quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte final)

As duas primeiras semanas em Paris pareceram intermináveis e tristes. Depois da primeira noite, em que, após acomodar Victor em sua cama, chorou durante várias horas relembrando as revelações de Cássia e a cena que presenciara no quarto de Robert, decidiu que começaria uma nova vida. Vida... Era uma palavra nova em seu vocabulário. Buscava abafar seus medos em relação ao futuro, receios de como seria tentar ser humana, se Victor conseguiria adaptar-se à nova alimentação... Ao lado de todas estas incertezas, descobrira um grande amigo em Cyro Zimbro. Até então ele não passava de um marchand, que raramente via pessoalmente, e que a ajudava com a exposição e a venda de suas telas. Este seu trabalho agora seria muito conveniente, pois seria destas vendas que tiraria o seu sustento e o de Victor, como qualquer pessoa normal. Às vezes tinha a impressão que Cyro conhecia a sua verdadeira natureza, mas era discreto o suficiente para não incomodá-la com perguntas intrometidas a respeito de sua decisão de morar na capital francesa. A primeira vista era um homem estranho, calado, de idade indefinida. Talvez algo em torno de 50 e 60 anos. Não era muito alto para os padrões masculinos, tinha cabelos pretos e lisos, cortados bem curtos, um olhar manso em olhos castanho-claros, um nariz aquilino, sobre uma boca de lábios finos, que raramente sorriam. Não tinha certeza de sua nacionalidade, mas falava em francês sem sotaque algum. Mas nos últimos dias tinha demonstrado tal diligência com Luísa, que se tornara uma presença que lhe transmitia segurança. Talvez estivesse projetando nele o pai que não tivera. Aquele que lhe fora arrancado tão prematuramente...
Logo que começou a tentar modificar o tipo de alimentação, foi invadida por cólicas terríveis, dor de cabeça, náuseas e fraqueza geral. A sensação de “fome” a perseguia, sem nunca conseguir realmente satisfazê-la. Sabia muito bem o que seu organismo exigia e tentava não pensar sobre isto nem demonstrar suas dificuldades para o filho. Felizmente, com Victor o quadro era diferente. Ele parecia estar se adaptando facilmente à dieta vegetariana imposta pela mãe. Não se queixava, apesar de às vezes aparentar certa fraqueza. No geral parecia um pouco mais corado que antes. Silenciosamente, ela torcia para que ele pudesse ter uma vida normal como qualquer menino comum da sua idade. Talvez por ser muito jovem e com uma genética mais humana que hematófaga, ele conseguisse se adequar aos novos hábitos. Envolvida com tantas mudanças e preocupações, sobrava pouco tempo para pensar em seus próprios sentimentos. À noite, no silêncio do apartamento, sem as constantes perguntas, choramingos e risadas de Victor, seus pensamentos voavam para Robert e as lágrimas voltavam a rolar em sua face. Pensava que talvez tivesse sido precipitada em relação a ele. Já sabia que Lisa era sua amiga e, certamente, em algum momento, tinham tido alguma “história” juntos. Ela não era ingênua a ponto de descartar este fato. Entretanto, tinha acreditado em Robert quando ele falou que Lisa e ele tinham representado, naquela noite no hotel, estar mais envolvidos para despertar ciúmes nela. Porém, durante a cena que vira no quarto, eles não sabiam da presença dela. No fundo tinha esperança de estar enganada e que, no desespero em que estava, seus olhos tivessem lhe pregado uma peça. Mas preferia não pensar mais nisso. Talvez o melhor fosse continuarem como antes. Ele tinha a carreira dele e uma mulher - vampira e um filho certamente o atrapalhariam, refletiu com amargura.


Se fosse possível o silêncio fazer eco, isto é o que se ouviria entre as paredes do castelo de Mircea. Cássia sentia o peso da eternidade em suas costas, como nunca sentira antes. Pensava muito em Luísa, desde que ela partira, levando o pequeno Victor. Compreendia a revolta que desencadeara em sua filha adotiva ao contar sua verdadeira estória, mas isto não a impedia de sentir falta da sua presença, de suas conversas, do seu carinho. Talvez um dia as coisas pudessem voltar a ser como antes. Um dia... Cerca de uma semana depois daquele dia de revelações, a equipe de Will Fetter partira para Londres, a fim de continuar o trabalho de produção do seu filme. Juntamente com eles, seguiram Robert, que prometera encontrar Luísa e conversar com ela. Esperava conseguir convencê-la a ficar com ele. Acreditava que poderia explicar o mal entendido ocorrido. Disse que a amava muito e que faria de tudo para tê-la junto a ele. Estas declarações do humano a fizeram admirá-lo um pouco mais e perceber alguns dos motivos que levaram Luísa a apaixonar-se por ele. Contudo, a ausência que mais sentia era a de Arnold. Ele viajara de volta para a Grécia três dias depois da saída de Luísa, com a promessa de que voltaria o mais breve possível, trazendo os romenos sobreviventes da época em que Vlad declarara a extradição de seus oponentes. O orgulho e um certo medo os mantivera afastados todos estes séculos, mas agora, com o convite da última descendente da nobre família e o aval de Arnold, que certificara-se da falta de hostilidade contra eles, poderiam voltar a viver junto às suas raízes. À família Tepes ainda pertenciam muitas terras, que eles poderiam ocupar e refazer suas existências. Com Arnold, também se foram Eric e Cristopher, levando consigo Gabriele e Monique, respectivamente. Obviamente Lana também os acompanharam rumo à Grécia, onde planejariam o seu futuro como casais. Era uma nova geração de sua espécie, que ela tanto sonhara nas horas em que acreditava que tudo estava acabado. À exceção de sua relação com Luísa, tudo parecia estar se encaminhando para uma boa resolução. Arnold não prometera nada. Os dias que passaram juntos foram inesquecíveis, mas ela preferia não nutrir falsas esperanças de tê-lo ao seu lado. Toda sua família estava em Santorini. Sabia que seria difícil para ele uma mudança tão radical, já que ela sentia o mesmo em relação a si mesma. Não conseguiria viver longe de seu castelo, sua terra, suas lembranças. Por isso, não ousou pedir-lhe tamanho sacrifício ... O verão logo chegaria ao fim e os ventos frios do norte voltariam a castigar a região. Sentada numa confortável cadeira no terraço da mansão, com o entardecer num céu encoberto por nuvens e alguns tênues raios de sol brigando entre elas para despejar um pouco de seu derradeiro brilho sobre os campos e matas, Cássia fechou os olhos e suspirou resignada com sua situação de solitária.
Não saberia dizer quanto tempo ficou assim até que despertou de suas divagações ao sentir-se observada por alguém. Como num sonho, forçou-se a abrir as pálpebras pesadas e, diante do que viu, sentiu-se transportada a outro sonho.
- O que faz a minha bela dama solitária a dormitar aqui ao relento?
Só então percebeu que a noite já caíra e que tinha pego no sono. Ou será que ainda estava sonhando e imaginando que Arnold estava à sua frente, com um lindo sorriso, brincando com ela?
- Arnold? – perguntou sonolenta.
- Quem mais você estava esperando? Será que tenho algum rival que desconheço, competindo por seu amor? – dizendo isso rindo, ajoelhou-se diante dela e continuou, com expressão apaixonada e mais séria – Não consigo mais ficar longe de você. Estes últimos dias de separação foram uma tortura para mim. Espero que você permita que eu fique...
Cássia sorriu e dobrou-se para frente, com a mão estendida até tocar o rosto dele e ter certeza de que a imagem a sua frente não era apenas fruto da sua mente angustiada.
- Eu estava esperando por você... Apenas por você. Quanto a ficar aqui... É o que mais desejo desde que o vi partir.
Ao ouvir estas palavras e ver o fulgor no olhar de Cássia a buscá-lo, Arnold levantou-se, enlaçando-a pela cintura e forçando-a a levantar-se também, enquanto a trazia para junto de si e buscava seus lábios, que prontamente o receberam sedentos do seu gosto.
- Tive medo que não voltasse a vê-lo.
- Quando disse que haviam vários romenos exilados querendo voltar às suas origens, incluí a mim mesmo. Ainda tinha algumas dúvidas sobre este retorno e se era isso que eu queria realmente, mas depois que a conheci minha certeza consolidou-se. Só preciso do seu aceite para ficar.
- Ainda tem dúvidas se o quero? – perguntou Cássia sedutoramente.
- Preciso me certificar muito bem disso...
- Se quiser posso assinar uma autorização para você – murmurou, aproximando sua boca dos lábios de Arnold, mais uma vez – Posso assinar aqui de novo?
Ele sorriu, lembrando da primeira vez em que a beijara.
- Sem dúvida alguma.
Qualquer tristeza que amargurasse o espírito de Cássia foi esquecida ao perder-se no beijo e nos braços de Arnold Paole.


Estava ansiosa. Acabara de deixar Victor na escola infantil que existia próxima ao apartamento onde estavam morando. Tinha visto o receio em seus olhinhos, mas logo a coragem que era característica de sua personalidade tomou posse e ele juntou-se aos novos colegas da mesma idade. Andava se queixando da separação de Lana, tristonho, sem saber o que fazer com a saudade que sentia de sua parceira de aventuras. Isto tinha sido uma das causas que tinham levado Luísa a procurar um lugar com crianças da idade dele, com quem pudesse brincar. Outro motivo era a introdução de seu filho na sociedade dos humanos, da qual pretendia fazer parte. Suas esperanças de que isso pudesse tornar-se realidade aumentava a cada dia, com o cessar de seu mal-estar e a crescente adaptação à nova dieta alimentar. Ainda tinha suas crises de “fome”, mas já eram menos frequentes e mais brandas.
Preparava-se para ir à galeria para falar com Cyro a respeito do aluguel de um pequeno estúdio onde pudesse trabalhar em suas telas, já que no apartamento não tinha espaço suficiente para isso, quando se surpreendeu com o toque da campainha. Cautelosa, foi até a porta e perguntou quem era. Na falta de resposta, permaneceu tentando escutar algum movimento, quando novo toque se deu, estremecendo-a. Armou-se de ânimo, empertigou-se e abriu a porta com presteza. Ao verificar que o dono do chamado em sua entrada era Robert, tentou voltar atrás e fechar a porta com a mesma presteza com que a abrira, mas não conseguiu, pois ele evitou a ação interpondo seu braço e o pé esquerdos na abertura.
- Luísa, nós precisamos conversar – clamou enquanto os olhos brilhavam dentro de uma expressão de quase desespero – Por favor, deixe-me entrar – suplicou.


Diante daquele olhar de súplica, nos olhos azul-esverdeados que ela tanto amava, as forças para lutar contra ele logo se esvaneceram e ela acabou por afastar-se da porta, permitindo que ele entrasse.




Sua vontade era de tomá-la em seus braços e declarar o quanto sentira a sua falta e o quanto a desejava, mas conteve-se, com medo de ser repelido e acabar com qualquer chance de reconciliação. Com a permissão de Luísa, entrou na sala modesta, mas aparentemente confortável, e ficou esperando por ela para sentar-se em uma das duas poltronas que havia ali. Porém o convite para tal não foi feito e ele permaneceu de pé. Ela parecia mais magra, mas com um leve rubor nas maçãs do rosto.
- Como você me encontrou aqui? – perguntou em tom nervoso.
Robert, antes de responder, olhou em torno a procura de Victor, o que foi notado por ela.
- Victor não está. Por favor, fale logo a que veio e saia – disse com voz enfraquecida.
- Estou a procura de vocês desde que me abandonou em Mircea sem explicação alguma. Cássia nos contou sobre a conversa que manteve com você e imagino o que você deve ter sofrido com as revelações dela. Por que não me procurou? Eu já estava praticamente recuperado do incidente com o lobo e não havia motivo para negar o meu consolo numa hora difícil como esta. Eu queria estar ao seu lado para tentar minimizar o seu sofrimento... Só queria entender por que fugiu de mim também.
Luísa engoliu em seco e quase esqueceu o motivo que a levara à atitude que a afastou de Robert diante daquela declaração.
- Eu o procurei, Robert. Eu o procurei e o encontrei na cama, nos braços daquela mulher, aos beijos – disse com repentina raiva contida.
- O quê? Luísa, você devia estar meio cega pelo seu desgosto para ver uma cena como esta – exclamou surpreso, mas comprovando suas suspeitas – Naquele dia, Lisa foi me visitar, pois soube do acidente. Você deve ter chegado na hora em que ela se despedia e debruçou-se sobre mim para me dar um beijo de amiga, no rosto. Tente lembrar bem do que viu. Você imaginou uma cena romântica entre nós que não existiu.
Notou que ela vacilou por alguns instantes e aproveitou-se disso para aproximar-se e pegar na sua mão.
- Luísa, tem que acreditar em mim. Por favor... – falou enquanto começava a levar sua mão aos lábios.
Prontamente, ela retirou a mão dentre as dele e recuou.
- Pode ser que eu tenha me enganado no que pensei ter visto, mas aquilo serviu para que eu enxergasse que é impossível mantermos um relacionamento. Você tem a sua carreira, tem a sua liberdade para ter todas as mulheres normais que quiser... Não precisa ficar preso a mim. Eu permitirei que veja o seu filho quando quiser. Não o usarei para mantê-lo junto a mim – despejava aquelas palavras sem conseguir olhá-lo nos olhos, pois sabia que não conseguiria dizer tudo sem fraquejar se o encarasse.
Robert mais uma vez tentou a aproximação e, antes que ela recuasse novamente, segurou-a pelos ombros e falou carinhosamente:
- De onde você tirou estas idéias ridículas de liberdade e de obrigação de ficar com você por causa do Victor? Luísa, eu te amo. Mesmo não lembrando quem você era, depois que forjou a minha perda de memória, eu continuei a amá-la todos estes anos, nos resquícios de minhas lembranças daqueles dias na Grécia. O que eu preciso fazer para que você acredite em mim? A minha vida só valerá à pena daqui em diante se você estiver ao meu lado, Luísa.
Ela finalmente ergueu a cabeça na direção dele, buscando a confirmação de suas palavras em seu olhar. E ela encontrou o que procurava no brilho apaixonado de seus olhos.
- É a primeira vez que você diz que me ama...
- Então será a primeira das milhares de vezes que vou repetir, para que você não esqueça nunca: “Eu te amo”... – disse ternamente, rodeando a cintura dela com os braços, beijando-a com paixão e sendo correspondido plenamente.
Foram interrompidos pelo som insistente do celular de Robert. Ele afastou-se de Luísa sorrindo e disse:
- Acho que esqueci de alguém me esperando lá embaixo – falou ao atender o telefone – Oi, Lisa.
- Lisa?? – exclamou Luísa com evidente e desgostosa surpresa.
- Está tudo certo... Quer falar com ela?... Está bem – respondeu a sua interlocutora e ofereceu o aparelho para que Luísa pudesse falar.
Ela o pegou hesitante e acabou por colocar em posição de escuta.
- Alô?
- Luísa, minha querida! Fico muito contente que vocês tenham se acertado finalmente. Eu vim junto para o caso de ter de dar o meu testemunho sobre qualquer mal-entendido que tenha acontecido entre nós. É preciso que você saiba que ele está realmente apaixonado por você e que eu estou muito feliz com isso. Desculpe se interrompi alguma coisa, mas achei que ele havia esquecido de mim e realmente preciso voltar para o hotel correndo, pois o Will ficou de me pegar para almoçarmos juntos logo mais.
- Obrigada, Lisa...
- Adeus, Luísa, e cuide bem do moço aí ao seu lado.
- Adeus... – despediu-se e logo ouviu o clique e o silêncio do outro lado.
- O que ela falou? – perguntou Robert curioso.
- Disse para eu cuidar de você - disse sorrindo e entregando o celular de volta ao proprietário – Ela também falou que ia sair para almoçar com Will.
- Pois é. Sabe-se lá como, mas em meio a várias discussões, acabaram por descobrir pontos em comum e resolveram tentar, digamos, se conhecer melhor. Inacreditável, não? – disse rindo – Mas, voltando ao nosso assunto, referente àquela parte da sua conversa com a Lisa, sobre cuidar bem de mim. Que tal começar agora? – insinuou com um sedutor sorriso, mas parou subitamente, como se tivesse lembrado de alguma coisa – E o Victor? Ele não está mesmo em casa?
- Não... Ele está na escolinha do bairro... Tenho muito que contar sobre estes últimos dias.
- Depois você me conta. Agora quero matar a saudade... – falou com a voz enrouquecida pelo desejo e, ávido, buscou a boca de Luísa.
Aliviada por saber que estava enganada a respeito de Robert e mais confiante em seu futuro junto a ele, agarrou-se ao seu pescoço e perdeu-se naquele beijo, como se fosse a primeira vez. Perdeu-se na volúpia que experimentava toda vez que ele a tocava, quando aquelas mãos percorriam seu corpo, arrebatando-a para um mundo só deles, onde os problemas se diluíam e só o prazer era presente. Ele a possuiu ali mesmo na sala, com urgência, ansioso por unir-se a ela mais uma vez, numa necessidade que crescia a cada instante, a cada dia, e que provavelmente nunca teria fim. Era algo mais que o simples desejo carnal. Era o levitar, o retorno ao lar, o conforto, o fim da procura...

Saíram do apartamento cerca de duas horas depois de seu reencontro, alertados por Cyro Zimbro que telefonou para Luísa, preocupado com sua demora em encontrá-lo no local onde seria o seu novo estúdio. Robert a acompanhou. Queria conhecer este misterioso marchand que a acolhera de forma tão paternal, conforme ela lhe contara entusiasmada. No fundo ficara com ciúmes e queria confrontá-lo e saber se esta amizade era totalmente desprovida de outras intenções. Também estava ansioso com a segunda parte de seu passeio. Eles buscariam Victor na escola e contariam que ele era seu pai.
Lá estava ele, Cyro Zimbro, em frente a um prédio antigo, no Boulevard Saint-Michel, no Quartier Latin, próximo ao Museu de Cluny. Após as apresentações, subiram no elevador antigo, mas restaurado e seguro para o uso, e foram levados ao quarto andar. Lá ficava a ampla sala, com uma magnífica vista do Boulevard, dos jardins de Cluny e dos telhados de Paris, que tornavam o local bastante agradável. Cyro parecia animado, dentro do possível, e já parecia ter determinado onde seriam colocadas as telas prontas, de forma a ter uma pequena exposição disponível a possíveis compradores ou expositores interessados, e onde seria o melhor recanto para Luísa pintar. Tinha uma cozinha rudimentar, mas com o essencial para preparo de pequenos lanches e café, se ela tivesse necessidade de ficar mais tempo por lá.
- O meu problema, Cyro, é o econômico. Não sei se terei recursos suficientes para pagar um estúdio deste tamanho, nesta região de Paris. Imagino que o preço seja muito elevado.
- Isto não é problema, minha amiga – afirmou, antes que Robert pudesse interferir, propondo responsabilizar-se por estes gastos – Este imóvel também é meu e claro que estou disposto a emprestá-lo pelo tempo que for necessário. Assim que você for famosa, o que acredito não deve demorar muito, e puder pagar um aluguel, aí conversaremos novamente.
Robert começou a desconfiar de tantas gentilezas.
- Creio que o senhor já fez muito por Luísa – interveio Robert, sob o olhar reprovador dela – Mas, como seu futuro marido, posso perfeitamente arcar com estas despesas iniciais.
Cyro sorriu, compreendendo o temor de Robert.
- Não se preocupe. O que estou propondo não é disfarce de nenhum interesse escuso, senhor Robert. Luísa é uma grande pintora. Sei que no momento em que dedicar-se mais a este seu dom, venderá facilmente toda a sua produção artística. Não faço nada mais do que minha obrigação como marchand, com amplo interesse comercial, e também como amigo. Além disso, existem mais pontos em comum entre nós, que podem explicar a minha simpatia para com esta bela jovem – Neste instante ele olhou diretamente para Luísa e continuou - Eu conheço vários artistas que tem origem semelhante a sua, minha cara, se é que me entende. Creio que o senhor Robert também saiba a que estou me referindo.
- Confesso que tinha uma ligeira desconfiança quanto a isto, Cyro. Você também é um... Vampiro? – perguntou Luísa agradavelmente admirada.
- Eu era um vampiro, Luísa. Sou o que você está tentando se tornar. Um ex-vampiro, ou pelo menos, alguém que já não é mais hematófago. Somos muito poucos espalhados pelo mundo. Não é algo comum e, até bem pouco tempo, era algo muito mal-visto pelos membros de nossa espécie. Claro que apenas alguns transformados, conseguem este retorno ao estado humano. Muitos morrem tentando. Descobri que isto poderia ser viável ao estudar uma antiga sociedade, originada no Egito, que atualmente tem sede na Espanha, e cujos membros descendem de vampiros. Um dia poderemos conversar mais sobre isto. Só quero que saiba que é possível e, pelo que tenho observado, você tem grandes chances de conseguir, bem como Victor. Como vê, senhor Robert, sou inocente de suas desconfianças.
- Fico mais tranquilo com estas suas explicações, senhor Zimbro.
- Mas, então? Gostou da minha oferta?
- Claro. Negócio fechado – confirmou Luísa.
- Eu ainda assim prefiro pagar a parte de Luísa, se o senhor não se ofender.
- Não há problema algum, se Luísa concordar.
Ela apenas escutou e não quis discutir com Robert na frente de Cyro. Conversariam mais tarde sobre aquela pequena interferência.
- Já está na hora de buscar o Victor – lembrou – Amanhã nos falamos, Cyro. Muito obrigada por tudo – despediu-se, depositando um beijo no seu rosto, sendo retribuída da mesma forma.
- Até amanhã, Luísa.
Robert notou que ela não gostara muito do modo como ele se intrometera junto a Cyro, mas já sabia como contornar esta situação. Não queria que ela ficasse devendo nada para ninguém, nem mesmo para um simpático vampiro humanizado.
Chegaram ao prédio onde funcionava a escolinha de Victor exatamente na hora da saída. Enquanto Luísa conversava com a professora sobre como tinha sido a sua adaptação ao novo ambiente e aos coleguinhas, aconteceu algo inesperado. Ao ver Robert ao lado da mãe, Victor correu em sua direção e o abraçou nas pernas. Emocionado, Robert o levantou no colo e o beijou.
- Você não está mais machucado? – perguntou o garoto enquanto buscava algum sinal de machucadura em Robert.
- Não, Victor. Estou muito bem e feliz em ver você – respondeu com a voz embargada.
- E eu, não ganho um beijo? – perguntou Luísa com um pouco de ciúmes, mas comovida com a atitude carinhosa do filho, que esticou o pescocinho para oferecer os lábios para um beijo na face da mãe, sem aventar a hipótese de sair do colo de Robert.
- Vocês têm um filho muito inteligente e carinhoso. Parabéns! – disse a professora com expressão embevecida.
Luísa e Robert trocaram olhares cúmplices de satisfação.
- Onde nós vamos? – perguntou alegremente o menino.
- Vamos para casa. O Robert e eu temos uma coisa para contar a você.
- É surpresa?
- Talvez, e acho que você vai gostar do que vai ouvir – respondeu Luísa, olhando para pai e filho com orgulho e uma enorme sensação de felicidade.


Passaram-se quase doze meses. Londres preparava-se para a pré-estréia do novo filme de Will Fetter, que deveria iniciar uma nova febre a respeito do mistério que sempre envolvera o tema em questão: os vampiros. Muitos dos famosos ônibus de dois andares londrinos carregavam os cartazes de “O Mistério do Castelo de Mir”, celebridades chegavam de vários pontos do mundo para a premiere e os comentários da imprensa eram os mais elogiosos possíveis, levando em conta o talento do diretor e do elenco. A expectativa era grande entre o público e a crítica.
“Na noite de ontem, sobre o tapete vermelho, com fãs barulhentos afastados por cordões de isolamento dos dois lados, chegou Will Fetter de mãos dadas com a atriz coadjuvante, Lisa Weber, confirmando o que os fofoqueiros de plantão já alardeavam há algumas semanas. Eles estão noivos e planejando seu casamento para logo depois de terminarem seus compromissos nas várias estréias da película em diferentes países. Pouco depois, foi a vez de Eric Paole chegar acompanhado da bela ruiva que passou a ser presença obrigatória ao seu lado nos últimos tempos. Dela só sabemos o primeiro nome: Gabriele. Como sempre, este ator tem conseguido manter sua privacidade, conservando sua vida particular fora da mira dos paparazzi. Logo atrás deles, seguia um terceiro casal, não tão conhecido do grande público, formado por Cristopher Stoltz e sua noiva Monique. O ator dedica-se mais ao teatro ultimamente, mas segundo alguns críticos que tiveram a oportunidade de assistir a uma prévia do filme, seu trabalho está impecável. Ele será, segundo algumas fontes, o segundo casamento da mulher que estava ao seu lado, e que já é mãe de uma menina de cinco anos. O desfile de atores e artistas das mais variadas categorias continuou. Entre estes, mas bem menos famosos, a condessa Cássia Tepes e seu marido, Arnold Paole, reconhecidos por alguns como tendo sido convidados pelo diretor Fetter, em agradecimento a cessão para filmagem das áreas externas e internas do Castelo de Mircea, na Romênia, de propriedade dos Tepes. Ao final do desfile, um aumento do tumulto se fez quando o ator principal, Robert Neville e, para tristeza da maioria de suas fãs, sua esposa, a artista plástica Luísa Neville, desceram da limusine preta. Entre acenos e sorrisos, sua linda mulher o cedeu para os autógrafos e aproximação do público presente, como sempre foi seu costume e motivo de torná-lo tão admirado e querido por suas admiradoras. Comentava-se que ela teria sido sua namorada antes da fama e com ele teria tido um filho. Logo após, despediram-se e adentraram ao teatro. Ao final da sessão, entre aplausos e cumprimentos, todos seguiram para a magnífica festa que os esperava nos salões de um famoso hotel da capital do Reino Unido”. Este foi apenas um dos relatos jornalísticos que fizeram parte da cobertura do lançamento do filme de Will Fetter, e que saiu na principal coluna de um dos grandes jornais de Londres.

Após a festa, Robert e Luísa seguiram para o seu apartamento londrino, onde haviam deixado Victor aos cuidados de uma babá. Ao chegar, enquanto Luísa dispensava a jovem “nany”, Robert foi até o quarto do menino, que dormia. Enquanto o observava com carinho, Victor abriu os olhos de leve e perguntou com voz arrastada:
- A festa já terminou?
- Já, Victor. Mamãe e eu já estamos de volta. Pode dormir tranquilo – disse em voz baixa, acariciando-lhe a cabeça, tentando tirar-lhe dos olhos os cabelos rebeldes.
- Que bom... Boa noite, pai – murmurou, sorrindo de leve, já de olhos fechados.
- Boa noite, meu filho – respondeu orgulhosamente enternecido, pensando em como pudera viver até então sem estes pequenos prazeres domésticos, como ver a expressão de paz de seu filho dormindo ou encontrar a mulher que amava a esperá-lo com um abraço depois de um dia de trabalho...
Luísa ficou observando os dois através da porta entreaberta.
- Querido... Ele dormiu? – sussurrou.
- Sim... – respondeu e estendeu o braço, acenando-lhe com a mão para que ela se aproximasse deles.
Ela pegou a mão que lhe acenava e abraçou Robert com o braço livre, juntando-se a ele para admirar o filho.
- Ele não é lindo? – perguntou Robert contemplativo.
- Tendo o pai que tem, só podia ser assim – cochichou ela no seu ouvido.
- Podemos considerar uma pequena parcela da mãe também... – considerou, apertando as mãos dela em torno de seus ombros um pouco mais forte.
- Pequena? – indagou dando-lhe um tapinha repreensor no ombro e sorriu.
- É, talvez um pouquinho mais... – tentou manter o ar sério – Eu diria meio a meio.
- Melhor... Já dispensei a babá.
- Ótimo. Melhor parar de babar aqui e ir para o quarto. O que acha?
- Vamos.
Saíram fazendo um mínimo de barulho para não atrapalhar o sono do pequeno.
Enquanto Robert foi ao banheiro, Luísa aproveitou para vestir a camisola nova que comprara na tarde anterior. Pensava em como a vida tornara a sorrir-lhe em tão pouco tempo. Às vezes pensava estar sonhando acordada ao ver Robert ao seu lado, brincando com o filho ou simplesmente conversando assuntos corriqueiros da vida doméstica. Sentia necessidade de dividir sua felicidade com todos aqueles que lhe eram ou tinham sido importantes na sua existência. Não havia mais espaço para rancores antigos. Além disso, por mais que tentasse, não conseguia deixar de gostar de sua “mãe adotiva”, Cássia. Afinal, ela a protegera durante todos aqueles anos, inclusive do homem que tanto amava, o Conde Victor.
- Não sei por que você ainda perde tempo vestindo camisola – a voz rouca de Robert chegou ao seu ouvido quando se sentiu agarrada carinhosamente por trás, despertando-a de seus pensamentos.
- Você não gostou desta? – resmungou.
- Ela é muito bonita, mas pessoalmente acho mais lindo o “recheio” dela – cochichou e passou a beijá-la no pescoço.
- Combinei de encontrar-me com Cássia e as meninas, amanhã, no hotel onde estão hospedadas para conversarmos. Acho que vai ser bom... – contou com voz entrecortada pelos arrepios provocados pelos beijos e carícias dele.
- Tenho certeza disso – concordou num cicio sem parar os carinhos.
- Monique convidou Victor para passar uma temporada com eles na Grécia. Lana morre de saudades dele.
- Concordo... – disse com voz impaciente, já baixando as alças da camisola, que acabou por cair sobre o tapete da suíte.
- Você nem está prestando atenção ao que eu digo... – reclamou divertida, virando-se de frente para ele.
- Estou sim... Mas agora estou mais interessado em outro tipo de conversa...
Dizendo isso, selou os lábios de Luísa com um beijo apaixonado, enquanto a elevava nos braços e a levava para a cama.

Três dias depois voltaram para Paris, onde mantinham residência fixa, num luxuoso apartamento próximo ao Champ de Mars. Luísa continuava a trabalhar em seu estúdio no Boule Miche, como chamavam os franceses ao Boulevard de Saint-Michel, confirmando a intuição de Cyro Zimbro, a respeito de seu sucesso como pintora. Cada vez mais raramente sentia a “fome”, necessitando do fluído artificial criado e oferecido por Paole para facilitar a sua transição.
Robert continuava fazendo sucesso com seus filmes e em sua produtora, já podendo dar-se o direito de passar mais tempo junto à família.
Victor passaria as próximas férias com Lana, na Grécia, a convite de Cristopher e Monique, que esperavam mais um filho para breve.
Gabriele decidira esperar um pouco mais para engravidar. Eric ainda viajava muito devido aos inúmeros compromissos de trabalho. Infelizmente, não conseguiam ficar por muito tempo em sua residência em Santorini, onde eram vizinhos de Cris e Monique. Mesmo assim sentiam-se felizes e completos.
Cássia e Arnold desfrutavam de boa e calma vida à sombra dos Cárpatos, entre a nova comunidade criada em suas terras. Ele desenvolvera um laboratório num dos recintos do castelo, onde persistia em suas pesquisas científicas.
A vida continuava. A espécie mantinha-se resguardada. Humanos e vampiros, vivendo lado a lado, sem conflitos, como fora o sonho do fundador do clã grego, antecessor de Arnold Paole, e deste próprio.


FIM




Espero que tenham gostado do final deste romance vampiresco. Aceito críticas e sugestões, como sabem. Mais uma vez agradeço às minhas leitoras e colaboradoras queridas, que continuam me incentivando nesta minha tentativa de compor estórias romanticas que façam minhas leitoras sonhar.
Aproveito este final, para desejar um FELIZ NATAL e UM ANO NOVO MARAVILHOSO para todos. Pretendo voltar à "luta", no início do ano, com novas criações. Podem aguardar. Este se tornou o meu vício e, infelizmente, pretendo continuar torturando, a quem desejar ser torturado, com meus romances.
Felicidades,sonhos realizados, muito amor, saúde e paz neste ano de 2010. É o que desejo de coração para todos. Beijos!!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 13)

Os clarões dos relâmpagos começavam a cortar os céus no alto dos Cárpatos. A nova tempestade de verão já estava próxima. A brisa suave tornava-se mais impetuosa, forçando os pinheirais a curvar-se sobre a floresta, com grande agitação de seus galhos, e lançamento de maior número de pinhas ao chão. Apesar das mudanças bruscas do clima na região, a vida no imponente castelo parecia estar voltando ao normal.
Paole acabara de sair rumo à cidade, depois de ter feito a segunda parte de seu tratamento em Robert. As crianças já brincavam nos jardins, sob os cuidados de Monique, que observava de longe o trabalho de Cristopher, com uma expressão sonhadora no rosto. Will Fetter resolvera rodar algumas cenas de Lisa e de Cris, até poder contar novamente com seu astro principal, Robert.
Cássia chamou Luísa para conversar em uma sala íntima junto aos seus aposentos. Queria privacidade para tocar no assunto delicado que teria de expor, depois de tantos anos em que mantivera aqueles fatos lamentáveis desconhecidos de Luísa.
- Confesso que fiquei surpresa com o seu comentário no final da noite passada. Não sabia que guardava um segredo sobre o meu passado. Sempre pensei que fosse filha de sua irmã, Carina, e de um dos nobres descendentes de Vlad, que perdeu a vida antes de eu nascer. Dessa forma eu seria uma vampira pura, como citou Paole. Se isto não é verdade, então quem sou eu, Cássia? E por que a mentira a respeito de minhas origens?
- Luísa, espero que entenda meus motivos para esconder-lhe esta verdade por todo este tempo. Na realidade, eu não pretendia contar-lhe estes fatos em nenhum momento de sua vida. Mas, agora muitas coisas mudaram, além do que ocorreu com seu... Com Robert. Se eu não falasse a verdade naquele momento em que Arnold solicitou um doador, o tratamento de Robert seria inútil e a verdade acabaria por aparecer de qualquer forma. Além disso, sei que está pensando em unir-se ao pai de Victor e estes esclarecimentos poderão facilitar a sua escolha
- Você está me assustando, Cássia, com todo este rodeio. Afinal, quem são meus pais e por que este mistério todo?
Com visível apreensão e voz trêmula, Cássia falou.
- Tudo aconteceu no final do século dezenove. Naquela época procurávamos ser mais discretos, atacando apenas aos marginais e malfeitores que aparecessem na aldeia, o que era muito bem recebido pelos aldeões. Foi quando Lucca, o irmão mais novo de Victor, precisando urgentemente de “alimento”, precipitou-se ao escolher sua vítima. Acabou por atacar um velho bêbado que ameaçava algumas mulheres com um pedaço de madeira. Ele esperou que o homem ficasse sozinho e o atacou. Infelizmente, o filho estava a sua procura para levá-lo para casa e acabou por ver tudo. Depois de enterrar o pai, passou a procurar Lucca para chantageá-lo, pedindo dinheiro. Quando Lucca negou-se a ceder à chantagem, foi pego numa emboscada nos arredores da vila e morto com uma estaca no coração. Ao saber, Victor enlouqueceu e partiu em busca de retaliação. Ainda tentando demovê-lo da idéia, o acompanhei até a cabana que ficava nos limites da cidade. Era noite e tudo estava às escuras. Ensandecido e com fome de sangue e vingança, atacou o assassino de Lucca e sua mulher, que começou a gritar desesperada ao ver o que estava acontecendo. Ele não queria deixar testemunhas, como seu irmão o fizera. Depois de tudo acabado, antes de sairmos, ouvi um choro fraco, vindo de um dos cantos do quarto, de dentro de um pequeno berço de madeira. Era um bebê, com apenas alguns dias de vida. Uma menina...
Neste ponto, a expressão horrorizada de Luísa chegou ao seu ponto máximo. Começou a sacudir a cabeça lentamente, como se isso pudesse espantar as terríveis palavras que acabava de ouvir.
- Eu nunca pude ter filhos – Cássia continuou – Quando a vi ali, tão indefesa... Victor não queria. Disse que você cresceria e se vingaria dele e esta estória não teria fim. Depois de muito eu insistir, ele permitiu, mas com a condição de que eu a transformasse numa de nós e a criasse como uma vampira legítima. E foi isso que eu fiz. Você não tinha a mínima chance de sobreviver ali...
Luísa ainda tentava absorver a história de sua família. Lembrou de como era tratada friamente por Victor, por mais que tentasse agradá-lo. Anos de mentira... Não podia negar que Cássia tinha tido boas intenções e que a criara como criaria uma filha. Sempre se mostrou sua amiga... De repente, um lampejo de dor nublou sua expressão.
- Cássia... Você participou ativamente da morte de meus... deles?
- Tudo aconteceu muito rápido... – titubeou.
- Participou? – perguntou mais rispidamente.
Sem conseguir encará-la, Cássia baixou os olhos numa atitude de aquiescência.
Luísa sentiu o peito petrificar e as pernas adormecidas não conseguiam reagir a qualquer estímulo ou ordem para levá-la para longe dali. Sentia-se presa dentro de si mesma. Não sabia mais o que pensar ou o que fazer com os sentimentos que se emaranhavam numa rede tortuosa em sua mente. Lembrou das tantas vezes que tentara agradar ao “tio”, da lealdade para com Cássia e seu clã, do dia em que colocou o nome de Victor em seu próprio filho... Os assassinos de seus pais... A cabeça latejava e a visão estava turva. Tinha que sair dali. Pensou em seu filho e em Robert. Eles eram a sua esperança de vida nova.
Como um autômato, foi saindo da sala sem pressa. Cássia permaneceu muda, respeitando a dor de Luísa, mas inquieta com sua reação e com as ações que resultariam daquela revelação.
Encaminhou-se para o quarto onde Robert estava. Precisava do seu conforto, do seu carinho. Não contaria nada do que soubera a pouco, mas tentaria decidir com ele o que fariam dali em diante, agora que nada os impedia de viverem suas vidas. Quando se aproximava da porta, ouviu uma risada feminina, já sua conhecida. Vacilou entre entrar ou não. Sem fazer barulho, abriu a porta e sentiu suas forças esvaírem-se de vez. Robert encontrava-se deitado, com Lisa sobre ele, a abraçá-lo e compartilhando um apaixonado beijo. Pelo menos foi o que Luísa interpretou no momento. Nem mesmo Roberto era confiável. Mal o conhecia. Esta era a verdade. Amara a um homem que conhecera durante uma viagem de seis dias e dedicara-se a sua lembrança por tanto tempo que conseguira enganar-se tolamente a respeito do seu amor. Ele certamente mudara e o fato de lembrar-se do que acontecera há quatro anos não lhe assegurava nada além de desejo carnal. Fragilizada e sentindo-se traída por todos, correu para fora do aposento. Precisava fugir dali. Ir para algum lugar onde pudesse ficar a sós com seu filho e pensar no que faria a seguir. Tudo o que considerara até hoje como um esteio para sua vida, desaparecera como fumaça diante de seus olhos. Não conseguia confiar em mais ninguém, a não ser nela mesma.
Arrumou uma mala com algumas peças de roupa, chamou Victor e contou a Monique que faria uma viagem.
- Mas o que está acontecendo, Luísa? Para onde vocês vão?
- Para bem longe daqui – respondeu sem olhar a amiga.
- Olhe para mim, Luísa, e me diga que está havendo?
Ela vacilou por alguns instantes, imaginando se deveria dar alguma explicação para Monique, que sempre foi sua amiga, mas sentiu que não conseguiria falar sobre o seu sofrimento naquele momento e continuou seus preparativos.
Acompanhada pelo menino perplexo e alarmado com as estranhas atitudes da mãe, Luísa pegou seu carro e partiu sem olhar para trás. Pingos de chuva grosseiros começavam a pipocar sobre a estrada íngreme e um agradável cheiro de terra molhada e de pinho infestou o ar.

- Bem, meu querido, agora que vi que você está melhor que eu, vou voltar para o hotel e aguardar a hora em que Will vai poder rodar as cenas em que atuamos juntos – disse Lisa, despedindo-se de Robert alegremente, depois de lhe dar um abraço e efusivo beijo na bochecha – Trate de recuperar-se logo, pois não poderei suportar mais que alguns dias para encerrar minha participação neste fim de mundo. Não consigo ficar muito tempo longe da civilização. Você sabe como é, não?
- Não se preocupe. Devo retornar dentro de mais um dia, segundo o meu médico.
Despediram-se. Pensou em Luísa. Havia adormecido ao seu lado e quando acordou ela não estava mais. Estava ansioso sobre como se apresentaria a Victor como seu pai. Apesar de estar encantado com a idéia de ter um filho, sentia-se estranho e com medo da grande responsabilidade a assumir tão inesperadamente. Mas sabia que contaria com Luísa ao seu lado e isso lhe dava toda a coragem de que necessitava.

Logo a notícia da “viagem” de Luísa espalhou-se pelo castelo e seus moradores. Robert estava atônito, sem saber o que pensar. Queria uma explicação que não conseguiam lhe dar. Ela não deixara nem uma carta ou bilhete de despedida esclarecendo sua partida. Arnold Paole impediu que ele se levantasse para partir em sua perseguição. Ainda faltava a última transfusão, que só seria realizada na manhã seguinte, para a sua plena recuperação. Só então estaria liberado para fazer o que bem entendesse.
À noite, a pedido de Cássia, todos se reuniram no salão principal, incluindo Robert, que foi liberado da cama, depois de prometer que não faria grandes esforços. Com o apoio de Arnold, para quem já contara a história de como conhecera Luísa com lágrimas nos olhos, revelou aos demais presentes o que presumia fosse a causa da fuga da mãe de Victor e os motivos que a levaram a esta revelação tão tardia. Gabriele e Monique já desconfiavam da origem humana de Luísa, mas não imaginavam como havia ocorrido sua transformação.
- O que me surpreende é o por quê dela não ter falado nada comigo – reclamou Robert, ainda perplexo com o ocorrido.
- Tem certeza de que não aprontou nada com ela, Robert? – perguntou Monique.
- Claro que não! – sobressaltou-se – Por que está dizendo isso?
- Porque eu a vi saindo do seu quarto contendo as lágrimas hoje à tarde, antes de arrumar suas coisas e partir.
- Mas eu... Será que ela viu Lisa e pensou...? Não é possível...
- O que foi que aconteceu? – indagou Gabriele.
- Lisa, a atriz que trabalha conosco no filme, e é minha amiga de muitos anos, foi me fazer uma visita hoje à tarde, pois soube do acidente através do Eric. Será que Luísa a viu no quarto e ficou com ciúmes?
- Vocês se beijaram, nesta despedida?
- Sim... Mas um beijo no rosto, de amigos.
- Considerando a fragilidade em que ela devia estar depois do que ouviu de Cássia, é possível que ela os tenha visto e entendido mal a situação – ponderou Monique.
- Eu preciso encontrá-la. Ela deve estar desesperada com tudo isto que ficou sabendo. Se ainda por cima está imaginando que a traí, então a coisa deve estar sendo ainda mais difícil.
- Calma, Robert. Você tem que terminar a sua recuperação. Tenho certeza que Luísa não vai fazer nenhuma loucura. Pelo que Cássia me contou sobre o modo de ser dela e pelo fato de estar com o filho, acredito que ela não fará nada que possa prejudicar o menino ou a ela própria. Provavelmente está tentando fugir e esconder-se, até conseguir colocar as idéias no lugar. Creio que todos aqui vão querer ajudar a encontrá-la – tentou tranquilizá-lo, Paole.
- Logo terminaremos as filmagens e poderemos procurá-la juntos – disse Eric, que olhou para Cris, obtendo a sua anuência silenciosa com um gesto de cabeça.
- Tenho um palpite para podermos começar as buscas – disse Monique, com expressão iluminada, como se acabasse de lembrar de algo muito importante chamando a atenção imediata de Robert e Cássia – Deixem comigo. Amanhã mesmo vou entrar em contato com uma pessoa que certamente poderá nos ajudar a chegar até Luísa.
- Quem? – exclamou Robert ansioso.
- Não se preocupe. Assim que tiver alguma novidade, eu aviso. Trate de se recuperar e terminar o seu trabalho, para depois correr atrás dela. Conheço a Luísa muito bem e sei que não precisamos nos preocupar com reações que ponham em risco sua vida e, muito menos, a de Victor.


Olhou para Victor que dormia tranquilamente na poltrona ao seu lado. Logo estariam chegando para começarem uma vida nova, longe daqueles que a tinham magoado. Sua maior preocupação era a respeito de sua sobrevivência. Já ouvira falar sobre a possibilidade de readaptação da alimentação nos casos de humanos transformados em vampiros. Algumas lendas falavam sobre vampiros que, quando afastados de suas regiões de origem, teriam conseguido tornarem-se humanos após algum tempo. Nunca tentara nada, pois não tinha dúvidas sobre suas origens. Agora poderia testar esta teoria e, quem sabe, ter uma vida normal junto à sua raça original. O mesmo valeria para Victor, que já demonstrara desde cedo suas tendências para uma dieta mais “saudável” em termos humanos.
Tentou dormir um pouco, mas o barulho dos motores do avião a incomodavam excessivamente. Não queria pensar em mais nada do que tinha ocorrido em Mircea. Tentava afastar aqueles pensamentos martirizantes de sua mente, para que Victor não percebesse sua agonia. Havia dito a ele que fariam um grande e belo passeio por um lugar belíssimo, conseguindo animá-lo um pouco e tirar a tensão de seu rostinho. Antes de dormir ainda perguntou por Lana, sua companheira inseparável, de quem gostava muito e de quem não queria ficar afastado por muito tempo. Sabia que com o tempo ele esqueceria tudo aquilo. Ainda era pequeno e logo se readaptaria às mudanças.
Finalmente chegaram. Um carro já os esperava na entrada do aeroporto para levá-los ao apartamento que Zimbro havia conseguido para acomodá-los. Ele tinha sido muito discreto e extremamente eficiente em sua ajuda à Luísa. Não fez nenhuma pergunta e imediatamente tratou a ida dela para Paris e sua hospedagem em um apartamento de sua propriedade que se encontrava para alugar. Sentiu-se segura por poder contar com um bom amigo como ele. No dia seguinte começaria a providenciar o seu estabelecimento na cidade, que passaria a ser o seu novo lar. Ainda sentia uma dor intensa em seu peito, mas pensava em Victor e no seu futuro. O apartamento ficava numa agradável ruela na Île de Saint Louis, no terceiro andar de um dos vários prédios antigos, com vista para o Sena. Pegou a chave com a zeladora, conforme tinha sido orientada por seu amigo, e respirou fundo ao entrar e sentir-se protegida do mundo lá fora. A decoração era simples e funcional, mas de bom gosto. Colocou Victor para dormir novamente, desfez as malas, colocou uma roupa confortável e foi para a janela admirar a iluminação que irradiava de Notre Dame, localizada a poucos metros da margem em que estava. Pensou ironicamente que talvez tivesse escolhido a cidade certa para ir. Esperava sinceramente que a cidade-luz lhe devolvesse a vontade de viver e que iluminasse os seus caminhos dali para frente.



Nem acredito que estou conseguindo postar mais este capítulo do meu romance. Esta foi uma semana muito movimentada do lado de cá, mas estou aqui para cumprir o minha meta de pelo menos postar um capítulo por semana. Prometo que agora falta pouco para terminar. Como sempre, agradeço à paciêcia das minhas leitoras e por seu estímulo através dos recados e comentários.
Mil beijos a todas!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 12)

O dia amanheceu ensolarado, mas algumas nuvens acinzentadas começavam a concentrar-se sobre as montanhas, ameaçando acabar com o brilho da manhã. Provavelmente a chuva viria com a tarde. O pesadelo da noite já era passado. Monique observava a filha dormindo, em sua cama, imaginando o susto pelo qual ela tinha passado. Lana era uma criança curiosa e aventureira, mas ainda indefesa. Talvez passasse a ser mais prudente depois daquele incidente. Sorriu ao lembrar que Victor, logo que foram trazidos para casa, ainda tentara eximi-la da culpa pela fuga para protegê-la. Tão pequeno e tão corajoso. Já era um cavalheiro. Mas Lana assumira a sua participação no ocorrido. Não esperava que fosse diferente. Ela conhecia muito bem sua filha. Faziam uma dupla e tanto aqueles pequenos. Mas desta noite tirariam uma lição e passariam a pensar melhor em suas atitudes e nas conseqüências de seus atos. Pelo menos é o que Monique esperava.
- Ela dormiu? – indagou a voz grave atrás dela, na abertura da porta do quarto.
- Sim – respondeu ligeiramente sobressaltada.
Cristopher aproximou-se da cadeira ao lado da cama onde ela estava sentada. Ele podia ver a sua silhueta delgada na penumbra do aposento, com o rosto sereno, a cuidar do sono da filha. Sentiu um aperto no coração. Sentimentos estranhos o envolviam e insistiam em mantê-lo ao lado dela. Colocou a mão sobre o seu ombro, num gesto de apoio e carinho.
- Você está bem? – perguntou.
- Estou. Obrigada – assentiu, colocando sua mão sobre a dele instintivamente, por breves segundos, e retirando-a rapidamente, ao conscientizar-se de seu ato. Sentia-se bem ao lado dele, mas ainda ficava apreensiva. Além disso, não era o momento de pensar nestas coisas agora. Precisava dar atenção maior a Lana.
- Não quer dar uma volta para espairecer um pouco? – perguntou, aumentando levemente a pressão de sua mão sobre o ombro dela.
Monique suspirou e levantou-se, lançando mais um olhar para Lana, que dormia tranquilamente. Seria bom caminhar para relaxar.
- É... Talvez seja uma boa idéia – decidiu.
Cristopher mostrara-se amigo e estivera ao seu lado enquanto acalmava Lana e Victor, ajudando-a a conversar com os dois e apoiando-a na repreensão proporcionada. Apesar dele ser quase um estranho, percebeu em si uma segurança e um conforto que nunca sentira ao lado de alguém. Era uma sensação nova e muito curiosa. Agora, andavam lado a lado, numa cumplicidade silenciosa. Aos poucos Monique ia relaxando e aproveitando melhor a companhia de Cris. Foram caminhando até o terraço de onde se vislumbravam as montanhas e o bosque. Ficaram olhando ao longe, ambos procurando entender o que acontecia entre eles. A primeira a falar foi Monique.
- Acho que devo desculpas a você pela forma que o tratei no outro dia.
- Não me lembro de nada que você tenha feito que necessite de pedido de desculpas.
Ela sorriu e o olhou, tendo que estender o pescoço para cima, devido a grande estatura de Cristopher.
- Bem, já que não lhe devo desculpas, quero que aceite o meu agradecimento por ter ficado ao meu lado durante os últimos acontecimentos. Não que eu não pudesse dar conta sozinha, – falou para mostrar-lhe que era uma pessoa independente – mas foi bom poder contar com uma figura masculina ao lado. Nunca soube o que é isso, mas foi bom.
- Figura masculina ao lado... – ele gargalhou – Fui reduzido a uma figura masculina. Ninguém nunca tinha me definido assim.
- Desculpe – ela reagiu, sentindo que podia tê-lo magoado por não saber como expressar-se – Não queria ofendê-lo. – De repente sentiu-se uma estúpida por ter dito o que disse.
Ele pegou sua mão que estava sobre o balcão de mármore e segurou-a com suave pressão, num contato que a fez estremecer. Ela o olhava preocupada.
- Não me ofendeu. Eu entendi o que você quis dizer, Monique.
- Foi uma noite muito intensa. Muitas informações, mudanças de planos, o incidente no bosque,... Ainda estou processando tudo – ela continuou, olhando para seus próprios pés.
- Eu entendo... Só quero que você saiba que pode contar comigo para o que precisar... Mesmo que seja só para ter uma “figura masculina” ao seu lado – tornou a rir da imagem que Monique tinha criado para ele.
Finalmente ela o encarou, sorrindo e disse:
- Se for ficar zombando de mim, pode ir embora.
Foi a vez de ele ficar sério e olhá-la intensamente.
- Não quero ir embora... Sei que mal nos conhecemos, mas desde que a vi tem sido difícil tirá-la da cabeça. Até hoje sempre me senti como um estrangeiro em todos os lugares por onde passei. Isto parece estar mudando... Desde ontem. Assim como Paole, tornei-me vampiro contra a vontade... – a voz embargada o forçou a uma pausa, denunciando que aquele fato de sua vida ainda o perturbava muito – Mas, não quero incomodá-la com este assunto.
Monique percebendo a necessidade dele em expor esta experiência, puxou-o pela mão até o banco de pedra que estava próximo a eles.
- Venha, Cristopher – disse conduzindo-o e sentindo uma grande ternura pelo homenzarrão a sua frente. Queria ouvir a sua estória e, quem sabe, atenuar seu sofrimento – Conte-me como foi.
- Tem certeza? – disse arqueando uma das sobrancelhas e colocando um meio sorriso nos lábios.
- Absoluta. Tempo é o que não me falta – tranquilizou-o sorrindo – Além disso, adoro estórias de vampiros – disse num sussurro, provocando mais um sorriso. De repente, o grande e forte vampiro desfazia-se de sua armadura de invencibilidade, despindo sua alma para ela, o que a tocou profundamente.
Cristopher, a princípio um pouco inseguro, passou a contar sua história, como nunca havia contado a ninguém antes. Nascera em 1916, em Neu-Ulm, uma cidade da Baviera, cortada pelo Rio Danúbio. Teve uma infância alegre, filho de um professor de alemão e uma dona de casa, que gostava de plantar rosas no pequeno jardim nos fundos de sua casa, até que a ascensão de Adolf Hitler ao poder trouxe a guerra. Jamais tinha ouvido falar em judeus, discriminação de raças ou que seu povo pudesse ser superior a outros. Quando foi convocado para o exército, viu lágrimas nos olhos do pai, que era contra as idéias do novo governo nazista. Após um breve treinamento, no final de 1941, foi enviado com um grupo de oficiais e alguns soldados para a Grécia, onde a ocupação fora bem sucedida, mas estavam necessitando de ajuda para conter os movimentos de resistência que começavam a surgir. Lá, precisou controlar seus impulsos para sair em defesa de inocentes e resistir à visão das atrocidades praticadas por seus conterrâneos. Foi numa viagem à Santorini em que, não suportando a violência com que trataram a uma família de pescadores, exigindo a comida que eles não tinham e assediando a mulher e a filha, partiu na defesa deles. O oficial em comando era um homem ignorante e violento. Quando um reles soldado, como Cris, se opôs às suas ordens e enfrentou-o, indignou-se de tal maneira que, depois de ordenar aos outros que o surrassem covardemente e fazer um sumário julgamento de insubordinação, tendo como testemunhas seus colegas de uniforme, concluiu a sua pena com um disparo certeiro no coração de Stoltz, com sua Luger. Deixaram-no para morrer no local e foram embora, deixando o pescador e sua família livres da truculência do facínora nazista, mas com um moribundo em mãos. Por sorte, ou por azar, um dos curiosos ilhéus, que apareceu para ver o que estava acontecendo, fazia parte do clã de vampiros da ilha. Naquela época, Paole mal começara suas pesquisas, apesar de já ser um grande estudioso das artes médicas. Assim que ele soube do ocorrido, mandou que levassem o soldado para sua casa. Lá, antes que o coração atingido perdesse sua força completamente, ele decidiu transformar o rapaz num igual a eles.
- No início, revoltei-me – continuou Cris – Não conseguia entender por que ele fizera aquilo comigo. Só com o tempo e conhecendo melhor as idéias de Paole, fui me convencendo de que a minha nova vida podia ser muito produtiva. Tornei-me amigo de Eric, sobrinho de Paole, que acabou por me influenciar com o seu entusiasmo pelo teatro. Fomos juntos para a Inglaterra para estudar as artes cênicas, no final da década de 80. Com os trabalhos surgindo, acabamos seguindo cada qual para o seu lado, nos encontrando esporádicamente. Agora tivemos esta oportunidade de trabalhar juntos. Sempre que posso vou à Grécia para visitar Paole, que acabou se tornando minha família. Depois que ele descobriu o sangue artificial as coisas se tornaram mais fáceis para nós. Hoje, só tenho a agradecer a ele por ter me transformado.
Cristopher parecia aliviado ao final de sua estória, como se tivesse espantado alguns fantasmas que ainda o assombravam.
- Fico contente que você tenha encontrado o seu caminho e aceitado bem sua transformação... Caso contrário não estaríamos aqui, juntos, conversando sobre isso – Sua voz refletia total sinceridade e prazer ao citar a palavra “juntos”, o que foi percebido por ele.
Uma agradável sensação de intimidade, percebida em seus olhares, aproximou-os ainda mais e, quando Monique já cedia seus lábios para um beijo, foram bruscamente interrompidos pela saudação de Will Fetter, que acabara de chegar à mansão. Afastaram-se rapidamente, mas em seu íntimo sabiam que aquele momento seria apenas adiado. Will já tinha sido avisado por Eric sobre o que acontecera e vinha para fazer uma visita ao amigo. Teria que interromper as filmagens, já que Robert atuaria na maioria das próximas cenas. Aproveitaria para filmar paisagens e ângulos diferentes do castelo. Ainda não desistira de convencer Cássia a deixá-lo filmar dentro da fortaleza. Talvez tivesse sorte agora que ela tinha hospedado um de seus atores principais.
- Cris! – gritou. Era seguido de perto por Lisa, que ficara muito preocupada com a notícia do acidente – Pensei que você tivesse voltado com Eric - falava ofegante depois de uma rápida corrida num lance de cinco degraus para o terraço. Só então se deu conta da presença de Monique.
- Bom dia, senhorita.
- Bom dia – respondeu ela, levantando-se do banco - Cris, é melhor eu ir. Lana pode acordar. Nos falamos depois.
- Está bem – aquiesceu, dando-lhe um beijo rápido na face – Até mais.
Assim que ela desapareceu através da porta de vidro que dava acesso aos salões do castelo, Lisa não conseguiu esconder o comentário malicioso.
- Parece que todos estão se arranjando por aqui, menos eu. Será que não tem nenhum conde perdido e solteiro neste castelo?
- Infelizmente, minha cara, não será aqui que vai encontrar o seu príncipe encantado – disse Will – Que eu saiba, o único homem que habita esta casa tem apenas quatro anos de idade.
- Quem sabe o seu “príncipe” não esteja bem ao seu lado e você apenas ainda não o descobriu, Lisa? – disse Cris em tom zombeteiro.
- Posso tomar isto como uma oferta pessoal, Cris? – indagou, lançando um olhar sedutor para ele.
- Estou me referindo ao Will aqui. Sei que ele morre de amores por você – respondeu tentando conter a gargalhada que subia por sua garganta e dando um abraço afetuoso no diretor, que lançou uma olhada raivosa para Cristopher e desvencilhou-se de seu abraço.
- Nem que ele fosse o último homem da face da terra. O máximo que eu permito é que ele me dirija nos seus filmes. No mais, quero distância desta careca – troçou Lisa um pouco mais.
Will continuou mudo. Estava indignado por estar sendo alvo da gozação daqueles dois.
- Vocês se amam e não sabem. É isso que eu acho – afirmou Cris, reforçando sua teoria sobre o casal.
- Para mim chega desta conversa inútil – explodiu Will - Vim aqui para ver o meu amigo enfermo. Depois vou começar o meu trabalho, que é para isso que atravessei o mundo, e não para ouvir babaquices! Ei, vocês aí! – gritou para alguns técnicos que chegavam com alguns equipamentos, e saiu pisando duro na direção deles, aparentemente indignado com o rumo da conversa de Cris.
Lisa caiu na gargalhada, juntamente com seu colega.
- Você não presta mesmo. Dizer estas coisas para ele. É bem capaz dele nos cortar de todas as cenas do seu filme.
- Impossível. O Will é um velho turrão, mas é boa pessoa. Ele sabe que estamos de brincadeira.
- Espero que sim... Mas me conte exatamente o que aconteceu com o Robert. Fiquei muito preocupada com ele.
Enquanto Cris contava a versão oficial do ocorrido, Luísa deixava o quarto de Robert para que ele descansasse. Depois de alguns beijos e troca de palavras de amor, ele acabou por dormir sob os carinhos dela. Mesmo com o ótimo resultado do “tratamento”, houvera uma perda muito grande de sangue e ele ainda estava fraco. Dirigiu-se para os seus aposentos, onde Victor dormia. Lembrou de Cássia e da conversa que ainda ficara pendente, mas, definitivamente, precisava descansar antes de enfrentar algo que temia fosse desagradável. Antes de deitar, foi obrigada a saciar sua sede no frigobar escondido no cômodo. Estava curiosa para provar o tal sangue artificial criado por Arnold Paole. Seria um alívio não depender mais de bancos de sangue. Deitou-se ao lado de Victor e conseguiu dormir quase que imediatamente.

Na cidade, Eric havia se despedido de Will e de Lisa, depois de contar-lhes o ataque sofrido por Robert durante a noite. Quando entrou em seu apartamento, já encontrou Gabriele deitada languidamente, nua, de bruços, com os cotovelos cravados na superfície da cama, enquanto os braços e as mãos, entrelaçadas sob o queixo, apoiavam a cabeça. Sabia que ela o aguardaria ali, mas não esperava encontrá-la tão à vontade...
- E então? Tudo resolvido? – ela perguntou naturalmente.
- A princípio sim.
- Ainda bem que Cássia e o seu tio se acertaram quanto à vinda dos romenos exilados para cá.
- Acho que eles se acertaram além de nossas expectativas. Você notou? – perguntou enquanto tirava a camisa, sem tirar os olhos dela ou conseguir evitar o desejo que já avançava sobre seus sentidos, cegando qualquer razão existente.
- Impossível não notar. Nunca tinha visto Cássia daquele jeito. Espero que eles se dêem realmente bem.
- Como nós? – perguntou ao sentar na cama e começar a acariciá-la com a ponta dos dedos. Percorrendo um caminho invisível através de seu dorso nu, provocou-lhe um gemido de prazer e um relaxamento da posição em que estava, fazendo-a deixar cair a cabeça sobre os braços, totalmente entregue ao seu carinho.
Seus dedos continuavam pela estrada imaginária, subindo a suave elevação gerada pelas nádegas de pele lisa e firme, descendo pelas coxas e pelas longas e bem torneadas pernas. Respirações acelerando, Eric começou a virá-la de frente, delicadamente, enquanto ela, de olhos fechados, esperava ansiosamente pelo que viria a seguir. Logo ele estava sobre ela, ajoelhado na cama, tendo os quadris arredondados entre suas coxas, explorando os seios macios, de mamilos engurgitados, com a boca, beijando-os e umedecendo-os com a língua. Gabriele arqueou o corpo, jogando seu púbis contra o dele, buscando o prazer que ele tinha a lhe oferecer. Eric envolveu suas costas num abraço, elevando-a, até que os seios fossem comprimidos contra o seu tórax. Sua boca aconchegou-se na lateral do pescoço alongado, beijando e mordiscando, arrancando gemidos e palavras de amor. Agarrada a ele, com as mãos espalmadas, Gabriele acariciava o dorso amplo e as nádegas fortes, já sem consciência de onde estava. Apenas o queria dentro dela o mais urgentemente possível. Não resistindo mais, ele a penetrou com ânsia e firmeza, até atingirem o máximo prazer. Apetites saciados, deixaram-se levar pelo agradável relaxamento remanescente e dormiram abraçados, sem perceber que o tempo começava a virar e que, logo, a chuva voltaria a varrer as ruas de Mircea, regar os campos da região e lavar as muralhas do castelo, no alto da colina.

Como disse a minha amiga Cris, este romance está parecendo seriado americano, que passa na TV um episódio a cada semana. De certa forma é o que outras de minhas amigas queridas tinham sugerido posts atrás. Mas espero sinceramente que estejam gostando da trama, dos atores "convidados" a estrelar a estória e da maneira como estou escrevendo. Vocês sabem que adoro elogios, mas também adoraria críticas construtivas. Quero mais uma vez agradecer os comentários e todo o carinho de vocês.

Beijos!! E até breve!

PS: Para quem não viu, fiz um update na postagem anterior, onde deixei as fotos das crianças, Victor e Lana.

sábado, 28 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 11)

Eric carregou Robert até um dos quartos desocupados da mansão, seguindo a indicação de Cássia. Luísa estava em choque. Lana e Victor foram levados para seus aposentos, aos cuidados de Monique, acompanhados por Cristopher. O clima era de tensão. Podia-se sentir a busca de autocontrole em cada um dos presentes ali. Diante da visão de sangue humano fresco, os instintos mais arraigados e primitivos da espécie poderiam ser despertados.
- O que aconteceu? – perguntou Arnold quando viu o ator, que conhecera poucas horas atrás no hotel, gravemente ferido.
- Ele foi atacado por um lobo selvagem – respondeu Eric nervoso.
- Ele foi tentar nos ajudar... Robert... – Luísa não conseguia encontrar palavras que dessem significado ao que estava sentindo. Gabriele a amparava, preocupada com estado de sua amiga.
- Eric, me ajude a limpá-lo. Peça ao Cristopher para buscar minha maleta na cidade. Vamos precisar de água e panos limpos.
- Vou providenciar – disse Cássia, assumindo a tarefa delegada a esmo e recebendo um olhar de agradecimento de Arnold.
- Também precisarei de minha maleta, que está no hotel. Parece que os ferimentos não foram tão profundos como parecem. O mais preocupante é o corte próximo à artéria carótida, mas creio que não chegou a atingi-la. Ele perdeu muito sangue, mas creio que vai se recuperar. Podemos dar um jeito para que esta recuperação seja mais rápida que o convencional.
Arnold Paole, ao longo dos séculos passara por várias escolas de medicina, estudando e pesquisando a respeito da arte médica, com o intuito de descobrir o sangue artificial. Sua formação habilitava-o, sem dúvidas, para o atendimento de Robert, melhor do que qualquer serviço de urgência da região, caso existisse algum.
- O que quer dizer com isto? – perguntou Luísa preocupada com o tipo de tratamento que Arnold preconizaria.
- Não. Não vou transformá-lo, minha cara, se é isto que a preocupa – tranquilizou-a – Mas podemos fazer pequenas transfusões, utilizando o sangue de um vampiro de linhagem pura. Isto o fará recuperar-se mais rapidamente, além de dar-lhe uma cicatrização perfeita. Na profissão dele, cicatrizes como estas diminuiriam enormemente as perspectivas dele em seu trabalho.
- Eu posso doar o meu sangue para ele – ofereceu-se Luísa, sem pensar duas vezes.
- Não, Luísa. Não pode – afirmou Cássia, que voltava com os pedidos de Arnold – Conversaremos isto depois. Mas eu posso e me ofereço para ajudar o rapaz.
Assim que conseguiu tudo o que precisava, Paole pediu para que todos saíssem do quarto, à exceção de Eric e Cássia.
Avisado por Cássia sobre o pedido de Arnold para trazer sua maleta com equipamento médico, Cristopher atendeu-o em pouco menos de 30 minutos. Levou o material até o aposento onde Robert estava sendo atendido e voltou ao salão principal onde os demais aguardavam.
- Quem são eles, afinal? – perguntou Luísa para Gabriele – Pensei que eram apenas atores e amigos de Robert. E este Arnold?
- Eles são de um clã grego de vampiros. Souberam de nossa existência quando estivemos em Santorini. Lembra do menino, Eros, que serviu-nos como guia em Myconos? Era um deles.
Estupefata com a novidade, ficou atenta ao que Gabriele passou a contar-lhe sobre o clã grego, Eric, Cris e Arnold, e de como suas expectativas haviam tomado novo curso.
- Mas, então... Tudo muda de figura com esta descoberta. Talvez Robert e eu tenhamos alguma chance de ...
- Toda a chance do mundo, querida.
- E você? Parece que voltou a ser a Gabriele de antes. O que aconteceu?
- Eric – respondeu com um sorriso.
Luísa devolveu um esboço de sorriso e logo voltou a pensar em Robert.
- Por que tinha de acontecer isto a ele? Logo agora que foram feitas estas revelações?
- Não se preocupe, Luísa. Tenho certeza que Paole vai reabilitá-lo. Robert está em ótimas mãos. Ele é médico e sabe o que está fazendo.
- Você sabe algo a respeito do que Cássia quis me dizer? Por que não posso ser eu a doadora.
- Acho melhor deixar que ela mesma fale com você sobre isso.
Luísa tentava distrair os pensamentos com esta conversa para não pensar no sofrimento de Robert e em seus ferimentos. Sentia-se instável e todos os músculos do corpo lhe doíam devido à grande tensão em que se encontrava.
- Não aguento mais ficar parada aqui esperando. Vou ver as crianças e saber como estão. Por favor, me avise quando souber de alguma coisa.
- Pode deixar. Vá vê-los. Victor deve estar precisando de você.




Victor



Lana

Sentado sobre a cama, encolhido entre os travesseiros, um par de olhos verdes, grandes e assustados, lançaram um olhar aliviado ao ver que a mãe estava bem e continuava ali ao seu lado para dar-lhe conforto e segurança. Lana já parara de chorar e acabara por dormir nos braços de Monique, tendo sido levada para seu próprio quarto.
- Mãe, quem era aquele moço que pulou no lobo?
Luísa entendeu que o pequeno, devido ao ataque inesperado da fera, na penumbra da mata, não conseguira reconhecer o seu salvador da tarde do dia anterior.
- O nome dele é Robert, meu bem. Ele te salvou de cair no penhasco ontem à tarde, lembra?
Com cara de choro, perguntou gaguejando:
- E-ele morreu?
- Não. Ele ficou muito ferido, mas não morreu, querido – respondeu, forçando-se para manter um tom de voz tranquilizador, enquanto abraçava o filho.
Ele se agarrou a ela, abrigando o rosto no meio de seu peito, numa tentativa de esconder-se da visão de sangue, gritos e choro que presenciara no bosque.
- Que bom... – falou com a voz abafada – Não quero que ele morra...
Procurando conter as lágrimas, Luísa conseguiu murmurar, aumentando a pressão de seu abraço:
- Ele não vai morrer, querido... Não vai...
Emocionou-se com a preocupação de Victor pelo homem que ainda não reconhecia como seu pai, mas sabia que ainda não chegara a hora de revelar-lhe este fato. Esperaria a recuperação de Robert para que pudessem contar-lhe juntos.
Ainda estavam abraçados, quando Cássia apareceu à porta do quarto e disse:
- Robert quer vê-la.
Ela parecia cansada e mais pálida do que nunca, provavelmente devido à doação de sangue para ajudar na recuperação de Robert.
- Como ele está?
- Bem. Parece que o tratamento de Paole está tendo bons resultados.
- Gostaria de agradecer-lhe, Cássia.
- Não precisa. Tenho uma dívida com você por ter ocultado alguns fatos do seu passado. Mas sobre isto conversaremos depois, com mais calma. Agora, vá ver o seu... amigo – ordenou com um discreto sorriso, enquanto se acercava de Victor e tomava o lugar de Luísa – Deixe que eu fico com este rapazinho aqui.
- Mãe... – ele exclamou receoso.
- Já volto, querido – acalmou-o, beijando-lhe a testa escondida sob os fios de cabelo negro, que ali caíam desajeitados.

Paole a esperava à entrada do aposento. Queria lhe explicar sobre o tratamento e a recuperação de seu paciente.
- Ele ainda precisa de repouso. Já fizemos a primeira transfusão. Serão três ao todo. Uma por dia. Portanto, em três dias ele estará como novo.
- Estas transfusões... Não podem provocar uma transformação dele em um de nós?
- Não há este risco em hipótese alguma. A enzima que provoca esta transformação de que você fala só é inoculada no indivíduo através dos caninos, no momento da mordida – tranquilizou-a.
- Ele já sabe sobre o... tratamento?
- Sim. Eu expliquei tudo a ele, assim que recuperou a consciência.
Eric se encarregará de contar ao diretor do filme em que estão trabalhando uma explicação para o acidente que ele sofreu e o motivo por continuar aqui. Nada muito diferente do que aconteceu. Apenas mais abrandado, se é que me entende.
- Claro. Eu entendo... E muito obrigada por salvá-lo.
- Temos que agradecer à Cássia. Não fosse por ela, ele permaneceria naquele estado lastimável – Com um sorriso afável, abriu a porta e fez um gesto com a mão, liberando a sua entrada – Melhor você entrar.
O sol já começava a espantar as sombras noturnas ao longo das montanhas em torno de Mircea, mas a posição de Robert na cama, cercada por dosséis com pesadas cortinas, não permitia uma boa visão de sua aparência. Luísa foi aproximando-se cautelosamente, seguida por Paole um pouco mais atrás. Lembrava do estado em que ele ficara logo após o ataque e temia aquela visão. Não por repulsa, mas por imaginar a dor que ele devia estar padecendo com as extensas feridas. Culpava-se por não ter conseguido ajudá-lo naquele momento, mas tudo havia sido tão rápido...
- Luísa – a voz soou mais grave e rouca que de costume.
- Sim, meu amor. Eu estou aqui.
Já estava bem próxima dele quando sentiu sua mão acolhida pela dele. Era quente e forte, como sempre. Ela sentou ao seu lado e, só então pode observá-lo. Era impressionante. A cicatrização já era praticamente completa e nem de longe lembrava o moribundo que vira momentos antes. Onde a pele havia sido dilacerada, mal podiam ser vistas algumas estrias de cor avermelhada
- Pela sua cara, o doutor ali – disse apontando com a outra mão para Arnold – trabalhou bem. Ou estou enganado, e estou tão mau que a impressionei pela feiúra?
- Não... – Ela não conseguia esconder sua admiração – É incrível ...
- Eu bem que queria ter um espelho, mas já sei que vocês não apreciam muito tê-los em casa.
- Você vai ter que se contentar só com a nossa opinião até poder voltar para o hotel – falou Luísa, sentindo as forças voltarem, superando os momentos de angústia pelos quais havia passado, ao ver Robert recuperando-se e de bom humor.
- Vocês têm razão em não deixar saber a sua existência. Se certas pessoas mal intencionadas soubessem do poder deste sangue, imaginem a caçada desmedida em busca das curas milagrosas provocadas por ele.
- Esta é uma de minhas preocupações. Depois que terminei por descobrir o sangue artificial, voltei minhas pesquisas exatamente para a procura do componente que produz este efeito curativo tão potente. Até agora, só o que consegui foi saber que ele só existe na circulação dos vampiros homozigotos. Os híbridos apenas tem a capacidade de curar através da mordida, que acaba por liberar a enzima responsável pela transformação dos humanos em vampiros.
Enquanto falava, Arnold lembrou de seu filho mais velho, Stefan, que acabara por transformar Sophia, sua atual esposa, quando esta corria perigo de vida. Ele enfrentara uma amarga dúvida sobre o que fazer naquela situação, entre perdê-la ou transformá-la numa vampira. Ao fim das contas, tudo acabou bem, pois ela já estava apaixonada por ele e aceitou bem sua mudança.
- Bem, – continuou – creio que já devo estar cansando vocês com minhas explicações científicas. Acredito que queiram ficar a sós... Mas nada de emoções, se é que vocês me entendem – aconselhou-os, com um sorriso surgido no canto da boca.
- Agora que estamos a sós, venha aqui – disse oferecendo um lugar ao seu lado na cama, com um gesto de mão.
- Lembre do que ele falou. Você ainda está em recuperação e não pode fazer esforços – disse docemente, acariciando-lhe a face.
- Não pretendo fazer nenhum “esforço”. Só quero te ter bem perto de mim – murmurou, puxando-a para a cama, fazendo que ela caísse em seus braços – Vamos considerar isto como... Parte do tratamento.
Antes que ela pudesse contrariá-lo, cobriu sua boca com um beijo.

Cássia estava sozinha em seu quarto, depois que conseguira acalmar Victor e fazê-lo dormir. Pensativa, relembrava tudo que acontecera nas últimas horas e as mudanças ocorridas na sua maneira de pensar. Ainda não tinha certeza aonde os novos acontecimentos os conduziriam, mas tinha a sensação de que a maioria de suas angústias tinha chegado ao fim. Mergulhada em seus pensamentos, estremeceu ao sentir uma mão em seu ombro. Não se virou, pois reconheceu o responsável por aquele toque. Sorriu. Continuou parada onde estava, a observar o sol elevando-se no horizonte e, simultaneamente, fechando a cortina. Ainda não suportava muito a luz do dia.
- Cansada? – perguntou Paole, virando-a delicadamente de frente para ele.
- Tem algum tratamento especial para os seus doadores? – perguntou com um olhar insinuante.
- Apenas para as belas doadoras, - respondeu, prendendo-a com ligeira pressão de encontro ao seu corpo, cingindo sua cintura.
- Então já teve oportunidade de experimentá-lo com outras?
- Na verdade você será minha primeira cobaia – sua boca falava em tom baixo e muito próxima dos lábios de Cássia, provocando-lhe agradável cócega e excitando-a – Mas como todo experimento in vivo, preciso de autorização.
- Onde preciso assinar? – perguntou mais uma vez, já num roçar de lábios e voz enfraquecida.
- Aqui... – respondeu ele, pouco antes de unir suas bocas num beijo, a princípio suave, mas que logo se tornou apaixonado.
Cássia deixou-se levar pelos novos sentimentos, que Arnold despertara de uma maneira avassaladora. Sua última barreira de resistência àquele homem fora derrubada quando ela observou suas atitudes diante da situação inusitada pela qual passaram horas antes. Ele agira com determinação, praticidade e rapidez, acabando por salvar a vida do humano. Era um líder nato.
- Você não tem um paciente para cuidar? – perguntou assim que retomaram a consciência de onde estavam.
- Ele já está sob os cuidados de Luísa... Preciso cuidar de você agora.
O olhar daquele homem a incendiava. Não podia resistir.
- Quem disse que estou precisando de cuidados? Sempre me cuidei muito bem sozinha – continuava a falar-lhe de forma insinuante e sensual.
- Talvez... Até agora – sussurrou.
Mirou-a profundamente, com os olhos embriagados pelo desejo e novamente a beijou. Desta vez com mais intensidade. Logo ela se sentiu elevada do chão e conduzida até sua cama. O último pensamento de Cássia antes de entregar-se completamente às carícias de Arnold foi: “Por onde você andava que demorou tanto a me encontrar?...”




Demorei, mas cheguei. Infelizmente, este capítulo não tem as esperadas "cenas hots", nem as fotos das crianças (aceito sugestões, Cris), mas é que até eu conseguir acomodar tantos casais apaixonados, demora...kkkkk. Mas, aguardem, pois a estória ainda não terminou. Sei que muitas esperavam pela transformação do Robert em lobisomem. Até achei a idéia interessante, mas não queria cair na tentação de copiar estórias como "Anjos da Noite" e "Lua Nova". Mas sempre há a possibilidade de uma continuação... rsrsrs.
Muito obrigada a todas as minhas queridas - Tânia, Ly, Rose, Carel, Vanessa, Cassinha, Cris - que enfeitam a minha página de comentários e me animam tanto com suas palavras de estímulo.
Beijos a todas!

domingo, 22 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 10)

Virou a cabeça para o lado onde sentia a presença de Robert. Podia a ouvir a sua respiração tranquila, sentir o calor do seu corpo e o seu perfume misturado aos cheiros corporais que começavam a excitá-la novamente. Desta vez ele não chegara a notar a sua transformação na hora do êxtase, mas temia que isso pudesse acontecer muito em breve. Ela conseguira controlar o crescimento dos caninos pela excitação exacerbada, fazendo que tudo durasse apenas alguns segundos. Não fosse por estes detalhes, ela poderia ser uma humana. Quase desejava não pertencer a sua espécie quando estava com ele. Abriu os olhos. Ali estava, magnífico, despido de qualquer defesa. Indefeso contra a sua admiração e desejo. A maturidade e o exercício físico fizeram um excelente trabalho. Os músculos eram bem torneados, sob a pele ligeiramente bronzeada, formando um conjunto tentador. No tórax, alguns poucos cabelos grisalhos misturavam-se aos castanho-escuros e escondiam os pequenos mamilos castanhos no peito amplo. Logo abaixo, viam-se as suaves elevações em gomos do abdômen bem talhado e alguns pêlos em torno do umbigo que acompanhavam as linhas musculares até o púbis... As coxas fortes e poderosas encontravam-se afastadas, bem como as pernas, largadas relaxadamente sobre o leito. Sentiu uma contração íntima, um calor percorrendo seu corpo e a salivação quente e doce, provocando um arrepio por todo seu dorso. Voltou o olhar para o rosto, plácido, com um leve sorriso, nos lábios bem desenhados e cheios. Precisava desesperadamente tocá-lo. Tinha medo de tirá-lo de seu repouso, mas não podia evitar. De lado, soerguida, apoiada sobre o cotovelo direito, continuou a observá-lo, matando a saudade de tantos anos sem vê-lo daquela maneira desarmada. Levou a mão esquerda até sua face, acariciando a orelha alongada e bem feita, arrancando-lhe um leve gemido. O passeio continuou pelo rosto, onde se demorou um pouco mais, sentindo na pele o roçar da barba macia, apesar de rente a face, a linha do queixo anguloso e partido ao meio por uma mínima covinha. A boca apresentou uma contração dos lábios, abrindo um sorriso lascivo. Ele acordara e aproveitava o carinho voluptuoso de Luísa, preguiçosamente, de olhos fechados. Quando ela fez menção de parar, ele suplicou em um sussurro sem mover-se da posição em que se encontrava, nem abrir os olhos:
- Continue... Não pare...
Sorridente, ela continuou sua jornada pelo corpo de seu amado, buscando acariciá-lo nas áreas que lhe davam maior prazer, demorando-se mais nestas, para depois continuar a aventurar-se a procura de outras. Logo, ele deu sinais de que estava totalmente recuperado de seu torpor. Mas antes que se levantasse, ela jogou a perna esquerda sobre ele, de forma a sentar-se sobre o estreito quadril, surpreendendo-o com sua rapidez. De olhos abertos, Robert pode admirá-la, montada sobre ele, como uma amazona feroz, com o rosto parcialmente coberto pelos longos cabelos, que caiam em cascatas, e os olhos incendiados pelo desejo. Segurou-a pela cintura fina e puxou-a sobre seu peito, provocando uma exclamação de agradável excitação por parte dela.
- O que você está tentando fazer comigo? – ele perguntou insinuante.
- Tudo o que perdemos de fazer nestes anos passados...
- Será que vamos sobreviver a tanto?
- Podemos tentar... – disse, enquanto jogava seus lábios contra os dele, num beijo voraz.
Perdidos nas carícias, mais uma vez fizeram amor.

Difícil dizer quanto tempo tinha se passado. Deitados e abraçados, mergulhados na penumbra do quarto, Robert olhava para Luísa com carinho e preocupação. Lembrara finalmente de tudo. Ela não era como ele, mas isso pouco lhe importava. Amava-a e faria de tudo para ficarem juntos. Ainda precisava ter certeza sobre mais uma coisa.
Ela abriu os olhos e sorriu ao vê-lo.
- Cansada? – perguntou, tirando-lhe uma mecha de cabelo que caía sobre sua testa.
- Feliz... Você parece preocupado. O que houve?
- Você não precisava ter fugido daquela maneira. Poderíamos ter achado uma solução para nos adaptarmos.
- Do que está falando? – indagou, temerosa de que ele pudesse ter lembrado de quem ela era.
- Eu me lembrei de tudo Luísa. Tudo. Não precisa mais disfarçar. E quero que saiba que não me importo.
- Exatamente do que você lembrou? – Seus temores encontravam confirmação.
- Que você é uma... Bem, você sabe a que me refiro - Sentia dificuldade em dizer a palavra vampira.
Ela tentou levantar-se, mas foi impedida por ele, que a aconchegou ainda mais ao seu peito.
- Nem pense em fugir ou tirar minha memória de novo. Eu te amo e não vou deixar nada mais nos separar. Entendeu? Pouco me importa se para isso tenha que me transformar ou não – Seu tom de voz era tranquilizador e carinhoso – Só quero que me explique duas coisas: exatamente o porquê da sua fuga e... Sobre Victor.
Ele não a odiava. Só por isso sentiu um grande alívio, o que a fez permanecer mais relaxada naquele abraço e encontrar mais facilmente as palavras que explicariam todo o seu drama no final da viagem às ilhas gregas e sobre o filho e a sua importância dentro dos planos para conservação de sua espécie.
Ao final desta longa conversa, decidiram que chegara a hora de procurar Cássia e enfrentá-la para expor seus planos futuros. Mais cedo ou mais tarde teriam de correr este risco. Que fosse mais cedo. Vestiram-se e partiram rumo ao castelo.

O sol ainda não despertara e o céu noturno estava envolto em nuvens cinzentas, que impedia que a lua cheia ou as estrelas fossem visíveis. Uma leve aragem espalhava o cheiro dos pinheirais, misturado ao aroma da terra ainda úmida pelas últimas precipitações. No bosque próximo à cidade adormecida, um solitário lobo cinzento vigiava a toca de uma família de lebres, aguardando ansiosamente que pelo menos uma delas saísse antes do alvorecer. Estava cansado da procura por alimento Os últimos dias não tinham sido muito alvissareiros em matéria de caça e seu estômago já reclamava intensamente. Esperava ser recompensado muito em breve. Teria que ter apenas um pouco de paciência.




- Victor... Victor... – chamava Lana ao seu companheiro de travessuras naquele final de noite.
- Mãe? – perguntou, ainda de olhos fechados e lutando contra o torpor do sono.
Sonolento, esfregando os olhos, sorriu ao ver a amiguinha.
- Sou eu, Victor – identificou-se sorrindo de volta.
- O que é? Onde está a minha mãe?
- Não sei, Victor. Quer brincar? Vamos? – insistiu Lana.
- A mãe saiu?
- Vamos procurá-la no bosque?
- Não podemos ir lá.
- Então eu vou sozinha, seu bobão.
- Não. Eu vou – disse injuriado com a insinuação de Lana sobre sua disposição em relação ao convite, levantando-se imediatamente da cama.
Furtivamente, saíram do quarto. Ouviram as vozes que vinham da sala principal no andar de baixo e esgueiraram-se até uma escada secundária que levava a uma saída nos fundos. Alcançaram os jardins e, rindo satisfeitos com sua esperteza e pela liberdade alcançada, rumaram ao bosque, totalmente inocentes quanto aos perigos a que estariam expostos.

Já estavam quase chegando ao castelo. Caminhavam de mãos dadas, fazendo planos, aproveitando a brisa e os perfumes exaltados pelo orvalho da madrugada da mata próxima, quando Luísa foi alertada por seus instintos de que alguma coisa estava errada.
- O que houve? – perguntou Robert ao notar o olhar preocupado dela quando parou de andar repentinamente.
- Victor... – Seu olhar já deixara de ser apenas de preocupação, passando a aflito.
- Mas ele não ficou no castelo?
- Sim, mas estou sentindo a presença dele aqui perto, no bosque... – passou a imaginar o pior – Robert, precisamos achá-lo.
- Para que lado? – indagou angustiado.
Luísa concentrou-se até que pudesse sentir a direção a tomar para encontrar o filho.
- Por aqui! – exclamou finalmente.
Saíram da pequena estrada que levava ao topo da colina e penetraram na floresta. Seus passos rápidos sobre o cascalho entre as árvores provocavam o som de chocalhos ecoando no silêncio do mato. Mal podiam ouvir o coaxar dos sapos, o barulho das asas de pássaros noturnos a debater-se entre as folhas dos pinheirais e até o pio gutural de uma coruja. Foi quando um rosnar feroz feriu seus ouvidos a poucos metros de onde estavam. Logo em seguida, visualizaram uma cena apavorante. Uma figura miúda, de cabelos negros desgrenhados, em corajosa posição de enfrentamento à fera cinzenta que tinha diante de si. Atrás dele, caída no chão, encolhida sobre si mesma e chorando, estava uma menina, da mesma idade, com desalinhadas madeixas louras a cobrir os olhos assustados. O lobo faminto os avaliava com olhos vidrados e flamejantes, antevendo a bela refeição que teria em poucos segundos. Sua espera terminara. Mas antes que ele desse seu salto sobre as crianças, uma figura adulta jogou-se entre ele e sua caça, causando-lhe um sobressalto. Era uma fêmea da mesma espécie dos filhotes. Ela mostrava os caninos pontiagudos e rosnava quase como ele, tentando intimidá-lo. Mas a fome era grande e não se afastaria dali com tanta facilidade. Comeria hoje, mesmo que tivesse de lutar. Quando partia novamente para o ataque, notou o olhar da mulher se modificar de desafiador para surpreso e ouviu o seu grito.
- Robert! Não!
No mesmo instante, o lobo sentiu um peso sobre seu dorso e um par de braços a rodear-lhe o pescoço.
- Fujam! Deixem que eu o distraio! – gritou enquanto lutava com o animal selvagem que se debatia, na tentativa de mudar de posição com ele e cravar-lhe os dentes.
Não demorou muito para que Robert perdesse o equilíbrio e ficasse de frente para um par de olhos brilhantes, cegos pelo desejo de matar. Praticamente imobilizado pelos quase sessenta quilos de músculos e pelos, via a saliva espessa gotejar da mandíbula poderosa que se aproximava cada vez mais. Conseguia ouvir os gritos de Luísa e das crianças, enquanto tentava se esquivar das mordidas, recebia patadas e tinha a carne dilacerada pelo seu oponente. Quando já tinha a vista nublada pelo seu próprio sangue e as forças lhe abandonavam o corpo, o peso contra o qual ainda lutava desapareceu e um ganido lancinante vibrou no ar. Antes de perder a consciência, ainda ouviu a voz que parecia ser de seu amigo Eric.
- Vamos levá-lo para o castelo! Rápido!



Parece que não consigo acabar mesmo esta estória, por mais que eu tente... rsrsrs.
Mas falta muito pouco. Como já pude ver que vocês estão com paciência para me aguentar um pouco mais, vamos ver até onde a Luísa e o Robert nos levarão.
Beijos!!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Meu Doce Vampiro - O Reencontro (parte 9)

Tão logo Victor adormeceu, Luísa saiu sorrateiramente do castelo. Gabriele havia feito certo mistério a respeito da reunião daquela noite, dizendo que ela teria uma surpresa, mas sem explicar os motivos para tanta expectativa. Entretanto, ela não conseguia mais resistir à ansiedade e a tentação de voltar a encontrar Robert e esclarecer a conversa entrecortada por insinuações sobre direitos sobre o seu filho que tinham tido no início da tarde. Encoberta pelas sombras da noite, chegou rapidamente à cidade, dirigindo-se prontamente ao hotel onde ele estava hospedado. Ainda não tinha bem certeza de como abordaria o assunto, mas o desejo de vê-lo competia com a angústia provocada pelas últimas palavras dele. Não havia praticamente movimento algum de hóspedes na recepção, onde um jovem recepcionista iniciava seu plantão. Notou os olhos de admiração do rapaz ao vê-la entrar, seguidos pela curiosidade ao ser perguntado pelo ator Robert Neville. Com um sorriso estudado na escola de hotelaria, depois de um “pois não, senhora”, procurou nos escaninhos às suas costas pela chave do hóspede em questão.
- Ele está no hotel, senhora. Vou fazer uma chamada para o seu quarto. Só um momento...
Enquanto o jovem fazia sua ligação, Luísa ouviu uma sensual e sonora risada feminina, que logo suspeitou ser pertencente à atriz que conhecera à tarde e a quem nem fora apresentada. Sem esperar que o recepcionista completasse a sua solicitação, caminhou lentamente em direção à sala de estar de onde vinha o som de risos. Algo lhe dizia que Robert estaria ali. Seus temores confirmaram-se. Apenas os dois estavam sentados num dos sofás, bastante animados na companhia um do outro. Constatou a intimidade entre eles e o ciúme passou a corroê-la. Trêmula, ficou a observá-los, parada, a uma distância discreta, tentando evitar que a vissem. Foi quando ouviu o porteiro lhe chamar, alertando a dupla na sala. Virou-se para atendê-lo e agradecer por seu interesse.
- O senhor Neville não está em seus aposentos, senhora.
- Não se preocupe. Já o achei. Muito obrigada.
Quando voltou sua atenção para a sala, seu olhar cruzou com o de Robert.
Ela estava linda, com os olhos a faiscar um ciúme indisfarçável, que o fez se sentir vitorioso. Parecia que seu alvo havia sido atingido e devia isto à Lisa, que se mostrara disposta a ajudá-lo em sua conquista, ou deveria dizer, reconquista. Esta, por sua vez, ao notar a presença de Luísa, colocou em ação seu talento artístico e mostrou-se o mais íntima possível, tocando o rosto de Robert, desviando sua atenção daquela sortuda que estava na recepção, virando-o para si e aproximando-se de forma a dar-lhe um beijo suave na boca. Com movimentos planejados, depois de beijá-lo, lançou um olhar provocador para Luísa. Era ótima atriz e já sentira que Robert estava muito interessado naquela mulher, como nunca estivera antes. Ficaria assistindo de platéia a queda de seu amigo do nível de conquistador a conquistado. Seria muito divertido. Só esperava que ela o merecesse.
Robert segurou a mão de Lisa que o tocara e a beijou. Já vira que a amiga entrara no seu jogo para encenar e provocar ciúmes em Luísa. Esperava poder agradecer-lhe mais tarde. Pediu licença a ela e caminhou determinado para onde estava a sua espectadora, que se encontrava paralisada, mas tentando manter o olhar impenetrável.
- Luísa, que bom ver você por aqui – cumprimentou-a alegre e calculadamente cínico – Aconteceu alguma coisa?
Como que acordada de um mau sonho, falou em voz baixa e mal-humorada:
- Acho que cheguei numa hora imprópria. Vejo que está “ocupado” – tentava controlar o tremor nas mãos e o rancor represado.
- Será que percebo uma ponta de ciúme em você? – Queria rir, mas não podia deixá-la perceber a farsa entre Lisa e ele.
- Não! De maneira alguma – negou veementemente demais – Se quiser, podemos conversar amanhã quando voltar ao castelo para continuar as filmagens.
- Não, de jeito nenhum – sorriu sedutoramente – Lisa é apenas uma grande amiga – afirmou com uma pincelada de ironia na voz, propositalmente colocada para que Luísa achasse que havia algo mais entre os dois, além da suposta amizade – Venha... Vamos conversar num lugar mais reservado.
Os punhos de Luísa cerraram-se instintivamente e só seguiu-o porquê foi segura firmemente pelo braço e praticamente arrastada por ele. Ainda pode ouvir ao longe a voz de Lisa, advertindo Robert, em tom de leve censura:
- Robert, querido, não demore.
Ele teve que segurar mais uma vez a gargalhada, ao mesmo tempo em que pensava que Lisa estava exagerando. Podia quase palpar a fúria de Luísa através do retesamento da musculatura de seu braço ao ouvir a outra.
- Não demorarei... – exclamou de volta – Ou talvez não volte... – completou em voz baixa, que só Luísa poderia ouvir.
Lisa praguejou para si mesma. “Droga! Agora fiquei sozinha. Nem Robert, nem Eric, nem Cris... Nem mesmo o Will para despejar a sua aversão por mim. Fazer o quê? Nesta altura da vida servir de ajudante de cupido... A que ponto cheguei...” Foi até o bar e pediu uma dose de vodca com muito gelo.
- É o que me resta neste fim de mundo – disse erguendo seu copo em brinde ao barman e bebendo a sua própria saúde.

- No seu quarto? – perguntou sobressaltada ao dar-se conta do local para onde Robert a levara.
- Não existe nenhum lugar mais privado do que este no hotel. Podemos ficar de pé aqui no corredor, se preferir – zombou dela.
Sem outra saída, Luísa lançou-lhe um olhar zangado e aceitou o convite que ele fez com a mão, indicando-lhe a porta do seu apartamento.
- Juro que tentarei me comportar – arriscou dizer, antes de fechar a porta atrás deles.
O quarto contava apenas com uma cadeira bergère, em capitonê, forrada por veludo da mesma cor vermelha das cortinas, acompanhada por um pufe, uma pequena escrivaninha antiga e uma cadeira de braço, além da cama de casal.
Ele apontou a bergère para que ela sentasse, por ser mais confortável, mas Luísa preferiu a cadeira de braço. Engolindo a recusa de seu oferecimento, sentou-se ele próprio na aconchegante poltrona e ficou a observá-la por alguns instantes, até resolver dar início à conversação.
- Então? Estamos aqui, a sós, sem interferências externas. Sobre o que gostaria de conversar? Estou dando o tempo que você tinha me pedido na penúltima vez em que nos falamos, lembra?
- Eu sei... – respondeu no meio de um suspiro, como se fosse difícil externar o que desejava – Tenho pensado muito sobre o que você me falou e decidi contar a verdade – a voz ainda indecisa, buscava a melhor forma de expressar-se.
Robert mantinha-se atento, optando por ficar mudo, sem interferir na confissão dela. Apenas a olhava com aparente serenidade.
- Nós realmente nos conhecemos naquele cruzeiro...
Uma sensação de alívio e prazer inundou sua mente e seu coração por finalmente certificar-se de que não estava louco ou apenas imaginando coisas, mas continuou impassível, à espera das próximas palavras.
- Foram dias maravilhosos, mas que são passado. Para você, pelo jeito isto não foi uma dificuldade, já que nem ao menos tinha certeza se era eu ou outra mulher em sua companhia naqueles dias – esperava que a tática de minimizar o seu interesse por ele o esfriasse – Tivemos uma bela aventura e nada mais.
Ele retesou-se na poltrona, percebendo a intenção de Luísa, e resolveu interferir.
- Você está tentando justificar a sua fuga e desaparecimento – Aos poucos sua memória voltava. O rosto de Luísa preenchia agora todas as lacunas vazias dos últimos anos. Seu coração disparou ao relembrar as noites de amor passadas com ela – Você me deixou. Lembro de quase tudo agora...
- Neguei que o conhecia, pois não pretendo repetir a experiência. Eu fui apenas mais um caso na sua provável extensa lista de mulheres.
- Não! Não foi. Este “caso”, como você pretende classificar-nos, tem perturbado meus dias e minhas noites, por causa da angústia de não conseguir lembrar alguém que foi importante demais em minha vida – Enquanto falava, buscava nas lembranças, que chegavam como raios a sua mente, a explicação para sua perda de memória. Tinha que haver uma.
“Ele não lembra que sou uma vampira”, pensou Luísa, “Talvez isso seja chocante demais para que relembre”.
- Foram apenas cinco dias. Não pode ter sido tão importante assim.
- Sei que existe alguma coisa que ainda não lembrei, mas isto não importa – Levantou-se da bergère e foi até ela. Segurou os seus braços e ergueu-a da cadeira, aproximando-a de si – O que realmente importa é que você está aqui, ao alcance de minhas mãos. E eu a desejo imensamente.
- E se eu não estiver interessada? Já lhe ocorreu este detalhe? – disse, sem conseguir manter o olhar desafiador, com medo de ser descoberta em deslavada mentira.
Ainda segurando-a, acariciou seu queixo e suavemente a fez elevar a cabeça até reencontrar seus olhos afogados em anseio.
- Duvido muito disso...
- Acho que você está se superestimando, meu caro – disse sarcasticamente, tentando manter a voz firme e usando a cena que vira alguns minutos antes do saguão do hotel para alimentar a hostilidade necessária a manter sua frieza perante ele.
- Você não consegue evitar o seu desejo por mim, Luísa, por mais que tente disfarçar – falou enquanto a puxava cada vez mais contra si, com uma mão em sua cintura e a outra às costas, forçando-a a um enfrentamento maior – Todo o seu corpo pede por mim. Sinto o seu tremor, a aceleração do seu coração e as forças esvaírem do seu olhar quando a toco. Por que negar esta atração e esta paixão que nos consome?
Quase perdendo o domínio de seus atos, lembrou-se de Lisa.
- A mesma atração e paixão que eu presenciei há pouco lá embaixo? – esbravejou.
Robert apenas sorriu, sem afrouxar seu abraço.
- Aquilo foi uma bela encenação feita especialmente para você. Pelo que vejo, surtiu o efeito desejado.
Uma onda de indignação e revolta percorreu Luísa, pensando em como os dois estariam a divertir-se por conta dela, e imediatamente começou a lutar contra ele para libertar-se dos seus braços.
- Como bom ator que certamente é, quem me garante que as encenações cessaram ao entrarmos neste quarto? Você pode estar encenando desde que me viu a primeira vez e agora apenas quer ter mais uns dias de prazer, para depois desaparecer e dizer que perdeu a memória – falava ao mesmo tempo em que o empurrava com força com as mãos sobre seu peito – Solte-me.
Agora ele enfurecia-se ao ouvir aquelas falsas acusações.
- Eu não estou encenando agora, Luísa. Por Deus! Estou louco por você. Há quatro anos a procuro, onde quer que eu vá, num sorriso, numa voz, num jeito de andar, num gesto... Faço qualquer coisa para tê-la comigo novamente – dizendo isto, imobilizou-a com um braço, enquanto a mão livre segurou sua cabeça, forçando o encontro de seus olhos. Com brutalidade e paixão colou seus lábios aos dela. Houve grande resistência e luta a princípio, mas pouco a pouco ele sentiu seu corpo amolecer e a boca entreabrir-se, permitindo que sua língua a invadisse, causando um pequeno gemido de entrega.
- Robert... – ela gemeu quando se separaram para recuperar o fôlego..
- Eu preciso de você, Luísa... – murmurou junto a sua boca, de onde não queria afastar-se, antes de iniciar outro beijo, agora mais apaixonado e menos arrebatado, degustando o sabor de seus lábios e de sua língua, matando a saudade que o consumia e saboreando a entrega de Luísa.
Ela não conseguia mais resistir a ele. Tentara com todas suas forças afastá-lo, mas era impossível. O medo e o ciúme já não tinham lugar entre eles, depois das palavras que acabara de ouvir. Não fugiria mais. Enfrentaria por ele fosse o que fosse. A cólera de Cássia, o fim da espécie... Nada mais era tão importante do que estar junto a ele. O resto seria resolvido de uma ou de outra maneira. Pensaria nisto depois...
As mãos de Robert já passeavam por seu corpo, tentando desvendá-la, tocar sua pele, buscando o contato mais íntimo. Aos poucos foram deixando suas roupas de lado, matando a saudade nas palmas das mãos, no roçar dos lábios e na ponta das línguas. A redescoberta do antigo prazer que haviam compartilhado aliada às novas sensações era inebriante. Ela ansiava por aquela dominação. Queria que ele a possuísse completamente. Logo estavam sobre a cama, onde Robert a deitou e passou a percorrê-la com os olhos e as pontas dos dedos, provocando-lhe arrepios incontroláveis. Descendo pela curva de seu pescoço alvo, chegou até os seios que pareciam mais volumosos do que lembrava, mas arredondados, firmes e macios, com mamilos róseos e rijos pelo desejo. Brincou com eles, massageando um com a pressão dos dedos indicador e polegar enquanto a língua deslizava pelo outro, fazendo Luísa contorcer-se sob seu corpo. Buscando dar-lhe maior prazer, avançou através do abdômen, com leves mordiscadas e lambidas até chegar ao púbis, onde passou a beijá-la. Beijos rápidos e molhados, que foram invadindo cada vez mais a sua intimidade. Luísa já não tinha noção de onde estava. Gemia, gritava e o arranhava, pedindo que a possuísse. Ele vibrava e gemia ao vê-la tão excitada. Sentia o efeito das endorfinas correndo por suas veias. O calor e a sensação de enrijecimento de todos os seus músculos lhe mostravam que não conseguiria mais deter o seu ímpeto de invadi-la e extravasar toda aquela torrente de desejo.
Por fim, exaustos, deixaram-se cair lado a lado, de olhos fechados, sentindo as respirações ofegantes normalizarem-se.



Como podem ver, não consegui finalizar ainda a nossa estória, mas resolvi postar um pouco antes do esperado final, para agradar às minhas leitoras fiéis que tem tido tanta paciência comigo. Espero que tenham gostado do tão esperado reencontro de Robert e Luísa. Agora falta pouco para que as coisas se ajeitem para eles.
Um grande beijo!!