belo cruzeiro pelas ilhas gregas. Sendo as últimas representantes, pelo que sabiam, de sua espécie, as quatro mulheres procuravam entre os passageiros machos do navio, espécimes saudáveis para o acasalamento, com o intuito de perpetuar sua descendência, atualmente em extinção. Várias eram as causas deste aniquilamento, propagadas ao longo dos anos. Adaptações na forma de alimentar-se, facilitando a convivência com os humanos, de expor-se à luz do sol, sem que isto os transformasse em pó e a luta por dominar seus instintos mais primitivos, foram mutações adquiridas ao longo do tempo para manter o prolongamento de sua espécie. Mas nem isso foi suficiente para evitar o declínio da raça dos descendentes do Príncipe Vlad III ou, como vulgarmente eram conhecidos, vampiros.
Dentre elas, Luísa era a que guardava as melhores recordações desta sua aventura. Ela não encontrara apenas um espécime reprodutor. Ela encontrara o amor. O pai do filho que carregava em suas entranhas deixara sua marca em seu corpo, em sua alma e em seu coração, que se tornara aquecido por suas palavras e ações. Jamais o esqueceria. Sofrera muito ao ter de deixá-lo, mas precisava cumprir seu destino. Preferia manter intacta a lembrança dos doces momentos vividos ao seu lado naqueles dias do cruzeiro a ter que enfrentar o seu desprezo quando a magia acabasse e ele tivesse contato com o sombrio mundo onde ela vivia. Às vezes se perguntava se seu sacrifício não teria sido em vão, ao lembrar sua expressão na última noite de amor que tiveram. Como gostaria de ser humana e poder ter uma vida em comum com Robert. Mas agora era tarde para isso. Ela tirara dele todas as lembranças de seu encontro, limpara seu coração das marcas de seu amor e o liberara para viver sua própria vida. Felizmente ela tinha uma parte daquele amor, vivo, dentro dela. Era o que lhe dava forças para continuar e desempenhar seu papel de preservadora de sua espécie. Precisava manter a razão acima dos sentimentos e seguir sua meta. Dedicar-se-ia inteiramente ao filho tão desejado e gerado com tanto amor. Só a ele.
Com estes pensamentos, sentada num dos bancos de pedra nos jardins do castelo, sob a luz da lua crescente, a olhar o céu estrelado, que tantas vezes fora testemunha dos encontros com Robert, foi interrompida pela voz de Cássia.
- Você está bem? – perguntou soturna – Pensando nele?
- Em quem? – tentou disfarçar.
- No pai de seu filho. Você não conseguiu esquecê-lo, não?
- Cássia, nós já discutimos isso. Ele faz parte do passado... Estou preocupada com Gabriele. De todas nós, ela sempre foi a mais determinada à preservação. Ela queria gerar o líder de nossa raça. Não sei de onde ela tirou esta fantasia, mas para ela era muito importante esta gestação. Temo pela sua reação depois do que aconteceu.
- Também estou preocupada. Mas nós a ajudaremos a reerguer-se. Além do mais, sempre há a possibilidade de procurar outro humano e engravidar de novo... Bem, vamos aguardar os acontecimentos. Agora temos que nos preocupar com Monique, você e os bebês. Gabriele logo estará recuperada fisicamente. Vou entrar e ver se ela já aceita minha ajuda.
- Está bem. Vá. Eu vou ficar aqui mais um pouco.
- Cuide-se – disse Cássia, levantando-se do banco e seguindo para o interior da morada.
Luísa voltou a admirar a noite.

A mais de dois mil quilômetros de Luísa, um homem também olhava distraído para o céu crivado de estrelas naquela noite, na sacada de mármore de um hotel londrino, onde se realizava a festa de lançamento de um filme. O novo filme onde ele atuaria como protagonista. Apesar da alegria de estar iniciando mais um trabalho e da música e dos risos que chegavam até ele, sentia-se especialmente melancólico naquela noite, sem entender o porquê. Sua vida corria na direção de seu projeto de vida. Aos poucos suas metas tornavam-se alcançáveis. Mas ainda assim sentia que lhe faltava alguma coisa. Este sentimento de vazio surgira logo após seu desembarque de um cruzeiro que fizera há alguns meses, quando fora convidado para participar de algumas campanhas publicitárias e as fotografias foram feitas em algumas ilhas gregas. Lembrava da viagem como tendo sido ótima em todos os sentidos. Além de conhecer lugares interessantes, tinha tido um affair com uma linda mulher. Infelizmente não conseguia lembra-se nem do nome dela. Não entendia como isto acontecera. Por mais que tentasse lembrar, esquecera do nome e da imagem dela. Só ficara aquela sensação de vazio em seu peito...


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O ranger das dobradiças de uma das portas entalhadas em madeira, mostrando delicados temas florais em suas molduras, que dava para o jardim, foi seguido pelo riso abafado de um menino com idade em torno de quatro anos. Com sorriso largo, num rosto nobre, emoldurado por revoltos cabelos negros ondulados, de olhos verde claros, iluminados pela inteligência e pela curiosidade, podia-se, a julgar pelo olhar e por sua atitude, que se preparava para realizar alguma travessura. Correu furtivamente na direção do jardim a sua frente, perdendo-se entre o verde.

- Victor! – ecoou o som aflito daquela voz entre os arbustos e caramanchões do jardim interno do castelo.
O dia amanhecera nublado. Nuvens cinzentas prenunciavam chuva forte ao longo do dia. Luísa perdera o filho de vista enquanto brincavam de esconder. Já se passara mais de vinte minutos desde o momento que ele correra para se esconder e os dez segundos tradicionais de vantagem para ela procurá-lo. Começava a ficar preocupada. Ele ainda não tinha idade para cuidar-se sozinho, apesar de ser um menino bastante esperto para sua idade. Já pensava em pedir ajuda para sua busca, quando viu Gabriele. Ela estava encurvada, conversando com alguém certamente de altura bem inferior a dela. O sangue correu mais rápido pelas artérias de Luísa. Suas pupilas dilataram-se e o medo tomou conta de seu instinto materno.
- Victor! – gritou mais uma vez, aproximando-se rápida do local em que eles estavam.
Gabriele tornara-se uma estranha desde a perda de seu filho. Mais ainda quando Monique e Luísa conseguiram parir seus filhos, fortes e saudáveis. Ela tornara-se áspera e distante. Não era a primeira vez, e nem seria a última, que Luísa temia por seu filho na presença da antiga amiga.
- Ora, vejam quem está aí, meu pequeno? – disse Gabriele endireitando-se e olhando diretamente para a mãe do menino – Você devia ser mais cuidadosa com o nosso jovem varão. Ele estava perdido.
- Nós estávamos brincando. Apenas isso. Parece que ele se escondeu bem demais, não é Victor?
- Desculpe, mãe... – disse cabisbaixo e amedrontado, correndo para esconder-se sob o abraço materno.
- Eu disse que o levaria de volta para casa, mas ele parece ter medo de mim. Você sabe o porquê disso, Luísa?
- Nem imagino, Gabriele – respondeu sem conseguir enfrentar o olhar da outra – Venha, Victor. Vamos para casa. Deve começar a chover daqui a pouco.
- É... Você pode pegar um resfriado e... Puff! – falou em tom de escárnio, enquanto gesticulava com os dedos da mão imitando uma pequena explosão.
- Obrigada por achá-lo, amiga – agradeceu sem levar em conta o deboche da outra.
- Não há de quê... Amiga.
Luísa pegou o garoto pela mão e levou-o para dentro de casa, onde poderia vigiá-lo melhor.
- Victor, tente não ir tão longe de mim da próxima vez, querido. Você me assustou hoje.
- Do que vamos brincar agora?
- Vamos procurar a Lana e sua mãe. Vocês poderão brincar juntos... Dentro de casa.

O vôo até Budapeste revelava-se calmo. Sem turbulências, ao menos, depois de um atraso de mais de duas horas no aeroporto de Heathrow, devido ao denso fog da manhã. Robert estava cansado, pois dormira pouco mais de duas horas, depois de uma noitada numa das festas que costumava frequentar. Admirava a facilidade que algumas pessoas tinham de relaxar e dormir durante uma viagem de avião, como aquele sujeito que se esticava em toda a extensão de sua poltrona reclinável da primeira classe e que roncava desde a decolagem até o aviso de desembarque, do outro lado do corredor.
Ele, ao invés de dormir, aproveitava o tempo para repensar sobre o tipo de vida que estava levando ultimamente. Há pouco mais de quatro anos sonhava com o estrelato como algo distante. No início de sua carreira de ator fizera muitos trabalhos ruins, pois não tinha muita escolha. Queria trabalhar. Isto era o que importava. O que lhe oferecessem era bem vindo, na esperança de que algum diretor o visse e apreciasse sua atuação. Com o tempo, passou a ser mais crítico sobre os roteiros que se apresentavam, até que, tivera a grande sorte de surgir a oportunidade de ter o papel de protagonista de uma produção que tinha altas chances de tornar-se um sucesso. Não deu outra. O sucesso foi imediato ao lançamento. Seu nome começou a despontar e os bons roteiros começaram a aparecer com mais freqüência. Não podia queixar-se de sua situação atual junto à indústria cinematográfica. Já era reconhecido até nos Estados Unidos, na badalada Hollywood e já pudera atuar ao lado de vários atores oscarizados naquele país. Apesar de tudo, ainda tinha suas raízes européias, e não conseguia recusar um bom papel ofertado em seu continente de origem. Este era o caso atual. Andava assoberbado de trabalho. Conseguira constituir uma produtora própria, pensando no futuro. Ao lado do sucesso e do dinheiro, vieram as festas e as mulheres. Duas coisas que o atraíam imensamente e que o ajudavam a relaxar um pouco em sua rotina de trabalho intenso. Porém, esta vida noturna e mundana já começara a incomodá-lo. O tempo estava passando. Já estava com 36 anos. Via os amigos de farra encontrando companheiras, formando família, enquanto ele continuava sua existência de bom vivant. Não tinha idéia de quanto tempo mais aguentaria aquele ritmo. Mentia a si mesmo que não queria compromissos com ninguém. Só lhe interessava o trabalho... O resto era diversão. Ter uma relação amorosa estável era incompatível com o seu atual ritmo de vida. Mal conseguia visitar a família no interior da Inglaterra, o que diria ter esposa e filhos. Evitava pensar muito nisso, mas quando chegava aos diferentes hotéis em que se hospedava a cada nova produção, viagens para promoção dos filmes ou demais compromissos no exterior, sentia falta de alguém a sua espera. Alguém que o acalentasse, que ouvisse tanto suas preocupações como seus planos, alguém para compartilhar de seus momentos bons e ruins.
Na Romênia o esperavam para o início das filmagens. Com belas paisagens e construções antigas, além de mão de obra barata e aluguel de locações mais em conta que na Inglaterra, decidiram filmar lá. Os locais escolhidos e o roteiro encaixavam-se perfeitamente, conforme lhe dissera o diretor durante a derradeira reunião para definir os últimos detalhes. Suas curtas férias chegavam ao fim, mas encontrava-se excitado com o novo desafio. Um novo desempenho, um novo personagem, um novo diretor... Tudo era muito estimulante. A cada trabalho, sentia que escolhera a sua profissão ideal. Nascera para atuar. Pensaria em sua vida sentimental mais tarde.

Foi recebido por um assistente da produção que o esperava para levá-lo até o interior do país, na cidade onde seria filmada a maior parte das cenas. Robert ainda pensava sobre os motivos que o levaram a aceitar aquele trabalho. No fundo não acreditava que fosse um filme fadado ao sucesso. Seu roteiro nada mais era que uma estória requentada sobre um caçador de vampiros. Claro que tinha alguns detalhes que o diferenciavam dos demais, mas no fundo era o velho tema, que ainda tinha um grande público-alvo. Confiava no diretor, já seu velho conhecido, e em seu talento para imprimir ritmo e bom gosto para o desenvolvimento da produção.
A viagem durou pouco mais de duas horas. Já anoitecera, por ser inverno, mas ainda conseguia-se perceber a beleza do lugar. A cidade conservava as construções antigas ao lado de prédios novos, que mantinham o estilo de arquitetura do século dezoito. Ela era vigiada por um imponente castelo que se erguia numa das colinas que a cercavam. O local não poderia ser melhor para rodar um filme de suspense.
Robert foi levado ao hotel, um casarão construído sobre as ruínas de um antigo mosteiro, datado de alguma data em torno de 1600. Sua fachada conservava grande parte da construção original restaurada.
Tão logo tinha feito sua ficha na recepção, ouviu a voz de Will Fetter.
- Robert! Bem vindo à Mircea. Sei que deve estar louco para descansar um pouco, mas deixe-me apresentá-lo aos seus colegas – saudou o diretor.
Ele virou-se imediatamente e deparou-se com Will e mais dois homens desconhecidos.
- Olá, Will. Mas é claro... – respondeu e foi na direção deles para cumprimentá-los.
Will Fetter era um sujeito franzino, de estatura mediana, um grande bigode, que mantinha orgulhoso, provavelmente para compensar a calvície, que cobria eternamente com uma boina ou algum outro tipo de cobertura cefálica. Naquele momento, ele contrastava com seus companheiros, altos e robustos. O de maior presença, tinha um rosto rude, mas interessante, cabelos negros e longos, presos à nuca. Os olhos, também escuros, eram profundos. O outro, que devia ser da mesma altura de Robert, também tinha os cabelos negros, ondulados, um rosto de traços mais nobres, olhos esverdeados, mas igualmente penetrantes. Este foi o primeiro a abrir um sorriso ao ser apresentado.
- Robert, quero apresentar-lhe ao seu antagonista no filme, Eric Paole. Você já deve ter ouvido falar dele.
- Claro. É um prazer, Eric. Aprecio muito o seu trabalho no cinema italiano e francês.
- O prazer é meu, Robert. Também tenho acompanhado a sua carreira na Inglaterra e nos EUA. Acho que poderemos fazer um bom trabalho juntos.
- E este é Cristopher Stoltz, que fará o papel de irmão da personagem de Eric – continuou Will com as apresentações.
- Muito prazer, Cristopher. Também já tive oportunidade de ver o seu trabalho. Creio que vamos formar um ótimo time.
- Esta foi a minha intenção ao reuni-los, rapazes – interferiu Will, sorridente, satisfeito com suas escolhas.
- Muito prazer, Robert. Penso da mesma forma – retribuiu o aperto de mão oferecido e finalmente sorriu, mostrando simpatia e dentição perfeita.
- Robert, que tal jantarmos juntos logo mais? Digamos, às... – vacilou, olhando seu relógio de pulso – Vinte e trinta? Está bem para vocês?
Todos concordaram com o horário e acabaram por despedir-se.
Chegando ao seu apartamento, deu uma gorgeta para o carregador de malas e olhou a sua volta. O quarto era pequeno, mas confortável. A mobília antiga, aliada às cortinas de veludo vermelho escuro, dava um toque de requinte na decoração. Ainda teria tempo para descansar até a hora do jantar. Pediu o serviço de despertar e pediu que o chamassem às 20 horas. Tirou a roupa e jogou-se sobre a cama. Seus últimos pensamentos, antes de aprofundar no sono, foram referentes a sua curiosidade em saber como seria a vida noturna e as mulheres daquela cidade, já que teria de ficar por lá pelo menos duas semanas. Adormeceu após um longo bocejo, agarrado ao grande e macio travesseiro de penas de ganso.

Aguardem a próxima postagem... Beijinhos!

Chega de Crises!

Minhas queridas e Meus queridos(se os tiver)!!
Depois das fotos que vi hoje(as minhas amigas gerryanas certamente saberão do que falo...), decidi que vou dar um basta a este meu afastamento de dez dias. Resolvi combater a crise de criatividade e por a mão na massa, já que não posso por a mão no...Deixa prá lá...Agradeço a todas as mensagens de estímulo e de consolo das minhas amigas amadas e fiéis. Ainda estou penando com a minha conjuntivite(já fazem duas semanas e ainda tenho a perspectiva de mais uma semana com ela) e a minha internet ainda apresenta lapsos de lentidão. Pretendo começar a colocar em dia minhas respostas a todos emails e recados afetuosos, assim que possível.
Bem, como tinha prometido (não é, Tânia?, vou começar a postar hoje a continuação de um de meus contos, que postei em Maio deste ano, aqui no blog - Meu Doce Vampiro. Espero que gostem e comentem o que acharam. Mais uma vez obrigada por continuarem vindo ao blog e me ajudando a sair do marasmo em que estava. Adoro vocês!
Beijos!!

sábado, 10 de outubro de 2009

A Repórter - Final

Na manhã seguinte, Mike estava em seu escritório, junto à tela do computador, lendo as últimas fofocas dos semanários locais, quando se deparou com a coluna de Lauren. Ficou pensando qual seria a reação de Gerry ao colocar os olhos sobre ela. Era melhor mantê-lo na ignorância. “Ainda bem que ele não tem o hábito de entrar na Internet”, pensou, tranquilizando-se. Foi só acabar de ter este pensamento, quando ouviu a porta abrir-se. Virou-se e viu Gerry entrando e olhando curioso para o monitor de Mike. Rapidamente o controle para minimizar a tela foi clicado.
- O que houve? O que tem aí que eu não posso ver?
- O quê? Do que você está falando? – perguntou Mike, tentando disfarçar.
- Eu vi que você desligou a tela para eu não ver alguma coisa. Não tente me enganar, Mike. Se você não me disser, vou acabar descobrindo do mesmo jeito.
- Está bem – disse maximizando a imagem novamente.
Gerry aproximou-se e começou a ler. Era a coluna de Lauren O’Brien. Seu rosto foi transfigurando-se na medida em que lia os comentários a respeito de sua entrevista. Não podia acreditar que ela tivesse tido a coragem de voltar a insinuar aquelas coisas a seu respeito. Ela baseou-se na resposta da última pergunta. Mas ela ia ver com quem estava lidando.
- Gerry! Aonde você vai? - gritou Mike, tentando evitar que o amigo fizesse uma besteira - Não se meta com este tipo de imprensa. Só vai dar chance a eles de enlamear muito mais a sua imagem. Não vale à pena.
- Não se preocupe. Sei muito bem o que estou fazendo.

Lauren sentia-se finalmente liberta ao deixar o departamento de recursos humanos do LAAR. Acabara de resolver os tramites legais de sua demissão, dando graças aos céus de não ter encontrado com Frederick. Talvez tivesse o dedo de Marian ali. Certamente ela tentaria mantê-lo ocupado enquanto Lauren permanecesse no edifício da empresa. Finalmente, podia respirar novamente. Nunca mais se deixaria levar pela vontade de um editor. Continuaria mandando seu currículo para outros jornais e revistas. Tinha certeza de que conseguiria um emprego melhor e mais saudável que este último. Caminhando até o estacionamento onde estava seu carro, teve a sensação de estar sendo seguida. Temeu que fosse o seu ex-editor. Aumentou a velocidade de suas passadas até alcançar seu destino. Não tinha coragem de olhar para trás. Entrou no veículo e dirigiu até sua casa. No meio do caminho, não notando nenhum tipo de perseguição, relaxou e seguiu certa de que estava só. Estacionou o carro na garagem do prédio, pegou a caixa contendo seus pertences pessoais deixada por Marian na portaria e encaminhou-se para o elevador. Mal este começou a subir, a porta abriu no andar térreo. Algum outro morador devia estar chegando em casa. Não costumava encontrar-se muito com outros condôminos devido aos seus horários irregulares de jornalista. Quando levantou os olhos para ver quem havia entrado, sentiu-se entontecer. Era ele. “Gerard Burns!... Ai, meu Deus!!”
Ele esperou que a porta se fechasse e encurralou-a, mais uma vez junto à parede, nos fundos do elevador, deixando-a totalmente sem ação. Mesmo sem tocá-la, seu olhar furioso e sua presença física deixaram-na sem ação.
- Gerard! O que está fazendo aqui?
- Você não tem idéia do porquê de minha presença?
- Se é sobre a minha última coluna, sobre a nossa entrevista, não disse nada demais.
- Não disse nada demais? Você praticamente afirmou que sou gay!
Ela ficou surpresa com a afirmação dele. Não era verdade, a não ser que...
- Não escrevi nada disso. Acho que está havendo algum engano... – ela tentava distraí-lo para tentar acalmá-lo, mas ele parecia irascível. Será que Frederick tinha tido a coragem de modificar o seu texto, mantendo a sua autoria? A porta do elevador finalmente abriu-se e ele a puxou pelo braço, na direção do corredor.
- Muito bem... Onde você mora? – ele tentava falar num tom baixo de voz.
- Você acha que vou deixá-lo entrar na minha casa? Se tiver alguma reclamação, dirija-se à redação e fale com o editor-chefe, Frederick.
- O seu amante?
- Ele não é meu amante!
- Ah, então ele não vai ficar chateado se eu fizer uma demonstração ao vivo de minha masculinidade para a sua repórter difamadora
- O quê? O que você está dizendo?
- Vamos logo para o seu apartamento antes que eu comece a fazer um escândalo aqui no corredor dizendo todos os adjetivos que já imaginei pensando em você e no que escreveu a meu respeito.
- Como se atreve?
- Sou eu quem pergunto como você se atreve a difamar alguém que está tentando trabalhar honestamente. E eu que cheguei a pensar que... Deixa prá lá - Por alguns instantes ela notou uma nuvem de tristeza rondando a sua face, mas logo a fúria voltou – Então, vai querer um escândalo aqui e agora?
- Está bem! Acalme-se! É aqui – identificou a porta de seu apartamento, enquanto procurava as chaves nervosamente. Finalmente as encontrou, mas estava tão perturbada que não conseguia enfiá-la na fechadura. Talvez conseguisse acalmá-lo, conversando em seu apartamento. Precisava saber o que Frederick escrevera. Mal abriu a porta, Gerard empurrou-a para dentro, sem largar o seu braço, e fechou a entrada com certa força. Imprensou-a contra a porta, passou os braços em torno do seu corpo e beijou-a violentamente. Lauren estava perplexa com o que estava acontecendo. Começou a debater-se, numa tentativa de escapar daquele abraço truculento, mas era impossível. Ele era quase o dobro de seu tamanho. De repente, a boca de Gerard diminuiu a pressão sobre a sua. Ele afastou o rosto, de forma a olhá-la dentro dos olhos, por alguns instantes. Ela o sentia tenso e tremulo, mas parecia que a raiva estava passando. Agora seu olhar apresentava outro tipo de brilho. Um brilho selvagem, demonstrando um desejo crescente. Lauren não conseguia lutar contra aquela sensação, pois ela também começava a desejá-lo. Não conseguia ficar com raiva dele, apesar da violência com que ele a estava tratando. Ele tinha o direito de ficar assim. Mexeram com seus brios. Queria dizer-lhe que não escrevera nada que o desabonasse, mas achou que ele não acreditaria, pelo menos naquele momento. Tinha apenas vontade de beijá-lo e abraçá-lo...
Mais uma vez, Gerard aproximou seus lábios da boca de Lauren e a beijou. Desta vez com desejo e sofreguidão. Não mais com estupidez. E foi correspondido.
Suas mãos passaram a acariciá-la por todo o seu corpo, estudando suas formas, abrindo o fecho de seu vestido nas costas, tocando sua pele e incendiando-a. Quando ela começava a corresponder e a abandonar-se em seus braços, esquecendo-se da situação que gerara aquele encontro, sentiu-o tenso de novo, tornando-se rude e afastando-a bruscamente. Mais uma vez a olhou, porém com desprezo, e disse:
- E agora, será que consegui demonstrar que sua teoria sobre minhas preferências sexuais estão erradas ou vou precisar ir mais fundo em minha demonstração?
Lauren sentiu-se desfalecer. Não acreditava que ele estivesse falando aquilo... Mas, de repente, lembrou que ele era um ator, que tinha desempenhado muito bem o seu papel e, que por instantes, a fez pensar que ele realmente a desejava. Sentiu-se humilhada e indefesa. Empurrou-o para trás com as poucas forças que encontrou e gritou:
- Saia daqui! Seu grosso, estúpido! – e começou a bater em seu peito, com raiva, sentindo as lágrimas aflorarem em seus olhos – Saia!!
A vergonha por ter se deixado levar por Gerard era tão grande que ela não pode ver o momento em que o olhar dele abrandou e um lampejo de arrependimento passou em seus olhos verdes. No íntimo, ele lutava contra o desejo de possuí-la. Não por vingança, mas por sentir uma grande atração por ela. Apesar de tudo que acontecera, apesar das palavras ferinas lançadas por ela em sua coluna, ele continuava a ansiar pela sua presença, por sua voz, por seu carinho e por seus beijos. No fundo, não podia acreditar que ela fosse tão vulgar como pareciam seus comentários. Gostaria de tê-la conhecido de outra maneira. Com estes pensamentos rondando sua mente, virou as costas e abriu a porta do apartamento, ainda tentado a abraçá-la e consolá-la. Porém, a razão falou mais alto e ele se foi, fechando a porta sem fazer barulho.
Lauren sentia-se fraca. O ar parecia lhe faltar. Só depois de alguns instantes, conseguiu soltar o choro. Um choro desesperado, angustiado. Jogou-se sobre o sofá da sala, perdendo a noção de quanto tempo ficou desaguando sua mágoa e sua humilhação, até que conseguisse recuperar-se e pensar mais objetivamente no que havia acontecido.
Gerard voltou para casa. Não tinha a sensação de alívio que pensou que teria ao humilhar Lauren. Sentia-se, isso sim, um canalha. A raiva passara e só ficara aquela sensação ruim de ter perdido alguém, que nem chegara a conhecer direito. Provavelmente fosse apenas sua imaginação... Ela não era diferente das outras. Estava batalhando seu lugar ao sol e venderia a alma ao demônio para conseguir sobressair-se sobre os demais. O melhor a fazer agora era esquecê-la. Não podia continuar iludindo-se.

Os dias passaram. Gerard já estava com sua viagem marcada para Quebec, onde iniciaria a filmagem de seu novo trabalho. Ainda não conseguira tirar Lauren da cabeça. Naquela manhã, foi ao encontro de Mike para falar sobre futuros projetos que tinham em comum, quando o amigo e empresário perguntou-lhe:
- Não ouviu falar mais da sua repórter predileta? – disse em tom de brincadeira. Como todas as outras fofocas de Hollywood, aquela sobre Gerry já tinha sido esquecida. Tinha sido incomodado por mais um ou dois jornalistas sensacionalistas, mas o assunto já tinha caído em desuso, principalmente depois que algumas poucas cenas do filme com ele haviam sido veiculadas. Por isso já conseguia fazer graça.
- Felizmente não – mentiu pesarosamente.
- Ela não escreveu mais sobre você nem sobre ninguém.
- Como assim? – perguntou repentinamente curioso.
- É o que eu estou falando. Lauren O’Brien sumiu do mapa. De duas uma. Ou ele foi despedida ou Frederick a adotou para ficar na casa dele – disse, soltando uma gargalhada, relembrando a fama de Frederick Lewinsky.
- Não vejo graça alguma nisso.
- Você ainda está pensando nela, Gerry? Depois de tudo que ela falou mal a seu respeito.
- Olhe, Mike, a conversa está ótima, mas acho que já terminamos o que tínhamos para resolver. Vou andando. Lembrei que tenho umas voltas para dar. Até mais! – despediu-se rapidamente, não querendo mais manter aquela conversa.
- Está bem, Gerry. Quando quiser conversar, sabe onde me encontrar. Até! – respondeu Mike, resolvido a não se intrometer nos assuntos sentimentais do amigo.
Gerard pegou seu carro e foi direto para a sede da LAAR. Ficou dentro do carro, no estacionamento. Em alguns instantes, tinha conseguido o telefone da redação.
- Los Angeles Actor’s Report. Bom dia.
- Bom dia. Por favor, eu gostaria de falar com Lauren O’Brien.
- Um momento senhor... - falou a telefonista esganiçada, demorando alguns segundos para completar sua procura – Sinto muito, senhor. A senhorita Lauren O’Brien não trabalha mais conosco.
- Não trabalha mais? Desde quando?
Depois de mais alguns segundos:
- Desde há aproximadamente um mês.
“Um mês... Exatamente depois de seu último encontro com ela”, pensou. “Será que Mike tinha razão? Será que ela tinha deixado o trabalho para morar com o chefe?” Não conseguia aceitar aquela possibilidade. Mike tinha falado aquilo por brincadeira. “Será?”
- Teria como saber mais informações a respeito da senhorita Lauren?
- Um momento, senhor... Como é mesmo o seu nome?
- Gerard Burns.
- Vou transferi-lo para a senhorita Marian, secretária do senhor Lewinsky. Um momento, por favor...
Enquanto aguardava, os pensamentos mais terríveis o rodeavam. Perguntava-se porque ainda insistia em querer saber notícias daquela mulher.
- Alô? O que o senhor deseja? – perguntou Marian, em tom antipático. Ainda estava indignada pela maneira como Burns tinha tratado sua amiga. Lauren contara tudo para ela logo após o incidente.
- Fiquei sabendo que a senhorita O’Brien foi demitida do LAAR e gostaria de saber onde está trabalhando agora.
- Para seu conhecimento, ela não foi demitida. Ela pediu demissão. Em segundo lugar, não estou autorizada a lhe dar maiores explicações. Tenha um bom dia, senhor Burns.
Ele achou estranho o modo como a mulher, que ele nem conhecia, o estava tratando. Parecia desprezá-lo.
- Por favor, eu...
A ligação foi cortada subitamente.
- Estava falando com alguém, Marian? Por que desligou tão rápido? É algum namorado? Você sabe que não admito este tipo de ligação aqui dentro.
- Não, Frederick. Era um chato querendo emprego.

Ainda com o fone na mão, Gerard perguntava-se o que teria acontecido. De qualquer maneira ficara agradavelmente surpreso em saber que ela pedira demissão. “Será que o ocorrido entre eles teria contribuído para isso?”, indagou-se. Precisava encontrar Lauren ou, pelo menos, esclarecer melhor as coisas. Talvez se fosse ao seu apartamento...
Saiu do estacionamento, dirigindo-se ao endereço de Lauren, imaginando se ela o receberia. Talvez não. Ele fora muito cruel com ela. Talvez precisassem conversar sobre tudo que acontecera. Ela havia dito que não escrevera nada demais sobre ele, mas naquele momento era difícil a ele raciocinar, quanto mais dar a ela uma chance de explicar-se.
Finalmente chegou ao prédio de Lauren. Havia um caminhão de mudanças estacionado bem em frente. Na portaria, ao perguntar por ela, ficou sabendo que não morava mais lá e que a mudança em andamento era do novo inquilino que ocuparia seu antigo apartamento. Ninguém sabia informar para onde ela havia se mudado. Lembrou de Marian, a secretária de Lewinsky. Ela devia saber de alguma coisa. Tentaria falar com ela. Ligou mais uma vez para a redação do LAAR.
- Senhorita Marian, por favor, não desligue.
- Quem fala?
- Gerard Burns.
- Você de novo. Já não lhe disse que não posso lhe dar nenhuma informação?
- Por favor. Tenho certeza de que pode me ajudar. È importante. Preciso falar com Lauren para esclarecer algumas coisas que aconteceram.
- Eu sei o que aconteceu e devo dizer que o senhor foi bastante grosseiro.
- Eu sei. Por isso estou ligando. Pode me ajudar, por favor?
- Não posso falar daqui. Pode me encontrar no Joe’s? É uma cafeteria que tem aqui próxima, onde não há risco de eu ser pega em flagrante pelo meu patrão.
Gerard agradeceu e desligou, assim que pegou detalhes da localização do café e do horário do encontro com Marian.


Na hora combinada, Gerard estava lá. Entrou e logo uma mulher ruiva e muito maquiada, sentada num dos cantos do recinto, acenou-lhe.
- Obrigado por me atender, Marian – cumprimentou-a assim que a identificou como a secretária irritada que o tinha atendido ao telefone – Então você é amiga de Lauren.
- Eu não devia estar aqui. Lauren vai querer minha cabeça se souber que falei com você.
- Por quê?
- Por quê? Você permitiria que dessem informações sobre sua vida a um inimigo?
- Mas eu não sou inimigo de Lauren.
- Agindo como agiu, não vejo adjetivo melhor para você.
- Agi num momento de raiva. E tinha razão em ter ficado furioso, depois de ler o que ela tinha escrito a meu respeito. Qualquer um ficaria.
- Então porque quer falar com ela de novo? Quer finalizar a vingança? Se for isso, boa tarde e adeus – disse Marian, já fazendo menção de levantar-se.
- Não, por favor, fique – implorou Gerry, tocando-a no braço – Quero saber por que ela se demitiu... Ela tentou me dizer que não escreveu nada contra mim. Pensei que ela estava tentando me acalmar e me enrolar, por isso não acreditei. Mas, depois, sabendo da sua demissão... Preciso saber o que houve, entende?
- Lauren é uma pessoa muito especial, que não estava feliz neste emprego. Lamento que ela tenha ido embora. Mas acho que foi melhor para ela – comentou Marian, tristemente.
- Como assim, embora? Embora do emprego, não?
- Embora desta cidade maluca! Para ficar longe de malucos como você e o Frederick.
- Espere um pouco. Não me compare com aquele sujeito desclassificado.
- Vocês agiram da mesma forma para com ela, que eu saiba.
- Da mesma forma, como?
- Tentaram pegá-la a força.
- Espere um momento. Do que você está falando? Vamos começar do início. A última vez que vi Lauren eu havia perdido a cabeça por causa do artigo que ela escrevera sobre mim. Acabei me comportando muito mal, reconheço.
- Exatamente. Não foi ela que escreveu... Pelo menos, não os comentários “indigestos”.
- Então, não foi realmente ela que escreveu?
- Não. Ela havia escrito um texto elogiando o seu trabalho e sugerindo que tínhamos um novo astro, em rápida ascensão.
Ele estava pasmo e sentindo-se muito mal ao lembrar como a havia tratado.
- Mas quem escreveu a parte “indigesta”?
- Quem você imagina que tenha sido? Frederick, é claro. Acho que ele estava com ciúmes de Lauren.
- Ciúmes?
- Já estou falando demais.
- Por favor, Marian, continue – pediu impaciente.
- Quando ela mostrou o seu artigo a Frederick, obviamente ele não gostou da forma como ela o elogiava, ao invés de desdenhá-lo. Disse que se ela não mudasse o conteúdo conforme o que ele queria, seria demitida. Só que ela já estava com a carta de demissão pronta e entregue junto com o seu texto. Frederick perdeu a cabeça ao se dar conta disso e tentou pegá-la a força no seu gabinete. Ela havia sido a única funcionária, além de mim, é claro, que não havia tido um “flerte” com ele. Se é que me entende – disse, piscando o olho direito – A sorte é que eu a ouvi gritar e cheguei a tempo de evitar o pior.
Gerard sentia uma mistura de alívio e culpa ao mesmo tempo. Ela era realmente como ele imaginara, e ele havia sido tão estúpido...
- Marian, para onde ela foi?
- Não sei – disse – Não sei mesmo. Não adianta perguntar. Ela não disse porque tinha medo que Frederick pudesse saber e tentar prejudicá-la – confirmou sua falta de conhecimento ao enfrentar o olhar sério de Gerard.
- Está bem. Ao menos ela tem mantido algum contato com você?
- Às vezes ela me liga, quando dá tempo. Parece que está ocupada escrevendo muito. Acho que conseguiu um novo emprego, mas não sei nada além disso.
- Se souber o telefone dela, por favor, entre em contato comigo ou com meu agente. Vou lhe deixar o meu cartão.
- Qual o seu real interesse nisso tudo? É só desculpar-se com ela? Ou...
- Sinceramente, Marian? Ainda não sei...
- Mas este “ainda não sei” não inclui maltratá-la, espero.
- Certamente que não.
- Bem, sendo assim, se eu souber de algo, entro em contato – afirmou, sorrindo satisfeita com a resposta e tranqüilizada pelo olhar sincero de Gerard.
- Marian, gostaria de te agradecer por vir até aqui e ouvir o que tinha a dizer.
- Acho que vai ser muito bom vocês se entenderem... Desejo boa sorte para você.
- Obrigado. Boa sorte para você também. Trabalhando com o Lewinsky, você precisa.
- Com certeza – disse com um grande sorriso.

Gerard foi para seu apartamento com a cabeça rodando com mil pensamentos. Teria que partir para Quebec em dois dias e lá teria de permanecer por cerca de um mês, até terminarem as filmagens.
Antes de viajar, Gerard pediu a Mike tentasse achar algum indício do lugar para onde Lauren pudesse ter ido e que o avisasse sobre qualquer novidade.
- Nunca o vi tão interessado numa mulher como nessa. O que o impressionou tanto assim? Já estou curioso...
- Não sei, Mike. Acho que a situação mal resolvida entre nós é o que está me incomodando. Sinto necessidade de esclarecer com ela tudo isto.
- Sei... Só esclarecer, não? Está bem. Vá tranquilo. Ela ainda deve estar no planeta Terra. Quando a encontrar, o aviso. Não se preocupe mais com isso. Deixe a cabeça livre para o trabalho, que é o que realmente importa nas próximas semanas.
- Não se preocupe. Vai ser bom mudar de ares um pouco e trabalhar da forma mais usual, sem um cromaqui por perto – dizendo isso, conseguiu esboçar um tímido sorriso.

O término das filmagens demorou um pouco mais do que o previsto. Mike ainda não dera sinal de ter encontrado qualquer pista do paradeiro de Lauren.
Ao voltar para os Estados Unidos, Gerard decidiu que ficaria um tempo em seu apartamento de Nova Iorque, que acabara de ser reformado. Talvez se distraísse um pouco comprando peças para decorá-lo. O decorador já tinha lhe solicitado diversas vezes que o ajudasse na escolha de móveis e objetos de arte que complementariam o visual, mas ele nunca tinha disponibilidade de tempo ou vontade de ficar escutando as maluquices do profissional. Ele era uma excelente pessoa, mas ligeiramente obsessivo. Aproveitaria este período, em que estaria sem filmar fora do país, para dar-lhe uma atenção.
Ao chegar, lhe foi entregue uma pilha de correspondência, que ainda não fora encaminhada para Los Angeles por seu agente de Manhattam. Depois de tomar um banho quente e colocar uma roupa mais confortável, sentou-se para distrair-se olhando os envelopes recebidos. Vários convites para inaugurações, premieres, festas, muita propaganda e um convite para o lançamento de um livro. Estranho... Não era citado o nome do autor. O título era bem interessante: “Fofocas em L.A. – O Lado Sórdido da Imprensa”. Tinha tudo a ver com a situação pela qual ele tinha passado nos últimos meses. A sessão de autógrafos seria em três dias. Talvez fosse até lá. Seria um programa diferente.
Dois dias depois, recebeu um telefonema muito estranho. Uma voz de mulher, que lhe soou familiar, ligou perguntando se ele confirmava a presença no lançamento do livro “Fofocas...”.
- A sua presença é importante neste evento.
- Quem está falando? – perguntou, tentando identificar a voz. Parecia com a de Lauren. Estaria imaginando coisas?
- O senhor confirma sua presença, senhor Burns?
Era ela! Resolveu deixá-la pensar que não a reconhecera.
- Confirmo, sim. Estarei lá, amanhã...
- Muito obrigada – agradeceu e desligou o telefone imediatamente.
Tinha quase certeza que era Lauren. Só não entendia porque ela não se identificara. Ficou imaginando se ela estaria trabalhando na editora que estava lançando o livro. “Ou será que?...” – seus pensamentos provocaram um riso de admiração. Mal podia esperar pelo dia seguinte.

A sessão estava programada para o final da tarde daquela sexta feira. O transito estava terrível. Acabou por atrasar-se, apesar de ter saído quase uma hora antes do horário. Quando conseguiu chegar à livraria, suspirou aliviado. O movimento ainda era grande. Tentou aproximar-se da mesa onde o autor estava autografando. Foi quando teve a agradável surpresa. Confirmou suas suspeitas. Lauren O’Brien era a autora do livro Estava linda, sentada, segurando uma caneta e distribuindo o seu lindo sorriso para todos que a cercavam. Permaneceu num canto onde ela não podia vê-lo. Notou que, com certa frequência, seu olhar era desviado para a porta da livraria, procurando a presença de alguém. Esperava que fosse por ele. Quando o movimento diminuiu, ele resolveu aproximar-se num momento em que ela estava distraída assinando seu nome para um dos últimos da fila de leitores. Quando ela levantou os olhos para entregar o exemplar com sua dedicatória, viu Gerard a observá-la com carinho. Seu rosto iluminou-se de imediato.
- O senhor deseja um autógrafo? – perguntou Lauren, ainda sorrindo.
- Muito...
- Onde está o seu livro?
Só então Gerard deu-se conta de que não tinha comprado o livro.
- Só um momento, que vou adquirir o meu exemplar e já volto.
- Gerard... Não há necessidade disso. Estava brincando. O seu já estava separado, à sua espera... – dizendo isso, abriu um dos livros, que estava sobre a mesa, numa das primeiras páginas e apenas assinou o seu nome sob algumas palavras.
- Só a sua assinatura? Acho que merecia uma dedicatória melhor, não?
- Será?... Leia – disse alcançando-lhe o livro aberto na página que assinara.
Lá estava impresso bem no centro: “Para Gerard, fonte de coragem e estímulo para que este livro fosse escrito”.
- Sou tudo isto? – perguntou emocionado.
Ela apenas sorriu.
- Você aceitaria jantar com o homenageado deste livro?
- Aceitaria...
Ainda tiveram que esperar um pouco mais até que os últimos compradores do livro conseguissem seu autógrafo.
Já era 20 horas, quando saíram lado a lado da livraria, depois de Lauren despedir-se do representante de sua editora. Ainda permaneciam contidos em seus sentimentos. Não sabiam o que esperar um do outro. Entraram no carro de Gerard, que a levou até um pequeno bistrô francês, localizado no SoHo, na Rua Spring. O nome já era sugestivo para o momento de fazer as pazes pelo qual estavam passando: “Les Amis”
Falaram muito pouco durante o trajeto.
- Parabéns pelo sucesso do seu livro.
- É... Acho que o tema atrai. Todos querem saber sobre este universo. Eu tinha um extenso material. Na verdade, eu comecei a escrever logo que comecei a trabalhar para Frederick. Também fiz algumas pesquisas sobre a história, de como começou este tipo de jornalismo. Serviu um pouco para exorcizar meus demônios...
- Você está trabalhando aqui em Nova Iorque?
- Sim. Consegui emprego num jornal de médio porte. Eles já tinham lido alguns artigos meus e gostado do modo como eu escrevia. Só tive de prometer de não fazer nenhuma fofoca. Foi do que mais gostei – disse rindo – Minha nova editora é uma pessoa maravilhosa, que se interessou pelo meu livro e me ajudou muito para que ele fosse publicado em tão pouco tempo.
- Você está linda... – elogiou, desviando rapidamente seu olhar da rua para fitá-la com um brilho nos olhos – Acho que os ares de NY estão fazendo muito bem para você.
- Também sinto isso. Aqui estou fazendo o que realmente gosto, longe de pessoas insalubres como Frederick.
- Como você sabia que eu estaria em NY esta semana?
- Eu parei de persegui-lo, mas o resto da imprensa continua mantendo suas fãs bem informadas.
- Às vezes esqueço isso.
- Além disso, Marian andou me falando que você estava me procurando.
- Disse o motivo também?
- Sim.
Finalmente chegaram ao bistrô. Era discreto e muito aconchegante, com mesas, na maioria para duas pessoas apenas, cobertas por toalhas brancas, decoradas com pequenos vasos de flores e velas acesas. Tinha um clima muito romântico. Lauren pareceu aprovar a escolha dele. Foram conduzidos pelo garçom até um recanto mais privado, onde se sentaram lado a lado. Depois de fazerem sua escolha do menu, Gerard tomou a dianteira para iniciar sua conversa:
- Quero saber tudo sobre você e o que aconteceu neste período em que fiquei procurando por você, me torturando com a culpa de tê-la acusado injustamente – pegou na mão de Lauren, que se sentiu corar diante do toque daquela mão quente e macia, que cobria a sua por completo.
- Pensei que Marian havia lhe contado o que aconteceu.
- Contou, mas gostaria de ouvir a versão original...
Enfrentando aquele olhar de verde profundo que a deixava hipnotizada e prisioneira de seu dono, Lauren começou a contar sua história desde o início.
À medida que ela falava sobre sua luta para conseguir um bom emprego, o embate interno entre seus princípios e as exigências de Frederick, o desejo de poder ser lida e respeitada, coisa que jamais seria se continuasse naquele emprego, mais a admiração de Gerard por ela aumentava. Ela finalmente demonstrava que ele não estava errado quando a imaginou como sendo diferente das outras.
- Aí, eu conheci você naquela festa. Desde então, comecei a repensar sobre meu emprego, minhas escolhas... Tudo. Depois aconteceu aquele “incidente” no restaurante comecei a pensar em pedir demissão. Não aguentava mais escrever aquele tipo de notícia retorcida. Foi quando Frederick me indicou para fazer a sua entrevista. Foi a gota d’água para eu tomar outro caminho. Escrevi um artigo muito diferente do que ele esperava. No fundo, eu não precisava escrever aquilo, mas eu queria que ele visse o que eu realmente pensava... Eu sabia que ele ia odiar, por isso entreguei a minha carta de demissão ao mesmo tempo. Acho que ele ficou mais furioso por causa disto. Ele não conseguiu ter o gostinho de me demitir. Chegou a ficar violento. Se não fosse a Marian chegar, eu teria apanhado.
- Que eu saiba, ele quis te beijar a força.
- Como você... No dia seguinte – desta vez ela o olhou com um resquício de mágoa nos grandes olhos castanho-claros.
- Lauren, não sabe quantas vezes já me culpei por ter agido como um canalha.
- Não, você reagiu como qualquer homem normal teria reagido.
- Por que você não falou que o artigo não tinha sido escrito por você?
- Eu falei, mas você não queria ouvir o que eu tinha a dizer. Você não me deu chance.
- Você tem razão. Me perdoe. Eu estava completamente cego de raiva...
- Além do mais, – disse interrompendo-o – eu também me sentia culpada pelos outros textos que eu havia escrito antes. Por isso não quis insistir na verdade. Mas, se isto o faz sentir melhor, eu te perdoei na mesma hora. Pode dormir tranquilo de agora em diante e seguir o seu caminho. Está livre desta culpa.
- O que você quer dizer com isso?
- Você não queria só tirar esta culpa dos ombros?
- Lauren, eu não vim só por isso e acho que você sabe qual o motivo principal.
- Sei?
- Sabe... Na primeira vez em que a tive em meus braços, mesmo tendo sido por poucos minutos, senti algo diferente. Desde aquele momento não consegui mais tirá-la da minha cabeça, apesar de todos os mal-entendidos. Mesmo quando estava envenenado pela raiva diante daquelas notas difamatórias e mentirosas, quando a tinha em meus braços sentia-me fraquejar e tinha de fazer um grande esforço para não demonstrar o quanto a desejava. A minha raiva foi maior no dia em que a segui ao seu apartamento, não só pelo comentário em si, mas por pensar que havia realmente me enganado profundamente em relação a você. Quando soube que você havia pedido demissão minha esperança voltou. Por isto estou aqui. Eu só preciso saber se tenho alguma chance junto a você, depois de tudo que aconteceu...
Lauren estava paralisada e emocionada com tudo que acabara de ouvir. Com algum esforço, conseguiu falar:
- Gerard... Não sei o que dizer... – notou que ele pareceu ficar triste diante da sua insegurança em corresponder a sua declaração, pois abaixou a cabeça, desviando seu olhar.
Em vista disso, ela não teve mais dúvidas. Com as duas mãos, levantou o rosto dele, acariciando-o, fixando seu olhar no doce verde dos seus olhos e disse:
- Gerard, eu te amo... Muito. Gostaria muito de tentar esquecer tudo o que se passou e...
- Lauren... – sussurrou, aproximando-se lentamente, até seus lábios tocarem-se, num beijo muito doce.
Beijaram-se ainda mais, até serem interrompidos pelo garçom, que perguntou se gostariam de uma sobremesa.
Ambos olharam-se, cúmplices e felizes.
- Você vai querer uma sobremesa? – perguntou Gerard, com expressão provocante.
- Agora... Não – respondeu Lauren, retribuindo o olhar ladino ao seu lado.
- Acho melhor irmos embora daqui, antes que nos expulsem por atitudes indecorosas. O que você acha? – disse Gerry, sorrindo.
- Acho que você tem toda a razão.
Rapidamente, Gerard pagou a conta e saíram.
Foram direto para o apartamento dele.
Já não aguentavam mais a hora de chegar em casa para entregarem-se sem pudores um ao outro. Mal a porta da entrada fechou-se, abraçaram-se quase com fúria, com bocas que procuravam um ao outro com intensidade. Toda uma paixão, estancada por semanas e por diversas situações, encontrava o seu fluxo, correndo livre, através dos beijos molhados, mãos sedentas por descobrir o corpo, tantas vezes desejado, e finalmente descoberto. Havia uma urgência de fusão. Entre gemidos e suspiros, finalmente Gerard penetrou Lauren, tornando-a sua mulher, agora em espírito e corpo. Tudo acontecera tão rápido, mas de uma forma tão intensa e completa que eles se deixaram ficar abraçados sobre os tapetes da sala, temendo perder aquele momento de união tão prazerosa. Depois de vários minutos em silencio e repouso, Lauren murmurou:
- Gerard, eu imaginei este momento tantas vezes que perdi a conta.
- Então, ainda estou em débito com você. Seremos obrigados a repetir momentos como esse até perdermos a conta – disse, levantando-se do chão, para elevá-la nos fortes braços e levá-la para o quarto, com um belo sorriso nos lábios – Preciso lhe mostrar os outros cômodos da sua casa.


FIM


Olá! Espero que tenham gostado do final. Espero não demorar muito para voltar. Além da crise da qual eu tinha falado, ainda consegui arranjar uma bela conjuntivite, que não está me permitindo ficar muito tempo na tela do computador. Mas deixem estar, que logo esta fase acaba. Deixo aqui o meu agradecimento pelos comentários tão queridos das minhas amigas fiéis e estimuladoras destes meus "vôos da imaginação".
Um grande beijo para todas!