quinta-feira, 25 de junho de 2009

Falta de tempo...

Minha gente! Sei que deixei todas com água na boca ao colocar a foto daquele tuaregue lindo no último post, mas ainda estou escrevendo a estória dele. Como sou um pouquinho perfeccionista e este romance tem muitos detalhes étnicos na primeira fase, e o meu tempo para escrever anda um pouco escasso, resolvi, a pedido da minha querida amiga Tânia , do Rio, colocar um outro romance. Como ela, carinhosamente, andou me enviando há poucos dias alguns artigos muito interessantes sobre o assunto desta minha estória, pensei em começar a postar "Encontro Noturno" em algumas partes, só para que eu possa me organizar e colocar o romance novo.
Espero que curtam a estória de Stefan e Sophia. Beijos!


ENCONTRO NOTURNO

Sophia voltava cansada de seu trabalho na agência. Resolvera ir a pé para casa para relaxar um pouco do stress do dia. Mal tinha anoitecido, apesar de já ser 21:30 horas. Coisas do horário de verão. “ Precisava voltar a exercitar-se. Parecia achar sempre uma desculpa para escapar da academia e das caminhadas que antes era uma rotina para ela. Com o aumento dos clientes no trabalho, andava esquecendo-se de cuidar de si”. Estava tão absorta em seus pensamentos que não notou quando entrou numa rua errada, completamente deserta àquela hora da noite. Quando se deu conta do erro de percurso, tentou voltar. Foi aí que surgiu um desconhecido, com um gorro de meia enterrado na cabeça. Ela não conseguia definir seu rosto devido à fraca iluminação no local. Ele conseguiu agarrá-la pelo braço e começou a tentar tirar sua bolsa. Assim que conseguiu o que queria, pareceu mudar de idéia e passou a querer algo mais, para desespero de Sophia. Ela passou a lutar desesperadamente, contra seu agressor, que tentava rasgar suas roupas. A ação desenrolava-se, quando subitamente o homem pareceu assustar-se com alguma coisa que surgira atrás de Sophia. Alguns segundos depois, ele a jogou ao chão, deixando-a atordoada por alguns instantes. Ela pode apenas ouvir um grito aterrorizado. Quando voltou a olhar em frente, não viu mais seu atacante. Ele sumira como por encanto. Assustada, recompôs-se rapidamente, olhou para todos os lados, pegou a bolsa que estava caída ao seu lado e fugiu, correndo o mais que podia, em direção a rua iluminada mais próxima. Sentia-se observada até alcançar a entrada de seu prédio. Pensou em ligar para seu noivo, que estava em viagem de negócios, mas desistiu ao pensar que só iria preocupá-lo à toa. Felizmente tudo acabara bem. Não fora roubada nem ferida. O que continuava a incomodá-la era o que teria assustado o marginal, fazendo com que ele a largasse daquele modo. De qualquer jeito, ela conseguira se safar. Não queria nem imaginar o que poderia ter acontecido.
Durante a noite, teve sonhos estranhos com um homem a quem não conseguia vislumbrar o rosto. Não sentia medo dele, mas sim atração por aquele estranho sem face. Acordou várias vezes naquela madrugada, bastante excitada...de todas as formas.

**

No dia seguinte, acabou por perder a hora, chegando atrasada à agencia. Por sorte não tinha nenhum compromisso logo cedo, que não pudesse ser resolvido por sua sócia, Caroline. Carol, como costumava chamá-la, era sua amiga desde os tempos de colégio. Tinham passado por todas as transformações e confusões da adolescência juntas. Acabaram por separar-se na época da faculdade, apesar de terem cursado cursos semelhantes, mas em cidades diferentes.
Há três anos tinham uma agência de publicidade em São Paulo. Vinham trabalhando muito, desde então, para conseguirem colocar-se competitivamente no mercado. Aos poucos começavam a surgir como uma das agencias promissoras na capital paulista.
Naquela manhã, Caroline a procurou logo que entrou em sua sala.
- O que houve? O despertador não tocou? – perguntou Carol brincando com a amiga.
- Nem brinca. Por pouco você não perde a sua sócia ontem – respondeu, enquanto se ajeitava para iniciar o trabalho.
- Mas o que houve? Foi assaltada? Eu sabia...Quando você disse que ia a pé para casa àquela hora...Eu te avisei...
- Pois é. Esta cidade está cada vez mais perigosa...
- Mas me conta. O que aconteceu.
Sophia passou a relatar o ocorrido na noite anterior.
- Mas você não viu o que fez o homem gritar e desaparecer? – Carol estava impressionada com a história da amiga.
- Não e nem quis esperar para ver. Podia ser outro bandido pior que o primeiro. Você esperaria para agradecer?
- Não sei... De repente, algum justiceiro forte e bonitão... Que sabe?
- Você e as suas idéias românticas, Carol – ficou rindo do comentário da amiga – Isto só acontece naqueles romances que você costuma ler e nos filmes americanos. Aqui em São Paulo a estória é outra.
- Você que é realista demais. O Paulo e você são o casal mais sem imaginação que eu conheço. Ele nunca lhe manda flores? Não liga durante o dia só para dizer que está com saudades?
- Carol...Acho que temos coisas mais importantes para nos preocuparmos do que com estas bobagens de flores e romantismo.
- Ai, Sophia, no tempo do colégio você não era assim. Você bem que gostava de um romance. O que aconteceu?
- Amadureci. O trabalho não deixa tempo para estas baboseiras.
- Não são baboseiras, Sophia...São o que dão sabor à vida.
- Está bem, Carol, está bem...Podemos trabalhar agora?
- Sim, senhora. É pra já – resolveu dar uma folga para a sócia e voltar à dura realidade – Olhe tenho uns problemas para resolver na conta das Lojas Aguiar. Você pode me ajudar?
- Assim que eu verificar o meu e-mail, vou até sua sala para vermos esta conta.
- Tudo bem. Vou tomar um cafezinho para acordar. Quer um também?
- Quero sim. Obrigada, Carol.
Aquele foi mais um dia estressante e corrido, mas com bons resultados.
Ao chegar em casa, Sophia, que desta vez resolvera voltar de táxi, encontrou um recado na secretária eletrônica. Era de Paulo, seu noivo. Ele era um workholic também, formado em ciências econômicas e que prestava aconselhamento para várias pessoas importante, como políticos e empresários. Eles haviam se conhecido numa festa na casa de um cliente em comum. A partir deste encontro, passaram a sair juntos, trocar mensagens por e-mail e conversas no MSN. Quando não estava enterrados no trabalho aproveitavam para jantar ou ir a algum espetáculo à noite. Durante um ano ficaram conhecendo-se desta maneira, até que há seis meses ele sugerira que morassem juntos. Ela achou a idéia interessante. Ele era uma companhia muito agradável, inteligente, educado, de gostos parecidos com os seus e parecia gostar dela também. Sophia vislumbrava uma vida tranqüila e segura com Paulo. Talvez esta fosse a oportunidade de ser feliz ao lado de alguém.
O som estridente do telefone soou, interrompendo seus pensamentos.
- Alô? Sophia?
- Paulo? Tudo bem, querido?
- Tudo. Estou ligando só para lhe avisar que vou demorar mais do que pensei. Só poderei voltar no início da próxima semana, segunda ou terça-feira. Não queria que ficasse preocupada comigo.
- Acabei de ouvir o teu recado na secretária. Obrigada por me avisar. Mas o que houve? Trabalhos inesperados?
- Pois é. Indicaram meu nome para um fazendeiro aqui na Bahia e ele me convidou para passar o final de semana na sua fazenda, para tratarmos de negócios.
-Que bom. Espero que corra tudo bem
- Prometo que no próximo final de semana ficaremos juntos. Vá planejando o que fazer.
- Pode deixar. Vou aproveitar e me dedicar à campanha de um novo cliente.
- Então, até a volta, meu bem. Tenha uma boa noite.
- Tchau, Paulo. Uma boa noite para você também. Um beijo.
- Outro, querida! – e desligou.
Largou o fone e olhou em torno. Mais um fim de semana passado sozinha. Mas tinha que entender. Paulo estava começando a ser conhecido e ter sucesso na carreira escolhida. Não podia agir como uma esposa mimada, exigindo sua presença, impedindo-o de crescer, neste momento.
Tomou um bom banho, preparou uma salada de atum e resolveu que dormiria mais cedo naquela noite. Estava quente, por isso deixou a janela aberta na esperança que alguma brisa entrasse por ela, apesar de isso ser muito difícil na sua cidade. Não gostava de usar o ar condicionado no quarto, pois o ar seco provocava-lhe crises de rinite durante a noite.
Depois de apagar as luzes e deitar a cabeça no travesseiro, viu um brilho estranho entrando através da janela. Luar? Em São Paulo? Não era possível...Levantou-se da cama e foi ver o que estava provocando aquele facho de luz. Deslumbrou-se diante de uma grande lua cheia que pairava num céu estrelado. Uma brisa fresca afagou-lhe o rosto, fazendo-a arrepiar-se. Percebeu alguma coisa aproximando-se às suas costas. Tentou virar-se, mas estava paralisada. A presença era cada vez mais evidente. Podia sentir o calor de um corpo e um odor estranho e agradável que penetrava em suas narinas, deixando-a excitada. Ainda tentava livrar-se daquela paralisia, quando a sensação de um hálito quente percorrendo sua nuca a deixou inebriada. Queria virar-se para ver quem estava provocando-a daquela maneira, mas não conseguia. Fechou os olhos. Foi quando sua nuca foi tocada de leve por lábios quentes e macios, que sussurraram seu nome. Ao ouvir este chamado, abriu os olhos imediatamente. Procurou pelo responsável por todas aquelas sensações que a perturbavam tanto, mas constatou que estava em sua cama, banhada em suor. Tinha sido um sonho... Mas parecera tão real... Sentou-se na cama. A janela continuava aberta, mas nenhuma luz prateada entrava por ela. Apenas a brisa quente e o ar pesado devido à poluição, como era de se esperar. Restara a umidade entre suas pernas e o desejo de sentir aquela boca novamente roçando seu corpo. Abandonou-se entre os lençóis da cama de casal e demorou um bom tempo antes de entregar-se novamente ao sono.

**

Durante o breve café da manhã, ainda buscava uma explicação para o sonho daquela noite. Não lembrava de ter um sonho tão sensual como aquele. Teria sido o telefonema de Paulo?
Duvidava disto. Paulo jamais a deixara excitada daquela maneira. Nem em sonhos.
Chegou ao escritório ainda ligeiramente aparvalhada, mas logo começou a ocupar-se de suas campanhas publicitárias e esqueceu as sensações da noite anterior.
Quase próximo à hora do almoço, Carolina a procurou para dizer que um novo cliente a procurara.
- Que tal sairmos para almoçar aqui perto e conversarmos sobre ele?
- Como você quiser. É importante assim?
- Talvez...
- Então, vamos – disse Sophia, pegando sua bolsa e dirigindo-se para a saída.
Já acomodadas na mesa do restaurante próximo, na área dos Jardins, após fazerem seus pedidos, Carol entrou no assunto.
- Nosso novo cliente é um pintor.
- O quê? – perguntou Sophia curiosa com sua profissão e o tipo de ajuda publicitária que ele poderia querer delas.
- Também achei estranho, mas depois achei que seria interessante variarmos um pouco o nosso meio de atuação.
- Estou ouvindo...- disse, enquanto bebericava o seu refrigerante gelado.
- Ele é um artista muito conhecido no meio e abriu uma nova galeria na Alameda Berlim. Esta galeria é, não só para expor suas obras, mas também terá um espaço para novos talentos. Ele quer divulgar este local e o trabalho que vai realizar lá.
- Está bem. Agora só me diga o porquê de tanto mistério. Acho que será um cliente como qualquer outro.
- Porque acho que ele a conhece.
- Como assim?
- Sim. Ele fez questão de pagar o dobro da tabela para que você fosse a responsável pela conta.
- Você sabe que eu estou cheia de serviço por um bom tempo. E tenho certeza que não conheço nenhum pintor nesta cidade ou em outra qualquer.
- A gente dá um jeito, Sophia. Eu assumo algumas de suas contas menores ou pedimos para um dos rapazes assumir.
- Mas, afinal, quem é esse pintor tão famoso?
- O nome dele é Stefan Paole. Parece que veio do Leste Europeu. Acabou ganhando muito dinheiro com suas obras na Europa e mudou-se para cá.
- Nunca ouvi falar dele.
- Eu já tinha lido alguma coisa nas colunas sociais. É coisa recente, esta mudança dele para cá.
- Bom, se ele está pagando bem, vamos lá. Eu assumo. Só gostaria de saber o porquê do interesse em que seja eu a cuidar de sua campanha.
- Talvez ele tenha ouvido falar do seu talento publicitário.
- Bobagem. Nós estamos juntas nesta empreitada. Ambas somos talentosas, senão não estaríamos conseguindo crescer.
- Bom, talvez ele a tenha visto em algum lugar e tenha se apaixonado por você... – satirizou Carol.
- Lá vem você com os seus romances. Tudo tem uma explicação prática.
- Está bem. Você vai poder descobrir isto hoje mesmo.
- Hoje?
- Sim. Ele pediu uma reunião com você hoje, no final da tarde.
- Ótimo! Não tenho nenhum compromisso neste horário.
- O Paulo não voltava hoje de viagem?
- Não. Ele ligou ontem para avisar que vai ter de ficar o final de semana na Bahia. Em que horário ele virá à agência?
- Ele não virá. Você é que vai até ele.
- Como? Por que isso? Não é o habitual.
- É uma exigência dele.
- Este senhor é exigente demais. Só porque vai pagar a mais não quer dizer que seja meu dono. Estou começando a ficar preocupada.
- Ouça, Sophia, talvez ele seja mais destes pintores excêntricos. Estes caras do Leste Europeu tem fama de serem esquisitos, ainda mais sendo um artista famoso. Não custa ceder um pouco e lhe dar esta chance. Afinal quem manda é o cliente. Ou não?
- Você tem razão, Carol. Talvez eu esteja errada mesmo. É que odeio homens machistas.
- Onde eu devo encontrá-lo? – perguntou contrafeita.
- Na galeria dele, às 18 horas.
- Ok! Quando eu o encontrar saberei como domar a fera – disse rindo para Carol.

**

Às 17 horas encerrou suas atividades na agência, despediu-se de Carol e dos outros colegas e funcionários que lá trabalhavam e foi ao toalete para retocar a maquiagem e colocar um pouco de perfume. Pensava no que a aguardava. Este tal de Stefan devia ser um tipo convencido, prepotente, chato e cheio de vontades. Não tolerava pessoas como ele, que se achavam donas do mundo, mas como era um cliente, não poderia mostrar sua indignação abertamente.
Conseguira obter algumas informações sobre ele na Internet, quando voltaram do almoço. Pouca coisa havia. Parecia ser realmente excêntrico. Nascera na Romênia, mas fora criado em Praga, ainda na época do comunismo. Apesar disso não tivera problemas com sua arte por lá, o que se podia considerar no mínimo estranho. Talvez ele ou a família tivessem boas relações com os camaradas do partido. Após a abertura, viera para o Ocidente onde sua obra passou a ser reconhecida e suas telas passaram a render pequenas fortunas. Não encontrara nenhuma foto ou entrevista dele.
Pegou um táxi e deu o endereço da galeria na Alameda Franca. Desceu em frente a uma linda casa antiga, provavelmente reformada recentemente. A fachada havia sido mantida, bem como as portas de madeira pesadas. Apenas os “banners” nas laterais da entrada denunciavam ser uma galeria de arte: “Galeria Paole”.
A porta estava aberta. Pensou que ainda não estivesse aberta ao público, mas pelo visto estava enganada. Lá dentro, a penumbra predominava. Apenas as telas, em tons de vermelho, laranja e preto, encontravam-se iluminadas Elas eram impressionantes. Sophia olhou em volta e viu apenas três pessoas andando pelo imenso salão. Provavelmente curiosos em conhecer a galeria recentemente aberta. Não viu ninguém que pudesse ser o tal Stefan. Não havia uma recepcionista, o que denotava uma falha no local. Teria de alertar o senhor Paole a respeito disso.
Acabou por distrair-se olhando os quadros expostos. Tinha chegado mais cedo que o previsto, faltando ainda 10 minutos para horário combinado para sua reunião. Estava deslumbrada com as cores e as imagens que inundavam as paredes. Os traços ágeis criavam vultos que se uniam em pequenas multidões revoltas, explosões, fogo, perseguições. Tinham o poder de levar o observador mais atento até o núcleo de um país devastado e sofrido. Várias emoções podiam ser compartilhadas com o autor dos quadros. Começava a admirar o artista a quem ainda não conhecia pessoalmente. Foi quando estava diante de uma das telas maiores que ouviu uma voz muito próxima que a fez estremecer.
- O que achou destas pinturas?
Sophia estava tão encantada com a tela a sua frente que não fez questão de virar-se. Achou que era um dos curiosos que vira antes. A voz era rouca e muito agradável.
- Muito impressionante...
- Acho ele meio exagerado – sentiu algum sarcasmo na voz.
- O pintor deve ser muito sensível e sofrido.
- Como você chegou a esta conclusão?
- Pelos traços e cores usados e pelas imagens amarguradas que saem da tela.
- Você consegue ver tudo isto?
- Sim...
A voz silenciou, mas Sophia sentiu a presença mais próxima. Podia quase ouvir a sua respiração. Sentiu um novo arrepio ao escutar seu nome:
- Senhorita Caselli? Sophia Caselli?
Ela virou-se imediatamente, como que acordada de um devaneio.
- Sim? – perguntou, ao mesmo tempo surpresa diante da figura masculina que a interpelava.
Era um homem alto, de fartos cabelos negros e ondulados, pele muito clara, num rosto másculo, de lábios cheios, queixo marcado e os olhos verdes mais profundos e expressivos que ela já vira. Sentiu-se despida por aquele olhar, não só de suas roupas, mas de qualquer outra barreira. Era como se não pudesse esconder nada daquele homem. Não havia mais ninguém na galeria, além deles.
- Muito prazer. Eu sou Stefan Paole – apresentou-se, galantemente.
Imaginara-o mais velho, talvez uns 60 anos, mas aquele homem não tinha mais que 40. Trajava uma calca jeans escura e uma camisa preta, aberta, de forma a deixar entrever um peito forte e viril.
Refeita do susto, conseguiu responder:
- Muito prazer...Sophia.
- Eu sei... – ele sorriu, divertido.
Ela ruborizou. Claro que ele sabia quem ela era. Ele tinha um belo sorriso, também.
Recuperando-se do mal estar, perguntou:
- Bem, senhor Paole, onde podemos nos reunir para discutir a sua campanha?
- Vejo que tem pressa... Por aqui, por favor – respondeu, indicando a direção que deveriam seguir – Tenho uma sala privativa para este tipo de encontro.
Ela o seguiu. Observava como ele era elegante. Devia ter cerca de 1.90 m de altura e andava silenciosamente, como um felino. Levou-a até uma pequena sala nos fundos da galeria, onde havia uma bela e antiga escrivaninha de madeira de lei e duas poltronas de couro.
Ele indicou uma das poltronas e sentou-se na outra, atrás da mesa. Cruzou as mãos e fixou o olhar novamente sobre ela.
- Então, senhorita Caselli. Já tem alguma idéia para promovermos a minha galeria?
- Na verdade eu gostaria de saber quais as suas pretensões. O que o senhor gostaria de ressaltar na campanha.
- Em primeiro lugar, por favor, não me chame de senhor. Meu nome é Stefan. Apenas Stefan, para você.
Ela o olhou por alguns instantes, pensando se deveria pedir que a chamasse de Sophia, mas resolveu que senhorita era um termo melhor para mantê-lo a distância dela. Pelo menos nestes primeiros contatos, até ela conhecê-lo melhor. Teve certeza disso quando ele, inesperadamente, perguntou:
- A senhorita é noiva? – desviando o olhar para o anel de diamante que ela trazia em seu dedo anular direito.
- Sim – ela respondeu secamente.
- Onde ele está?
- Está em viagem de negócios – respondeu, sentindo-se incomodada com suas perguntas – Mas, senhor Paole, voltando a sua campanha, o senhor não respondeu a minha pergunta.
- Desculpe se pareço indelicado, mas não resisti. Perdoe-me... – desculpou-se lançando-lhe um olhar de sincera súplica – Como a senhorita deve saber, abri esta galeria com o intuito de expor minhas telas e dispor um espaço para a divulgação de talentos desconhecidos, sejam eles estrangeiros ou locais. Acredito que este seja um dos grandes atrativos da galeria. O inusitado, o desconhecido.
- Creio que podemos fazer folders para distribuição em hotéis, teatros, museus, livrarias e escritórios de turismo, para tentar atingir um público culto. Pelo menos para começar. Estes folders podem trazer fotos da galeria, de alguns de seus quadros e informações a respeito. Isto sem falar na divulgação na mídia, TV e FMs.
- Acho uma ótima idéia. – cortou-a, com grande sorriso e já se levantando, saindo de trás da escrivaninha.
- Não quer saber mais detalhes? – pareceu a ela que Stefan ficara repentinamente entediado com o andamento da conversa.
- Senhorita, eu a contratei porque tenho excelentes referencias a seu respeito e por isso sei que posso confiar plenamente no seu discernimento.
- Agradeço a sua confiança, mas preciso saber se minhas idéias correspondem aos seus anseios – ela não sabia se ficava lisonjeada pela confiança ou se irritada com a falta de vontade em ouvi-la.
- Realmente confio na senhorita – parecia estar respondendo aos pensamentos de Sophia, o que a fez ruborizar mais uma vez – Gostaria de conhecer minha galeria?
- Claro.
- Pretendo deixar as obras dos iniciantes no salão principal, que a senhorita já teve a oportunidade de conhecer. Tenho outro ambiente onde deixarei minhas telas a vista do público que por elas se interessar. Queira me seguir, por favor.
Sophia pensou que deveria ser o contrário, pois seus quadros certamente eram muito atraentes e atrairiam maior público que os artistas desconhecidos.
Foram na direção de um elevador, que os levou ao segundo piso da casa. Lá havia outro grande salão. Provavelmente ele mandara destruir as paredes que faziam a divisa entre os quartos e uma ou outra sala menor, ampliando desta forma o andar superior. Ainda mostrava sinais de reforma, com latas de tinta, escadas de madeira e fios de eletricidade expostos em vários pontos das paredes. A luz fraca vinha de um ponto no alto do teto e dava um aspecto lúgubre ao lugar. Provavelmente depois de tudo pronto ficaria muito bom.
- Vai haver algum recanto para uma coffee shop ou para as pessoas se reunirem?
- O arquiteto já planejou um local onde funcionará uma pequena cafeteria para receber os visitantes. Será no andar de baixo, onde era a cozinha original da casa. Já está quase pronta. Posso mostrar-lhe quando descermos.
- Isto é muito bom, pois é mais um conforto para os apreciadores de arte. Dependendo da qualidade do serviço, do café e acompanhamentos, pode virar um local de encontro interessante, um “point”, como dizem, o que torna a galeria ainda mais atrativa.
- Vou anotar este seu conselho. Vejo que você sabe desempenhar bem seu trabalho, por isto é tão conceituada no seu ramo.
- Quem indicou meu nome para o senhor?
- Um bom amigo, comprador de várias de minhas obras, o marchand Cyro Zimbro.
- Estranho. Não o conheço... – Sophia tentava revirar a memória para lembrar deste nome, mas nada havia registrado.
- Ele teve a indicacão de outros amigos, os quais eu não saberia citar o nome. Sinto muito.
- Não precisa desculpar-se. É só uma questão de curiosidade minha e possibilidade de agradecer a indicação. Não se preocupe.
- Mas de uma coisa posso assegurá-la: a senhorita e sua agencia gozam de uma excelente reputação.
- É muito bom saber disso. Obrigada.
- Podemos descer agora? Vou mostrar nossa futura cafeteria – Stefan deu um belo sorriso, mostrando os dentes brancos e perfeitamente alinhados. Ela começava a sentir-se segura com ele, considerando o local em que estavam. Apesar do linguajar polido, sem ser afetado, Stefan não lhe parecia prepotente ou esnobe, como tinha sido sua idéia original. Na verdade, ele era uma presença muito agradável e...sexy.
- Por aqui... - Ele a tocou de leve em seu ombro direito, o que a fez sentir uma onda de calor emanando do ponto do toque até suas coxas. Não conseguia entender o que aquele homem provocava nela. Por fora, estava tentando manter-se o mais profissional possível, mas por dentro sentia-se bastante perturbada.
Desceram no mesmo elevador, e seguiram para o espaço atrás do salão principal.
O arquiteto dele realmente devia ser muito bom. Conseguira criar um ambiente aconchegante onde antes era apenas uma cozinha velha. A nova cafeteria com certeza ficaria linda. Ela seria um dos pólos dentro da galeria, logicamente depois das telas de Stefan. Ele notou o ar de admiração dela e falou:_ Pelo jeito ficou satisfeita com o nosso trabalho.
- Realmente o seu arquiteto é um excelente profissional.
- Muito obrigado. Agradeço em nome dele.
Sophia notou um ar divertido na expressão de Stefan, e ficou tentando imaginar o porquê.
- O motivo de meu riso é que o arquiteto sou eu mesmo. Por isso me sinto envaidecido com o seu elogio.
- O senhor? É sério? – Continuava a ter a impressão de que ele conseguia ler seus pensamentos.
- Eu estudei arquitetura. A pintura sempre foi um robe, que acabou por tornar-me mais conhecido e ...rico. Assim, deixei meus estudos arquitetônicos de lado... até agora – ele parou por um momento e olhou-a de modo perturbador – Até quando você vai me chamar de senhor?
- Costumo tratar meus clientes desta forma. Acho mais profissional – ela começava a ficar agitada sob o olhar insistente de Stefan.
- Além de uma relação comercial, não podemos ser... amigos?
- Talvez... – balbuciou ela, quase hipnotizada pelos lindos olhos verdes – Bem, senhor Paole, foi um prazer conhecê-lo. Quando podemos nos encontrar novamente para que eu possa apresentar o meu projeto para a campanha e os folders?
Ele sorriu, divertindo-se com a maneira como ela tentava fugir dele.
- Que tal no sábado à noite?
- Sábado à noite? Esperava que nosso próximo encontro fosse em horário comercial – respondeu, surpresa.
- A senhorita acha que já terá conseguido todo o material necessário para demonstrar como pretende fazer a minha campanha? – seu tom de voz tornara-se mais ríspido.
- Sim, claro...
- Então, estamos combinados. No sábado, eu ligo para a senhorita para acertarmos os detalhes da nossa segunda reunião – em tom autoritário, Stefan praticamente encerrava a conversa, sem margem para discussões.
Pegou a mão direita de Sophia e depositou um suave beijo em seu dorso, o que a fez ficar ligeiramente tonta. “Este perfume...De onde eu conheço este perfume?”, pensou ela, por um instante.
- Se desejar, posso levá-la até em casa - sua voz tornara-se súbita e estranhamente doce.
- Não. De forma alguma. Consigo um táxi. Não precisa se incomodar – Sophia foi saindo, nervosa, fugindo, sem saber bem do quê – Até sábado, então.
Conseguiu chegar até a porta principal e saiu, sob o calor do olhar de Stefan.
- Até sábado – disse ele, mantendo uma expressão de quem estava se divertindo com a atrapalhação dela.
Continua amanhã...

2 comentários:

  1. Para tudo to passada, Rô q coincidência bárbara os lugares da sua estória, com a minha realidade...rss
    -Loja Aguiar(meu sobrenome),
    -Crise de rinite da Carol (eu tb tenho),
    -Bairro Jardins(onde trabalhei),
    -Alameda franca(3 quadras do meu ex-trabalho)
    Além do mix d Drácula 2000, com Crepúsculo na sua estória, estou reevivendo um Encontro Noturno real, simplesmente amei...rss
    Bjkas

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  2. Olha, Rô, acho que vc está retratando a vida como ela é, na grande maioria das vezes. Estou me dando conta que comigo tb é assim, tive um amadurecimento do juízo muito cedo e desde então venho dizendo a mim que há tantas coisas importantes a se fazer pelos outros que acabei por não dar ênfase as minhas próprias necessidades. Vixe, estou um tanto para Sophia, pena que nenhum bonitão surgiu para conduzir ao lado transparente da vida. Mas uma coisa é certa: as suas estórias, tão bem narradas com detalhes riquíssimos conduzem os meus pensamentos a lugares tão belos que enchem o meu espírito de luz.
    Amiga, eu necessito desse tal hálito quente percorrendo a minha nuca!!! E é engraçado essa coisa da Sophia ficar sendo assim rígida, até sem perceber ela dá sinais que se sente atraída por ele, já que não haveria problema algum em despachar as formalidades de senhor e senhorita em seu ramo de trabalho, até mesmo para dar base a uma relação de maior proximidade entre ambos... E, diga-se de passagem, se eu fosse ela... ai... ai... quando ele me dissesse para chamá-lo apenas de Stefan... eu lhe diria: pode me chamar apenas de “sua”... (hihihi).
    Beijinhos

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Cantinho do Leitor
Este cantinho está reservado para que coloquem suas críticas a respeito de meus romances e do blog. A sua opinião é muito importante para mim. Se tiverem alguma dificuldade em postar aqui, deixem mensagem na caixa de recados.
Beijos!