sexta-feira, 19 de junho de 2009

Anjo da Guarda - Parte III

Ainda tive o dia seguinte para ajeitar as coisas e para as despedidas. Foi emocionante sentir o carinho dos colegas e, principalmente de Guy. Até a Madonna, aquela safadinha, veio despedir-se de mim.
Já no meio da tarde, Gerry ligou-me para avisar que mandaria um carro me pegar em casa, na tarde do dia seguinte, às 15h, para levar-me ao aeroporto. Lá, ele estaria me esperando com as passagens. Tudo muito profissional. Tinha a impressão que o meu futuro chefe ficara mais frio e distante. Não... Devia ser apenas impressão. Acho que estava muito emotiva e, se alguém não se desmanchasse em carinhos comigo, acharia que esta pessoa não gostava de mim. Bobagem! Ele sempre tinha sido tão atencioso. Seria porque estava me "observando", como ele mesmo falou? Ah! Pára de analisar tanto a situação. Amanhã, vou estar dentro de um avião, ao lado de Gerry Butler, meu ídolo, a caminho dos EUA, para trabalhar ao seu lado. Yuhuuu!!!
Naquela noite, tive um sonho maravilhoso com ele.
"Havíamos chegado a Los Angeles e fui instalada numa suíte de um grande hotel. Sobre a cama encontrei um lindo vestido vermelho de seda, meias e um par de sapatos de cristal vermelho (referência à Cinderela? É possível), que, no sonho é claro, eram bastante flexíveis e confortáveis. Quando terminei de vestir-me, a campainha tocou e ao abrir a porta, lá estava ele, elegantemente vestido de smoking, alto, forte, com seus olhos verdes, mais brilhantes que nunca. Perguntou se poderia entrar. Assim, que a porta se fechou atrás dele, fui envolvida por seus braços, sentindo seu corpo emanar um calor intenso, que me fazia arder. Suas carícias foram me deixando quase sem ar e eu gemia como uma louca. Seus beijos foram descendo pelo meu pescoço, ávidos, molhados e quentes, procurando meus seios, que logo estavam em suas mãos grandes e calorosas. Depois das mãos satisfeitas, foi a vez da boca e dos dentes mordiscarem meus mamilos, fazendo-me arrepiar até o último fio de cabelo.
Minha genitália pulsava como nunca e parecia explodir, quando senti seus dedos a explorá-la, provocando uma grande onda de prazer. Senti o vestido ser arrancado, e, jogada sobre a cama, senti todo o peso daquele corpo másculo e vigoroso, já despido a esta altura, sobre mim."
Antes que o ato pudesse ser concluído, o telefone tocou. Era o serviço de despertar que eu mesma havia solicitado, antes de saber que teria aquele sonho delicioso. Eu estava acabada, quase como se tivesse acabado de transar sem finalizar. Apesar de não ter grandes experiências com homens, minha cabeça criava estas situações com Gerry com muita imaginação. E como.
Fui até o banheiro e olhei-me no espelho, coisa que não fazia com muita frequência. Nunca tinha sido vaidosa. Talvez estivesse na hora de ser. Agora, eu teria um objetivo. Conquistar o meu amor. Tinha sorte de ter pele e cabelos bonitos, ao natural. Os olhos azuis não precisavam de muito maquiagem para serem realçados. Eles eram grandes e vivos. Combinavam com os cabelos castanho-claros, longos e cacheados, que eu insistia em prender, sempre, criando uma imagem mais austera. Minhas roupas, em geral, não realçavam o meu corpo, minha cintura fina, os quadris arredondados e os seios proporcionais. Talvez eu devesse buscar uma consultora de moda em Los Angeles. Quem sabe? Eu teria de apresentar-me melhor em minha nova função, ao lado dele. O que diriam as pessoas sobre uma secretária de um ator famoso que se veste como um garoto? É, teria de rever os meus conceitos de moda.
Fiz minhas malas, com poucas peças de roupa, já pensando em remodelar meu guarda roupa. As ideias corriam soltas em minha cabeça. Quanta mudança.
Não consegui almoçar. Às 14:30h, o telefone tocou novamente. Era ele.
- Boa tarde, Claire.
- Oi, Gerry! Boa tarde!
- Você já está pronta?
- Sim, senhor!
- Ótimo! Estou passando aí para pegá-la em 30 minutos. Certo? Espere-me na entrada do seu prédio. Deixe-me confirmar o endereço.
Ele resolvera ir junto comigo para o aeroporto. Que bom! Juntei minhas bagagens, que não eram muitas - uma mala, uma sacola de couro grande e uma bolsa de mão -, fechei meu apartamento (sentiria saudades de minhas coisas) e desci para aguardar meu acompanhante. Uau! Como eu estava ansiosa. Meu coração parecia que ia saltar pela boca, quando o carro chegou e Gerry desceu para ajudar-me com as malas.
- Boa tarde! Como está a minha nova assistente? Pronta? - disse ele abrindo um largo sorriso, para meu alívio, pois estava preocupada com a frieza demonstrada nos últimos contatos.
- Sim, senhor! Prontíssima! - falei, apesar de toda insegurança que insistia em vir à tona a todo o momento.
- Então, vamos lá!
Seguimos para o aeroporto. Lá nos aguardavam um homem, um pouco mais velho que Gerry, e uma mulher, de aparência vulgar, espalhafatosamente vestida. Fui apresentada aos dois. O homem chamava-se Alex e, pelo que pude entender, era uma espécie de mordomo, que cuidava das roupas e acessórios de Gerry. A mulher chamava-se Jessica e, pelo que pude entender, era uma "amiga", aparentemente descartável, já que ele não demonstrou nenhum carinho por ela. Porque um homem como ele precisava andar com uma mulher daquelas? Isto eu não conseguia entender. Talvez ele pudesse explicar-me um dia.
No avião, fui sentada ao lado de Alex. Minha primeira decepção. Acreditei que fosse viajar ao lado de Gerry. Mas a premiada foi aquela perua de Natal. Que ódio!!
Para minha alegria, a mulher devia ser tão insuportável, que duas horas depois do avião levantar vôo, Gerry pediu para trocar de lugar com Alex.
- Por favor, Alex. Troque de lugar comigo, porque eu não aguento mais aquela mulher. Você me dá licença, Claire? - perguntou, dando aquele sorriso sedutor.
- Claro! Fique a vontade.
Depois de alguns minutos de silêncio, falamos, praticamente ao mesmo tempo:
- Podemos conversar? - e rimos da coincidência.
- Você fala primeiro, Claire. Quer me perguntar algo sobre o seu trabalho ou alguma outra coisa?
- É, eu tenho uma dúvida mais imediata. Onde vou ficar quando chegar em Los Angeles? Tem algum hotel ou apartamento próximo da sua casa onde eu possa ficar hospedada até alugar um lugar meu?
- Ah! Eu não lhe falei? Você não precisa se preocupar com isso. Você vai ficar no meu apartamento. Acho mais prático para o desempenho das suas funções, além de saber onde você está se precisar de alguma coisa.
Meu coração parou de bater por alguns instantes e o ar não queria entrar em minhas vias aéreas. Com muito esforço, consegui articular as palavras.
- No seu apartamento?? Mas eu pensei...
- O que você pensou? Não acha mais prático desta maneira? Vai facilitar muito o seu trabalho. Eu tinha falado sobre exclusividade, não? Quero você à minha disposição quando eu precisar.
Se eu estivesse ouvindo estas palavras de outra pessoa, pensaria que ele era um déspota, mas vindo de Gerry, consegui amenizar um pouco o impacto daquela situação, vendo até o lado positivo dela.
- Mas, você não acha que a minha presença vai tirar um pouco da sua privacidade?
- Não, creio que não. Além do mais o apartamento é bastante grande, o suficiente para ficarmos em áreas independentes. Você vê algum problema, Claire? Pareceu-me que você não ligaria para isso. Será que me enganei?
- N-não, claro que não. Por mim tudo bem. Se você não se importa, quem sou eu para dizer não.
Pensei ter visto uma pontinha de malícia naquele sorriso esboçado por ele.
Durante a noite, ele levantou-se várias vezes. Talvez fosse a falta do cigarro, pois era proibido fumar na aeronave. Levantou-se para ir ao toalete, para conversar com membros da tripulação e, até com a Jessica e com Alex.
Com esta atividade toda, não consegui dormir quase nada. E olha que eu estava cansada. Nosso vôo havia atrasado mais de três horas, tendo que aguentar a conversa de Jessica na sala vip, onde ficamos aguardando.
Finalmente chegamos a Los Angeles. Alex desempenhou suas funções, liberando as malas e resolvendo as questões rotineiras de alfândega.
Um luxuoso carro já nos aguardava para levar-nos para "casa". Para minha satisfação, Jessica foi despejada em seu apartamento, numa área menos charmosa da cidade. Depois de uma despedida seca de Gerry, seguimos para o que seria o meu novo lar.
Trinta minutos depois, estacionamos na frente de um lindo edifício em Beverly Hills.
O apartamento de Gerry realmente era enorme. Ocupava todo o 4º andar do prédio.
Ao chegar, fomos recebidos pelas duas empregadas: Rosa, a mais velha, responsável pela cozinha, e Maria, responsável pela limpeza. Ambas muito simpáticas.
- Maria, por favor, mostre a Srta. Claire o seu quarto e ajude-a a desfazer as malas.
- Não, pode deixar, imagina.
- Claire... Você deve estar tão exausta quanto eu. Portanto, deixe ela ajudar. Enquanto você toma um banho e relaxa, ela guarda suas roupas. Você precisa descansar. À tarde, combinei com a Tonya um encontro aqui, para vocês se conhecerem e trocarem informações, ok?
Estava me sentindo completamente deslocada naquele lugar, quase me arrependendo de minha decisão. Acho que era o cansaço. Depois de um banho e um bom sono, as coisas voltariam ao normal.
- Está bem. Aceito a ajuda. Realmente, estou super cansada. Não consegui dormir durante o vôo.
- Então está resolvido. Vou descansar também.
Surpreendentemente, ao dizer isso, veio em minha direção e beijou-me a face, sonolentamente, seguindo na direção do que deveria ser a sua suíte.
- Até mais, Claire.
- Até...
Desta vez, foi muito fácil pegar no sono. Não tive forças nem para vestir uma roupa de dormir, depois do banho. Caí naquela cama macia, enrolei-me nos lençóis brancos e perfumados, de puro algodão, e não vi mais nada.
Durante meu sono, pensei ter ouvido a porta do quarto abrir-se e senti alguém se aproximar da cama. Em minha sonolência, achei que poderia ser Maria que vinha me acordar ou arrumar alguma coisa. Mas, aquela presença, ficou apenas observando-me por algum tempo, que não soube definir quanto, para depois retirar-se, silenciosamente. Novamente, caí nos "braços de Morfeu" e só fui acordar quando Rosa entrou para avisar que a Senhora Tonya já estava a minha espera.
- A srta. quer ajuda para vestir-se?
- Não. Obrigada, Rosa. Pode deixar. Avise a sra. Tonya que já vou.
Rapidamente, levantei da cama, fui ao banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. Vesti a primeira calça jeans que me caiu na mão e uma camiseta branca mais justa . Dei uma ligeira escovada nos cabelos e fui ao encontro de Tonya. Quando entrei na sala, Gerry estava lá, de pé, junto a uma mulher de seus quarenta anos, loura, de aparência agradável. Senti o seu olhar surpreso, ao me ver, e notei um brilho diferente naqueles olhos verdes, que me fez estremecer. Parecia que ele estava me vendo pela primeira vez. Muito estranho, mas ao mesmo tempo, muito agradável.
- Ora, vejo que o descanso lhe fez muito bem, Claire .
Ao dizer isto, veio ao meu encontro, passando seus braços ao redor de meus ombros e apresentando-me à loura. Que sensação boa, poder sentir suas mãos me tocando.
- Tonya, esta é Claire, sua substituta. Espero que você a ajude nestes primeiros dias e mostre a ela como tudo funciona.
- Muito prazer, Claire. Gerry falou-me muito bem de você. Só não sabia que você era tão jovem e bonita. Tudo que eu puder fazer para ajudar neste início, farei. Pode contar comigo. O Gerry é um patrão meio exigente, mas tenho certeza que você vai conseguir desempenhar bem as suas funções.
- Bem, garotas, vou deixá-las a sós, para que possam conversar. Vou dar uma saída para caminhar. Fiquem a vontade. Até mais tarde.
Assim, que ele saiu, sentamos no confortável sofá da sala de estar. Tonya me olhava de um jeito estranho, que eu não conseguia definir o que era.
- Bem, Claire. O trabalho de assistente do Gerry não é tão difícil. Provavelmente vai achar mais tranquilo do que no estúdio do Guy. O Gerry é uma pessoa exigente, mas dentro dos limites de normalidade. Acho que você não terá problemas. Ele chegou a lhe dar uma idéia do que seria a sua função?
- Deu umas poucas pinceladas. Disse que teria de organizar a agenda dele, acompanhá-lo em alguns eventos, livrá-lo de algumas "frias". Enfim. Eu seria uma espécie de "anjo da guarda" . Falei sorrindo, pois esta imagem havia me agradado bastante.
- Mais ou menos isso. Vou lhe mostrar como funciona a agenda dele, deixar os telefones úteis, como dos agentes dele aqui e na Inglaterra. Terá que saber das preferências dele em termos de participação em eventos. Tem alguns que ele não participa de jeito nenhum. Outros , ele faz questão de ir. Tem também as instituições que ele ajuda, como a das crianças com câncer. Os contatos com os fã-clubes, tipo GBNet. Tudo isto vou repassar para você. Depois, o que você precisar de orientação, pode contar comigo. Vamos começar, então.
Ali, fiquei cerca de 2 horas, aprendendo como deveria realizar meu trabalho.
- Claire , acho que você vai desempenhar muito bem suas funções. Pode-se ver que você é muito inteligente e pega as coisas com facilidade... Claire?
- Sim? O que você quer perguntar, Tonya? Já senti, desde o início da nossa conversa que você está querendo saber alguma coisa e ainda não teve coragem de perguntar.
O que é?
- Pois é... É uma coisa muito pessoal, mas importante para o seu futuro convívio com o Gerry.
- Pois , então, pergunte!
Eu já estava ficando preocupada com aquilo. Será que ela tinha descoberto que eu era super fã dele e achava que isto seria ruim para o meu desempenho?
- Claire, por acaso você é lésbica?
- C-c-como? – quase cai para trás, não fosse o encosto do sofá, que evitou uma queda ao chão.
- Desculpe perguntar assim, mas é que o Gerry passou uma imagem sua que não condiz com o que estou vendo e percebendo. Você não leva nenhum jeito de homo.
- O Gerry te passou que eu era lésbica?? Mas, como?? De onde ele tirou isto?
- Bem... O que ele me disse é que você se vestia como um garoto, que nunca demonstrou interesse por ele. Como homem, quero dizer. E, sendo ele , o homem em questão, você há de convir que é , no mínimo estranho. Ele está acostumado com as mulheres tentando seduzi-lo o tempo todo. Parece que você estava sempre distante, ao lado dele. De certa forma, isto o irritou um pouco. Acho que afetou o seu ego. Aqui entre nós... Até que é bom ele ser um pouquinho desprezado, para não ficar tão presunçoso.
- Tonya, pois eu vou te contar uma coisa. Se você quiser contar para ele, depois, achando que eu não posso assumir este trabalho , eu não me importo. Eu sempre fui uma grande fã do Gerry. Tive a idéia de procurar este emprego com o Guy Ritchie por causa do Gerry, pois eu sabia que ele estaria no elenco. Venci meus medos e fui à luta. Sem querer, chamei a atenção dele e, consequentemente, ganhei este emprego. O que ele denominou de indiferente no meu comportamento, foi o meu esforço para não me jogar no seu pescoço. Talvez eu tenha exagerado um pouco no meu "disfarce". Foi tão bom, que ele achou que eu não gostava de homens. Bom, pelo menos, já sei que , se não der certo na carreira de administradora, poderei pensar numa carreira de atriz.
- Claire, não se preocupe, que eu não vou dizer nada a ele. Acho que você vai ser uma ótima assistente, apesar de fã. Você tem conseguido separar as coisas até agora. Espero que consiga continuar assim.
Neste momento, a porta da entrada se abriu e Gerry entrou, voltando da sua demorada caminhada.
- A gente termina o nosso assunto outra hora, Claire. Mas não se preocupe, que tudo vai sair bem. Além do mais, acho que você vai poder tirar proveito daquele "mal entendido". Ela falou quase cochichando, para Gerry não ouvir.
- Olá, meninas! E então? Entenderam-se? Resolvi demorar um pouco mais, para dar um tempo maior para vocês poderem conversar.
- Oi, Gerry! Foi muito proveitosa a nossa conversa. Não é mesmo, Claire?
- Acho que sim.
- Gerry, você não podia ter escolhido melhor substituta para mim. Tenho certeza que você vai ficar muito satisfeito com o trabalho da Claire.
- Que bom saber que você a aprovou, Tonya... Bem, vou tomar uma chuveirada. Que tal almoçarmos os três juntos? Estou morrendo de fome.
- Ah, Gerry! Infelizmente não vou poder. Combinei com o John de almoçar com ele. Não esqueça que hoje é sábado e o dia de folga dele. Claire, querida! Foi um prazer enorme te conhecer. Tem o meu telefone. O que precisar de mim, pode ligar. A qualquer hora, para qualquer assunto - deu uma piscada de olho, sem que Gerry percebesse e um abraço carinhoso.
- Vejo que se entenderam muito bem - lançou um olhar desconfiado para Tonya.
- Gerry, querido, sabe que continuo sua amiga. O que precisar de mim, pode ligar, ok?
- Claro! Pode deixar. Após uma breve troca de beijinhos, despediram-se e Tonya foi embora.
- Então... Agora somos só nós dois - disse isso com um brilho de sedução e, ao mesmo tempo,brincalhão, no olhar. Não sei como ele conseguia fazer isso. Senti um calor subindo ao meu rosto e tive de virar-me, para que ele não percebesse o meu rubor.
- Pois é. Acho que vou tomar uma ducha e aprontar-me para o almoço. Depois, se você não se importar, vou aproveitar para conhecer um pouco da cidade.
- Aí, eu faço questão de levá-la para passear por Los Angeles, se você não se importar.
- Claro que não. Eu vou adorar!
Achei que tinha exagerado um pouco na entonação do "adorar", pois vi um lampejo de esperança naqueles olhos verde-azulados. Resolvi sair rapidamente, dizendo um "até mais, então!".
Voltei ao meu visual de garoto, desta vez com a nítida intenção de me divertir com aquela situação. Lembrei das últimas palavras de Tonya, dizendo que eu poderia tirar proveito daquele engano. Não sabia bem o que estava fazendo, mas poderia ser divertido. Já tinha decidido procurar uma consultora de moda, para tentar mudar este visual, mas até lá, brincaria um pouco mais com Gerry. Agora, quase podia entender as crises de frieza, alternadas com os beijinhos sem graça, que começaram depois do nosso primeiro almoço em Londres. Será que ele tinha sentido atração por mim, no início, e, eu , com minha aparente indiferença, o tinha afastado com a idéia de que eu era gay?? Ele pode ter criado esta fantasia para explicar a rejeição de uma mulher que o havia interessado... Será?? Ah, Claire! Não fica inventando coisas. Depois pode "cair do cavalo", descobrindo que ele está dando graças a Deus de não precisar seduzir alguém tão sem graça quanto você... Ai... Nessas horas, precisava do Sig, para não deixar baixar tanto a minha auto-estima, de novo... Cabeça erguida, Claire! Vá em frente e seja o que a Santa Marylebone quiser.

Entramos no carro. Desta vez, ele nem fez questão de abrir a porta para eu entrar. Seguimos para um restaurante chamado "Dish", ao norte do centro de Los Angeles, onde serviam comida caseira americana, só que de forma requintada. O lugar era lindo. Parecia uma casa típica dos EUA. Na entrada, um lindo sofá de madeira, verde, com almofadas bordadas. O piso de tabuão, de madeira escura, mesas e cadeiras estilo country, paredes e teto de cor branca, com muitos detalhes. Uma imensa lareira de pedra, na parede lateral, com a bandeira americana sobre ela.
- Gostou daqui?
- Achei lindo. Se a comida for boa, já tenho um lugar preferido por aqui.
- É. Já vim aqui umas três vezes e nunca me arrependi.
Ele se dirigiu ao recepcionista e solicitou uma mesa de dois lugares. Logo, fomos encaminhados para perto de um janelão, onde se podia ver o jardim da "casa". Muito agradável. O ambiente era bem familiar, cheio de casais e seus filhos. Não era bem o tipo de restaurante que eu esperava que ele me levasse. Em todo o caso, gostei da escolha.
O almoço estava ótimo, em termos culinários, e superficial, em termos de conversa. Às vezes eu sentia que ele queria tentar uma aproximação mais íntima, mas logo desistia. Insegurança? Desmotivação?
Depois de almoçarmos, fomos passear pela cidade. Fomos a Hollywood, onde ele mostrou-me os estúdios mais famosos e algumas mansões de "colegas" de profissão. Quase no final do nosso tour, ele se dirigiu às praias, que estavam repletas, pois estávamos em pleno verão. Não resisti a brincar mais um pouco, e resolvi comentar a respeito das garotas de biquíni que passeavam por ali.
- As mulheres daqui são bem bonitas, você não acha?
- Algumas. A maioria é muito artificial. Tirando a maquiagem e o silicone, não sobra muita coisa - falou com ar sério e, visivelmente, chateado com aquele assunto.
- Você costuma admirar mulheres ? Homens, não?
Estava me segurando para não rir da cara que ele estava fazendo.
- Acho que ambos tem seus encantos. O que é belo é para ser visto, você não acha?
- Bem, eu não costumo olhar para homens e pensar neles como belos ou não.
- Você é preconceituoso, Gerry? Achei que os atores normalmente não deveriam ser assim, já que às vezes pode pintar um papel de homossexual nos roteiros.
- Não! Não sou preconceituoso. Tenho vários amigos gays. Não é isso. Simplesmente não sou atraídos por homens. Entendeu?? Por que este assunto, agora?
- Porque você está tão defensivo? Se esta conversa te desagrada, vamos trocar de assunto. Eu não queria te chatear... Me desculpa? – fiz o meu olhar mais doce possível e senti que ele reagiu com um certo arrependimento.
- Eu peço desculpas, Claire. Este assunto realmente me incomoda... É que desde que cheguei aqui e comecei a aparecer, a imprensa local insisti em querer saber minhas preferências sexuais e, frequentemente, insinuam que eu posso ser gay. É por isso que não gosto de falar nisso. Está explicado?
- Claro! E... você não é... É?
Depois de ter feito esta pergunta, arrependi-me profundamente. Havia ido longe demais.
- Claire!!! É claro que não!!!
Ele estava furioso com a minha insinuação. Tentei amenizar a conversa, dizendo:
- Perdão, Gerry! Eu estava brincando. Não queria te deixar tão furioso.
- Eu não estou furioso! E chega desta conversa ! É melhor a gente voltar. Outra hora, eu posso te apresentar para alguns amigos gays, que vão te mostrar a cidade de uma forma mais agradável para os seus olhos - disse isto lançando um olhar cheio de raiva.
Eu tinha passado dos limites. Só pensava numa maneira de voltar atrás. Ele estava me odiando. O que eu tinha feito? Tive de segurar o choro durante todo o percurso de volta para Beverly Hills.
Chegamos lá, fui largada na frente do prédio, com uma cópia da chave do apartamento nas mãos. Depois de um "até logo” seco, Gerry saiu com o carro, em alta velocidade. Aí, desabei em lágrimas. Mal cumprimentei o porteiro, e entrei no elevador quase correndo. Fui direto para o meu quarto, pensando em fazer minhas malas e voltar correndo para casa. Porque eu tinha feito aquilo? Tinha que ter alguma explicação. Eu estava afastando a pessoa que eu mais amava... Por diversão??? Estúpida!! Burra!! Idiota!!! Não conseguia parar de soluçar, sem importar-me se alguém ouviria ou não.
Depois de quase 20 minutos, chorando sem parar, resolvi que deveria ligar para o Sig e pedir uma orientação. Eu estava completamente perdida. Conseguindo controlar meus soluços, peguei o telefone e liguei para Sig. Ao ouvir sua voz do outro lado da linha, já comecei a ficar mais tranqüila.
- Alô?
- Sig? Sou eu, Claire!
- Claire!! Que surpresa! Como você está? Não resistiu a saudade e já quis ligar ou está com algum problema?
- Ah, Sig, desculpe estar ligando tão cedo, para te incomodar com as minhas bobagens, mas... – pensei que o choro fosse voltar.
- Não se desculpe, Claire. Apenas, fale.
Contei tudo que havia acontecido, desde a conversa com Tonya até o desentendimento com Gerry, em uma torrente de palavras que deve tê-lo deixado tonto, lá em Londres.
- Calma, Claire. Tente se acalmar. Respire fundo... Você está fazendo uma tempestade num copo d'água. Não vá desistir de tudo que você conseguiu até agora. Pense nos seus objetivos iniciais. Se você realmente quer este cara, se acha que ele vale a pena, vá atrás. Não fuja agora, por uma discussão boba. Além do mais, tem um bom emprego em jogo. Você mesma disse que muitas matariam por ele, não? Respire fundo e continue. Você pode desfazer este mal entendido, na hora que quiser. Você está me ouvindo, Claire? Claire??
- Estou... Estou ouvindo. Você tem razão. Não vou fugir, a não ser, que ele me dispense.
- Enfrente os acontecimentos. Não meta a cabeça num buraco, de novo.
- Está bem, Sig. Já estou me sentindo melhor. Pode deixar. Não vou desistir fácil. Obrigada. Foi muito bom falar com você. Fico devendo esta sessão telefônica.
- Ligue, se precisar, ok? Um abraço!
- Outro, Sig. Obrigada!!
Sua voz e suas palavras fizeram meu raciocino voltar ao normal. Eu não podia enfraquecer agora, por causa de um mal entendido e uma discussão idiota.
Fiquei em meu quarto, já mais calma, imaginando qual seriam meus próximos passos. Provavelmente teria de conversar com Gerry para acertar nossos ponteiros. Se ele não quisesse mais meus serviços, aí estaria tudo acabado. Mas se, ao contrário, eu teria de agir com cuidado para não afastá-lo completamente de mim. Seria insuportável não ter, ao menos, a sua amizade.
Já era quase noite, quando Rosa veio bater em minha porta.
- Já estou indo embora, srta. O Sr. Butler pediu-me que lhe avisasse que gostaria de conversar, lá na sala.
Abri a porta e vi uma Rosa com olhar muito preocupado.
- Ele está aí??
- Sim , Srta - baixando um pouco o nível da voz, perguntou:
- A srta. está bem? Não quer um copo de água? Conversar?
Ela havia escutado o meu choro.
- Não, Rosa. Obrigada pela sua preocupação, mas já estou bem. Pode ir tranquila para casa.
- Então, está bem. Até amanhã, então. Fique com Deus.
- Até amanhã, Rosa.
Fechei minha porta e fui ao banheiro lavar o rosto. Resolvi por um pouco de maquiagem para disfarçar as papuças debaixo dos olhos causadas pelo choro. Troquei o camisão por uma blusa mais leve e menos larga. Respirei fundo, dei mais uma olhada no espelho e abri a porta. Dirigi-me para a sala com as pernas ligeiramente trêmulas, com medo do que eu ia enfrentar.


Prometo postar ainda hoje a 4ª parte de Anjo da Guarda. Até mais...
PS: Calma, meninas... rsrsrs

3 comentários:

  1. Eis-me aqui, sua amiga chorona!!!!!!!!!!
    ARRE! PELAMORDEDEUS, não faça como as redes de TV que não passam os capítulos de novelas aos domingos!
    RONASE, vc está em casa! Não saia sem colocar um fim no meu sofrimento sua torturadora! kkkkkkkkkk
    I Love You!

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  2. Jezuis me abana...vou ter um sirícútico agudo, q sonho trabalhar com esse monumento, mas o cómico é a Claire se passar por lésbica...me estribuchei d rir...rss!
    Rô continua assim logo, logo vai chover editoras atrás de vc.
    Bjkas

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  3. Menina, mas que confusão... O Gerry achando que ela era lésbica... tadinho do nosso amore, deve ter ficado contrariado em seu ego.
    Vixe, pior é que às vezes, numa brincadeira tola, a gente acaba mesmo passando dos limites e estraga tudo... mas é que não dá pra imaginar o que se passa na cabeça dos outros e aí, quando a gente vê, danou-se tudo.
    Imagino o coitada da Claire deve ter sentido, estar num local estranho, tendo ao seu lado o homem dos seus sonhos e imaginar que por uma imprudência, acabou estragando tudo. Se fosse eu, choraria até desmaiar, nem muita maquiagem iria conseguir esconder o inchaço dos meus olhos...
    Beijinhos

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Cantinho do Leitor
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